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Alguns estudos foram realizados com o objetivo de investigar, alguns de forma apenas quantitativa, outros de forma quantitativa e qualitativa, este período inicial do

desenvolvimento lexical. São muitos dados, muitas informações, e, como o “objeto” de estudo são seres humanos, os achados de uma pesquisa muitas vezes divergem dos de outras. Entretanto, conforme demonstrado acima, em linhas gerais, as crianças parecem seguir um processo similar de aquisição lexical. Esta seção tem como objetivo expor os dados de mais algumas pesquisas.

2.6.1 Benedict (1979)

O estudo realizado por Benedict (1979)23 teve como objetivos verificar qual a relação, quantitativa, existente entre as primeiras palavras compreendidas e as produzidas; quais tipos de palavras eram apreendidas e como se caracterizava a distribuição dessas palavras nos domínios da compreensão e da produção. Além dos achados que se encontram na seção 2.4 Do ritmo de aquisição das primeiras palavras, a autora conclui que, nas 50 primeiras palavras, duas categorias semânticas predominam: a dos nomes gerais (39%) e a das palavras de ação (36%), que, juntas, perfazem um total de 75%24. Além disso, ela verificou que, com 10 palavras produzidas, as crianças eram capazes de compreender aproximadamente 60,22 palavras, com uma variação de 30 a 182 palavras.

2.6.2 Dromi (1987)

Dromi (1987) realizou um estudo longitudinal – dos 10 aos 18 meses de idade – a respeito da aquisição do hebraico por uma criança. Ele pôde verificar que 59% das palavras eram palavras gerais, 16% palavras indeterminadas (usadas para ações e objetos ao mesmo tempo, ou para objetos e modificadores), 14% palavras de ação, 7% palavras sociais e 4% modificadores. Palavras para objetos foram as primeiras palavras reportadas no léxico do sujeito, Karen, aos 0;11.16. Durante todos os meses seguintes, com exceção do quarto, esta foi a maior classe aprendida. As palavras de ação começaram a surgir por volta do quarto mês

23 Estudo longitudinal de 8 crianças entre 9 e 18 meses de idade.

24Achados que se aproximam do de Nelson (1973 apud BRIDGES, 1986). Nomes gerais: 50%; Nomes específicos: 15%; Palavras de ação: 33% e Palavras não-nominais: 2%.

– 1;5 aproximadamente – e no sétimo mês era a segunda maior classe. Modificadores e palavras socias ingressaram no léxico a partir do terceiro mês de estudo e mostraram um pico no mês seguinte. Dromi observa, ainda, que, durante os dois primeiros meses de estudo, as palavras eram utilizadas com mais de uma função e que este fenômeno havia desaparecido, de forma gradual, no final da coleta.

2.6.3 Jackson-Maldonado, Thal, Marchman, Bates & Gutierrez-Clellen (1993)

O trabalho de Maldonado et al. (1993) a respeito do desenvolvimento lexical em espanhol também utiliza o Inventário MacArthur de Desenvolvimento Comunicativo como instrumento de coleta. A partir dos dados coletados, eles chegam à conclusão de que a relação entre o tamanho do vocabulário e a idade das crianças é semelhante nas duas populações – crianças adquirindo o espanhol e crianças adquirindo o inglês; e que o vocabulário compreendido é maior que o produzido. Com 0;8 meses, a média de palavras compreendidas corresponde a 17, aumentando para 63 palavras entre 0;11 e 1;0, chegando à média de 161,5 palavras no final do período em foco – 1;3-1;4. Em contrapartida, a média de vocabulário produzido aos 0;8 meses é de 0 (zero), com um aumento de 4 palavras no período entre 0;10 e 1;0, atingindo a marca de 13,5 palavras entre 1;3 e 1;4 meses. Eles ainda constatam que a categoria lexical com maior ocorrência, também no espanhol, foi a de nomes comuns ou nominais, com alguns itens lexicais coincidindo nas duas línguas (e.g. mommy e daddy – mamá e papá; no; car – carro, coche; etc.). Categorias como “sons de coisas e de animais”, “brinquedos”, “partes do corpo” e “comida e bebida” também obtiveram uma alta freqüência. O crescimento do vocabulário inicial é caracterizado por um aumento de nomes comuns que diminui após a aquisição de, aproximadamente, 200 palavras. Ademais, eles ressaltam que as variáveis socioeconômicas não são sinônimos de velocidade no desenvolvimento lexical na amostra25; crianças que já tiveram infecções auditivas não mostraram diferenças significativas; e as diferenças quanto ao gênero também não foram relevantes.

25 Este trabalho foi o único presente nesta bibliografia que verificou a variável socioeconômica. Geralmente, a maior parte dos dados provenientes são de crianças filhas de pais escolarizados, ou provenientes de estudos de diários realizados pelos pesquisadores a respeito dos próprios filhos.

2.6.4 Bates, Marchman, Thal, Fenson, Dale, Reznick, Reilly e Hartung (1994)

A partir dos dados do estudo de normatização do protocolo Palavras e Gestos da versão americana, que conta com o relato de 673 pais, Bates et al. (1994; 1997) puderam chegar às seguintes conclusões: existe uma quantidade notável de variação no tamanho do vocabulário de crianças entre os 8 e 14 meses de idade. A maioria das crianças entre 0;8 e 0;11 meses estão produzindo pouca ou nenhuma fala significativa. Após este período, a variação na quantidade de palavras produzidas começa a se espalhar de forma rápida. Por exemplo: por volta de 1 ano de idade o número médio de palavras reportadas é de 6, mas a variação é de 0 a 52 palavras. Aos 1;04, o número médio de palavras compreendidas é de 192 (HARRIS & CHASIN, 1999) e de produzidas é de 40, mas a variação, neste nível, é de 0 a 347 palavras. Nesta faixa, 10% das crianças tinha um vocabulário produtivo abaixo de 8%, enquanto 10% tinha um vocabulário de 179 palavras ou mais. Um exame de laboratório foi realizado com algumas dessas crianças e eles verificaram que essa precocidade realmente existia. Além disso, eles verificam que, no nível de 1 a 5 palavras produzidas, 2,25% são verbos e adjetivos; entre 6 e 10 palavras, 1,54% são predicados e que, com 50 palavras ou mais, esse percentual aumentava para 11,8%. Além dessas relações, eles observam que, aos 0;8 meses, as categorias mais freqüentes são a de “Pessoas” e a dos “Jogos e Rotinas Sociais”. No nível de 50 palavras, a principal categoria lexical é a dos nomes gerais, com 48%, seguida das categorias semânticas “Jogos e Rotinas”, com 20%; “Palavras de Ação”, com 16%; “Nomes de Pessoas”, com 10% e “Sons de Coisas e de Animais”, com 6%. Aos 1;04 meses, 50% das palavras compreendidas pertencem à categoria dos nomes gerais, 19% à categoria das “Palavras de Ação”, 9% à categoria “Jogos e Rotinas” e 2% à categoria “Pessoas”. Eles observam ainda que verbos, adjetivos e as classes fechadas são muito raros na fala de crianças adquirindo o inglês, com o vocabulário inferior a 50-100 palavras.

2.6.5 Harris, Yeeles, Chasin & Oakley (1995)

No estudo realizado por Harris et al. (1995), em 6 crianças a partir de 0;6, houve uma variação na idade na qual os seus sujeitos começaram a compreender as palavras embora, de uma forma bastante similar, todos tenham começado mais ou menos no mesmo período. A

criança mais precoce mostrou o seu entendimento da palavra clock aos 0;7.7 e o seu próprio nome aos 0;7.21, enquanto que a criança menos precoce só demonstrou compreender o seu nome as 0;8.16. A maior variação ocorreu na velocidade na aquisição de palavras – em compreensão: ao passo que algumas crianças apresentavam 68 palavras compreendidas a 1 ano de idade, outras apresentavam apenas 10. Houve também variação na quantidade de palavras compreendidas e o início da produção: nem todas as crianças começaram a produzir depois de adquirir 20 palavras ou mais na compreensão, indo de encontro à afirmação de Nelson de que a primeira palavra só é produzida após a compreensão de aproximadamente 20.

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