• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – O TEMA METROPOLITANO

1.4 ALGUNS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Na conceituação de Silva:

Administração pública é o conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e humanos preordenados à execução das decisões políticas. Essa é uma noção simples [...] que destaca, em primeiro lugar, que é subordinada ao Poder político, em segundo lugar, que é meio e, portanto, algo que se serve para atingir fins definidos e, em terceiro lugar, denota os seus dois aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do Poder político e as operações, as atividades administrativas (1995, p.604).

Para o autor, objetiva e subjetivamente, a administração pública tem como função a gestão da coisa pública e dos valores e interesses de toda a coletividade e, como tal, a sua conformação e atuação são pautadas por diversos princípios gerais, destinados de um lado orientar a ação do administrador na prática dos atos administrativos e, de outro, garantir a boa administração que se consubstancia na correta gestão dos negócios públicos e no manejo dos recursos públicos (dinheiros, bens e serviços) no interesse coletivo, com o que se assegura aos administrados o seu direito a práticas administrativas honestas e probas. (SILVA, 1995, p. 604).

A Constituição Federal de 1988, principalmente após a promulgação da Emenda Constitucional n. 19, de 04 de junho de 1998, introduziu novos critérios para a administração pública, especialmente ao determinar: “Art. 37 – A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]”.

Observa-se que a administração pública deve obedecer ao que a própria Constituição Federal enuncia direta ou indiretamente – legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, bem como as reclamações relativas à prestação de serviços públicos e a avaliação periódica da qualidade dos mesmos – pois o ato de governar, como salientado por Damasco, (2008, p. 27) pode ser entendido como a criação de ações voltadas para a sociedade, e tais ações são postas em prática através de processos administrativos que transformam as demandas da coletividade em normas, produtos e serviços, tendo como resultado a distribuição de direitos, deveres, benefícios e custos.

Por constituir-se em tema com visões distintas, inclusive existindo pensamentos contraditórios e conflitantes sobre o assunto, é tarefa complexa conceituar eficiência organizacional no setor público. Sem pretender esgotar a apresentação de definições, cabe apresentar algumas dessas considerações.

Di Pietro (2007, p. 73) afirma que o princípio da eficiência “[...] impõe ao agente público um modo de atuar que produza resultados favoráveis à conservação dos fins que cabem ao Estado alcançar”.

Nessa mesma linha de pensamento, Araújo compara a eficiência à eficácia, enfatizando que a primeira se relaciona com o processo (meio) e a segunda, com os resultados (fins):

A eficácia interage com a eficiência. Quanto maior for a segunda, maior será a possibilidade de se alcançar a primeira, mas essa condição não pode ser aceita como regra geral. Às vezes, os recursos são utilizados da forma mais racional possível, as ações são realizadas corretamente, mas os esforços são direcionados incorretamente, ou seja, o fim não é alcançado. Por outro lado, é oportuno frisar que não é recomendável a eficácia momentânea, ou seja, alcançar determinado fim utilizando os recursos de forma errônea. Em síntese, podemos afirmar: eficiência é meio; eficácia é fim; eficiência é fazer bem; eficácia é fazer o que é certo (2001, p.36).

Inexistindo, aqui, a preocupação de traçar um quadro comparativo sobre os diversos conceitos concorrentes encontrados na literatura sobre eficiência, nesse momento interessa, precipuamente, apresentar o que se entende como convergência de pensamentos acerca do

tema. Sobre isso, Hall parece fornecer uma pista, ainda que inicial, sobre os pontos convergentes mencionados, quando diz:

[...] as organizações sujeitam-se a limitações múltiplas e conflitantes que lhes podem ser impostas, negociadas, identificadas ou auto impostas. Quanto maior e mais complexa a organização, maiores a amplitude e a variedade das limitações com que ela irá se defrontar. Por esse motivo, cada organização precisa considerar os seus ambientes, reconhecer e atribuir uma ordem às limitações que se apresentam e tentar prever as consequências de suas ações. [Além disso] as organizações possuem metas múltiplas e conflitantes, o que acarreta em coalizões de poder [na] definição de metas [...] (2004, p.240-242).

Na tradição acadêmica, a eficiência não se preocupa com os fins, mas apenas com os meios, ao passo que a eficácia preocupa-se em atingir os objetivos organizacionais.

No âmbito estatal, todavia, os conceitos de eficiência e eficácia organizacionais devem necessariamente assumir um conteúdo diferenciado, ou como explicitado por Catalá (2007, p. 299), seria necessário transcender as noções convencionais de eficiência e de eficácia (embora sejam muito importantes) e concentrar-se no que se poderia chamar de capacidade para fazer com que o futuro tome o rumo desejado. Este é o principal objetivo da melhoria das políticas públicas.

Ou como categorizado por Meirelles, (2010, p. 98) o que se impõe a todo agente público é que realize suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. Seria para o autor o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

Em síntese, no âmbito público o resultado da eficiência não pode ser avaliado com base exclusivamente nos produtos de um programa governamental ou nos de uma determinada empresa estatal, mas sim em relação aos seus impactos qualitativos e quantitativos.

A análise sobre o princípio da eficiência passa, necessariamente, pela verificação da efetividade, atualmente incorporado ao conceito ora em discussão, ou seja, se foi gerado um impacto transformador da realidade para o público-alvo do programa, tendo sido satisfeitas suas necessidades, sendo o público-alvo não só o cidadão/usuário atingido diretamente pelas ações, mas toda a coletividade, inclusive as gerações futuras.

Efetividade, pois, diz respeito aos resultados que uma ação traz em benefício da população; consiste em averiguar a real necessidade de determinadas ações estatais, deixando claro que setores são beneficiados em detrimento de outros atores sociais.

Bresser Pereira e Spink (2006, p. 11-12), afirmam que, para efetivamente ser capaz de atender as demandas crescentes da sociedade, é preciso que o Estado se reorganize, e para tanto é necessário que adote critérios de gestão capazes de reduzir custos, buscar maior articulação com a sociedade, definir prioridades democraticamente e mostrar resultados.

Como visto, o artigo 37 da Constituição Federal prescreve a eficiência como um princípio constitucional a ser respeitado e seguido pela administração pública. Como assinala Moraes (2004, p. 286), porém, eficiência no serviço público compor-se-ia das seguintes características básicas: direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do bem comum, imparcialidade, neutralidade, transparência, participação e aproximação dos serviços públicos da população, eficácia, desburocratização e busca da qualidade.

Tal como ressaltado por Campos (2005, p.23), o princípio da eficiência, assemelhado ao da efetividade e nos termos de sua complexidade, portanto, deve ser observado pelos órgãos e entidades da administração pública, priorizando os meios e procedimentos administrativos e resultados finais de suas ações.

Cabe também considerar como a avaliação da gestão pública pode constituir-se em ferramenta poderosa do exercício das atribuições e competências da administração pública, avaliação conceituada por Garcia (1997, p. 25-27) como sendo uma operação na qual é julgado o valor de uma iniciativa organizacional, a partir de um quadro referencial ou padrão comparativo previamente definido. Em outros termos definidos pelo autor, “avaliação corresponde ao ato de determinar valor e importância a alguma coisa. É exercer julgamento sobre ações, comportamentos, atitudes ou realizações”. Ou seja, avaliar não significa apenas medir, mas julgar a partir de um referencial de valores e estabelecer o confronto entre situações ou, como o próprio Garcia afirma, trata-se de “confrontar a situação atual com a ideal, o possível afastamento dos objetivos propostos, das metas a alcançar, de maneira a permitir a constante e rápida correção de rumos, com economia de esforços (de recursos) e de tempo”.

As verdadeiras avaliações são aquelas que subsidiam decisões, que procuram resolver preocupações e problemas dos que conduzem políticas, programas e projetos, que examinam e julgam a ação governamental e que se dirigem, também, ao usuário/beneficiário, concentrando-se nos valores e necessidades sociais (1994, p.7).

Em regra geral, na administração pública o desempenho refere-se à realização de compromissos assumidos e ao cumprimento de suas competências inerentes, ou como explica Garcia, (1997, p. 40) trata-se do “resgate do compromisso de execução de uma programação formalmente estabelecida como desejável e factível, a partir de parâmetros confiáveis surgidos da aplicação do conhecimento técnico-científico sobre a experiência prática”.

De toda forma, as avaliações requerem juízos de valor, notadamente quanto à verificação da consecução do elemento legitimidade, visando uma melhor orientação para o decurso da atividade administrativa investigada. Por isso devem ser ágeis e permanentemente acompanhar o processo de implantação de ações para o alcance dos objetivos societários, que podem se defasar, sendo necessário criticá-las também de forma permanente.

Documentos relacionados