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Alguns problemas do mercado de cinema brasileiro

No documento politicas culturais (páginas 105-114)

Melina Izar Marson

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007milhões de ingressos

4. Alguns problemas do mercado de cinema brasileiro

A observação dos dados sobre a receita de bilheteria do cinema brasileiro mostra uma situação pouco confortável para o mercado. De fato, durante a maior parte do período essa receita não acompanhou o crescimento do consumo das famí- lias no Brasil – o que significa que o cinema exibido em salas de espetáculo está deixando de acompanhar o crescimento do mercado brasileiro.

Os dados do Filme B nos permitem verificar a correlação entre a evolução do preço dos ingressos e o público nas salas de cinema. Se tomarmos o período que vai de 1997 a 2004, essa correlação é altamente significativa, sendo da ordem de – 0,8. Ou seja, pode-se afirmar que: a) existe uma correlação entre o aumento

7 As opções são PPV/VOD, DVR, Surround Sound, MP3 player (vídeo), digital cable, DVD rental services, Satellite TV e Movie downloading services. Conforme MPAA (2008).

140 120 180 160 100 80 60 40 20 0

Gráfico 12: Ingressos vendidos x consumo das famílias

Consumo Bilheteria

n

úmero índice (1991 = 100)

Fonte: Dados Filme B e Ipeadata, nossa elaboração.

O mercado de cinema no Brasil

198

Políticas Culturais: Reflexões e Ações

199 do preço do ingresso e a queda no número de ingressos vendidos, sendo que

o aumento do preço precede a queda na bilheteria, podendo ser, portanto, sua causa; b) a partir de 1998, há uma queda do preço dos ingressos que precede a recuperação de público.

Por outro lado, a partir de 2003 existe uma redução do público que permanece até o presente. Esse foi o momento do barateamento dos produtos eletrônicos no mercado brasileiro e da expansão do crédito, com a venda nas grandes lojas de va- rejo. Há razões para crer que isso possa ter influenciado a ida ao cinema, na medida em que o público passou a contar com outras opções de entretenimento.

Por outro lado, a evolução do público de filmes brasileiros no mercado nacional não guarda qualquer relação com o preço do ingresso, como mostra o Gráfico 14. Esse resultado parece indicar que o público para o filme nativo é em função da qualidade do produto e do marketing aplicados de forma que gerem blockbusters.

140 120 180 200 160 100 80 60 40 20 0

Gráfico 13: Público e preço do ingresso

Público Ingresso

n

úmero índice (1991 = 100)

Fonte: Dados Filme B, nossa elaboração.

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 100108 79 104 132 140 163 163 173 147 125130 119 109 107 107108 116 74 79 89 97 55 70 69 72 78 96 129 104 96 93 93 700 600 800 500 400 300 200 100 0

Gráfico 14: Preço e público dos filmes brasileiros

Público filme

brasileiro Ingresso

Fonte: Dados Filme B, nossa elaboração.

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 100 1 2 9 100 41 80 120 173 240 233 243 735 547 358 331 93 108 104 132 140 163163 173 147 125 130 119 109 107 107 108 116 5. Conclusão

A partir deste estudo, começamos a observar o cinema no Brasil como ob- jeto de análise com base no instrumental-padrão de economia, ainda que em caráter muito preliminar. Podemos caracterizar a configuração dos mer- cados, atacar alguns problemas e, sobretudo, propor pontos a serem objeto de próximos estudos.

Comecemos pela estrutura dos mercados. A cadeia produtiva do cinema no Brasil, à semelhança daquela implantada em outros países do mundo, revela um forte desequilíbrio entre seus diversos elos. A produção é altamente competitiva, com cerca de 700 firmas operando, frequentemente produ- zindo também para os mercados de televisão e publicidade, a situações de financiamento extremamente incertas.

A distribuição é um oligopólio com duas dezenas de firmas, das quais as seis estrangeiras detêm a grande maioria dos negócios, colocando tanto filmes em fita para a exibição theatrical quanto para as janelas home video e TV. Já a exibição é bastante diferenciada, a começar pela theatrical, que é um oligopólio com franja, no qual as três maiores firmas detêm mais da metade do volume de negócios. A janela de exibição home video divide-se entre um segmento sell through, que ainda está para ser analisado, e o segmento rental, que é um mercado altamente concorrencial, com uma grande quantidade de locadoras em sua esmagadora maioria de pequeno porte, espalhadas por todas as esquinas deste país. O comportamento das firmas e as relações entre os diversos elos da cadeia merecem estudos mais detalhados.

Por outro lado, se o aumento da oferta é o alvo principal das políticas de financiamento, tendo em vista os elevados custos operacionais e de esta- belecimento do negócio, as razões da queda de público nos últimos anos parecem estar mais na demanda, na decisão racional do consumidor vis-à- vis ao seu combo de entretenimento conjugado aos baixos níveis de renda média da população brasileira.

Enfim, os estudos sobre a economia do cinema nas universidades brasileiras apenas engatinham. Esperamos ter contribuído para uma primeira aborda- gem global sobre o tema.

O mercado de cinema no Brasil

200 Fabio Sá Earp

Professor associado do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Laboratório do Audiovisual (LAV-UFRJ). Ex-professor da PUC, da Uerj e da UFF. Publicou Pão e Circo – Limi- tes e Perspectivas para a Economia do Entretenimento (Palavra e Imagem, 2002) e A Econo- mia da Cadeia Produtiva do Livro (BNDES, 2005, coautoria com George Kornis).

Helena Sroulevich

Consultora e pesquisadora do LAV-UFRJ. Produtora cultural e pesquisadora em econo- mia da cultura. Produziu o filme Bela Noite para Voar, de Zelito Viana, lançado em março de 2009, e as peças teatrais Boca de Cowboy, de Michel Bercovitch, em 2008, e Mercado- rias e Futuro, de José Paes de Lira e Leandra Leal, em 2007-2009. Atualmente dedica-se à produção do longa-metragem Dores de Amores, inspirado na peça homônima de Leo Lama, que será dirigido por Raphael Vieira.

Referências bibliográficas

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BENHAMOU, Françoise. Les derèglements de l´exception culturelle. Paris: Seuil, 2006.

BONELL, René. La vingt-cinquième image. Une économie de l´audiovisuel. 4. ed. Paris: Gallimard, 2006.

BOTELHO, Isaura; FIORE, Maurício. O uso do tempo livre e as práticas culturais na Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo: Centro de Estudos da Metrópole do Cebrap, 2005.

DATAFOLHA. Hábitos de consumo no mercado de entretenimento. São Paulo: Instituto de Pesquisas Datafolha, 2008. Pesquisa realizada para o Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Município do Rio de Janeiro. Dis- ponível em: http://sedcmrj.locaweb.com.br/pesquisa/pesquisa_habitos_consu- mo_agosto2008.pdf e http://sedcmrj.locaweb.com.br/pesquisa/pesquisa_habi- tos_consumo_qualitativa.pdf.

MPPA – Motion Picture Association of America. Theatrical marketing statistics 2008. Disponível em: www.mppa.org/researchstatistics.asp. Acesso em: 1o set. 2009. SÁ-EARP, Fabio; KORNIS, George. A economia da cadeia produtiva do livro. Rio de Janeiro: BNDES, 2005. Disponível em http://www.ie.ufrj.br/publicacoes/ebook/ index.html.

SÁ-EARP, Fabio; SROULEVICH, Helena. O comportamento do consumidor de produtos culturais e os combos de entretenimento. In: MELO, Victor A. (Org.). La- zer: aspectos históricos, configurações contemporâneas. São Paulo: Alínea, 2008. WORLD Bank. Global purchasing power parities and real expenditures – 2005 international comparison program. 2008. Disponível em http://siteresources. worldbank.org/ICPINT/Resources/icp-final.pdf.

Políticas Culturais: Reflexões e Ações 201

Festivais

audiovisuais

Brasileiros:

Um diagnóstico

do setor

Tetê Mattos

Antonio Leal

Introdução

No segmento do audiovisual brasileiro, o setor dos festivais de cinema e vídeo vem apresentando um significativo crescimento no decorrer das últimas déca- das, revelando um enorme potencial cultural, social e econômico.

Este artigo tem como objetivo apresentar e analisar os resultados da pesquisa realizada pelo Fórum dos Festivais em parceria com a Secretaria do Audiovi- sual do Ministério da Cultura , que resultou num diagnóstico dos festivais bra- sileiros de cinema, vídeo e outras linguagens audiovisuais que aconteceram tanto no Brasil quanto no exterior no ano de 2006.

Festivais audiovisuais brasileiros: um diagnóstico do setor

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do Maranhão temos o I Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, em 1978.

O Rio Cine Festival nasce em 1985 dedicado ao cinema brasileiro. Em fins da década de 1980, surge a Mostra Internacional de Cinema do Rio de Janeiro que, em fins dos anos 1990, se torna o Festival do Rio.

Mas é nos anos 1990 que o país assiste a um verdadeiro crescimento dos fes- tivais de cinema. O curta-metragem ganha duas mostras de peso: o Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, criado em 1990, e a mostra Curta Cinema, realizada no Rio de Janeiro em 1991. Surgem também festivais que apresentam obras em campos de criação específicos, como o Anima Mun- di, dedicado ao cinema de animação, e eventos dedicados ao cinema docu- mentário (Tudo É Verdade e Mostra do Filme Etnográfico).

As capitais Vitória (ES), Recife (PE), Fortaleza (CE), Cuiabá (MT), Natal (RN), Tere- sina (PI) e municípios como Tiradentes (MG) e Armação dos Búzios (RJ), com perfis turísticos, passam a sediar eventos audiovisuais nos anos 1990. Somam- se a eles festivais com foco na produção universitária, com a temática da diver- sidade sexual, filmes latinos ou infantis.

Com esse significativo crescimento do setor dos festivais no decorrer das duas últimas décadas – revelando um enorme potencial cultural, social e econômi- co –, urge a necessidade de conhecimento desse setor.

O Diagnóstico Setorial 2007/Indicadores 2006 apresenta dados relativos a 132 eventos audiovisuais. Esse foi o total de festivais que a pesquisa alcançou e constitui a base das análises realizadas.

A metodologia adotada

O Diagnóstico Setorial 2007/Indicadores 2006 atuou com uma cobertura na- cional e internacional do circuito de festivais audiovisuais brasileiros, objetivan- do a captura de uma ampla gama de dados sobre essa atividade. A definição metodológica aplicada foi estabelecida em três premissas: ineditismo, poten- cial do setor e amplo raio de cobertura das questões.

Tratando-se de um estudo inédito, houve uma necessidade prioritária de cria- ção de uma estrutura de informações primárias que demandou um longo período de atividades, mas que se encontra pronta para prosseguir nos futuros levantamentos de indicadores do setor de festivais.

Numa primeira etapa, foram definidos os objetivos da pesquisa e seus pos- síveis desdobramentos:

Esse estudo inédito apresenta dados relativos a 132 eventos audiovisuais, número total de festivais que a pesquisa alcançou e que constitui a base das análises realizadas. Com essa pesquisa foi possível conhecer com mais intimi- dade o setor de festivais audiovisuais que revelou extraordinária vitalidade tan- to nos aspectos artísticos e culturais quanto nos econômicos e sociais.

O conjunto de informações sistematizadas na pesquisa sobre o setor festivais audiovisuais envolveu os seguintes aspectos: função dos festivais; perfis dos eventos; impactos econômico, social e cultural; volume de recursos movimen- tados pelo setor; fontes de recursos; patrocínios e apoios; geração de emprego; quantidade de exibições, quantidade de filmes exibidos, distribuição regional do circuito de festivais; quantidade de espectadores; perfil dos orçamentos de execução; período de realização do circuito de festivais; entre outros.

A realização do Diagnóstico Setorial 2007/Indicadores 2006 é um reflexo da ne- cessidade de prospectar, analisar e consolidar as principais informações desse setor estratégico para o audiovisual brasileiro, produzindo um estudo setorial referencial, fazendo surgir uma base informativa inédita em condições de con- tribuir para a construção de políticas públicas e nortear os apoios da iniciativa privada ao circuito de festivais. Trata-se de organizar e disponibilizar uma plata- forma consultiva que oriente as relações de todos os segmentos interessados na esfera de atuação dos festivais de cinema.

O histórico dos festivais

Os primeiros festivais de cinema de que temos notícia no Brasil aconteceram na dé- cada de 1950. O Festival Internacional de Cinema do Brasil, realizado na cidade de São Paulo em 1954, teve ênfase no caráter não competitivo e apostou em mostras informativas e em cursos de formação e debates. Teve uma única edição.

Onze anos depois, em 1965, nascia, na capital federal, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, nas três primeiras edições chamado de Semana do Cinema Bra- sileiro, que se constitui como uma importante vitrine para o cinema nacional. Nos anos 1960, ainda são criados outros poucos festivais, mas todos sem con- tinuidade. Destaque para o Festival Brasileiro de Cinema Amador – JB/Mesbla, no Rio de Janeiro, que realizou seis edições.

Nos anos 1970, acompanhamos o surgimento de quatro novos festivais de ci- nema que se consolidam em várias regiões do país: em Salvador (BA), nasce em 1972 a I Jornada Brasileira de Curta-metragem; no Rio Grande do Sul, em 1973 é realizado o I Festival de Cinema Brasileiro de Gramado; em 1977, na capital paulista, nasce a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; e em São Luís

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t7BSJÈWFJTTPDJBJTUSBUBEBTJOJDJBUJWBTTPDJBJTEFTFOWPMWJEBTQFMPTFWFOUPT DPNP sessões gratuitas, realização de oficinas e outras ações;

t&YQFDUBUJWBTFPQJOJÜFTUSBUBEBTQFSTQFDUJWBTFEJmDVMEBEFTFOGSFOUBEBTQFMPT realizadores de eventos audiovisuais no tocante aos aspectos de produção dos eventos.

Na terceira etapa, contamos com o apoio da Fundação Euclides da Cunha de Apoio Institucional à Universidade Federal Fluminense (FEC), que desenvolveu um projeto de elaboração do questionário on-line distribuído para todos os festivais. Também coube à FEC, além da hospedagem da base de dados em seu site, o pro- cessamento informatizado das informações coletadas e a emissão de relatórios. A quarta etapa constituiu-se no levantamento dos dados. A coleta das infor- mações foi a etapa que apresentou maior dificuldade pelo retorno desconti- nuado do questionário-padrão, com impacto nos cronogramas predefinidos e demandando esforço redobrado da equipe responsável por essa tarefa. O desafio da pesquisa foi lidar com a ausência de bancos de dados, a informali- dade de alguns festivais e a imprecisão de algumas informações. Essas dificul- dades foram superadas com o exaustivo trabalho da equipe de produção na cobrança das respostas, algumas vezes feitas por meio de telefonemas. Na quinta etapa, iniciamos o trabalho minucioso de tabulação das respostas, para a partir daí dar início à análise dos resultados, o principal instrumento de reflexão para o setor.

O universo pesquisado

A pesquisa considerou como “evento audiovisual” a iniciativa estruturada em mostras ou sessões capaz de promover o produto audiovisual, respeitando-o como manifestação artística e disponibilizando-o à sociedade, com propos- ta de periodicidade regular. Ou seja, eventos que buscam continuidade, um calendário fixo e várias edições. Não foram consideradas pela pesquisa as chamadas iniciativas eventuais. Dessa forma, identificamos 132 eventos reali- zados em 2006, sendo 22 deles em sua primeira edição.

Os resultados – variáveis cadastrais

Tomando por base o número de festivais registrados no primeiro Guia Brasileiro de Festivais de Cinema e Vídeo 1999, é possível verificar que o circuito de festivais mais do que triplicou em sete anos, saindo de 38 eventos naquele ano para 132 festivais em 2006. Em comparação com os dados disponíveis do ano de 2005, quando foram realizados 96 eventos, esse número cresceu em 36 festi- vais, apurando-se uma variação porcentual de 37,5% em um ano.

t$PNQSFFOEFSBDPOmHVSBÎÍPEPTFUPSEPTGFTUJWBJTEFDJOFNBCSBTJMFJSPTSFBMJ- zados no Brasil e no exterior;

t*EFOUJmDBSPTEJGFSFOUFTQFSmTEPTTFUPS t%JBHOPTUJDBSPQPUFODJBMDVMUVSBM FDPOÙNJDPFTPDJBMEFTTFTFUPS t*EFOUJmDBSBTQFDUPTSFMBDJPOBEPTËTBÎÜFTEPTGFTUJWBJT t$SJBSCBTFEFEBEPTQBSBTVCTJEJBSBÎÜFTEB4FDSFUBSJBEP"VEJPWJTVBMEP.JOJT- tério da Cultura; t*EFOUJmDBSFYQFDUBUJWBT TFOUJNFOUPT PQJOJÜFTFEJmDVMEBEFTFODPOUSBEPTQFMPT organizadores dos festivais audiovisuais.

Procuramos avaliar o número de festivais que participaram do diagnóstico para termos uma real dimensão do universo pesquisado. Nesse momento, defini- mos o método de coleta de dados e os instrumentos utilizados na pesquisa. A base preliminar utilizada para a identificação dos eventos participantes da pesquisa foi o site do Fórum dos Festivais e o Guia Brasileiro de Festivais de Ci- nema e Vídeo (Associação Cultural Kinoforum), que se revelaram ferramentas absolutamente fundamentais para este trabalho. O primeiro por ter se trans- formado num ponto de referência, aglutinador da atividade, e por receber constantemente informações dos festivais. O segundo por ser uma referência histórica para o setor de festivais e pioneiro na divulgação de dados dos even- tos audiovisuais, suprir carências e manter uma impecável regularidade em suas edições desde 1999.

Numa segunda etapa, trabalhou-se na elaboração do questionário a ser apli- cado aos organizadores de festivais. Contamos com a consultoria da pesquisa- dora Margareth Luz, socióloga com vasta experiência na área cultural. Grande parte do valor da pesquisa depende da eficácia do questionário. Para isso fize- mos um “teste piloto” para nos certificarmos da qualidade das perguntas por nós formuladas.

A conceituação aplicada ao questionário-padrão da pesquisa visou dar condições de apuração da amplitude da atuação do setor de festivais, buscan- do cobrir, em grande parte, as variadas ações dos eventos e suas ramificações na sociedade, considerando:

t7BSJÈWFJTDBEBTUSBJTUSBUBEPTEBEPTSFGFSFOUFTËJEFOUJmDBÎÍPEPFWFOUPFEF seus organizadores;

t7BSJÈWFJTDVMUVSBJTUSBUBEPTEBEPTSFGFSFOUFTBPQFSmMEPFWFOUP OÞNFSPTF perfil de público, formatos e espaços de exibição, perfil das obras exibidas e ativi- dades de formação e reflexão;

t7BSJÈWFJTFDPOÙNJDBTUSBUBEPTEBEPTSFGFSFOUFTBPTSFDVSTPTNPWJNFOUBEPT pelos eventos audiovisuais e dos empregos por eles gerados;

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Essas regiões têm papel fundamental na dispersão da composição geográfica dos festivais pelo país. E mais: possuem forte potencial para o surgimento e o fortalecimento de novas iniciativas.

Fazendo um recorte analítico sobre a participação individual dos estados e países na composição do circuito de festivais, verificou-se que o estado de São Paulo liderou a tabela de participação porcentual no circuito em 2006, com 19,69%. Em seguida despontam Rio de Janeiro (15,15%) e Minas Gerais (13,64%). No exterior, Estados Unidos e França estão à frente dos demais países.

Festivais em 2006 26 20 18 8 5 4 4 4 Participação no circuito (%) 19,69% 15,15% 13,64% 6,06% 3,03% 3,79% 3,03% 3,03% Estado São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Rio Grande do Sul Bahia Ceará Espírito Santo Paraná 4 4 4 3 3 2 3 2 3,03% 3,03% 3,03% 2,27% 2,27% 2,27% 1,51% 1,51% Pernambuco Mato Grosso Amazonas Distrito Federal Goiás Santa Catarina Estados Unidos França 2 2 1 1 1 1 1 1 1,51% 1,51% 0,76% 0,76% 0,76% 0,76% 0,76% 0,76% Pará

Rio Grande do Norte Alagoas Alemanha Amapá Espanha Israel Japão 1 1 0,76% 0,76% Maranhão

Mato Grosso do Sul

Quadro 2: Participação individual por estado/país no total do circuito

1 1 1 1 1 1 0,76% 0,76% 0,76% 0,76% 0,76% 0,76% Paraíba Piauí Portugal Rondônia Sergipe Tocantins 0 0 0% 0% Acre Roraima Total 132 100%

A análise do Quadro 1 aponta que o circuito de festivais cresceu a um porcen- tual médio de 19,82% nos últimos sete anos, com destaque para os anos de 2002, 2003 e 2006, que ficaram acima dessa média.

Do ponto de vista geográfico, dos 132 eventos realizados em 2006, 123 festivais aconteceram no Brasil e 9 ocorreram em território estrangeiro.

No Brasil, apenas em Roraima e no Acre não foram identificados registros de eventos audiovisuais em 2006. O estado com maior presença de festivais foi São Paulo, com 26 eventos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 20. A Região Sudeste desponta como aquela que possui o maior número de festivais: 68. Esse desenho geográfico que revela uma forte atuação de festivais na Região Sudeste acompanha os resultados verificados em todos os levantamentos es- tatísticos regionais na área cultural: aprovação de projetos nas leis federais de incentivo à cultura, volume de captação de recursos por meio das leis federais de incentivo à cultura, inscrição e seleção de projetos em seleções públicas, inscrição e seleção de projetos em editais. Em todas essas situações, a Região Sudeste concentra o maior nível de participação.

Porém, ao contrário dessas ações, o circuito de festivais revela uma significativa presença qualitativa e econômica de eventos de grande expressão cultural em outras regiões do país, que surge como um elemento compensatório diante da análise puramente quantitativa. Ou seja, apesar do maior número de eventos estar concentrado na Região Sudeste, outras regiões do país apresentam festi- vais consolidados no circuito, com anos (e até décadas) de realização contínua e com enorme capacidade para alavancar negócios e parcerias com base em seu potencial artístico-cultural.

Nº de eventos 38 44 48 62 75 86 96 132 Crescimento em relação ao ano anterior + 6 eventos + 4 eventos + 14 eventos + 13 eventos + 36 eventos + 11 eventos + 10 eventos Variação em relação ao ano anterior (%) 15,78% 9,09% 29,16% 14,66% 20,96% 37,5% 11,62% Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Quadro 1: A evolução histórica dos festivais

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No tocante à presença de festivais brasileiros no exterior, a pesquisa apontou como resultado a realização de nove projetos. Esses eventos são a garantia da exibição de filmes nacionais em diversos países e da criação de um ambiente de negócios favorável à comercialização dessas obras.

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