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Alguns tópicos sobre a escola na era tecnológica

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CAPÍTULO 1. UMA VISÃO PRELIMINAR SOBRE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

1.3 Alguns tópicos sobre a escola na era tecnológica

TECNOLÓGICA

A evolução da tecnologia vem provocando uma revolução no ensino, e consequentemente, no conhecimento. Afirma Lévy (1993, p. 09):

é certo que a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, em um uso moderado da impressão. Uma verdadeira integração da informática (como do audiovisual) supõe, portanto o abandono de um hábito antropológico mais que milenar o que não pode ser feito em alguns anos.

Importante reconhecer que as mudanças provocadas por essa evolução apontada por Lévy é confortável e tranquila para alguns – por exemplo, as crianças e adolescentes da contemporaneidade, que nascem nesta era da comunicação e informação – mas há outro lado, o daqueles que ainda apresentam sua formação e atuação enraizada nesta postura do professor falante e detentor do saber e o educando como ouvinte e receptor do conhecimento.

Portanto, existe a necessidade de considerarmos a tecnologia dentro de um contexto global, uma vez que ela está na vida das pessoas, faz parte do cotidiano: está nos bancos, nos sinaleiros, nos celulares, nas cabines de votação nas eleições, nas instituições de ensino, não podendo ser ignorada.

Desta forma, a escola precisa se abrir, se envolver para iniciativas como: promover formação continuada no sentido de explorar as possibilidades tecnológicas em conjunto com educadores e educandos e passar a se enxergar como um espaço relacional com outros espaços sociais também de aprendizagem.

Gómez (2001) traz à tona um debate pertinente à temática quando discute a importância de analisarmos as mediações que favorecem o acesso da criança às mídias. O autor coloca que essa relação é antecedida por uma série de fatores, tais como: social, político, histórico etc. Nesse sentido, tal autor organiza a teoria das multimediações7 que envolvem as diferentes mediações vivenciadas pela criança e qual sentido lhe é atribuído, bem como: as instituições, amigos, familiares e da própria mídia. Por isso este trabalho contempla também a presença da família de forma a compreender usos e relações com o computador nas diferentes esferas sociais ocupada pelo sujeito.

Kishimoto (2010) discute a questão do letramento como prática social afirmando que "a criança torna-se letrada na atividade situada, por meio de

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A referida Teoria das Multimediações foi proposta por Jesús Martin Barbero (autor colombiano) e desenvolvida metodologicamente pelo pesquisador mexicano Guillermo Orozco Gómez. Esta teoria dá subsidio para grande parte das pesquisas hoje que versam sobre as relações entre mídia e cotidiano, bem como mídia e educação. Pois, esta defende que há sim um sentido atribuído pelos receptores das mídias em que os cercam. Logo, de meros receptores tal teoria atribui a estes como receptores ativos que inculcam valores e sentido ao que lhe são apresentados – considerando estes como sujeitos históricos e se encontram dentro de um contexto que influencia nessa relação com as mídias.

diferentes instrumentos sociais de comunicação, como computadores, internet, telecomunicações [...]” (p. 20). Na linguagem imagética podemos definir da seguinte forma:

Figura 1- A família na era tecnológica

Fonte: (DZWONIK, 2010)

Canclini (2003), na linha dos estudos culturais, contextualiza esse panorama da sociedade da informação, apontando que as crianças da sociedade atual são a primeira geração que cresceu cercada por mídias, tais como televisão a cores e controle remoto e uma parcela considerável com computador e acesso a Internet. Logo, hoje muitos outros meios de comunicação (por exemplo, celulares, vídeo game, computadores, etc.) já fazem parte do cotidiano das crianças desde a tenra idade, o que contribuiu para a produção de novas formas de aprender e consequentemente essas novas formas são refletidas na maneira como as crianças relacionam-se com os conhecimentos e com as possibilidades do computador para aprendê-lo.

Com efeito, a mudança no modelo educacional das instituições de ensino tornou-se mais visível no final do século XX, pois foi preciso – por conta das grandes transformações sociais e intelectuais neste século – basearem a educação na informatização, a fim de dar conta das diversificadas informações às

quais o educando precisaria tomar conhecimento. “O eixo da cultura de massas deslocou-se. Seu campo ampliou-se penetrando cada vez mais intimamente na vida cotidiana, no lar, no casal, na família, na casa, no automóvel, nas férias.” (MORIN, 1977, p. 7)

Diante disto, as instituições de ensino não podem se desvencilhar das mudanças econômicas e sociais que estão ocorrendo em nosso planeta devendo considerar as necessidades da sociedade atual, por isso a importância de se repensar o ensino e a inserção efetiva da tecnologia no processo educativo.

Em outras palavras,

[...] o fato é inegável de que, no nosso país, já não se trata mais de optar a introdução e a não-introdução do computador nas escolas. Isso já está decido - e não pela SEI – Secretaria Especial de Informática8 ou pelo MEC [...], mas por um processo histórico irreversível, inclusive no Brasil. [...] Se os educadores não se envolverem com essa introdução, para de certa maneira controlá- la, outros o farão, e os educadores, mais uma vez, ficarão na posição de meros observadores de um processo que, exercendo- se sobre a educação, será conduzido não por quem dela participa, mas sim por quem tem iniciativa. (CHAVES & SETZER, 1988, p. 22)

A discussão com relação o uso da tecnologia no processo ensino- aprendizagem nos faz pensar sobre a omissão da maioria dos educadores frente a esta possibilidade no ensino, quando permitem que outros profissionais invadam sua área de atuação e coloquem modelos e práticas, tal como os programadores de softwares. E, dessa forma, por que não os profissionais da educação como autores dessa possível parceria entre educação e tecnologia?

E, aos que têm a iniciativa e se permitem vivenciar outros caminhos de se fazer educação, assim como colocado por Chaves e Setzer, abre-se a possibilidade de descobrir as possibilidades da parceria ensino e novas tecnologias, pois, na sociedade do conhecimento, através de uma avançada base tecnológica, é possível o acesso à informação onde quer que ela esteja estreitando a relação entre a tecnologia e a educação. Surgem, então, novos

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Órgão criado, em 1979, junto ao conselho de Segurança Nacional e hoje vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

ambientes de ensino-aprendizagem e, novas formas de aprender e ensinar, além do espaço escola como instituído na sociedade do conhecimento.

Por outro lado, “considerar o computador apenas como um instrumento a mais para produzir textos, sons, imagens sobre suporte fixo (papel, película, fita magnética) equivale a negar sua fecundidade propriamente cultural, ou seja, o aparecimento de novos gêneros ligados a interatividade.” (LÉVY, 1996, p. 41).

Desta forma, ver no computador apenas a modernização e atualização dos processos de ensino é desconsiderar a potencialidade e possibilidades proporcionadas pelo uso do computador no campo educacional e reduzi-lo ao caráter de substituição de instrumentos sem alterar os modos de ensinar e aprender, ou seja, altera-se o cenário, mas o processo continua a mesmo.

Assim sendo, é indispensável reconhecer que vivemos em um universo de linguagens, que nos constituem enquanto sujeitos históricos imersos na cultura do nosso tempo, marcado pelas novas formas de comunicação e com acesso a uma vasta gama de informações de forma rápida, múltipla e em rede alterando a nossa relação com o próprio tempo e espaço – que não são mais limites para o nosso processo de aprendizagem.

Em outros termos, é romper com “uma percepção escolarizada da aprendizagem: a aprendizagem acontece na escola, não no mundo [...] Logo, “esta perspectiva não considera o processo de construção da identidade infantil e adolescente, em um mundo mediado pela tecnologia e pelo acesso massivo à informação”. (SANCHO, 2006, p. 35)

Nesse sentido, não se trata apenas da inserção da tecnologia na educação, mas de repensar as concepções sobre o aprender, ensinar; rever os papéis dos sujeitos que constituem o processo de ensino e atribuir à Educação a complexidade que a cerca e a constrói no contato com os sujeitos, inserida em uma sociedade.

Dessa maneira, coloca-se a seguinte reflexão: e o papel da escola nesta sociedade da informação? Acredito que um possível caminho a esta pergunta está na escola se permitir, se autorizar a se abrir, a se envolver com esta iniciativa. Atrelada a esta iniciativa, partimos para a formação continuada em conjunto com educadores e educandos de forma a conhecer, a aprender com as

possibilidades oferecidas pela tecnologia e, por fim, passar a enxergá-la como um espaço relacional com outros espaços sociais também de aprendizagem.

Assim como já citei na apresentação deste trabalho, falar sobre tecnologia na contemporaneidade é desafiador e polêmico, pois há os que acreditam na parceria – educação e tecnologia; há os que desacreditam nessa possibilidade para o processo educativo e, ainda lidamos com os inseguros frente a sua atuação docente e seu papel neste novo contexto cercado pela informação e comunicação.

1.3.1 Tecnologia na ou da educação: analisando diferentes nomenclaturas e implicações de concepções

Outro assunto que acompanha este processo da inserção da tecnologia no campo de ensino é quanto à terminologia utilizada para se referir a esta transformação na Educação.

Tecnologia na ou da educação? Durante o curso do Mestrado, dentre as contribuições para minha formação enquanto pesquisadora, uma delas foi a sensibilidade ao “escutar” o lugar de onde as palavras falam. Em outros termos, dependendo da área do conhecimento em que uma palavra é utilizada, esta assume um significado. Neste sentido, é importante compreender também a gênese das palavras que constituem o grupo de palavras consideráveis para a compreensão deste trabalho.

Deste modo, a palavra tecnologia pode ser considerada, nesta pesquisa, como uma palavra chave do estudo, uma vez que a mesma encontra-se em diversos momentos do texto. Assim sendo, é de capital importância fazer algumas considerações acerca desta. Para Litwin, “tanto a palavra „técnica‟ como o termo “tecnologia” tem a mesma raiz: o verbo grego tictein, significa “criar, produzir, conceber, dar à luz”. (1997, p. 25. In.:Liddell and Scott Greek-English Lexicon, Oxford, Clarendon Press, 1869).

para os gregos, a técnica – techné – tinha um significado amplo. Não era um mero instrumento ou meio, senão que existia num contexto social e ético no qual se indagava como e por que se produzia um valor de uso. Isto é, desde o processo ao produto, desde que a ideia se originava na mente do produtor em contexto social determinado até que o produto ficasse pronto, a techné sustentava um juízo metafísico sobre como e porquê da produção. (LITWIN, 1997, p. 25).

O que se vê hoje é outra compreensão de técnica, aquela reduzida apenas ao conjunto de ferramentas, instrumentos necessários para produzir algo.

Nesse sentido, justifico a não utilização do termo “tecnologia educacional”(ou tecnologia da educação) e sim “tecnologia na educação”, pois, o primeiro termo remete a escolarização da tecnologia. Muitas coisas que a escola incorporou consequentemente ela também a escolarizou, a escrita é um exemplo disto. Não se discutia a função social daquilo que era produzido na escola. “Uma percepção escolarizada da aprendizagem: a aprendizagem acontece na escola, não no

mundo” (SANCHO, 2006, p. 35) – concepção esta que perdurou (e ainda perdura)

na realidade educacional.

Hérnandez (2006) traz uma discussão bastante cabível acerca das possíveis causas que impossibilitam a efetiva interação entre educação e tecnologia. Ele afirma que o que impossibilita a expansão da tecnologia no campo educacional é a visão escolarizada do aprender, usando o termo “escolacêntrica” (p. 48) para caracterizar como a escola se apropria de determinados processos, bem como o ensinar e o aprender, de modo a domesticá-los. Jesús Martín-Barbero conversa com esse termo de Hérnandez quando chama a atenção para as mudanças colocadas aos mitos da escola: “hoy, una gran parte de los saberes, y quizá de los más importantes y socialmente valiosos, no pasan ya por la escuela ni le piden permiso a la escuela para circular por la sociedad”9 (2000, p. 105).

Quando falo de tecnologia educacional, parece que esta foi criada apenas para este contexto, enquanto não é isso que revela a realidade – uma vez que a tecnologia faz parte da vida das pessoas e não se encontra apenas na escola.

9 Tradução livre desta pesquisadora: “hoje, grande parte dos saberes, e talvez os mais

importantes e socialmente valiosos, já não passam pela escola, nem pedem permissão a escola para circular pela sociedade.”

Ademais, tal terminologia nos permite associar educação a mercado, pois tecnologia educacional está associada à criação de softwares educacionais, logo, a criação de produto para comercialização. Esta produção assume um caráter perdido, apenas para servir aos olhos mercadológicos, caso não haja diálogo entre tal tecnologia com didática e com propósitos emocionais.

Optei então pela segunda terminologia “tecnologia na educação” uma vez que a escola enquanto parte da sociedade e que faz intercâmbio social – e não a parte da sociedade como pode levar a compreender o primeiro termo, portanto a tecnologia encontra-se agora também no processo educacional.

Quero explicitar que essa discussão com relação às terminologias não mudará os problemas educacionais existentes, mas, enquanto pesquisadora percebi a necessidade de compartilhar a justificativa do termo escolhido e, contemplado neste trabalho.

O contato com a vasta produção acadêmica sobre o tema chamou a minha atenção quanto à variação dos termos e, desta forma, dediquei um item da minha dissertação para explorar a escolha da terminologia. Reafirmo que, a discussão sobre a efetiva inserção consciente e benéfica da tecnologia na educação não perpassa apenas a questão de termos. Ela é mais profunda quanto aos aspectos conceituais, didáticos e comportamentais, mas tive o cuidado também de refletir sobre a concepção por trás de cada escolha quanto ao termo utilizado.

1.4 O COMPUTADOR: APENAS UMA PARTE DOS AVANÇOS

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