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Alho, Allium sativum L

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.8. Inseticidas Botânicos

2.8.3. Alho, Allium sativum L

O alho, planta perene pertencente à família Liliaceae, tem sido utilizado por milhares de anos na culinária e na medicina como estimulante do apetite, anti-hipertensivo, anti- aterosclerótico e anticancerígeno, além de atuar também como bactericida, antiviral, fungistático e antihelmíntico (GUARRERA, 1999). Possui ainda grande poder anticoagulante, sendo potencialmente perigoso quando ingerido em grande quantidade pelo risco de provocar graves sangramentos em mucosas (BIANCHIN & CATTO, 2004).

O uso de A. sativum como remédio data de época remotíssima, pois as medicinas primitivas egípcia, hindu e grega já utilizavam o alho como agente antisséptico. Na pirâmide de Queops, edificada há mais de 4.500 anos, o alho era comprado a peso de ouro e distribuído aos escravos para que eles ficassem imunes às epidemias que grassavam na época, principalmente o tifo e a cólera. Hipócrates utilizava o alho em seus pacientes como medicamento antileprótico de grande eficácia e Plínio usava-o como quimioterápico na luta contra a tuberculose e verminoses em seres humanos e animais (BETONI et al., 2006).

O poder antisséptico do alho é aproximadamente 50 vezes superior ao do álcool a 90° (BATATINHA et al., 2004), apresentando notável ação antifúngica contra fitopatógenos como Aspergillus flavus, Fusarium sp. e Penicillium sp. (VIEGAS et al., 2005) e elevado poder bactericida contra bactérias patogênicas como Pseudomonas sp., E. coli e Salmonella sp. (MAGRO et al., 2006), graças aos compostos sulfurados que possui em sua composição química, sendo os mesmos derivados de aminoácidos e por isso apresentando forte capacidade

de inibir enzimas essenciais. Há também grande concentração de fitoalexinas ou isoflavonóides nos bulbilhos de A. sativum, o que aumenta ainda mais o seu poder biocida (CARVALHO et al., 2002).

A. sativum é utilizado em vários países como defensivo agrícola natural, podendo ser utilizado o óleo dos bulbos ou mesmo a planta inteira (PENTEADO, 1999). Alguns de seus princípios ativos são alicina, dialil dissulfeto, dimetil dissulfido (DMDS), polssulfetos de alila, trissulfetos de metil alila, ajoeno, alicisteína, alitiamina, nicotinamida, galantamina, ácido fosfórico, ácido sulfúrico, ácidos fenólicos, alil mercapatano, quercentina, catecol, selênio, óleos essenciais e resinas. No bulbo há grande quantidade de uma substância inodora chamada aliina, que pela ação da enzima aliinase e do composto S-etil L-cisteína também contidos no bulbo, se transforma em aliicina e posteriormente em dialil dissulfeto volátil, responsável pelo odor característico do alho (CAMARGO, 1993).

O dialil dissulfeto está presente em aproximadamente 60% do óleo de alho, sendo capaz de reduzir a captação de lipídeos pelas células do tecido que reveste a parede interna dos vasos sanguíneos, impedindo a formação de ateromas em mamíferos (OLIVEIRA et al., 1991).

A alicina (di-propenil-tiosulfinato), substância amarelada que só é liberada quando são rompidas as células dos bulbilhos, possui forte atividade antfúngica e bactericida, sendo responsável pela maioria das propriedades farmacológicas do alho. Os efeitos da alicina são conhecidos desde a década de 1950, sendo atualmente utilizada para combater tumores cancerígenos dada a sua grande capacidade de paralisar o desenvolvimento celular, levando as células defeituosas à morte (SCHNEIDER, 1984).

O dimetil dissulfido (DMDS) é um composto sulfurado altamente volátil produzido e liberado na atmosfera por algumas espécies pertencentes ao gênero Allium em resposta ao ataque de insetos, sendo extremamente tóxico para muitos deles por apresentar ação neurotóxica, afetando a transmissão sináptica pela inibição da respiração mitocondrial e resultando na inibição da liberação dos neurotransmissores. O DMDS oriundo de Allium sp. é um composto tão poderoso contra insetos que há estudos sendo feitos com vistas ao seu uso como agente fumigante para aplicação em grãos armazenados (DUGRAVOT et al., 2003).

Os polissulfuretos de alila, trissulfetos de metil alila e o ajoeno (produzido pela condensação da alicina) presentes no alho atuam de forma sinérgica impedindo a coagulação do sangue e evitando a formação de trombos (TORTORA et al., 2003).

Os catecóis presentes no alho são compostos fenólicos com forte ação antimicrobiana, que promovem inibição enzimática, interferindo no transporte de elétrons (PELCZAR et al., 1996).

Nos Estados Unidos, a extração do óleo de alho se dá em escala industrial, sendo o mesmo utilizado em cultivos comerciais como repelente de pragas para brássicas, vegetais de bulbo, cereais de grão, citros, algodão, cucurbitáceas, vegetais folhosos, solanáceas, leguminosas, árvores produtoras de nozes, plantas ornamentais, raízes, tubérculos e fruteiras (PENTEADO, 1999).

O alho é um defensivo mais barato que os agrotóxicos, não provocando intoxicação nos trabalhadores, não matando a fauna e a microbiota do solo, não destruindo enzimas, não contaminando os corpos d'água e sendo inofensivo para a maioria dos insetos benéficos (ALMEIDA & BATISTA FILHO, 2001).

Na alimentação animal, o alho tem sido utilizado como palatabilizante de rações e estimulante do crescimento de suínos, aves, eqüinos e ovinos (BIANCHIN et al., 1999). Produtos à base de pó de alho vêm sendo adicionados à ração animal para controlar nematódeos gastrintestinais de ruminantes, dada à crescente resistência que esses organismos têm apresentado aos anti-helmínticos disponíveis no mercado (BATATINHA et al., 2004; FONSECA, 2004).

O extrato de alho a 2,5% apresenta forte ação no controle da população da mosca branca Trialeurodes vaporariorum, tanto em condições de laboratório quanto no campo, de acordo com Polack (2005). Coimbra et al. (2006) relatam que a aplicação de extrato aquoso de alho a 4% sobre Scutellonema bradys, nematóide do inhame, atingiu os percentuais de 95,0 para imobilidade e 63,8 para mortalidade, em laboratório. Dutta et al. (2005), em ensaios de campo, conseguiram 75% de controle sobre afídeos sugadores com a aplicação de lectina extraída das folhas de A. sativum (ASAL), aplicada a 0,68 mg/mL.

Em bovinos, o alho tem sido utilizado no controle de ectoparasitos como a mosca-dos- chifres, B. microplus e D. hominis. Seu efeito se dá por ingestão após a metabolização pelo animal, liberando odor característico pelo suor e nas fezes, provocando efeito de repelência, letalidade e inibição de oviposição (NORO et al., 2003).

Bianchin et al. (1999) avaliaram a eficiência de alho desidratado adicionado à mistura mineral na concentração de 2,0%, sobre a redução do OPG (número de ovos por grama de fezes) de H. irritans, obtendo até 47,3% de controle.

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