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ALIANÇA PARA O PROGRESSO: ESTRATÉGIAS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

Neste capítulo será tratado como se estruturou a Aliança para o Progresso, analisaremos o contexto internacional em que o projeto foi concebido e quais foram os principais intelectuais orgânicos designados pelo governo daquele país para colocá-lo em prática. Abordaremos também a denominada teoria da modernização de forma crítica, em sua relação direta com o combate ao comunismo e demais estratégias adotadas pelos dirigentes dos Estados Unidos para garantir sua hegemonia no pós-Segunda Guerra, contemplando a expansão de seus capitais.

Esboçaremos como tal projeto foi implementado no Brasil, sobretudo no âmbito de agências e agentes responsáveis pelas políticas destinadas à cooperação técnica no campo. Igualmente teceremos considerações a respeito de como o golpe empresarial- militar de 1964 implicou numa reordenação do padrão de acumulação capitalista no Brasil e em que medida, para o campo, ele viria a representar a implementação de uma política de modernização da agricultura perpetrada pelos governos militares.

3.1 – Modernização como ideologia

Antes de tratarmos dos pressupostos da chamada teoria da modernização, retomemos algumas críticas já mencionadas no que se refere a conceitos forjados no pós- guerra e que em muito contribuíram para a expansão internacional do capitalismo, sob hegemonia estadunidense. Escobar (2007) analisa como as noções de “Terceiro Mundo” e “desenvolvimento” foram forjadas no pós-Segunda Guerra, por teóricos e políticos estadunidenses e também europeus. O discurso em prol do desenvolvimento dos países mais pobres152 se converteu em “verdade universal”, sendo o Terceiro Mundo comparado a uma criança que precisava ser guiada. Tal metáfora apontava para a necessidade imperiosa dos países centrais do Ocidente “auxiliarem” o crescimento econômico daqueles mais pobres. Segundo esse discurso, o planejamento seria o instrumento

152 O Banco Mundial estabeleceu, em 1948, que os países com renda per capta inferior a U$100 eram pobres. Dessa maneira, ficou decretado que quase dois terços da população mundial foi considerada pobre, e a solução não poderia ser outra se não o crescimento econômico, ditado pelos critérios dos Estados Unidos e dos países da Europa Ocidental (ESCOBAR, 2007, p.51).

fundamental para que países do Terceiro Mundo obtivessem êxito em seu crescimento econômico.

Ainda segundo Escobar as lutas anticoloniais na África e na Ásia, bem como o crescente nacionalismo latino-americano, deram forma ao discurso do desenvolvimento, além de outros fatores como a Guerra Fria, a necessidade de novos mercados, o temor ao comunismo e a “fé na ciência e na tecnologia” (ESCOBAR, 2007, p. 65). Dentre todos estes, o autor aponta que a Guerra Fria foi um dos mais importantes para a conformação da estratégia do desenvolvimento. “O temor anticomunista se converteu em um dos argumentos obrigatórios nas discussões sobre o desenvolvimento” (Ibidem, p. 70).

Mais do que uma teoria propriamente dita, a modernização difundida pelos países mais ricos do globo, devidamente revestida de um certo cunho científico, pode ser considerada uma ideologia, que transformou-se numa visão de mundo específica propagada por todo o globo no período. Latham (2000) aponta que para Rostow, sua “corte intelectual” e os dirigentes políticos por eles aconselhados, o conceito de modernização era muito mais que um modelo acadêmico: foi um instrumento utilizado pelos Estados Unidos para entender, acelerar, canalizar e direcionar o processo de mudança global (LATHAM, 2000, p. 137). O processo de descolonização e a luta pela independência geraram, em 1960, aproximadamente, quarenta estados recém- independentes, com uma população de cerca de 800 milhões de pessoas.

Como esses países "emergentes" combinados com nações mais antigas da América Latina, África e Ásia exigem assistência internacional para atender suas necessidades econômicas e sociais, a Guerra Fria tornou-se um confronto global. Regimes instáveis e populações empobrecidas e descontentes, disseram muitos políticos norte-americanos, só poderiam fornecer um terreno fértil para os Marxistas revolucionários (Ibidem, p. 149).

Kennedy, ainda como Senador, acompanhava de perto a política de seu antecessor para conter o “avanço comunista” e advertia sobre a “vulnerabilidade” dos países subdesenvolvidos. Nesse contexto, as teorias da modernização revelaram-se particularmente atraentes para os formuladores de políticas do democrata, que buscavam conter a expansão revolucionária de forma mais efetiva. Quando Kennedy chegou ao poder, uma ampla gama de estudiosos, atuando junto a diversas disciplinas em inumeros centros acadêmicos diferentes, passaram a traduzir suas ideias em recomendações políticas (Ibidem, p. 174). Segundo Latham, “armados com as ferramentas da ciência social” e confiantes em seus “poderes racionais e analíticos”, pensadores influentes como Rostow, Lucian Pye, Daniel Lerner, Gabriel Almond e James Coleman, de posse de

orçamento do governo federal bastante significativo, iniciaram suas pesquisas destinadas a oferecer soluções para transformar sociedades “tradicionais” em “modernas” (Ibidem, p. 180).

Latham analisa que, no início da década de 1960, o problema da mudança social internacional passa a ser guiado pelos estudos do processo de modernização. Conforme os intelectuais debateram, refinaram e aplicaram suas ideias a um complexo conjunto de regiões e sociedades. Suas definições e modelos muitas vezes variaram, porém, o autor resume diretrizes que perpassaram todas as versões da teoria:

Sob o denso jargão acadêmico, no entanto, os conceitos no núcleo da teoria da modernização centraram-se em vários pressupostos sobrepostos: (1) sociedades "tradicionais" e "modernas" são separadas por uma dicotomia acentuada; (2) as mudanças econômicas, políticas e sociais são integradas e interdependentes; (3) o desenvolvimento tende a avançar para o estado moderno ao longo de um caminho comum e linear; e (4) o progresso das sociedades em desenvolvimento pode ser extremamente acelerado através do contato com os desenvolvidos. Os teóricos colocaram as democracias ocidentais, industriais, capitalistas e os Estados Unidos em particular, no ápice de sua escala histórica e depois começaram a marcar a distância de sociedades menos modernas de esse ponto. Convencido de que as lições do passado dos Estados Unidos demonstraram o caminho para uma modernidade genuína, enfatizaram as maneiras pelas quais os Estados Unidos poderiam conduzir sociedades "estagnadas" ao longo do processo de transição (Ibidem, p. 193).

As democracias ocidentais, industriais e capitalistas, ou seja, os países mais ricos do sistema imperialista, eram o ideal a ser atingido. A “teoria científica” elaborada a partir desse modelo uma vez aplicada da forma correta a qualquer realidade social do globo, levaria as sociedades “estagnadas” a atingirem a modernização. O modelo estava montado, bastava aplicá-lo sob a direção estadunidense.

Nossa pesquisa sobre as políticas públicas em educação e pesquisa para o campo brasileiro perpetradas pelo regime empresarial-militar, no âmbito da Aliança para o Progresso, trabalha com a perspectiva de que a denominada teoria da modernização – arcabouço teórico da política externa estadunidense para a América Latina – funcionou muito mais do que como uma tese ou modelo, constituindo-se em visão de mundo – ou ideologia na acepção gramsciana. Latham (2000), concentrando-se no período Kennedy, investigou de que modo a modernização funcionou como uma ideologia. O autor inter- relacionou questões fundamentais para comprovar sua hipótese e, dentre elas, considerou como uma comunidade de cientistas sociais estabeleceu a relevância política do

conhecimento que produziu sobre o tema e analisou a relação entre a teoria científica social e a política externa através do estudo de três casos específicos.153

Ao retornar à era em que a modernização dominava o campo de pesquisa questionando e examinando sua relação com a conduta das relações externas americanas, procurei mostrar que não era meramente uma formulação científica social. A modernização, argumento, era também uma ideologia, uma estrutura conceitual que articulava uma coleção comum de pressupostos sobre a natureza da sociedade americana e sua capacidade de transformar um mundo percebido como material e culturalmente deficiente (Ibidem, p. 227).

Dessa maneira, o autor explica que, ao caracterizar a modernização nesse período como uma ideologia, não deixou de levar em consideração as várias facetas do modelo. Em determinado sentido, a teoria da modernização serviu como instrumento político; em alguns casos, como modelo analítico utilizado por várias instituições para avaliar opções e gerar políticas; certamente também como uma ferramenta retórica empregada para justificar ações específicas.

No entanto, em um nível diferente e muito mais poderoso, a modernização também era um quadro cognitivo que, muitas vezes inconscientemente, estava intimamente relacionado com o que o historiador Eric Foner descreveu como o "sistema de crenças, valores, medos, preconceitos, reflexos e compromissos" em suma, a consciência social de um grupo. [...] A modernização, nesse sentido de maior alcance, era assim um elemento da cultura americana, uma ideologia compartilhada por muitos funcionários, teóricos e fontes de mídia sobre a nação, seu "desenvolvimento" histórico e sua capacidade e dever de transformar os "menos desenvolvidos" em torno dele (Ibidem, p. 395-396).

No pós-Segunda Guerra Mundial, o governo federal dos Estados Unidos passou cada vez mais a financiar a pesquisa acadêmica. Isto posto, a parceria entre governo e cientistas universitários foi aprofundada e as investigações acadêmicas se tornaram mais orientadas para as políticas públicas, assumindo o Estado o papel de suporte a projetos de pesquisa destinados, especificamente, a “produzir conhecimento útil para resolver problemas militares e estratégicos” (Ibidem, 249). De acordo com Latham, apesar do fato de a maioria deste financiamento ter sido destinada ao desenvolvimento das tecnologias de defesa, no início da década de 1950, organizações privadas como a Carnegie

Corporation e a Ford Foundation, também apoiaram a pesquisa em relações

internacionais (Ibidem, p. 250).

153 Para uma maior análise sobre os estudos de caso ver LATHAM, 2000: Aliança para o Progresso (capítulo 3 - Modernity, Anticommunism, and the Alliance for Progress), Corpos da Paz (capítulo 4 - Modernization for Peace: The Peace Corps, Community Development, and America’s Mission) e Programa Estratégico Hamlet durante a Guerra do Vietnã (capítulo 5 - Modernization at War: Counterinsurgency and the Strategic Hamlet Program in Vietnam. Este último tratou-se de um programa de combate à influência comunista sobre as populações rurais do Vietnã do Sul.

O historiador Michael Adas afirma que, após a Segunda Guerra, o paradigma da modernização tomou o lugar de missão civilizadora como ideologia do domínio Ocidental. Em lugar dos missionários europeus viajantes dos séculos XVIII e XIX, passaram a figurar os cientistas sociais que elaboravam os métodos e caminhos para que todo o globo se padronizasse a partir dos parâmetros estabelecidos pelo Ocidente. Ou seja, modernização significava a transição das sociedades “atrasadas” para o status de “modernas”, onde desenvolveriam suas atividades econômicas nos moldes dos países ricos, principalmente dos Estados Unidos (SILVA, 2013, p.176). Latham também argumenta que os ideólogos americanos da modernização projetaram elementos de uma visão de mundo anterior para articular uma adequada a seu tempo. “Embora não seja uma mera apropriação, a ideologia da modernização, em suas formas intelectuais e institucionais, incorporou e revisou estruturas muito antigas” (LATHAM, 2000, p. 429).

Silva (2013) aponta que, no contexto da ideologia da modernização, os Estados Unidos desenvolveram uma “intrínseca” vontade de transformar o mundo à sua imagem e semelhança. Para o autor, a ideologia da modernização, utilizando-se de instrumentos como a assistência técnica e financeira, funcionou como uma espécie diversa de intervenção estadunidense sobre a América Latina, visando a “manutenção de relações de dominação política, econômica e cultural” (SILVA, 2013, p. 171). Dessa maneira, colocava-se na ordem do dia, para os grupos econômicos estadunidenses, a necessidade de promover o desenvolvimento dos países latino-americanos significando, principalmente, estimular uma modernização com base na industrialização.

Cardoso (2005) defende que a teoria da modernização foi apresentada como suporte teórico à teoria do subdesenvolvimento. Deste modo, em ambos os modelos, a história foi tratada como um processo único e integrado de forma evolutiva, seguindo um caminho de mão única cujo destino já estava previamente estabelecido, que era o “estágio” do desenvolvimento avançado contemporâneo que tinha como paradigma o caso dos Estados Unidos (CARDOSO, 2005, p. 1).

Todas as sociedades se distribuiriam ao longo de uma mesma escala, na qual seria possível distinguir um estado ou estágio “primitivo” ou “tradicional” e um outro “moderno”, com variados ou variáveis estados intermediários, cada um dos quais identificáveis por possuírem diferencialmente atributos que a teoria da modernização define no seu nível mais alto de elaboração teórica através de um conjunto de variáveis-padrão (Ibidem, p. 2).

Porém, a autora ressalta que, para além do caráter científico desta teoria, ela se revestiu de significado político, funcionando como ideologia e “engenharia social” a

serviço de Washington e do capital em expansão (Ibidem, p. 3). Na conjuntura do pós- Segunda Guerra, o capitalismo avançava em nova rota de expansão e busca incessante de mercados consumidores. Os economistas, importantes agentes pensantes nesse processo, ganharam cada vez mais a companhia de sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e psicólogos. Todos contribuíram, de forma relevante, com suas reflexões e propostas para atender a novas demandas do grande capital (Ibidem, p. 8). A autora resume seus argumentos:

Penso, portanto, que a teoria da modernização deve ser entendida como uma confluência de três fontes que se fortalecem mutuamente: ela é parte de um esforço intelectual para produzir uma teoria geral da sociedade, é também parte de uma busca para garantir os objetivos de segurança da Guerra Fria e é, ainda, parte da atenção às necessidades e demandas capitalistas globais da época (Ibidem, p. 8-9).

Consideramos neste trabalho a Aliança para o Progresso como um produto desse “esforço intelectual” mencionado pela autora, uma vez que a teoria da modernização foi o arcabouço teórico do programa de Kennedy, que mobilizou os maiores especialistas da área na sua elaboração. Além disso, a Aliança também funcionou como estratégia contrarrevolucionária norte-americana no combate ao comunismo na América Latina (GONÇALVES, 2016), assegurando os “objetivos de segurança da Guerra Fria”. O terceiro aspecto, não menos importante, que Cardoso atribui à teoria da modernização e nosso trabalho busca identificar na Aliança para o Progresso, era sua função de assegurar as condições de expansão do capitalismo avançado, atendendo “às necessidades e demandas capitalistas” do período.

3.2 - O ideal de modernização estadunidense

A teoria da modernização foi a alavanca ideológica da política da Aliança para o Progresso. Um de seus principais formuladores, Walt Rostow, participou do grupo de trabalho sobre política econômica externa, criado por John F. Kennedy (1961-1963) antes mesmo de sua posse e, posteriormente, tornou-se conselheiro e presidente do Policy

Planning Council (Conselho de Planejamento) do Departamento de Estado norte-

americano. O cientista político Ricardo Alaggio Ribeiro avalia:

Cientistas sociais americanos, baseando-se na teoria econômica, e nos avanços da teoria social e da psicologia comportamental, criaram a área de estudos conhecida como “teoria da modernização”, dentro da qual desenvolveram-se abordagens que dividiam entre si, um conjunto de pressupostos e premissas. Uma delas, a que deu o nome à escola, era a que acreditava, de forma não-problemática, que o Terceiro Mundo iria experimentar a mesma sequência de crescimento econômico, estabilidade

social e democratização, pela qual haviam passado as sociedades do ocidente industrializado, tornando-se, por sua vez, modernas. O fato é que no final dos anos 50 e no começo dos anos 60, essa teoria pontificou sobre a ciência social americana. Seus principais pensadores chegaram aos mais altos degraus da profissão e aos cobiçados cargos dentro da burocracia estatal (RIBEIRO, 2006, p.54).

Concentraremos nossa análise na abordagem rostowniana da modernização, pois entendemos tal linha de pensamento como fundamental para nossas considerações acerca da política externa de Kennedy e sua Nova Fronteira (New Frontier). Rostow foi professor de História da Economia do Centro de Estudos Internacionais (CENIS) do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), Centro que iniciou suas atividades em 1951, sob o patrocínio das Fundações Ford e Rockefeller, bem como da Central Intelligence

Agency (CIA). Segundo Flavio Ribeiro “o primeiro trabalho a partir do qual o Centro

viria a se constituir foi um projeto secreto para resolver o problema das interferências nas transmissões de rádio que os Estados Unidos faziam para a União Soviética através do programa Voice of America (VOA)”. Além disso, o Centro foi implantado partindo de entendimentos entre o Departamento de Estado e o MIT e a proposta visava realizar um projeto que incluísse, além de físicos e engenheiros, cientistas sociais dispostos a produzirem pesquisas para fundamentar a “propaganda e guerra psicológica” (RIBEIRO, 2007, p. 178).

Não apenas o CENIS/MIT se debruçou sobre a teoria da modernização. Outro importante ambiente onde fermentaram tais ideias foi o Commitee on Comparative

Politics (CCP) do Social Science Research Council (SSRC), um think tank criado em

1954, com recursos das Fundações Ford, Rockefeller e Carnegie. Seu objetivo central era desenvolver pesquisa empírica voltada para resultados práticos. Como outros centros de pesquisa congêneres, o CCP foi moldado pelos acontecimentos externos e internos aos Estados Unidos. Buscava-se elaborar uma teoria e uma política que pudessem ser aplicadas aos problemas do subdesenvolvimento e da instabilidade política do Terceiro Mundo, em um ambiente no qual a configuração da arena política mundial mudava rapidamente (RIBEIRO, 2006, p. 58-59).

A partir dos anos 1950 tais discussões atingiram, igualmente, o cenário político norte-americano. O livro A Proposal: Key to an Effective Foreign Policy154 foi a versão

final publicada editorialmente de um texto inicialmente redigido por Walt Rostow e Max

154 MILLIKAN, M.; ROSTOW, W. A Proposal: Key to an Effective Foreign Policy. New York: Harper & Brothers, 1957.

F. Millikan155 para a Conferência de Princeton, em 1954, realizada nos dias 15 e 16 de maio – a chamada Conferência Econômica de Princeton – sob a coordenação de C. D. Jackson156 e organizada com o apoio de Walt Rostow e Max Millikan. Seu patrocínio deu-se através da grande corporação Time Inc., império da imprensa.

O tema central da Conferência foi a formulação de um “Plano Econômico Mundial” e seus idealizadores tinham como norte a urgência em lançar as bases de uma política econômica de longo prazo, além de mostrar ao mundo que os Estados Unidos tinham “outro caminho, além das bombas, a oferecer” (ROSTOW, apud RIBEIRO, 2007, p. 188). O objetivo era superar a divisão que os policymakers costumavam estabelecer entre a política interna e a política externa dos Estados Unidos.

Durante a Conferência foram discutidas temáticas como: estratégias para garantir o entendimento da população norte-americana quanto à necessidade de promover o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos; a importância de expandir o mercado externo dos Estados Unidos para assegurar seu crescimento econômico; estratégias para a difusão em larga escala de uma ideologia do desenvolvimento. Esta última questão foi abordada enfatizando a necessidade de fazer com que esses povos – para onde o capital se expandiria – adotassem o desenvolvimento como sua meta principal, conquistando “corações e mentes”.

O historiador Flávio Diniz Ribeiro aponta que a expansão capitalista no pós- guerra passaria a ser comandada pelos Estados Unidos:

Para dar essa direção, os Estados Unidos precisam de uma política de longo prazo e essa tem que ser uma política econômica – calcada militarmente, politicamente e ideologicamente, ou seja, uma política global fundamentalmente econômica, visando uma expansão mundial, uma política de crescimento econômico dirigida especialmente para aquelas áreas do mundo onde esse crescimento econômico permita a máxima e mais acelerada rentabilidade possível para o capital (excedente) a ser investido nelas (RIBEIRO, 2007, p.214).

O discurso decorrente da teoria da modernização pregava uma união do “mundo livre” visando unir forças para proporcionar o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo. Os teóricos da modernização resignificaram a noção de capitalismo como “mundo livre” e encouraçaram a expansão de capitais como “desenvolvimento

155 Economista, professor do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT). Um dos principais teóricos da modernização.

156 Charles Douglas Jackson foi Assistente Especial do presidente Eisenhower entre 1953 e 1954. Antes e depois disso, foi editor das revistas Fortune e Life, ambas do grupo Time Inc.

econômico” ou seja, o real intento era a expansão econômica capitalista liderada pelos Estados Unidos a partir da matriz do “modo de vida” americano.

Flávio Ribeiro em sua tese analisa, minuciosa e criticamente, a ideologia do desenvolvimento na obra de Rostow e Millikan – principais teóricos da modernização que foram utilizados como lastro para a Aliança para o Progresso. O autor demonstra, então, como o desenvolvimento foi concebido como uma política econômica internacional, sobretudo para resolver o problema da expansão mundial do capitalismo estadunidense. Tal questão aparece na obra dos dois autores como a necessidade de implementar modificações no sistema produtivo local dos países “em desenvolvimento”, a partir de assistência técnica, transferência de know-how e desenvolvimento científico. Porém, Ribeiro traduz o “cientificismo” dos ideólogos da modernização:

O argumento principal é aí certamente o interesse americano na expansão internacional dos mercados para setores importantes da agricultura e da

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