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2.3. ALIANÇAS ESTRATÉGICAS

2.3.2. Alianças e Redes

Grandes investimentos em P&D, mudança técnica rápida e conjunto de conhecimentos complexos e multidisciplinar são algumas das características do setor de biotecnologia (BONACELLI, 1993). Essas características do setor possibilitam e, muitas vezes, demandam a formação das chamadas redes de inovação.

As redes reúnem um conjunto de atores distintos, tais como instituições científicas, agências governamentais, empresas privadas, acionistas, usuários e consumidores das novas tecnologias, que interagem de modo cooperativo com o objetivo de alcançar competência cientifica e tecnológica em áreas em que os investimentos possuem custo elevado ou de grande risco (AZEVEDO et al., 2002). De acordo com Bonacelli (1993), as redes possibilitam as cooperações e ajustes mútuos entre os diferentes atores, os quais normalmente se encontram em contextos distintos, permitindo que cada um tenha autonomia para desenvolver sua própria estratégia.

A área de biotecnologia é descrita por Tait (2007) como um sistema setorial inovador composto por uma rede de atores, relacionamentos e outras características contextuais que afetam as decisões desses atores e o desenvolvimento de conhecimento e competências. Além dos diversos tipos citados anteriormente, a autora acrescenta as autoridades regulatórias como integrante da rede ligada ao setor de biotecnologia.

No setor de biotecnologia, a complexidade da base de conhecimento é alta e este conhecimento se encontra distribuído entre os diferentes atores, fazendo com que o lócus da inovação seja encontrado, então, em uma rede de relacionamentos interorganizacionais. Uma rede serve como lócus de inovação porque ela provê acesso oportuno a conhecimentos e recursos que de outra forma estariam indisponíveis, ou seja, conhecimentos não possuídos pela empresa e de difícil produção interna ou que não podem ser obtidos por meio de transações de mercado (POWELL; KOPUT; SMITH-DOERR, 1996; POWELL, 1998; ESTRELLA, 2008). Além do compartilhamento e transferência do conhecimento, a participação em redes interorganizacionais confere reputação às empresas, o que por sua vez amplia as possibilidades de realização de novas alianças (CUNHA; MELO, 2005).

A utilização das redes de colaboração pelas empresas no setor de biotecnologia tem motivações tecnológicas e econômicas. A cooperação busca captar novos conhecimentos e a integração das atividades de P&D em processos biotecnológicos, mas também a sustentação financeira e a comercialização de produtos, possibilitando que a empresa defenda e amplie sua posição em um determinado mercado (BONACELLI, 1993).

Para Azevedo et al. (2002), a formação de redes é o modelo apropriado para a geração de inovação, possibilitando ao país acompanhar a evolução da biotecnologia no cenário mundial. Entretanto, de acordo com os autores, o baixo envolvimento das empresas com P&D não viabiliza a formação de redes, o que também pode ser evidenciado pelos raros acordos de cooperação entre as empresas nacionais e estrangeiras.

Uma vez que a indústria de biotecnologia é caracterizada por uma estrutura de rede de alianças interorganizacionais para a troca de bens complementares entre os diferentes atores, Mangematin et al. (2003) consideram as PMEs como o principal ponto de ligação dessas redes em virtude de seu papel e posicionamento entre os cientistas que fazem descobertas e as grandes empresas estabelecidas que possuem as capacidades para colocar os produtos no mercado.

Adicionalmente, Powell, Koput e Smith-Doer (1996) destacam o papel das alianças como forma de acesso às redes, vistas como o lócus da inovação. Para os autores, as alianças são o ingresso de admissão, a base para os mais diversos tipos de colaboração e o pivô no qual as empresas se tornam mais centralmente conectadas. A capacidade da empresa em operar na rede colaborativa influenciará positivamente em sua reputação e visibilidade, possibilitando o acesso a novos conhecimentos e informações, a atração de novos talentos e parceiros e a alteração da natureza da concorrência (BARRELLA; BATAGLIA, 2008).

De acordo Barrela e Bataglia (2008), a capacidade de cooperação das empresas deve ser ampliada não apenas administrando as relações, mas melhorando e refinando suas rotinas com vistas à obtenção de maior sinergia entre as partes. É necessário aprender a transferir conhecimento por meio das alianças e se posicionar de forma a manter um relacionamento onde se tenha desenvolvimento científico e tecnológico.

Sharp (1999) identificou três fases principais no relacionamento entre empresas estabelecidas e empresas de biotecnologia. A primeira fase envolveu a formação e a início das atividades das empresas de biotecnologia. Neste período, a incerteza, o ceticismo e a inexperiência fizeram com que as empresas farmacêuticas adotassem uma estratégia minimalista, evitando maiores investimentos. Contudo essas empresas investiram em conhecimento científico para monitorar os desenvolvimentos em biotecnologia (AUDRETSCH; FELDMAN, 2003).

A segunda fase começou no meio dos anos 1980. As empresas farmacêuticas reconheceram que a biotecnologia tinha um valor de mercado potencial, sendo fundamental para o desenvolvimento de inovações. A maioria dessas empresas passou a ter uma política estratégica de biotecnologia, com pesados investimentos na capacidade interna nessa área. Nesse período, as alianças entre empresas farmacêuticas e as empresas de biotecnologia explodiram. Além das alianças e parcerias estratégicas, as empresas utilizaram outras estratégias como aquisição de novas empresas de biotecnologia e esforço interno para

incorporar as novas tecnologias de forma individual (PREVEZER; TOKER, 1996; SHARP, 1999; BORGES, 2003; AUDRETSCH; FELDMAN, 2003; VALLE, 2005).

A terceira fase, iniciada nos anos 1990, envolve a comercialização de produtos biotecnológicos. Grandes e pequenas empresas se tornam mais seletivas e específicas em suas atividades. As empresas estabelecidas pegaram os produtos desenvolvidos pelas empresas de biotecnologia e os tornaram produtos de mercado em larga escala. Com o aumento de produtos no mercado, questões de regulação e propriedade intelectual começaram a se tornar cada vez mais importantes (SHARP, 1999; AUDRETSCH; FELDMAN, 2003).

Conforme análise de Gilsing e Nooteboom (2006), uma cadeia de conhecimento emergiu nos anos 1990 no campo da biotecnologia. Esta cadeia de conhecimento foi formada a partir dos relacionamentos entre ciência (instituições de pesquisa), empresas dedicadas de biotecnologia e grandes empresas farmacêuticas. Dentro desta cadeia de valor, dois regimes foram identificados pelos autores:

- Regime de aprendizado 1: Foca na prospecção (exploration). Imerso dentro de uma rede de empresas dedicadas de biotecnologia com a academia.

- Regime de aprendizado 2: Foca na exploração (exploitation). Imerso dentro de uma rede de empresas dedicadas de biotecnologia e grandes empresas farmacêuticas.

De acordo com os autores, o regime de aprendizado 1 estava imerso em uma rede construída de relações entre empresas de biotecnologia e instituições de pesquisa, e seu principal foco era a exploração de novos conhecimentos. Já o regime de aprendizado 2 estava preocupado com a exploração mais do que com a criação de novos conhecimentos. Este regime estava imerso em uma rede construída de relações entre empresas dedicadas de biotecnologia e grandes empresas farmacêuticas. Portanto, grandes empresas farmacêuticas utilizam alianças com várias pequenas empresas de biotecnologia, que possibilitam a elas explorar várias oportunidades ao mesmo tempo, sem fazer investimentos substanciais específicos (GILSING; NOOTEBOOM, 2006).

Além de explorar diversas oportunidades, a literatura apresenta outras motivações para que as empresas estabeleçam alianças e parcerias estratégicas. No próximo tópico serão apresentadas as principais motivações identificadas, bem como os maiores benefícios obtidos nesses relacionamentos.