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A Idade Média é de suma importância para compreender a influência do comércio nos hábitos alimentares dos povos medievais.

A sociedade feudal era dividida em três classes, sacerdotes, guerreiros e trabalhadores, sendo que a classe trabalhadora era a responsável por abastecer as demais classes. Até então o trabalho era braçal, realizado na terra, cultivando grãos ou guardando rebanhos. Não havia grandes cidades, pois um feudo consistia apenas de uma aldeia e centenas de acres de terra arável ao seu redor, sendo que cada feudo era comandado por um senhor. Tal senhor feudal vivia em uma casa grande de fazenda, fortificada, podendo possuir vários feudos em que, geralmente, eram habitados por suas famílias, empregados e funcionários que eram responsáveis pela administração de sua propriedade.

Segundo Hubermann (1986, p.13-14),

Pastos, prados, bosques e ermos eram usados em comum, mas a terra arável se dividia em duas partes. Uma, de modo geral, a terça arte do todo, pertencia ao senhor e era chamada seus "domínios"; a outra ficava em poder dos arrendatários que, então, trabalhavam a terra. Uma característica curiosa do sistema feudal é que as terras não eram contínuas, mas dispersas em faixas. A terra era dividida em três campos, sendo que um permaneceria em pousio para o descanso de um ano.

Quanto ao feudo é importante compreender sua organização, assim como a hierarquia e o destino das culturas produzidas. Os escritos de Hubermann (1986) relatavam a organização do feudo e como eram feitas as escolhas de qual campo seria arado e qual permaneceria em pousio. É preciso salientar que a propriedade do senhor feudal deveria ser arada, semeada e ceifada primeiro, enquanto as demais deveriam aguardar.

Em se tratando de grandes proprietários de terras, na idade média, a Igreja possuía o maior número de propriedades no período em questão. Segundo Hubermann (1986, p.22), "homens preocupados com a espécie de vida que tinham levado e desejosos de passar para o lado direito de Deus antes de morrer doavam terras à igreja". Além de conseguir terras por meio de doações, a igreja passou também a proibir o casamento de padres para herdar suas posses, além de taxar em 10% a renda de todos seus fiéis, chamando tal taxa de dízimo.

Segundo Hubermann (1986, p.) é possível resumir o sistema feudal da seguinte maneira:

O sistema feudal, em última análise, repousava sobre uma organização que, em troca de proteção, frequentemente ilusória, deixava as classes trabalhadoras à mercê das classes parasitárias, e concedia a terra não a quem a cultivava, mas aos capazes de dela se apoderarem.

A compreensão da idade média e do sistema feudal é importante para analisar a evolução comercial do período. Inicialmente, havia somente um sistema de trocas, onde grande parte da população não tinha condições de fazer grandes transações, pouco era comprado. De acordo com dados históricos apenas sal ou ferro eram comercializados com o auxílio do dinheiro; praticamente toda a alimentação e vestuário eram obtidos no feudo, o qual era tido como autossuficiente.

Todos os produtos produzidos eram trocados e, devido ao fato de que as relações comerciais, em especial com outras aldeias ou feudos, eram baixas, não havia razão para

excedentes de produção, pois à época, “só se fabrica ou cultiva além da necessidade de consumo quando há uma procura firme” (HUBERMAAN, 1986).

Além das dificuldades ou falta de incentivo de se produzir excedentes, a condição das estradas também dificultava as trocas comerciais entre feudos, pois se encontravam em péssimas condições de manutenção, possibilitando ataques de ladrões ou bandidos que exigiam que comerciantes lhes pagassem taxas para utilizar as estradas. Havia ainda o fato de que, na época, o dinheiro era escasso e as moedas diferentes entre as localidades.

No entanto, no século X, com o auxílio das cruzadas, as atividades comerciais sofreram um grande avanço e, por esse motivo, parte da população acreditava melhorar sua posição social através das atividades comerciais. Com o avanço do comércio, houve então o surgimento das primeiras cidades medievais. Segundo Hubermann (1986, p. 8),

À medida que o comércio continuava a se expandir, surgiam cidades nos locais em que duas estradas se encontravam, ou na embocadura de um rio, ou ainda onde a terra apresentava um declive adequado [...] Havia geralmente uma igreja, ou uma zona fortificada chamada de “burgo” que assegurava proteção em caso de ataques.

As cidades tinham, portanto, caráter de proteção sendo que, muitas vezes, eram cercadas por muros protetores. Com a mudança da população do feudo para a cidade, houve a necessidade da criação de novas leis.

Assim como a população, os comerciantes se viram forçados a deixar o feudo, visto que suas atividades não eram possíveis devido às restrições impostas pelos senhores. Uma vez na cidade, os comerciantes se reuniram e passaram a criar associações, chamadas “corporações” ou “ligas” com a finalidade de conquistar liberdade suficiente para realizar suas atividades sem luta ou restrições.

A expansão do comércio e da cidade deu-se concomitantemente, um auxiliando o outro a modificar sua estrutura e buscar novas maneiras de adaptação. A jornada não foi nada fácil, pois os senhores feudais impuseram diversas condições e dificultaram a saída da

população de seus feudos, assim como a igreja impôs grandes dificuldades aos comerciantes, visto que lucrar à custa de seu semelhante era considerado pecado pela mesma.

Posteriormente, a cidade tornou-se o lugar das atividades comerciais, fazendo com que o campo fosse considerado como fonte de suprimento de alimentos. Devido ao comércio das cidades o camponês, que anteriormente não lucraria e apenas sobreviveria de trocas, poderia passar a produzir mais e comercializar seu excedente obtendo dinheiro.

Quanto aos hábitos alimentares no período feudal, segundo Ornelllas (1978) a nobreza consumia carne de javali, veado, gazela, ganso, pato, aves entre outros, sempre acompanhado de vinho e cerveja (Figura 5). No século IX, devido à peste, houve uma grande miséria onde muitos passaram fome que castigou países como a Escócia, Irlanda, Germânia, Sicília e França. A população destes países, de acordo com os relatos, devido à falta de alimento, consumia casca de árvores, pães feitos de bolotas de carvalho, pão de capim, sementes e raízes, voltando, portanto, aos hábitos alimentares primitivos.

Figura 5 - Alimentação Medieval

A caça era escassa, porém quando conseguiam abater algum animal aproveitavam-no ao máximo, utilizando seu sangue para a confecção de pães. A fome trouxe consigo a morte. Enquanto os pobres morriam, os ricos comiam carcaças de animais.

Em 313 d.C. o continente europeu ainda encontrava-se sob a influência do Império Romano, que favorecia o cristianismo. Sendo assim, passou-se a adotar a prática da abstinência à carne em datas de celebrações, incentivando o consumo do peixe.

Assim, a alimentação na Idade Média era extremamente influenciada por motivos religiosos, por situações cotidianas e pela falta de alimento devido à sua escassez ou crescimento populacional, fazendo com que a população buscasse alternativas em tempos difíceis.

Outra questão importante foi a influência das atividades comerciais nos hábitos alimentares, visto que estas trouxeram uma grande variedade de especiarias de outras regiões e culturas fazendo e passaram a fazer parte da vida cotidiana da população naquele período.