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Os alimentos são devidos entre os cônjuges em razão do dever de mútua assistência, conforme previsão no art 1.566, inciso III, do Código Civil. Neste sentido considera Dias (2011, p. 529) que: “está previsto em lei (CC 1.694), sem quaisquer restrições temporais ou limitações com referência ao estado civil dos obrigados”, destacando-se que:

Mesmo findo o matrimônio, perdura o dever de mútua assistência, permanecendo a obrigação alimentar após a dissolução do casamento. Apesar de a lei não admitir tal expressamente, não se pode chegar a conclusão diversa. O dever alimentar cessa somente pelo novo casamento do beneficiário (CC 1.708). Como só há possibilidade de novo matrimônio após o divórcio, está claro que persiste o encargo mesmo estando os cônjuges divorciados. (DIAS, 2011, p.530).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226, parágrafo 3º, regulamentado pela Lei 9278/1996 (art. 1º e 7º), bem como o posicionamento jurídico atual, equipara a união estável e o casamento em vários aspectos, como no dever dos alimentos. Atualmente o direito alimentar do companheiro está previsto no art. 1.694 do Código Civil, mesmo artigo que trata dos alimentos entre os cônjuges.Assim, os alimentos entre os conviventes não se diferem dos alimentos entre oscônjuges, conforme explica Dias (2011, p. 533):

Como não cabe impor tratamento diferenciado entre casamento e união estável – distinção que a Constituição não faz –, imperioso reconhecer, aos conviventes, a mesma possibilidade conferida ao cônjuges de buscarem alimentos depois de dissolvido o vínculo de convívio (cc 1.704). É necessário estender o âmbito de incidência da norma mais benéfica à união estável, sob pena de infringência ao princípio constitucional que se sustenta na igualdade. Por consequência, cônjuges e companheiros têm direito a alimentos mesmo depois de cessada a vida em comum.

Ademais, o Código Civil/2002 (art. 1.704 e § único), dispõe que o cônjuge considerado culpado pela separação recebe a prestação, sob as condições observadas no dispositivo, como segue:

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial.

Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-lo, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência (BRASIL, 2002).

No entanto, foi somente com a Emenda Constitucional nº 66/2010, que a culpa deixou de ser fator determinante na concessão ou qualificação dos alimentos, como expõe Dias (2011, p. 527), como segue:

Com o fim da separação, restou definitivamente esvaziada a busca de motivos para a dissolução do casamento, que só pode ser obtida via divórcio. Dessa forma, as previsões legais (CC 1.702 e 1.704) que impõe a redução do pensionamento do cônjuge culpado restaram derrogadas. Deste modo, nada mais justifica persistir a possibilidade de identificação de quem deu causa à situação de necessidade, para o estabelecimento do encargo alimentar. Como não cabe mais perquirir a “culpa pela separação” é necessário subtrair toda e qualquer referência de ordem motivacional para quantificar a obrigação alimentar. Sejam os alimentos fixados em benefício de quem forem. (CC 1.694, § 2º).

A Constituição Federal de 1988 trouxe para a prestação alimentícia entre os cônjuges e companheiros o reflexo da nova sociedade, em que a mulher ganhou isonomia de tratamento e maior independência financeira. A inserção da mulher no mercado de trabalho, e o fato de terem se tornado contribuintes e parceiras no orçamento doméstico, conferiu à mulher uma nova posição na estrutura familiar, alterando os vínculos que a unem ao marido e aos filhos, desconstruindo a percepção da mulher como a parte frágil da relação conjugal.

Por sua vez, o artigo 1.694 do Código Civil/2002 estabelece que a obrigação alimentar é recíproca entre homens e mulheres, e que deve ser observando para sua fixação a proporção das necessidades daquele que pede e dos recursos do que é obrigado. Nesse sentido, a obrigação alimentar está diretamente relacionada a necessidade de quem a requer e a possibilidade de pagamento de quem está sendo cobrado. Ressalta-se que a análise desses dois elementos – necessidade e possibilidade, sob a ótica do princípio da proporcionalidade, garantirá o estabelecimento do justo direito e de valores afins (DIAS, 2017, p. 628).

O Supremo Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento de que não se pode fixar, de forma automática e sem prazo final, a pensão alimentícia entre ex-cônjuges e ex- companheiros, uma vez que se trata de exceção no meio jurídico, que, exceto em casos pontuais, deve ser fixada temporariamente. O objetivo desse tipo de pensão alimentícia é assegurar que o indivíduo se insira no mercado de trabalho e possa se sustentar sozinho,

destacando-se que, em casos excepcionais, justifica-se sua perpetuidade, como, por exemplo, havendo incapacidade laboral permanente (SÁ, 2017).

Ademais, ao juiz do caso concreto cabe estipular o prazo adequado para a duração da obrigação alimentar, para que o beneficiário, neste período, busque a independência financeira. Após o período definido, deve cessar o direito aos alimentos, pois se entende que o prazo fixado e o valor recebido durante este tempo sejam suficientes para que consiga se desenvolver financeiramente e manter sua dignidade humana (SÁ, 2017).

Conclui-se, portanto, que o fim do casamento ou da união estável, por si só, não acarreta automaticamente a fixação de pensão alimentícia em favor do ex-cônjuge ou ex- companheiro. Para que sejam fixados alimentos na ação de divórcio ou dissolução de união estável, respectivamente, a parte interessada deverá comprovar que não possui condições de prover seu sustento de forma independente e que necessita da contribuição financeira do outro até retornar ao mercado de trabalho e readquirir sua autonomia financeira. Não se provando tais circunstâncias no processo, o pedido será julgado improcedente.

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