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1 DO ABUSO DO DIREITO NO PROCESSO CIVIL

1.7 A litigância de Má-fé como modalidade de Abuso do Processo

1.7.2 Alteração da verdade dos fatos 27

O disposto no art. 17, inciso II, do CPC100 sanciona a infração do dever de veracidade101. Cuida-se este de relevante dever processual, inserido dentro do quadro da lealdade e boa-fé, que está relacionado aos demais deveres das partes e de seus procuradores102.

98 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Volume II. São Paulo: Malheiros,

2001. P 262-261.

99 ABDO, Helena Najjar. O Abuso do Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.157. 100

BRASIL. LEI no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil Disponível em:< ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm > Acesso em: 25 mar. 2015.

101 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A responsabilidade das partes por dano processual no direito brasileiro

In: Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1998. p.26.

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A partir disso, o dever de veracidade pode ser definido na lição de Barbosa Moreira103, como o dever de declarar toda a verdade, isto é, abster-se de omitir fatos relevantes que conheça, por suscetíveis de favorecer o adversário.

Conforme também leciona o referido jurista, a infração pode “consistir na afirmação de fato(s) inexistente(s), na negação de fatos existente(s) ou na descrição destes sem correspondência exata com a realidade104”.

Assim, partindo-se do pressuposto de que o abuso do processo caracteriza-se por ser um desvio de finalidade, Helena Abdo sugere que se devem ter presentes o conhecimento sobre a instrumentalidade e os escopos do processo, sem os quais não será possível traçar limites entre o exercício regular e o exercício abusivo de uma situação jurídica processual105.

Encontra-se, também, em Barbosa Moreira menção ao desvio de finalidade ligado ao descumprimento dos deveres de lealdade e veracidade106, quando o autor afirma que busca-se:

[...]tentar impedir que a falta consciente à verdade, o uso de armas desleais, as manobras ardilosas tendentes a perturbar a formação de um reto convencimento do órgão judicial, ou a procrastinar o andamento do feito embaracem a administração da justiça e desviem do rumo justo a atividade jurisdicional.107

Igualmente, Castro Filho traz em sua obra que o abuso de direito também se constitui quando a parte convoca alguém a juízo para discutir o “que não existe (fato não proposto) ou que existe de modo diverso (fato produto de alteração da verdade)108”.

A partir disso, é possível afirmar que o desvio de finalidade, quanto ao dever de veracidade, configura abuso de direito, pois se trata de dever processual que possui íntima relação com as finalidades do processo de solução de conflitos, de repacificação social, de garantir respostas às pretensões das partes e para a atuação do direito.109.

103 BARBOSA MOREIRA, José Carlos Barbosa. A responsabilidade das partes por dano processual no direito

brasileiro In: Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1998. p.17.

104

BARBOSA MOREIRA, José Carlos Barbosa. A responsabilidade das partes por dano processual no direito brasileiro. In: Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1998. p.27.

105 ABDO, Helena Najjar. O Abuso do Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.141. 106 Ibidem, p.141.

107

BARBOSA MOREIRA, José Carlos Barbosa. A responsabilidade das partes por dano processual no direito brasileiro In: Temas de Direito Processual. São Paulo: Saraiva, 1998. p.16.

108 CASTRO FILHO, José Olímpio. Abuso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1960. p. 131. 109 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo Cintra; GRINOVER, Ada Pellegrino e DINAMARCO, Cândido Rangel.

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1.7.3 Quanto ao uso do Processo para conseguir Objetivo Ilegal;

O inciso terceiro do art. 17 do CPC110 veda ao litigante utilizar-se do processo para conseguir objetivo ilegal. Por ser uma expressão muito vaga e ampla, faz-se necessário tomar o devido cuidado para que não o confunda com a hipótese do inciso I111, do mesmo parágrafo, ligado diretamente ao pedido.

A pretensão do objetivo ilegal restaria configurada em casos em que a propositura da demanda em si mesma é um artifício criado com o objetivo de obter algo que a lei não autoriza, muitas vezes à custa de terceiros112.

A propósito, a Primeira Turma Cível do TJDFT113 assim conceitua a pretensão de objetivo ilegal:

[...] O fato de" usar do processo para conseguir objetivo ilegal "configura litigância de má-fé, não pelo pedido feito pela parte, em si mesmo, mas sim no fim pretendido pela utilização do processo - fim este diverso do esboçado no pedido mediato da ação. Ressoa pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça que para configurar essa hipótese de litigância de má-fé, faz-se necessário provar a intenção da parte na pretensão de conseguir objetivo ilegal, imprescindível a figura do dolo, entendimento esse há muito estratificado pela egrégia Corte Superior de Justiça, consoante testificam os arestos adiante ementados:

"PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. OMISSÃO CARACTERIZADA. 1. Os embargos declaratórios são cabíveis para a modificação do julgado que se apresenta omisso, contraditório ou obscuro, bem como para sanar eventual erro material na decisão.

110 BRASIL. LEI no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil Disponível em:<

ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm > Acesso em: 25 mar. 2015.

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BRASIL. LEI no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil Disponível em:< ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm > Acesso em: 25 mar. 2015.

112 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Volume II. São Paulo: Malheiros,

2001. p. 261.

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BRASIL. Tribunal de Justiça do distrito federal e territórios. APC: 20130310215617 DF. Primeira turma Cível. Apelante: F.C.A.H. E OUTRO(S). Apelado: J.L.A.J.H. E OUTRO(S). Relator: Teófilo Caetano Brasília, 10, de setembro de 2014. Disponível em:<http://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos- web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorI d=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&nomeDaPagina=result ado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico. buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&historicoDePaginas=buscaLivre&argumentoDePesquisa= &numero=820570&tipoDeNumero=NumAcordao&tipoDeRelator=TODOS&camposSelecionados=NumAco rdao&camposDeAgrupamento=&numeroDoDocumento=820570&quantidadeDeRegistros=20&documentos =820570&campoDeOrdenacao=&baseDados=BASE_ACORDAOS&baseDados=TURMAS_RECURSAIS& baseDados=BASE_HISTORICA&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTip oResultado=false&totalHits=1&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&internet=1>. Acesso em: 10 mar. 2015.

30 2. A exegese do art. 17 do CPC pressupõe o dolo da parte em impedir o natural trâmite processual. Essa conduta é manifestada de forma intencional e temerária, sem observância ao dever de lealdade processual.

3. No caso, não se tem notícia de atitude tendente a atrapalhar o andamento processual, mas denota-se apenas pela parte embargada o exercício regular do direito de defesa. Não houve nenhuma tentativa de alteração da verdade dos fatos ou utilização abusiva dos meios de defesa, tampouco o uso de artimanhas para atrasar o processamento da ação. Embargos acolhidos para sanar a omissão apontada, sem efeitos infringentes." (EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 414.484/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/05/2014, DJe 28/05/2014) [...]