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Capítulo III- Estudo Experimental:

3. Discussão dos resultados

3.1.2. Alterações clínicas e hematológicas

Além de sinais inespecíficos que não se conseguiram apurar, as alterações mais frequentemente encontradas no exame físico de um animal FIV e/ou FeLV positivo foram a gengivite, estomatite, perda de peso e linfedenomegália (Callanan et al., 1992; Bendinelli et al. 1995; Dunham, 2006; Cohn, 2007; Kolenda et al., 2007; Levy et al., 2008; Yamamoto, 2008; Hosie et al., 2009; Costa & Norsworthy, 2011).

A estomatite, o sinal mais frequente em animais infectados com FIV e que pode ocorrer em qualquer fase de infecção (Sellon & Hartmann, 2006), foi apresentada por 63,6% (7/11) dos animais FIV positivos e mostrou ter associação estatística (p=0,04) com a infecção pelo vírus (Figuras 8 e 9). Já a gengivite de grau superior a 2, foi apresentada apenas por 27,3% (3/11) dos animais com a infecção viral, não mostrando estar associada à presença do vírus imunossupressor.

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Figura 8 e Figura 9: Exemplos de animais FIV positivos com estomatite grave (Original).

Tal como se observa nas Tabelas 5 e 6, a condição corporal dos animais da nossa amostra não é influenciada pela presença de FIV. A proporção de animais com condição corporal “Magro” é semelhante tanto em animais FIV positivos (9,1%), como em animais FIV negativos (10,3%). Situação semelhante ocorre no caso da linfadenomegália, que esteve presente em proporções semelhantes em animais FIV positivos (27,3%) e FIV negativos (33,7%).

Assim, podemos concluir que nos animais da nossa amostra, apenas a presença de estomatite está associada a presença de FIV. A presença de gengivite, condição corporal baixa, lifadenomegália e de outros sinais apresentados menos frequentemente (como úlceras linguais, corrimento ocular, corrimento nasal, desidratação, conjuntivite e ruído respiratório superior), estão provavelmente relacionados com a presença de outro(s) agente(s), nomeadamente o calicivírus felino, o herpesvírus felino, entre outros.

A avaliação do hemograma dos animais FIV positivos, revelou que nenhum deles apresentava anemia ou leucopénias descritas na literatura (Bendinelli et al. 1995; Dunham, 2006). Pelo contrário, houve apenas um animal que revelou alterações hematológicas, apresentando linfocitose ligeira. Os resultados da avaliação tanto do estado clínico como do perfil hematológico permite então concluir que os animais da amostra com infecção por FIV se encontram em estado de equilíbrio imunológico.

Relativamente ao FeLV, a literatura refere que os sinais clínicos manifestados pelos animais afectados passam principalmente pela presença de sinais clínicos relacionados com tumores induzidos por FeLV, síndromes de mielossupressão, imunossupressão, doenças imunomediadas, entre outros (Hartmann, 2006). Apenas a presença de estomatite teve associação estatística com a infecção por FeLV (p=0,04). A gengivite estava presente em dois animais, mas sempre associada a estomatite grave.

O animal nº47, diagnosticado durante o estudo como FeLV positivo, vai ser referido separadamente dos outros FeLV positivos, por ser o animal que apresentou mais alterações clínicas e o único para o qual houve acesso a história clínica mais pormenorizada. Trata-se

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de uma fêmea esterilizada, com cerca de oito anos de idade com história gengivo-estomatite crónica e que havia já sido submetida a extracção dentária completa. Desde há três semanas antes da data de colheita de amostras que apresentava poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. No exame clínico o animal estava magro, desidratado (7%), com mau estado do pêlo, linfadenomegália generalizada e apresentava estomatite grave. O hemograma deste animal apresentava anemia ligeira, mas que estava mascarada pela marcada desidratação que apresentava, pelo que possivelmente a anemia era moderada a grave. Foi realizada ecografia, revelando aumento generalizado dos linfonodos mesentéricos, e realizada uma PAAF para realização de citologia, que revelou diagnóstico compatível com linfoma.

Dos restantes quatro animais com FeLV, todos mostravam boa condição corporal. Apenas um outro animal apresentou aumento de linfonodos (linfonodos submandibulares), mas travava-se de um animal com gengivite grau 2 e estomatite grave, estando o aumento dos linfonodos regionais provavelmente relacionado com essa situação. A nível de hemograma, um dos animais não apresentava qualquer alteração, e os restantes revelaram policitémia ligeira, provavelmente reflexo de uma desidratação não detectada.

3.1.3. Influência dos factores: idade e sexo

A literatura refere que gatos adultos (Little, 2005; Levy et al., 2006), do sexo masculino (principalmente inteiros) (Lee et al., 2002; Luria, et al., 2004; Little, 2005; Levy et al., 2006) estão mais predispostos à infecção por FIV, pois estão mais expostos ao contacto com outros animais e caracteristicamente demonstram um comportamento mais agressivo (Sellon & Hartmann, 2006). Já no caso do FeLV, a infecção ocorre normalmente em animais mais jovens, de ambos os sexos (Hartmann, 2006; Cohn, 2007; Ford, 2010).

Na amostra testada, foram realmente os animais do sexo masculino os mais afectados (6/11 no caso do FIV e 3/5 no caso do FeLV), sem que no entanto a diferença encontrada seja estatisticamente significativa. Esta distribuição quase equitativa pelos sexos, pode dever-se às características da população, pois por se tratar de uma população relativamente fixa, confinada a um espaço restrito e cuja hierarquia está bem definida, a transmissão ocorre de forma mais uniforme, sem que um dos sexos esteja mais afectado.

No que respeita às idades, há que referir que todos os animais incluídos no estudo possuíam idade superior a 1 ano, pelo que todos foram considerados adultos. A faixa etária mais afectada por FIV (proporcionalmente ao numero de animais incluídos na classe) foi a “6-7 anos” com 33,3% dos animais dessa classe afectados, estando de acordo com o que é referido na literatura. No caso do FeLV, a classe mais afectada foi a “>8anos” com 20% dos animais incluídos nessa classe positivos. No caso do FeLV, não se verificou o descrito na literatura, o que pode dever-se ao facto de não terem sido incluídos no estudos animais jovens (<1 ano) ou o facto de os animais estarem confinados alterar a distribuição do agente

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