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PARTE II – Apresentação dos temas desenvolvidos no estágio

Tema 2 – Desnutrição do idoso

2. Alterações fisiológicas

2.1. Sistema muscular

No processo de envelhecimento ocorre um aumento progressivo da gordura corporal e uma diminuição da massa muscular magra, que se deve principalmente à perda de músculo esquelético36, 40, 41. Este processo, conhecido como sarcopenia, leva a fragilidade, incapacidade e comprometimento funcional36, 40.

O aumento da gordura corporal com o envelhecimento é de origem multifatorial, sendo a diminuição da atividade física uma das principais causas, que ainda contribui na redução da hormona de crescimento. A diminuição da ação das hormonas sexuais, a redução do metabolismo de repouso e do efeito térmico dos alimentos são outras possíveis causas. Este aumento da gordura corporal em pessoas idosas ocorre essencialmente a nível intra-hepático, intramuscular e intra-abdominal, que está associada ao aumento da resistência à insulina e, por isso, provavelmente a desfechos metabólicos adversos41.

No que diz respeito à perda de massa muscular e consequentemente de músculo esquelético verifica-se mesmo em pessoas saudáveis, o que indica que o processo de envelhecimento está associado a deficiências metabólicas, fisiológicas e funcionais36, 41. Uma das principais causas da sarcopenia é a perda de inervação da fibra muscular pelos neurónios motores, devido à apoptose do neurónio motor espinal e à retração do axónio distal. Estas alterações iniciam-se gradualmente no início da vida, acelerando após os 60 anos de idade42. A perda de massa muscular nos idosos leva também à redução do conteúdo total de água corporal36, o que pode trazer implicações na hidratação das pessoas de uma faixa etária mais elevada.

Todas estas mudanças no sistema muscular tornam os músculos mais fracos, mais lentos, menos potentes, menos estáveis e mais fatigáveis com o envelhecimento42. O desempenho motor nos idosos fica assim comprometido, reduzindo a capacidade de realizar as atividades da vida diária, o que aumenta a dependência36, 40.

2.2. Sistema neurológico

O declínio da função cerebral e o envelhecimento são processos conjuntos. Este último está associado a um aumento generalizado e progressivo do estado inflamatório devido à deterioração da função imunológica na vida adulta, um fenómeno conhecido como envelhecimento inflamatório. Neste processo ocorre um aumento da expressão de citoquinas inflamatórias e do stress oxidativo, que podem ter um profundo efeito no sistema imunológico do cérebro. O aumento de Espécies Reativas de Oxigénio (ROS) e citoquinas inflamatórias na periferia pode induzir a quebra da barreira hematoencefálica, normalmente altamente seletiva, facilitando a infiltração de células imunes periféricas, além de ativar diretamente células da glia, como astrócitos e microglia. A glia ativada pode danificar diretamente os neurónios através da libertação de citoquinas inflamatórias e ROS43. Como consequência desses processos fisiopatológicos, a função neuronal normal torna-se prejudicada, geralmente caracterizada por mudanças na expressão e função dos recetores, nos níveis de neurotransmissores e até mesmo morte celular43.

Além disto, a ingestão insuficiente de nutrientes pode afetar os processos cognitivos ao interromper os processos dependentes de nutrientes no organismo, que estão associados à manutenção da energia dos neurónios. Assim se depreende que o declínio cognitivo, devido ao envelhecimento, pode ser potenciando no caso de existir desnutrição36.

2.3. Sistema gastrointestinal

Com o envelhecimento, as pessoas podem adquirir morbilidades associadas ao intestino e com as bactérias do intestino. No entanto, a variação nos perfis da microbiota intestinal dos idosos é grande, pelo que não se consegue prever um fenótipo característico. Esta variabilidade pode ser

explicada por fatores externos que influenciam a microbiota, como a dieta, o exercício físico, a mobilidade, a medicação e os padrões de habitação44.

Ocorre a perda progressiva de papilas gustativas que detetam os bons sabores na língua, acumulando-se aquelas que detetam os sabores amargos e azedos. Aliado a esta alteração no paladar, está a utilização de dentaduras ou próteses dentárias mal ajustadas, que podem alterar, às vezes até inconscientemente, os padrões de alimentação. Assim, os idosos aumentam a ingestão de alimentos mais fáceis de mastigar e com pouca fibra, e diminuem o consumo de frutas e vegetais frescos, o que pode trazer problemas a nível nutricional36.

Ao nível do estômago, a secreção ácida diminui com o avançar da idade, o que pode dificultar a absorção de algumas vitaminas ou minerais, como a vitamina B12 e o ferro, respetivamente. O peristaltismo também se torna mais lento, devido à menor produção de saliva, o que leva a obstipação36. Além disto, com o passar dos anos, ainda ocorre um aumento na produção ou efeito das citoquinas saciantes, e uma redução significativa no olfato, que contribuiu na apreciação dos alimentos41.

2.4. Sistema imune

Como já foi mencionado anteriormente, o envelhecimento está associado a um aumento progressivo do estado inflamatório, o que pode levar à disfunção da resposta imune. Existem fortes evidências que um sistema imunológico que funcione mal contribui para a diminuição da resistência a doenças e a redução da expetativa de vida dos idosos. Além da capacidade de resposta do sistema imune ser mais fraca, quando está presente uma infeção, a taxa metabólica aumenta, tornando mais difícil para as pessoas mais velhas suprirem todas as necessidades nutricionais36, 43.

2.5. Sistema urinário

A função renal é também prejudicada com o avançar da idade. Ocorre diminuição da massa renal, do fluxo sanguíneo, da taxa glomerular, da elasticidade, do tónus muscular e ainda da capacidade da bexiga36, 45. Felizmente a maior parte dos casos nos idosos possui baixa a moderada

gravidade, não causando sintomas, nem ocorre a evolução para insuficiência renal36. Apesar de não evoluir para consequências mais graves é necessário cuidado, uma vez que o metabolismo da vitamina D é feito a nível renal, e pode ficar comprometido36.

2.6. Condição social e psicológica

O envelhecimento está associado a um aumento da incidência de patologias crónicas, a um aumento no risco de ter mais que um distúrbio simultaneamente, e talvez o mais importante, a um aumento da prevalência de incapacidade e fragilidade39, 44, 46. Por este motivo, cerca de 15 a 35% das pessoas idosas residentes na Europa precisam de alguma forma de assistência para realizar as suas tarefas39.

Além disso, as pessoas idosas estão mais propensas a viver sozinhas do que os adultos mais jovens, o que pode levar a isolamento social e solidão, principalmente quando não possuem apoio familiar. A falta deste apoio nos momentos de necessidade, juntamente com as restrições económicas, que são muito comuns nos idosos, são a causa de uma doença com elevada prevalência nesta faixa etária, a depressão. As pessoas perdem a vontade de viver, de comer, resultando em perda de peso e desnutrição36, 41.

A atividade física contribui para uma boa saúde física e psicológica em todas as idades, no entanto são os idosos que menos exercício físico fazem, o que piora não só a capacidade de realizar as tarefas do dia-a-dia, como a depressão caso esteja presente36.

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