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Alterações morfológicas dos substratos após os tratamentos com ácidos

4. Resultados e Discussão

4.6 Efeito dos tratamentos na digestibilidade enzimática

4.6.4 Alterações morfológicas dos substratos após os tratamentos com ácidos

As imagens de SEM foram utilizadas para discutir os efeitos dos tratamentos químicos na biomassa in natura, o que influencia na liberação de açúcares pela hidrólise enzimática (Figura 36 para folhas e Figura 37 para os colmos).

Conforme discutido sobre o efeito das extrações (item 4.6.1), o substrato não tratado (Figura 36a e Figura 37a) apresenta uma camada densa, majoritariamente composta por lignina e hemicelulose, que é sequencialmente removida com os tratamentos químicos16,157. As alterações morfológicas possuem,

portanto, uma relação com a composição química: a etapa ácida, que remove principalmente hemicelulose, leva a uma maior exposição das fibras de celulose (Figura 36b e Figura 37b). No entanto, esse efeito é mais pronunciado nos tratamentos alcalinos, devido à remoção da lignina (Figura 36c-h e Figura 37c-h).

Além disso, como a lignina atua como uma espécie de cola entre as fibras de celulose, observa-se uma desfibrilação do substrato nos tratamentos sequenciais ácido-base (Figura 36c-d e Figura 37c-d), observando-se o destacamento de fibras micrométricas. Entretanto, esse efeito não é observado tão expressivamente nas amostras que não foram tratadas previamente com ácido diluído. Efeitos de tratamentos combinados em bagaço de cana-de-açúcar resultaram em efeitos similares, deixando as fibras de celulose mais expostas e disponíveis para a ação enzimática157. De fato, especialmente nas folhas, os tratamentos combinados

Figura 36. Imagens de FESEM para as folhas: In natura (a); Ácido (b); Ácido-Base (20 min) (c); Ácido-base por 100 min (d); Somente básico por 20 min (e); Somente básico por 100 min (f); PLE e básico por 20 min (g); e PLE e básico por 100 min.

Figura 37. Imagens de FESEM para os colmos: In natura (a); Ácido (b); Ácido-Base (20 min) (c); Ácido-base por 100 min (d); Somente básico por 20 min (e); Somente básico por 100 min (f); PLE e básico por 20 min (g); e PLE e básico por 100 min.

Além da análise da superfície dos substratos, análises de micro-CT foram utilizados para avaliar a estrutura interna dos materiais (Figura 38, para as folhas e Figura 39, para os colmos). Comparando as partes da planta sem tratamento, nota- se que os colmos apresentam poros maiores do que as folhas. De modo geral, os tratamentos químicos criam poros na estrutura da biomassa, devido à extração dos componentes como hemicelulose e lignina. Esse fator, juntamente com a exposição das fibras de celulose, é importante para aumentar a digestibilidade enzimática da biomassa62,146. Nota-se para as folhas, que o material in natura apresenta uma

estrutura mais compacta (fechada), que vai se abrindo com os tratamentos químicos. Para os colmos, nota-se que, devido aos vasos condutores da planta, não há uma “abertura” da amostra, e sim a criação de mais portos nas regiões densas do substrato in natura.

Figura 38. Imagens de micro-CT das folhas de capim elefante: In natura (a); Submetidas a tratamento ácido (b); tratamento sequencial ácido-base (c); e somente a tratamento básico (d).

Figura 39. Imagens de micro-CT dos colmos de capim elefante: In natura (a); Submetidas a tratamento ácido (b); tratamento sequencial ácido-base (c); e somente a tratamento básico (d).

4.6.5 Efeito da moagem em moinho de bolas

A Figura 40 apresenta a comparação entre a quantidade de açúcares liberados antes e após a moagem em moinho de bolas. O tratamento físico utilizado levou ao aumento na digestibilidade enzimática para quase todos os casos (exceto para as amostras LAB100M e SB100M). A amostra SB20M teve o maior aumento em relação à amostra sem moagem (cerca de 30%), no qual a liberação de açúcares passou de 644,5 ± 20,8 mg/g de biomassa para 849,2 ± 37,8 mg/g de biomassa. Para as folhas, o maior aumento se deu na amostra LB20M, com aumento de cerca de 20%. Esses aumentos, embora sejam relativamente pequenos, devem ser analisados do ponto de vista da eficiência dos pré-tratamentos na digestibilidade enzimática: os tratamentos utilizados já conduzem a melhorias de cerca de 600%, comparados às amostras in natura.

Figura 40. Quantidade de açúcares liberados por grama de substrato após a hidrólise enzimática das amostras submetidas ao tratamento com ácido e base diluídos e após moagem.

As imagens de SEM das amostras após a moagem (Figura 41) indicam a redução do tamanho das partículas ocasionado pelo processo físico. Além disso, não é possível identificar as fibras anteriormente presentes, indicando a maceração por meio da moagem. As partículas obtidas formam aglomerados, como é possível observar nas imagens com o aumento de 1000x, além de apresentarem a superfície mais compactada, também devido ao efeito da moagem.

4 mg aç c ar / g b ioma ss a

Figura 41. Imagens de FESEM das amostras moídas em moinho de bolas: folhas submetidas a tratamento sequencial ácido-base por 20 min (a e b); somente básico por 20 min (c e d); colmos submetidos a tratamento sequencial ácido-base por 20 min (e e f); e somente básico por 20 min (g e h).

A literatura aponta que não há uma relação muito clara entre a redução da cristalinidade e o aumento na liberação de açúcares redutores139. Logo, como o

processo de redução da cristalinidade é acompanhado pela redução do tamanho da partícula, os aumentos ocasionados pela moagem podem também ter relação com a maior área superficial. A utilização da moagem como alternativa para a melhoria da liberação de açúcares deve ser estudada do ponto de vista econômico, em uma avaliação que conclua se a adição de uma etapa ao processo, que leva a um maior gasto de tempo e energia, é compensada pela liberação de açúcares. Caso a moagem não seja excessivamente dispendiosa energeticamente, estudos podem ser direcionados para a minimização de tempos e insumos químicos que sejam compensadas pela ação do moinho de bolas e levem à uma conversão máxima de carboidratos em açúcares fermentáveis.

Menegol e colaboradores103, ao estudarem o efeito de diferentes

tamanhos de partícula na hidrólise enzimática de capim elefante, notaram uma relação entre o tamanho da partícula e a liberação de açúcares: partículas maiores liberaram menos açúcares que partículas menores. Esse mesmo efeito pode ocorrer no caso da moagem em moinho de bolas, uma vez que o material é pulverizado nesse processo, dificultando a diferenciação entre o efeito do tamanho da partícula e da redução da cristalinidade na liberação de açúcares.

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