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ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELO DECRETO Nº 7.962/13

No documento O estelionato digital no e-commerce (páginas 50-52)

Preocupada com o crescimento do comércio eletrônico nos últimos anos e as consequências jurídicas que ele tem trazido consigo, a presidenta Dilma Rousseff, no dia mundial de direitos do consumidor (15 de março) deste ano, lançou um pacote de medidas destinadas a proteger o consumidor, bem como garantiu maior autonomia aos Procons. Esse programa ficou conhecido como “Plandec” (Plano Nacional de Consumo e Cidadania) e, dentre as suas medidas, incluiu a instituição do Decreto n. 7.962, datado de mesma data.

Com ele, foi possível antecipar parte da atualização do Código de Defesa do Consumidor que ainda está em discussão desde 2012 e que veremos no item seguinte, e foi fundamental para regulamentar a contratação no comércio eletrônico, sob o ponto de vista do consumidor.

Já em seu art. 1º, o referido decreto mostra a preocupação do legislador em regulamentar o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), no que se refere à contratação no comércio eletrônico, abrangendo os aspectos seguintes: “I – informações claras a respeito do produto, serviço e do fornecedor; II – atendimento facilitado ao consumidor; e III – respeito ao direito de arrependimento” (BRASIL, Decreto n. 7.962/13, 2013). E é justamente no inciso I do referido artigo que se vê o primeiro indício de que o legislador quis estabelecer um conjunto mínimo de dados disponíveis ao consumidor na página de comércio virtual para se evitar fraudes como as do estudo deste trabalho.

Tanto é, que os arts. 2º e 3º, do mesmo diploma legal, destinaram-se, exclusivamente, a estabelecer informações que devem estar presentes em local “de destaque e de fácil visualização”, no que concerne a sítios de comércio eletrônico ou de ofertas de compras coletivas, bem como demais meios utilizados para a oferta ou conclusão de contrato de consumo.

Nesse sentido, convém enunciá-las aqui, no que concerne aos sítios de comércio eletrônico, disposto no art. 2º:

I - nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quando houver, no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda;

II - endereço físico e eletrônico, e demais informações necessárias para sua localização e contato;

III - características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à segurança dos consumidores;

IV - discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias, tais como as de entrega ou seguros;

V - condições integrais da oferta, incluídas modalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega ou disponibilização do produto; e VI - informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer restrições à fruição da oferta (BRASIL, Decreto n. 7.962, 2013).

Ainda, além das anteriormente mencionadas, quando se tratar de compras coletivas, no site que fizer as ofertas, deverá conter mais três elementares, dispostas no art. 3º:

I - quantidade mínima de consumidores para a efetivação do contrato; II - prazo para utilização da oferta pelo consumidor; e

III - identificação do fornecedor responsável pelo sítio eletrônico e do fornecedor do produto ou serviço ofertado, nos termos dos incisos I e II do art. 2o (BRASIL, Decreto n. 7.962, 2013).

Com essas disposições, o legislador mostrou claro esforço em combater as fraudes de loja virtuais mais grosseiras, ou seja, aquelas em que não há a utilização indevida de dados de pessoas físicas e jurídicas inocentes nas informações sobre a suposta empresa virtual.

Também merece destaque o inciso IV do art. 4º do mesmo ordenamento jurídico, com relação ao dever do fornecedor em dar toda a assistência que o consumidor precisar para resolver eventuais problemas decorrentes de atendimento ou do produto:

manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico, que possibilite ao consumidor a resolução de demandas referentes a informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento do contrato; [...] (BRASIL, Decreto n. 7.962/13, 2013).

Não obstante, ainda precavendo-se para evitar mais fraudes e informar o consumidor, a fim de que ele não seja mais uma vítima de estelionato, o legislador estabeleceu o seguinte no art. 6º do mesmo diploma: “as contratações no comércio eletrônico deverão observar o cumprimento das condições da oferta, com a entrega dos produtos e serviços contratados, observados prazos, quantidade, qualidade e adequação" (BRASIL, Decreto n. 7.962/13, 2013).

E é justamente em razão dessa introdução legislativa que o Legislador estabeleceu a possibilidade de aplicação das sanções administrativas já previstas no art. 56 do Código de Defesa do Consumidor, quais sejam:

Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas:

I - multa;

II - apreensão do produto; III - inutilização do produto;

IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente; V - proibição de fabricação do produto;

VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII - suspensão temporária de atividade;

VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;

IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;

X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI - intervenção administrativa;

XII - imposição de contrapropaganda.

Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo (BRASIL, Lei n. 8.078/90, 2013).

Pela interpretação analógica do artigo supramencionado, é certo que, no caso da fraude da loja virtual fantasma, uma medida cabível seria a retirada da página da internet de circulação, mediante determinação judicial ao provedor responsável pelo domínio.

Por fim, no art. 9º do Decreto n. 7.962/13, estabeleceu-se o prazo de sessenta dias para que os comércios virtuais se adequem a essas regras, com a consequente entrada em vigor desse diploma legal.

É bem verdade que, em que pese a crítica nos veículos de comunicação à época da promulgação desse decreto sobre a excessiva abordagem no que se refere ao comércio eletrônico, convém ressaltar a extrema importância que isso serviu tanto para o consumidor como para a legislação brasileira, uma vez que, dessa forma, positivou-se a intenção de equiparar a prática do comércio virtual com os direitos e deveres que um comércio físico deve atender, como já se entendia com relação à equiparação ao crime de Estelionato para as fraudes que ocorrerem também no mundo comercial virtual.

No documento O estelionato digital no e-commerce (páginas 50-52)

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