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2. LIXIVIADOS DE ATERROS DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

2.6. ALTERNATIVAS DE LANÇAMENTO DO LIXIVIADO

Um dos desafios nos projetos de aterros sanitários é o tratamento do lixiviado onde sua escolha depende de variáveis como as características dos resíduos dispostos no aterro, a disponibilidade de área, fatores climáticos, idade do aterro, legislação específica e, sobretudo, o custo de implantação e operação da estação de tratamento (QASIM & CHIANG, 1994; FERNÁNDEZ-VIÑA, 2000). A maioria dos aterros brasileiros não possui nenhum tipo de tratamento para o lixiviado ou o trata de maneira ineficiente. Desta forma, é relevante o desenvolvimento de técnicas de tratamento eficientes na remoção da carga poluidora do lixiviado e que sejam compatíveis com a realidade técnica e econômica dos municípios (SCHIMANKO, 2008). Segundo Fernandez-Viña (2000), as alternativas de descarga são as redes municipais de esgoto doméstico, aplicação ao solo, recirculação no próprio aterro ou nas águas de superfície.

2.6.1. Descarga nas Redes Municipais de Esgoto Doméstico

Trata-se do encaminhamento do lixiviado, após prévio tratamento ou, simplesmente um encaminhamento do lixiviado bruto as Estações de Tratamento de Esgoto. Normalmente, a quantidade de lixiviado coletado nos aterros é bem menor que o volume tratado nas ETE’s, de forma que o lixiviado mesmo apresentando uma

concentração elevada de matéria orgânica, através da diluição com o esgoto, reduz significativamente o impacto sobre o processo (SANTANA-SILVA, 2008). O desafio dessa alternativa é estabelecer a correta relação de diluição do lixiviado no esgoto, em termos de volume, de modo a não ser comprometida a eficiência do tratamento de esgoto (BIDONE, 2007) sobretudo devido à alta concentração de amônia.

Alguns autores (QASIM & CHIANG, 1994; BIDONE, 2007) acreditam que a qualidade do lixiviado provoca algum impacto no desempenho das estações de tratamento. Existem questionamentos quanto a este encaminhamento devido à presença de compostos orgânicos inibitórios e de baixa biodegradabilidade no lixiviado, que podem reduzir a eficiência da ETE e aumentar a concentração do efluente. Boyle & Ham (1974) encontraram uma alta concentração de DQO (com cerca de 10.000 mg/L) no lixiviado e constataram que apenas com uma diluição percentual de 5% por volume de lixiviado no esgoto, seria obtido um efluente final em concordância com as legislações em vigor. Acima deste percentual, o tratamento de esgoto em conjunto com o lixiviado passou a ser ineficaz. Chian & Dewalle (1977) constataram, para uma DQO de 10.000 mg/L, que o percentual de lixiviado maior que 4% em volume com relação ao esgoto, reduz a eficiência do tratamento de esgoto. Estudos realizados por Henry et al. (1987) afirmaram que lixiviados de altas concentrações de DQO (24.000 mg/L) quando combinados com o esgoto num percentual inferior a 2% não provoca danos as estações de tratamento de esgoto. Viana et al. (2007), durante os testes de diluição a 2% realizados em bancada, observaram que as características das misturas ‘lixiviado e esgoto’ são similares, independentemente da origem do lixiviado. Em função das elevadas concentrações de DQO, DBO e amônia nos lixiviados, notou-se o aumento acentuado destes parâmetros nas diluições quando comparadas com o esgoto afluente. Fachin et al. (2000) apud Bidone (2007) controlaram durante 22 meses o tratamento combinado de esgoto doméstico e lixiviado na ETE Lami, em Porto Alegre/RS. Os autores testaram os percentuais de 0,1 a 10,7% de diluição do lixiviado em volume no esgoto, com média de 3,2%, e verificaram que as concentrações de N-amoniacal podem ser inibitórias à atividade fotossintética das algas nas lagoas, porém os autores concluíram que a alternativa é viável, sobretudo em pequenas comunidades. Ferreira et al. (2009), em suas considerações finais afirmou que há um indicativo de que o limite de 2% na relação volume de lixiviado/volume de esgoto seja excessivo para cargas de

DQO e nitrogênio amoniacal de 729 kgDQO/dia e 440 kgN-NH3/dia. Apesar de 1%

parecer pouco, para cidades onde os padrões de esgotos atinjam valores elevados, ele pode ser teoricamente suficiente.

Apesar dessa alternativa de manejo, a concentração de determinados contaminantes, deve ser ponderada e monitorada (IWAI, 2005; RENOU et al., 2008). Segundo Jucá (2003), em geral, as estações de tratamento de esgoto (ETE) que utilizam processos biológicos não estão preparadas para receber um líquido com diversidade de substâncias e altas concentrações de componentes orgânicos e inorgânicos.

2.6.2. Recirculação do Lixiviado

A Recirculação do Lixiviado consiste na reinjeção do lixiviado na massa de resíduo já aterrada e é considerado um método de tratamento, uma vez que propicia a atenuação de constituintes pela atividade biológica e por reações físico-químicas que ocorrem no interior do aterro, onde os ácidos orgânicos presentes no efluente irão ser convertidos em CH4 e CO2 (PIRES, 2002). Segundo Lagerkvist & Cossu (2005) a recirculação é

uma combinação do tratamento dos resíduos sólidos com o pré-tratamento de lixiviado no interior do aterro.

Segundo Palma et al. (1999), a degradação biológica de matéria orgânica, em alguns aterros do Chile, melhorou acentuadamente quando a umidade está entre 50% e 70%. Este método é uma opção adequada para aterros localizados em áreas de baixa pluviosidade. A recirculação de lixiviado deve ser aplicada quando se monitora a umidade ou grau de saturação dos resíduos sólidos urbanos, pois além de elevar seu peso específico alterando a estabilidade do aterro, pode provocar inibição do processo de biodegradação da massa de resíduos em função do excesso de umidade (JUCÁ, 2003).

Segundo Qasim & Chiang (1994) as principais vantagens desse tipo de tratamento são: aceleração do processo de biodegradação dos resíduos; redução de componentes orgânicos no lixiviado; possível redução do volume do efluente por causa da evaporação e redução dos custos do tratamento de lixiviado. Reinhart & Al-Yousfi (1996)

afirmaram que as vantagens estão relacionadas à distribuição de nutrientes e enzimas, pH tampão, diluição de compostos inibitórios, estocagem e evaporação do líquido. Os autores citam como desvantagens: alto custo de manutenção do sistema de recirculação, risco de instabilidade dos aterros e problemas de odores.

2.6.3. Descarga nas Águas Superficiais

Ocorre quando o lixiviado é devidamente tratado no local e lançado sobre as águas superficiais que em sua grande maioria são lançados aos rios em concordância com a legislação específica. Este subitem será melhor analisado no item relativo as Técnicas de Tratamento de Lixiviado, devido a importância do seu contexto.