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Alternativas sancionatórias em detrimento às sanções penais nas relações de consumo: as multas administrativas e a desmoralização social do

CAPÍTULO III – A REESTRUTURAÇÃO E O FORTALECIMENTO DO DIREITO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR E A

3) Alternativas sancionatórias em detrimento às sanções penais nas relações de consumo: as multas administrativas e a desmoralização social do

fornecedor/empresário, por meio da contrapropaganda.

A delinquência consumerista é caracterizada por elementos especiais e sui generis, diferentes daqueles encontrados em condutas típicas da criminalidade denominada “comum”.

Isto devido ao fato de que o delinquente fornecedor, via de regra, não é um cidadão que não teve oportunidades na vida, educação familiar e estruturação social. Muito pelo contrário. Normalmente, ele possui recursos consideráveis e é detentor de status social respeitado.

Levando-se em conta tal constatação, é de se pensar a natureza das penas mais adequadas a serem aplicadas ao agente infrator. Nesta senda, cabe o questionamento: Seriam as penas privativas de liberdade a melhor forma de se punir tais infratores? Nos parece que não.

Isto pois, definitivamente, as finalidades desta pena, se aplicada no contexto consumerista, não são alcançadas, pragmaticamente. Vejamos.

A ressocialização do infrator não é necessária. Este já é integrado socialmente e, normalmente, tem acesso a conhecimento e informação, fazendo parte do seio social.

A prevenção geral positiva é ilusória, pois a sociedade já notou que o Direito Penal do Consumidor é ineficaz, tendo em vista as desproporcionalidades no tratamento da relação consumidor/fornecedor e ao notar que seus direitos não são devidamente respeitados.

Então, a pena privativa de liberdade resta esvaziada nesta seara, restando ao legislador o trabalho de estruturar um novo sistema eficiente de penas para a coibição da delinquência consumerista.

Além disso, mesmo que o fornecedor sofresse tal pena de prisão, devido ao seu poder econômico, provavelmente, conseguiria meios de que ela fosse, no mínimo, atenuada, pois teria condições de contratar bons advogados para defendê-lo.

Já um delinquente que praticou um furto simples, por exemplo, via de regra, não possui quaisquer condições sociais e econômicas de se defender, como se pode ver comumente, na vida cotidiana.

Assim, cabe a pergunta: é mais gravosa a conduta daquele que pratica ilícito, mas que teve uma vida com todas as condições para não praticá-lo ou daquele que já nasceu neste meio e jamais teve condições de vida dignas? Parece que a primeira conduta se caracteriza por um desvalor maior. Sendo assim, cabe outra indagação: quem mereceria pena mais grave, levando em conta as peculiaridades de cada situação?

Neste sentido, podem ocorrer desproporcionalidades substanciais nas punições que ocorrem no sistema penal e jurídico, como um todo, questão que também deve ser analisada ao se estabelecer a natureza da sanção a ser aplicada.

Cabe ressaltar que os crimes contra o consumidor, assim como aqueles contra a ordem econômica, não são tratados de forma rigorosa pelos Tribunais, tanto porque há raridade de processos, quanto porque há grande complexidade jurídica e fática.

Além disso, pois, a origem social, bem como o relacionamento social dos autores destes delitos permitem uma identificação entre estes e os funcionários do Judiciário, o que não acontece, por exemplo, com o ladrão de um pacote de bolachas, um assaltante de bancos. É por isso que se diz que estes crimes são cometidos pelo colarinho branco.266

Por todos estes motivos, deve-se pensar na aplicação de sanções alternativas ao delinquente fornecedor. Com efeito, estas seriam dotadas de maior efetividade,

266FARIA, Antonio Celso Campos de Oliveira. Direito penal do consumidor. Revista da Escola Paulista da

propiciando muitos dos resultados que a pena privativa de liberdade pode gerar na diminuição da criminalidade dita “comum”.

Pensando nas peculiaridades das atividades desenvolvidas pelo infrator/fornecedor, se faz necessária modalidade de pena que atinja dois elementos fundamentais de sua atividade: seu “bolso”, como popularmente se diz, e também sua imagem perante a sociedade e, principalmente, perante seus consumidores. Punição em face do aspecto econômico mostra-se a solução mais eficiente, neste âmbito.

Desse modo, multas administrativas de valor elevado cumpririam satisfatoriamente o primeiro papel. Multas tão altas quanto os lucros que poderiam ser obtidos com a conduta ilícita fariam os fornecedores pensarem e repensarem se tal comportamento valeria a pena.

Além disso, empresas, que, geralmente, se caracterizam como fornecedoras de produtos e prestadoras de serviços, visam lucros, e, portanto, mexer em sua principal finalidade poderia ser uma forma de se coibir condutas atentatórias à relação de consumo. Afinal, se a empresa existe com a finalidade de lucro e, com o pagamento da multa, que se configuraria como severa, em termos econômicos, ela deixa de tê-lo, qual a razão para continuar existindo? 267

Assim, esta sanção poderia ser, de fato, muito incômoda ao fornecedor, já que influi no âmago de sua própria atividade e, mais: influi na própria razão de existir da atividade praticada por ele.

267Antonio Celso Campos de Oliveira FARIA, citando José Geraldo Brito Filomeno, afirma que: “À exceção

da chamada Lei sobre a Proteção do Consumidor da província de Quebec, de 23.01.85, em que se observa séria preocupação no sentido de punir-se também criminalmente comportamentos formais em desobediência às regras fixadas em seus cânones administrativos, como, por exemplo, o simples fato de deixarem os fornecedores de produtos e serviços de prestar às autoridades competentes as informações necessárias sobre aqueles – e são exatamente nesse sentido os arts. 63 e 64 do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor – outras legislações consultadas (por exemplo, da Venezuela, México, Espanha, etc), apenas tratam de infrações de natureza administrativa, conquanto severamente sancionadas sobretudo pelo pagamento de pesadas multas, vedação de outras atividades e outras.”, em Direito penal do consumidor. Revista da Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, v. 2, n. 1, jan./jun. 2001, p.178.

Deste modo, estar-se-ia adentrando nas especificidades da atividade exercida, com o fim de se estabelecer as medidas que mais impactam no desenvolver da atividade de produção de bens e prestação de serviços.

Além disso, outra forma de coibir os abusos que existem na relação de consumo, praticada por fornecedores, seria por meio de um forte movimento de contrapropaganda.

É sabido que a publicidade é meio fundamental para a atividade consumerista e, nos dias atuais, exerce papel fundamental no mercado de consumo. Muitos estudiosos, inclusive, analisam seu papel nocivo na vida do corpo social, haja vista as influências negativas que ela pode vir a exercer no natural desenvolver de crianças, adolescentes e adultos.

Há diferenças entre os conceitos de propaganda e publicidade.

A publicidade informa o consumidor acerca de produtos e serviços, com a finalidade de incentivar o consumo e, consequentemente, de criar estilos de vida ou mesmo impor uma marca ou produto - ou seja, suas finalidades são econômicas. Já a propaganda tem por objetivo difundir idéias, com o fim de permitir que se adotem posturas ideológicas, por exemplo – ou seja, esta não visa qualquer finalidade econômica.

Nesta esteira, a contrapropaganda agiria de forma a difundir idéias, não muito positivas, acerca do infrator/fornecedor, notadamente, quando ele se constituir em uma empresa ou grupo econômico. Sua finalidade seria a desmoralização da imagem social do empresário perante o público consumidor e também outras empresas. Afinal, empresas dependem, e muito, de sua imagem e daquilo que elas passam ao público consumidor.

Meios de comunicação como rádio, televisão, revistas, jornais e outdoors, enfim, todas as formas midiáticas, seriam eficientes na execução de tal medida sancionatória.

Com efeito, cabe ressaltar que o direito à informação do consumidor também estaria sendo exercitado com a execução desta sanção, já que a sociedade consumerista tem o direito de saber de que modo age o fornecedor, quais os valores seguidos por ele ou por

sua empresa, bem como o que se passa em todo o processo de venda e compra de seus produtos ou serviços.

O consumo envolve muitos elementos, mais que o simples comprar e vender. A filosofia seguida pela empresa, bem como sua atuação junto ao meio ambiente, por exemplo, também fazem parte de sua estrutura, que se exterioriza no seu modo de atuação no mercado.

Neste sentido, parece mais eficiente à coibição das condutas atentatórias às relações de consumo a aplicação de sanções alternativas, ao invés de pena privativa de liberdade, uma vez que cada modalidade de delinquência possui elementos próprios, que devem ser analisados, com o fim desta ser repelida.

4) A implementação da Terceira Via: a utilização do Direito Penal de forma

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