• Nenhum resultado encontrado

Amélia de Leuchtenberg, Imperatriz do Brasil, Rainha ou Duquesa em

Importa ressaltar que o príncipe de Joinville, embora fosse o mais engajado de todos na busca de esposos adequados para as filhas do imperador, não era o único ao qual este dava ouvidos, pois ainda havia um importante papel desempenhado por sua madrasta, a imperatriz viúva do Brasil, que comumente utilizava o título de duquesa de Bragança, título assumido por d. Pedro I, quando da sua renúncia ao trono português.

Em distintos momentos François de Orléans, príncipe de Joinville; d. Amélia de  Leuchtenberg, duquesa viúva de Bragança e condessa de Barral, os três Orleanistas. 

Amélia de Beauharnais, princesa de Leuchtenberg, ou duquesa viúva de Bragança, em meados de 1864, residia em Lisboa, no Palácio das Janelas Verdes, e estava agregada à corte portuguesa chefiada pelo rei consorte Fernando II [Saxe- Coburgo-Gotha], desde a morte, em 1853, de sua esposa, enteada de Amélia, Maria II de Portugal. O seu pedido de incorporação à Casa real portuguesa118 havia sido rejeitado pelo parlamento português em 1839, e não houvera interferência favorável por parte da       

118 De modo geral, pedidos de incorporação a uma Casa real ou imperial significam, além da elevação e  ou reconhecimento do status titulatório, também uma dotação [mesada] mensal paga pelo governo.  

rainha, sua enteada, tampouco por parte do rei consorte, Fernando II, sendo apenas incorporada à família imperial brasileira, em 1853, por decreto do seu também enteado, d. Pedro II119.

O período estava profundamente tenso no seio da família real portuguesa, chefiada por Fernando II, que não abria espaço para que houvesse um posicionamento ou influência de d. Amélia em questões de ordem familiar ou do reino, então chefiado por seu filho Pedro V. A morte da rainha Maria II, em 1853, fez ascender ao trono seu filho, então solteiro, Pedro V que contava com apenas 16 anos, assumindo a regência seu pai Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha. Apenas em 1855, após completar a maioridade, Pedro V foi sagrado Rei de Portugal, desposando, em 1858, a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen120, filha do príncipe titular121 de Hohenzollern

[Carlos Antonio122] e da princesa de Baden; príncipes que sequer tinham relações

próximas com os Bragança ou com d. Amélia, fosse por via materna Bávara, e portanto alemã, ou francesa, por seu pai ser enteado de Napoleão I. A princesa Hohenzollern123 significava a proximidade da Casa de Portugal com a “Alemanha” que, invariavelmente, já buscava a modernidade e inovação, além da relativa ameaça às autonomias regionais, entre elas, o reino da Bavária.

Em 1859, a rainha consorte de Portugal [Estefania] faleceu, seguida pelo marido,

em 1861 [Pedro V], não deixando, pois, herdeiros diretos124. Ascendeu ao trono

português o irmão do último rei, Luis I [de Saxe-Coburgo e Bragança], que, enquanto solteiro, residia no sul da França onde utilizava o título de duque do Porto. O casamento desse rei apenas acorreu em 1862 com Maria Pia de Savoia, filha do então Rei de Piemonte e Sardenha, futuro Vittorio Emanuel II da Itália.

À exceção do casamento do rei Luis I, em 1862, com uma princesa de Savoia, todas as demais relações matrimoniais da Casa real portuguesa estavam sendo       

119 ALMEIDA, Sylvia Lacerda Martins de. Uma filha de D. Pedro I: Dona Maria Amélia. São Paulo: Cia.  Editora Nacional, 1973. 

120  Em 1867,  a  irmã  da  princesa  Estefânia,  Maria  de Hohenzollern‐Sigmaringen  se casou  com um dos  primeiros pretendentes intencionados por d. Pedro II a sua filha Isabel, o conde de Flandres, Phillipe de  Saxe‐Coburgo‐Gotha.  121 Príncipe governante do principado alemão de Hohenzollern.  122 Carlos Antonio, por vias maternas, era sobrinho neto do general Bonapartista Joaquim Murat, que,  em 1802, desposara uma das irmãs do Imperador dos Franceses [Napoleão I], tendo sido agraciado com  os títulos de: Príncipe do Império (1805); Grão‐duque de Berg e Clève (1808); Rei de Sicilia e Nápoles  (1808‐1815). Fonte: Almanache Gotha, p.238.  123 Em 1861, o irmão da finada rainha de Portugal Estefânia, se casou com Antonia, infanta de Portugal,  irmã do final rei Pedro V. E por sua vez, em maio de 1859, a infanta Maria Ana de Portugal desposou  George I, Rei da Saxônia [Saxe].  124 Entende‐se por herdeiros diretos os filhos (as), segundo terminologia usual no direito. 

arranjadas com Casas alemãs, parceiras profundamente esporádicas, se não pontuais, nas alianças matrimoniais com Portugal, evidenciando a forte influência de Fernando II na constituição de tal processo. Este mesmo Fernando II fora consultado pelo príncipe de Joinville acerca de pretendentes para as princesas brasileiras, e ambos recomendaram ao monarca Pedro II o sobrinho não apenas de Joinville, mas também de Fernando II, Augusto de Saxe-Coburgo-Gotha, que levaria para os trópicos a influência de seu tio experiente, consorte, regente e rei de Portugal, Fernando II. Cumpre lembrar que Fernando II não intercedera pela madrasta de sua esposa quando foi requisitada a incorporação à Casa real de Portugal, tendo-o acolhido a Casa Imperial do Brasil, que poderia cair nas mãos do sobrinho dele, de Saxe-Coburgo-Gotha.

O desagrado de d. Amélia com os Saxe-Coburgo-Gotha era notório e perceptível em suas cartas a d. Pedro II, nas quais afirmava preferir o conde d’Eu, também sobrinho de Joinville e Fernando II, mas com poucas influências do tio [que estava no poder em Portugal], visto que pertenciam a dinastias distintas.

Desse modo, enfatizo uma segunda diferença entre Orléans e Saxe-Coburgo- Gotha [Augusto], ou Saxe-Coburgo-Gotha e Orléans [Gastão], que transcende a questão da herança tradicional de Weber, a qual ainda retomarei adiante colocando em questão o alinhamento estratégico de posicionamentos, não apenas do poder de Estado, mas também do poder familiar. Estava, pois, clara a pretensão de Pedro II a um Saxe- Coburgo-Gotha para sua filha mais velha [Isabel], após a renúncia de Penthièvre [Orléans], mas sua madrasta d. Amélia o desaconselharia, em favorecimento de Gastão de Orléans.

D. Amélia escreveu para d. Pedro II, em janeiro de 1864:

O filho mais velho do duque de Nemours, estive com ele aqui faz alguns anos. Tem uma bonita figura, e dizem que é muito bem educado... O duque de Nemours é, de todos os príncipes d`Orléans, aquele que não tem fortuna, pois ele quem mais perdeu depois da revolução de 1848. Tem 4 filhos, dois homens e duas mulheres. Se o mais velho renunciasse à França, [condições exigidas para o esposo da futura imperatriz do Brasil, segundo a Constituição de 1824] por assim dizer, sendo ele já habituado à ideia de dever-se fazer uma posição em um país estrangeiro, seria uma ótima aquisição.

Portanto, se tu pudesses ter para genro o Príncipe Gaston, eu creio que seria uma grande felicidade para Isabel e para o Brasil. A

educação de todos esses Príncipes d`Orléans foi muito curada e eles têm sentimentos muito liberais, e isto é essencial125.

(ARQUIVO GRÃO-PARÁ, 2012)

A carta de d. Amélia poderia ser considerada ambígua, uma vez que há elogios em relação à “bonita figura” de Gastão e à sua boa educação e, por outro lado, a informação de pouca fortuna e a “ideia de dever-se fazer uma posição em um país estrangeiro”, o que já vinha acontecendo com Gastão, que servia ao exército espanhol graças à intervenção de seu tio, o duque de Montpensier, cunhado da rainha Isabel II. Mas não, d. Amélia sabia exatamente quais eram as preocupações que habitavam o pensar e as preferências de d. Pedro II em relação ao marido, sobretudo, de sua herdeira. Este deveria ter boa aparência, haja vista a decepção que tivera ao encontrar com sua futura esposa, quando esta desembarcara no Rio de Janeiro, que não condizia em nada com os retratos; deveria, pois, ter uma boa educação, o que era fundamental para o esposo de uma Imperatriz; era desejável seu cunho liberal, visto que assim o era, e muito admirava o “rei burguês” em referência a Luis Felipe I da França126, avô paterno de Gastão de Orléans; e, por fim, a possibilidade que era uma exigência perante a Constituição Imperial, a renunciar a todas e quaisquer posições e partidos fora do país de sua cônjuge [Isabel/ Brasil], o que poderia significar ausência de patriotismo ou consciência ampla e clara da situação presente, já que dificilmente se restauraria a monarquia de Julho.

Lilia Schwarcz, em As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos dedicou o capitulo “Um Monarca-Cidadão” inteiro para analisar tais semelhanças e proximidades entre Luis Felipe I e Pedro II.

Com seu “jaquetão”, como descrevia o Correio Paulistano de 13 de outubro de 1870, d. Pedro se afastava da imagem do grande imperador e introduzia o modelo do famoso monarca francês Luís Filipe de Orléans, que ficou no poder de 1830 a 1848 e que abandonara as vestes majestáticas para se “aproximar dos cidadãos” e de um governo voltado para a burguesia local. Mas era antes a indumentária que assemelhava os dois monarcas. Como afirma Morel: “Uma fórmula tradicional qualificara a Monarquia de Julho como ‘burguesa’; mas mesmo os liberais brasileiros mais otimistas não podiam utilizar a mesma qualificação para o único império tropical”. O Poder       

125 Carta de d. Amélia a d. Pedro II. Lisboa, 24 de Janeiro de 1864. 

126 Luis Felipe I (1773‐1850), duque de Orléans e Rei da França de 1830 a 1848, desposou em 1809 a  princesa Maria Amélia de Borbone‐Sicília. 

Moderador era ainda um privilégio do imperador, e o trabalho manual continuava nas mãos dos escravos. Se na política não havia como comparar as duas monarquias, ao menos os laços entre famílias já eram estreitos. Como afirma Sérgio Buarque de Holanda, “as fórmulas e as palavras são as mesmas, embora fossem diversos o conteúdo e o significado que aqui passavam a assumir”. 127

É bem verdade que o recorte temporal da autora se refere ao monarca d. Pedro II a partir de 1870, o que não exclui a possibilidade evidente do favoritismo e coadunância de d. Pedro II aos princípios liberais, sobre os quais não pretendo me alongar, à figura de um “rei-burguês” ou “rei-cidadão” como Luis Felipe de Orléans, antes da data indicada.

D. Amélia, embora convivesse havia menos de três anos com o imperador, trocava desde longa data correspondências com ele, que a chamava carinhosamente de “mãe”, conhecendo, pois, as predileções e tendências do monarca, entre elas “de cunho liberal”.

Por certo, atento às correspondências enviadas por d. Amélia a d. Pedro, e por ter possivelmente ciência de sua posição em relação ao Orléans e Saxe-Coburgo-Gotha e Saxe-Coburgo-Gotha de Orléans, e porque ambos eram seus sobrinhos, Joinville passou delicadamente a fazer coro com a imperatriz viúva em prol de Gastão, ou melhor, em prol de seu irmão Nemours, que enfrentava dificuldades financeiras.

Estou mantendo a Imperatriz Amélia128 ao corrente de todas as comunicações que vos transmitirei. Penso que aprove. Eu vos envio a última fotografia que tenho podido procurar do Conde d`Eu, filho mais velho de meu irmão Nemours. Se desejais pôr a mão sobre ele para uma de vossas filhas, seria a perfeição. Ele é grande, forte, belo rapaz, bom, muito amável, muito instruído, amante do estudo e, além disso, possui uma pequena carreira militar. Tem 21 anos, porém é um pouco surdo, é verdade, mas não tanto que seja insuficiente. Agora, a posição no Brasil lhe vai convir? Vou indagar. Creio que não vai achar ninguém melhor que ele. Augusto de Saxe-Coburgo é mais jovem que ele, é verdade, bonito e muito inteligente. Foi bem educado, mas não tem as aptidões para o estudo que o Conde d`Eu. Ele é um bonito jovem e bem construído. É muito vivo e um pouco ligeiro. É verdade que uma passagem na marinha austríaca lhe fez bem, dando-lhe aprumo e seriedade no espírito. Em todo caso o creio superior como desenvolvimento e inteligência à maior parte dos Príncipes alemães; já viu muito e tem o conhecimento do mundo, tão necessário a um        127 Trecho extraído do livro de Lilia SCHWARCZ “As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos  trópicos”. São Paulo, Cia. das Letras, 1998, p. 322 e 323.  128 É comum no que denominarei por etiqueta da realeza se referir à pessoa, utilizando o título mais alto  que ela possuiu; por mais que não se utilize mais deste, ou que não lhe pertença mais, é uma questão  de etiqueta 

Príncipe. Ah, é muito difícil casar as filhas! É bem difícil também fazer a carreira dos rapazes. Começo a ficar embaraçado com o meu.

(BRAGANÇA. Carlos Tasso, 2012, p.35 e 36.)129

O cenário parecia ganhar forma, sobretudo quando os dois nomes em pauta passaram a ser o de Gastão de Orléans e Augusto de Saxe-Coburgo-Gotha. As qualidades de ambos foram bastante exaltadas, apesar de haver uma tendência mais vantajosa para este ou aquele candidato para a filha mais velha e herdeira ao trono, sem, no entanto, tornar tais posições explícitas, mantendo-se o devido distanciamento e deixando a decisão final para o pai e monarca.

Ademais, é importante notar dois indicativos de relevo na carta de Joinville. O primeiro informava que a “Imperatriz”, utilizando seu título mais elevado ao longo da vida, estava sendo informada de seus posicionamentos e cartas enviadas a d. Pedro, o que evitaria a formação de partidos distintos e de conspirações na busca dos pretendentes imperiais. O segundo aspecto relevante , além de sua inclinação a Gastão, de quem até enviara uma fotografia, constituía-se em zeloso recado à “Imperatriz Amélia”, diferenciando seu sobrinho, príncipe alemão, dos demais, em clara referência ao rei Fernando II de Portugal [Saxe-Coburgo-Gotha] que não fora educado por uma princesa da França [Clementina, irmã de Joinville] tal qual Augusto, ou ainda, o rei George I de Saxe, a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, Rainha consorte de Portugal, e seu irmão Leopoldo Hohenzollern-Sigmaringen, os quatro príncipes alemães que haviam desposado infantes [príncipes] de Portugal. Ou seja, é possível haver a seguinte proposição de Joinville em relação a “Imperatriz” Amélia: “Se preferes Gastão, exalte-o, mas não desqualifique Augusto, que é um príncipe alemão diferenciado ao qual a Casa de Bragança em Portugal se uniu, e provavelmente sem a aprovação da “Imperatriz”.

Quatro dias após a datação da carta de Joinville, d. Amélia escreveu a d. Pedro II. 

A maior dificuldade é achar um Príncipe que esteja disposto a se expatriar da Europa para se instalar no Brasil... eu acho que tu tens razão de tentar arranjar os casamentos de tuas filhas ao mesmo tempo.... mas o creio dever te dizer é que o ramo dos Coburgo é muito inferior na Áustria, por causa da avó, a Princesa Kohary130, de onde vem a imensa fortuna, e a posição que       

129 Carta de Joinville a d. Pedro II. Claremont, 7 de fevereiro de 1864.  

130  A  rica  Casa  de  Kohary  é  originária  da  atual  região  pertencente  à  Eslováquia,  anteriormente  pertencente ao Império Austro‐Húngaro, que em 1815 concedeu a estes a elevação do titulo de Condes  a  Príncipes de Kohary, havendo ligações distantes da ascendência deste com a realeza e alta‐nobreza  europeia, estando no final do século XVIII e inicio do XIX, reduzidos à imensa fortuna e nobreza local. 

teria sua filha não seria portanto conveniente para uma princesa brasileira, neta de uma Arquiduquesa da Áustria [referencia a mãe do imperador, dna. Leopoldina Habsburgo].

Não duvido que Joinville te fará também elogios do filho mais velho do duque de Nemours, do Príncipe Gastão, que dizem ser um encantador jovem homem. Eu o vi durante uma viagem que ele fez aqui com seu pai e gostei muito dele. Tem 21 anos, é bonito rapaz, bom soldado (fez com distinção a campanha do Marrocos). Por causa do seu bom caráter, é amado por todo mundo, muito instruído, muito estudioso. Seu único defeito é ser um pouco surdo, mas creio que desse defeito atualmente sofrem muitos Príncipes.

Me pareceu sempre que se o Príncipe Gaston aceitasse a mão de Isabel e Pierre aquela de Leopoldina, tudo seria esplêndido e teria-se a maior união na família, pois todos os Príncipes da família d`Orléans são muito unidos entre si e muito bem-educados e Isabel não teria nada a invejar a sua irmã, que seria tão feliz quanto ela.

(BRAGANÇA. Carlos Tasso, 2012, p. 36.)131

Por certo, d. Amélia não teve a mesma elegância de enviar tal correspondência a Joinville, na qual ela ameniza a situação, ao defender a posição de seu filho Pierre para a mão da filha cadete de d. Pedro II. O que está aí proposto de modo bem evidente não é apenas a rejeição de d. Amélia a um príncipe alemão, embora esta exista, mas, sobretudo, a rejeição a mais um Saxe-Coburgo-Gotha na família.

O texto de Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança, a despeito de ser descendente de Augusto de Saxe-Coburgo-Gotha e Leopoldina de Bourbon e Bragança, apresenta uma sucinta análise que, não obstante algumas ressalvas, me pareceu profundamente interessante e coerente.

Nota-se na carta da imperatriz uma clara tomada de posição, ao destacar que Gastão era estudioso – este era o fraco de d. Pedro II. D. Amélia, em suas intrigas contra a Casa de Saxe-Coburgo, esquecia-se de que também Gastão era filho de Vitória de Saxe-Coburgo-Gotha, daquele ramo dos Coburgos que ela chamava de ‘muito inferior’. Ela olvidava sua origem paterna [Beauharnais], bem distante de ser de ascendência real. Era sabido que isso lhe rendia muitos complexos; sua altivez a fazia muito isolada, criticada e vista como antipática nas cortes europeias.

      

        

Princesa da França, Clementina de Orléans, irmã de Joinville e Nemours, hábil  articuladora nas cortes europeias, mãe do príncipe Augusto de Saxe‐Coburgo‐Gotha,e seu 

cunhado, o Rei Consorte de Portugal, Fernando II, os dois pró‐Saxe‐Coburgo.  (Imagens: www.geneall.net – acessado em 22/2/2012) 

As investigações e a busca de bons pretendentes que caminhava de modo até então discreto, entre Joinville, d. Amélia e d. Pedro II, a despeito dos favoritismos distintos, passou a ganhar outra estatura, quando agentes como Fernando II e Clementina de Orléans foram informados a respeito das intenções do monarca. Segundo Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança, autor do livro “A Intriga”, Joinville participou a Fernando II as intenções do cunhado d. Pedro II em tomar Augusto para esposo de Isabel e casar Gastão com Leopoldina. Fernando II felicitou e informou os pais de Augusto, bem como a Rainha Victória da Inglaterra e o Rei Leopoldo I da Bélgica.

O que era claro para o mundo europeu, isto é, a diferença existente entre Augusto e Gastão, Orléans e Saxe-Coburgo-Gotha e Saxe-Coburgo-Gotha e Orléans, não parece que se fazia presente nos trópicos, pois, ora o imperador demonstrava predileção por Augusto, ora por Gastão, evidentemente, influenciado pelas perspectivas que recebia de seus informantes europeus que, de forma gentil, se reclinavam tendenciosos de modo oposto um ao outro [d. Amélia e Joinville]

Em carta de março de 1864, Joinville afirmava ter recebido orientações de d. Pedro II, na qual decidia por Augusto para desposar Isabel.

Na primeira de vossas cartas vós dizeis que estais decidido a sondar o terreno junto ao Duque Augusto de Saxe-Coburgo para a vossa filha mais velha e ao Conde d`Eu para a mais moça. Eu teria preferido, se fosse possível, antes falar do casamento da filha cadeta, preparar o terreno para o casamento da mais velha, que apresenta muito mais

dificuldades. Se eu as tivesse livre a escolher, casaria antes a mais velha do que a cadeta de vossas filhas.

Esta última será sempre mais fácil casar. Alto nascimento, bela posição de fortuna, excelente educação, ela reúne todas as vantagens e tem, mais do que a irmã, a independência.

(ARQUIVO GRÃO-PARÁ, 2012)

Não apenas Joinville, mas também d. Amélia indicavam, constantemente nas cartas a dura e “cruel” missão que coubera a Isabel. O fato de ser uma mulher, e ainda herdeira do trono do vasto império brasileiro, encarado como um fardo a ser levado por Isabel, evidentemente a tornava incompatível com o modelo desejado ou esperado como ideal. Por fim, Isabel não teria liberdade de circulação, que seria restrita assim como a das rainhas Victória I e Maria II, com uma pequena diferença, estas estavam na Europa, próximas às demais cortes, diferentemente de Isabel, que estava na distante América, em uma monarquia rodeada por repúblicas caudilhistas e violentas, imagem inconciliável com a fragilidade, doçura e resignação esperadas de uma mulher no século XIX.

No que tange à realidade dinástica, é incomum o casamento do filho primogênito com herdeiras de outras dinastias, sendo, no entanto, bastante comum, o casamento do segundogênito com elas, o que significa a ascensão da Casa masculina a outro território, e não o seu subjugo à outra Casa chefiada por uma herdeira do sexo feminino. Dentro do próprio círculo Gotha, podemos citar o caso do casamento da rainha Victória com Alberto, em 1840, segundogênito dos Gothas, sendo o primogênito seu irmão Ernesto,

Documentos relacionados