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3. Políticas Públicas e Legislação sobre Resíduos Sólidos

3.4 América Latina e Caribe

Brollo & Silva (2001) destacam que os países latino-americanos ainda padecem da sobre utilização passada e presente dos recursos naturais, realizada

por meio da exploração irracional e que não impulsiona o desenvolvimento regional, estando normalmente em benefícios de grupos poderosos, com a condescendência dos governos locais.

O que ocorre nos países em desenvolvimento, como é o caso dos países da América Latina e Caribe (ALC), em relação aos resíduos sólidos é que uma quantidade considerável destes resíduos ainda é gerida de forma inadequada, sendo disposta em locais inadequados ou mesmo queimada sem qualquer tipo de controle. Dessa forma, nesses países a tendência é de agravamento da poluição e contaminação do ar, solo, e da água (BROLLO & SILVA, 2001).

Não existem informações detalhadas sobre a gestão de resíduos sólidos nos países da América Latina e Caribe, em parte devido à relativa atualidade das políticas e práticas na área. Dessa forma, nesta seção será apresentado um panorama geral acerca do continente, destacando os principais aspectos e estratégias adotadas de maneira geral. As informações relativas ao Brasil serão abordadas a seguir, em tópico único.

Os países da América Latina e Caribe adotaram, prioritariamente, a gestão descentralizada dos resíduos sólidos urbanos, de forma que os municípios são os principais atores nesse processo de gestão (ESPINOZA et al., 2010).

Já os aspectos referentes ao estabelecimento de políticas, ao planejamento e destinação de recursos para a gestão de resíduos mantêm-se, de maneira geral, responsabilidades nacionais e regionais. No entanto, a ausência de uma linha única na gestão de resíduos foi um dos fatores que dificultou a efetivação das políticas públicas no continente (ESPINOZA et al., 2010).

Mesmo com a dificuldade de unificação nas políticas nacionais, observa-se que diversos municípios elaboraram planos de resíduos buscando ordenar e solucionar as questões locais relativas à gestão de resíduos. Nesse sentido, o Brasil apresenta um dos piores índices dentre os países analisados, com apenas 1,6% dos municípios com planos de gestão de resíduos em 2010. Tal fato pode ser resultante da extensão territorial do país e da legislação tardia sobre o tema. No outro extremo, destacam-se Argentina e Uruguai, atingindo mais de 70% dos municípios com Planos elaborados (ESPINOZA et al., 2010).

No entanto é necessário observar com cautela os dados apresentados, uma vez que a existência dos Planos Municipais não assegura que os mesmos tenham qualidade e nem mesmo que sejam aplicados. Por vezes, a implantação dos Planos

é impossibilitada pela ausência de recursos, de capacitação de pessoal ou pela má qualidade dos Planos, que não definem objetivos, ações e metas claras (ESPINOZA et al., 2010). Ainda, fatores como a deficiência no planejamento territorial e integração deste às políticas de resíduos dificultam o sucesso da gestão de resíduos na região (BROLLO & SILVA, 2001).

Além disso, as diversas dificuldades de os municípios assumirem a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, como, por exemplo, falta de capacidade técnica, perdas em escala, entre outros fatores, fizeram, como destaca Espinoza et al. (2010) com que as soluções regionais ganhassem espaço no continente, buscando as associações a fim de obter ganhos em escala e sucesso na aplicação das normas existentes no setor.

Como exemplos de soluções regionais é possível destacar o Sistema Metropolitano de Processamento de Resíduos Sólidos (SIMEPRODESO), localizado em Monterrei, no México, além do consórcio VIRCH-Valdés, localizado no nordeste da província de Chubut, na Patagônia Argentina (ESPINOZA et al., 2010).

Outra dificuldade na gestão de resíduos enfrentada de maneira geral pelos países da ALC está relacionada às informações necessárias ao planejamento adequado. Dificuldades como a escassez das informações, sua dispersão dentre os departamentos governamentais, desatualização e inconfiabilidade à nível local e nacional atrapalham o sucesso da gestão de resíduos. Nesse sentido países como Brasil, México e Peru apresentam experiências na criação de sistemas de informação (ESPINOZA et al., 2010).

Com relação à legislação, Espinoza et al. (2010) aponta progresso desde 2002 nos países da ALC. Os países que haviam elaborado legislação específica até 2010 são: Argentina, Peru, México, Venezuela, Paraguai, Costa Rica e Brasil, sendo os três últimos os que aprovaram mais recentemente os marcos legais, em 2009 (Paraguai) e 2010 (Costa Rica e Brasil).

As legislações latino-americanas apresentam temas em comum, como a valorização dos resíduos sólidos, os programas de separação na fonte, os programas de reciclagem e a sustentabilidade financeira dos serviços (ESPINOZA et al., 2010).

Outro aspecto da ALC que diferencia as estratégias de resíduos daquelas de países que se adiantaram na temática relaciona-se à disseminação da segregação informal, realizada pelos catadores de materiais recicláveis, sendo fonte de renda

importante para parte excluída da sociedade devido às questões relativas à desigualdade social e má distribuição de renda. Países como Colômbia, México, Brasil e Venezuela já apresentavam programas de reciclagem de magnitude significativa no início dos anos 2000, impulsionados em grande parte por este setor informal (BROLLO & SILVA, 2001).

Aqui ficam claras as divergências entre as prioridades latino-americanas e de outros países analisados, que buscam enfoque na redução da geração de resíduos, uma vez que já apresentam programas de reciclagem e separação na fonte estruturados. A sustentabilidade financeira dos serviços, que se apresenta como desafio nos países da ALC, ocorreu de maneira mais natural nos demais países analisados.

Estas discrepâncias explicitam os diferentes momentos em que a gestão de resíduos se encontra à nível mundial. Na ALC as iniciativas de redução são pontuais – como ocorre em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia ou em Buenos Aires (ESPINOZA et al., 2010) – estando muitas vezes, distantes das possibilidades de realização.

Além das divergências nas prioridades adotadas na ALC em relação a países que se adiantaram nestas questões, é importante ressaltar que o impacto das legislações à nível nacional nos países latino-americanos ainda é incipiente, uma vez que seu cumprimento é baixo (ESPINOZA et al., 2010).

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