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Antes de começarmos a análise propriamente dita, queremos tecer alguns comentários sobre a epígrafe que abre o conto “O afogado” (ABREU, 1992, 81-101). Sabemos que epígrafes, comumente, devem ser lidas como partes inerentes aos textos. Um autor, quando se apropria de algo escrito por outro, não o faz inocentemente, tem uma intenção, ainda que não explícita. Os motivos que levam um escritor a citar outro só são desvelados ao longo do texto, quando, muito vagamente ou de modo bastante concreto e incisivo, tem-se a descoberto, os paralelismos que o autor quis estabelecer com o seu próprio escrito.

A epígrafe do conto “O afogado” é de um livro do autor polonês Gombrowicz, de 1933. O livro Bakakai foi publicado no Brasil em 1968 pela Editora Expressão e Cultura, recebendo em suas orelhas notas de Flávio Moreira da Costa. Originariamente intitulado Memoirs from a Time of Immaturity, o livro, composto de pequenos contos, gira, basicamente, em torno do tema da imaturidade e da juventude. Segundo o crítico literário Costa (2009), Gombrowicz faz parte da geração de criadores de uma literatura sem país em plena era globalizada. Filho da diáspora do século XX, radicou-se na Argentina; foi laureado com o Prêmio Internacional de Literatura de 1967, e indicado para o Prêmio Nobel, pouco antes de sua morte, ocorrida em 1969. Sua prosa caracteriza-se por uma profunda análise psicológica e um certo sentido de paradoxo e absurdo existenciais.

Para que não restem dúvidas sobre a relação com a narrativa, transcrevemos toda a epígrafe de Bakakai (GOMBROWICZ, 1968):

humano. Nada pode igualar o poder voraz desses misteriosos elementos que, sem grandeza ou finalidade, nascem entre desconhecidos para acorrentá-los pouco a pouco com elos terríveis.

Sabemos que, para Gombrowicz, o homoerotismo estava “ligado, por via da transgressão, à superação das formas correntes de se pensar a questão ética” (BARCELLOS, 2006), procedendo a uma crítica da cultura moderna e das identidades. A relação de proximidade entre vida e obra literária no autor talvez fosse do conhecimento de Caio F. e, nesse caso, a epígrafe procura estabelecer laços com o desenvolvimento temático da narrativa. Pode ser que estivesse em pauta a procura, pelo escritor gaúcho, da representação dilemática da ruptura radical com algum tipo de identidade (gay, médico etc.) e com os valores sociais que regem a vida dos protagonistas do conto.

Caio F. tinha a mania de dedicar seus escritos a amigos e pessoas de seu convívio, como aconteceu no conto “Madrugada”, e neste, do qual passamos a tratar. Ignorar a relação das narrativas com os nomes a quem são dedicadas seria um erro, porém, vimo-nos diante da falta de espaço para tal discussão, e desconhecemos as personalidades, pelo menos dessas duas primeiras, para atrevermo-nos a comentários e apostar em algumas hipóteses, que poderiam ser precipitados ou gratuitos.

Ocorria ao escritor sugerir que algumas de suas narrativas fossem lidas ao som de canções; as incrustações de outros textos às narrativas obrigam à análise uma pesquisa que foge, muitas vezes, do campo das letras e do literário, para se buscar uma compreensão das imbricações entre as obras. Muitas das narrativas se desenvolvem a partir desses pontos de referências, que parecem nortear o sentido e fundar o próprio estatuto da ficcionalização. Quando não bastam essas notações de fora, as narrativas criam ligações de intertextualidade com outras produções estéticas, como a música, a

pintura, o cinema etc., como teremos oportunidade de ver.

Esboçamos a hipótese de o narrador apresentar o enredo por antecipação, trazendo para o momento da narração fatos que ainda sucederão. A epígrafe que antecede o conto se reveste da missão de anunciar eventos com os quais o leitor terá de lidar, talvez, com a intenção de prepará-lo para o inusitado, o incompreensível e até mesmo formar o clima de inverossimilhança dos acontecimentos.

Essa estratégia também acena para um suposto conhecimento de muitos dos meandros da narrativa pelo narrador ou por aquele que toma as rédeas da narratividade (supostamente, as do criador, o escritor). Supõe-se que o resultado de tal operação já foi toda pensada e planejada, de tal forma que, ao ganhar corpo e vida no papel, a escrita se revela como o produto de uma elaboração calculada nos seus mínimos detalhes, a supor pelo efeito a ser causado, previamente vislumbrado como meta, o do estranhamento. A epígrafe na abertura do conto coloca em questão a dificuldade humana e a qualidade misteriosa do sentimento e dos laços entre os sujeitos. Tomada como chave para a narrativa, ela sinaliza para uma realidade dos afetos construídos entre pessoas desconhecidas, em que o sentimento é representado como algo que cria suas próprias correntes, sem que os sujeitos envolvidos possam ter domínio dessa prisão.

Preferimos atribuir às estranhas correntes dos laços entre os sujeitos como escolha que se faz em favor de si mesmo e do outro. Mais uma vez tal deliberação, quando voltada para a amizade masculina e entre homens que de algum modo revelam orientação gay, constitui algo extremamente ameaçador à solidez, permanência e continuidade dos modelos relacionais prescritos e institucionalizados.

Os sujeitos que decidem por outras formas de vida fora dos limites padronizados, ao concretizá-las cotidianamente sofrem as sanções estabelecidas para conter tudo que foge ao princípio da continuidade, pois a cultura majoritária da

heterossexualidade não admite outras condições afetivas e relacionais não previstas e definidas pelas suas normas de conduta e códigos de moralidade, barrando qualquer tentativa de variabilidade que ameaça ou desfaça as teias de poder que obrigam a acreditar na normalidade como único caminho.

Antes da epígrafe vem o título do conto, que também serve de índice para a leitura e interpretação de toda a narrativa: o afogado pode ser aquele que está jogado na praia, desacordado e quase morto, precisando de cuidados urgentes de tal sorte que seja restituído à vida, como pode também ser o outro, o médico, que vai dedicar os cuidados ao paciente; talvez, o afogado seja mais bem representado pela figura deste último, tão assoberbado ele está em sua solidão para buscar na figura daquele que chega, precisando de cuidados, alívio no insulamento particular e promessa de interlocução em um mundo no qual a mudez responde à falta de igualdade, reciprocidade e simetria.

A esperança de amizade suscitada pela chegada do afogado (título do conto), amizade medida pelo cuidado, pelo prazer de cuidar que implica uma busca de equidade na presença do outro, é a forma de experimento, de atitude exigida entre aqueles que se relacionam reciprocamente ou que têm algo em comum a ser dividido.

A experiência da amizade, impensável no espaço comunitário da narrativa, abre- se como possibilidade ao outro de ver no afogado o sujeito em sua singularidade, representando a chance de escapulir da inadequação ao mundo em que está inserido. A pequena vila de pescadores vive sob o regime de constante mesmice e repetição da falta de movimento. A metáfora que está por trás da imagem e presença do afogado se insinua como oportunidade de vivência afetiva em que eleição e seleção são maneiras entendidas pelos outros como formas de não pertencimento comunitário amigável.

A estabilidade comunitária aparece como modo de continuidade e duração de atitudes que são constantemente reafirmadas, à maneira de um compromisso a que

escapa a liberdade de inventar ou negar outras possibilidades de vida relacional. O rastro de uma tal limitação atravessa um imenso campo de ações humanas, nas quais a singularidade é percebida como algo problemático. Não se trata de ignorar a partilha ou a comunidade, mas de classificar as relações entre plausíveis e inadequadas.

A preferência pela amizade – por um tipo de relação que fuja às estruturas da experiência convencionada socialmente – é tida como escolha que se singulariza dentro da esfera da multiplicidade. A amizade entre homens, do modo como as personagens vão experienciá-la, é comparável a uma esperança sem igual, em que o êxtase (a alegria de viver algo junto com o outro) em direção à possibilidade e novidade, nada tem de comum com as experiências vividas e permitidas pelos pescadores da pequena vila.

Desse modo, a notícia de alguém jogado à praia, quase morto, interrompe todo um estado de calmaria e paz na pequena vila e no outro, o médico, que larga o que estava fazendo para prestar atenção ao grito de alguém: “Há um morto jogado na praia” (ABREU, 1992, p. 81). Ele, então, abre a janela e percebe o burburinho no meio da praça, para tomar consciência de que alguma coisa tinha acontecido, capaz de se inscrever como acontecimento singular, diferente do tédio e do esperado que marcava o cotidiano de todas as pessoas daquele lugar.

As primeiras impressões da narrativa dão o tom de arrebatamento sentido pelo outro, e acompanhado pela comunidade, como se todos tivessem acordado de um estado de letargia antiga, como se o acontecimento de alguém morto à praia desbaratasse uma sociedade que dormisse em face da possibilidade de acontecer o diferente e, inesperadamente, ameaçasse uma tradição, uma lógica incansável e a sobrevivência de algo que só sabia prover e desembocar na própria consequência do mesmo.

A tradição comunitária está voltada para a figura da estátua do general – sob a qual o menino gritara sobre alguém morto na praia – e em torno dela se intensifica o

movimento dos moradores do povoado. A referência da praça parece bastante óbvia, encarada do ponto de vista de que nas pequenas cidades, povoados e vilas, esse espaço é reservado à sociabilidade e ao público e em que não se pode conceber a emergência do indivíduo, a não ser como porta-voz de notícias voltadas ao mundo da comunidade. Por outro lado, a estátua do general não pode ser apreendida como banal. Ela remete às instituições militares que, por sua vez, lembram força e coerção. Sugerimos que tal figura, nesse caso, pode estar relacionada ao período da ditadura militar no Brasil, época em que o conto, originariamente, foi escrito, 1975. A referência inevitável ao poder concentrador da informação e comunicação nos tempos da chamada linha dura do regime instituído pelo Golpe Militar alude ao recrudescimento da censura, que determinava previamente o que podia ou não ser do conhecimento público.

A possível referência à presidência do governo do general Ernesto Geisel durante o mandato de 1974-1979, pode significar a participação dele no movimento político-militar que originou o golpe de 1964. Também, acreditamos, a figura do general serve de índice, na narrativa, para uma possível leitura além do caráter político, visando tratar de valores morais vigentes da época. A ênfase censória em assuntos cotidianos e do comportamento pode ser vista como estratégia de administração dos corpos e dos discursos sobre as práticas sociais e sexuais.

Acreditamos que esses elementos (título, epígrafe e imagens) dados pela narrativa servem para indicar possíveis desenvolvimentos, a posteriori, pelo próprio texto. Já o dissemos mais de uma vez que o Caio F. empregava um tipo de estratégia à discursividade com a finalidade de, se não antecipar acontecimentos, como ocorreu no conto analisado anteriormente, ao menos ir abrindo caminho, dentro de uma trilha envolta em enigmas, para costurá-los pela verossimilhança, ainda que os eventos inusitados e absurdos contradigam-na, como nos parece ser este o caso agora.

“O afogado” não é um conto de fácil interpretação, como veremos, não somente pela linguagem cifrada e excessivamente simbólica, mas porque o narrador não nos dá a conhecer integralmente o passado dos protagonistas (do que estava fixado e daquele que chega inesperadamente), o que nos faz acreditar que ambos ficam ainda mais marcados pelo signo da desterritorialidade a partir do momento em que se encontram e acontece a oportunidade de se darem a conhecer e entram em intimidade um com o outro.

É notória a situação de peixe fora dágua de um dos protagonistas, daquele que já pertencia à vila de pescadores. O surgimento do afogado na praia inaugura um outro momento na vida de toda a comunidade, acolhido pelo médico como um fato benfazejo, comparado ao do momento em que se faz, em vista de uma tradição popular largamente difundida, um pedido ao se avistar uma estrela cadente:

Abriu a porta e desceu as escadas de madeira descascada, sem a menor pressa. Porque na realidade – dizia-se, e estava tão acostumado a esse diálogo consigo mesmo que movia os lábios como se falasse, embora sem produzir nenhum som –, porque na realidade jamais acontecera alguma coisa naquele lugar. Alguma estrela cadente durante as noites comprimidas entre o cheiro vagamente apodrecido da maresia e o calor viscoso que vinha das montanhas – e nada mais que isso (ABREU, 1992, p. 82).

Podemos supor, a partir do próprio texto, que o doutor está bastante pessimista em relação ao fato de que, por trás da chegada do desconhecido, haja algo que vá mudar o seu próprio destino e a realidade dos moradores do vilarejo. Porém, é também o texto que cria essa espécie de promessa de algo novo, ao sugerir que os moradores daquele lugar (e possivelmente o médico), ao acompanharem o roteiro daquela chispa brilhante, em face do homem morto na praia, renovem suas esperanças, e seus desejos, ao fazerem três pedidos aos céus.

passamos a possuir, como concretização do desejo, sempre é novo, ou se não é, acompanhamos com uma sensação e emoção renovadas. Se todos, inclusive o doutor, acreditam nas remotas superstições e velhos mitos, é porque a sabedoria popular faz crer que um pedido a uma estrela cadente e errante no céu tem o poder de se realizar.

O que pretendemos com essas especulações subjetivas e até mesmo muito abstratas sobre as crendices e superstições populares sobre astros e o destino humano escrito pelos céus concerne ao que o próprio texto nos apresenta como referencialidade a esses elementos:

[...] novamente o médico pensou nas estrelas cadentes e na prováveis cismas daquelas cabeças queimadas, quase uniformes em seus olhos esverdeados de sol, suas roupas esfarrapadas, seus gestos precisos e poucos, embora marcados pela lentidão do cansaço – o cansaço dos que esperavam por um acontecimento indefinido, capaz de fazê-los movimentarem-se subitamente com mais vontade, talvez com medo. Precisavam do temor como quem precisa de um sentido (ABREU, 1992, p. 83).

A narrativa, nesse momento, envolve o leitor com uma expectativa de que algo de inusitado aconteça com o surgimento de alguém morto na praia, que venha mudar o destino de todos. Nesse trecho do conto é exposta uma associação entre a fé cega nos desígnios oriundos de forças desconhecidas e a pobreza material e expressiva do populacho, das pessoas resguardadas em sua timidez e incapacidade de dar vazão aos sentimentos em vista da precariedade da experiência de criar laços de intimidade, e não somente por esse fato, mas antes disso, porque são desprovidas de subjetividade.

As primeiras páginas do conto são acompanhadas de um estado de apreensão e esperança generalizadas com o aparecimento do afogado, que toma conta de todas as pessoas. O clima de expectativa, parece-nos, é decorrente do distanciamento do lugar em relação ao resto dos acontecimentos de outras realidades, fora do espaço circunscrito

do vilarejo. O isolamento é reflexo da inexistência de um comércio entre as pessoas que as obrigaria a confrontarem suas diferenças e exercitarem formas de negociação e possibilidades de intercâmbio e de sociabilidade. O espaço e as relações derivadas de uso e de sua apropriação não podem ser compreendidos da mesma maneira se se tratasse de um ambiente ou de uma realidade contemporânea. As pessoas não passam por um estágio em que as relações foram esvaziadas e as formas de sociabilidade e relacionamento empobrecidas. Elas estão imersas em um contexto no qual predominam as imagens familiar e fraternal dominantes na amizade.

A falta de expressão e de vivência dos sentimentos de amizade fora dos padrões da solidariedade parental ou de vizinhança, só pode estar relacionada ao não vislumbramento de novas possibilidades relacionais, embora a narrativa aponte para o conhecimento e expectativas de outras formas de existência. Não se poderia atribuir a esse lugar um mesmo tratamento e leitura dedicados a outras conformações de existência social, como por exemplo, a da despolitização e esvaziamento do espaço público das relações permeadas pelo signo do consumismo na contemporaneidade. Como a edição da narrativa foi realizada nos idos anos de 1975 e, embora transcorridas mais de 3 décadas, mudanças significativas tenham acontecido no cenário social e político mundial e brasileiro, ocasionando uma transformação dos costumes e práticas nas relações entre os sujeitos, podemos dizer que, mesmo em vista de uma outra realidade, pelo menos no Brasil, as relações de amizade masculina entre homens gays e o próprio exercício público de um erotismo fora do armário por parte de homens gays, ainda são vistas com desconforto por uma sociedade marcadamente machista, homofóbica e misógina como a nossa.

Como na literatura, nem em outra forma de arte, nada é gratuito, podemos acreditar que a escolha do tema e do enredo no conto “O afogado” – o desconhecido

que surge na praia quase morto; o médico que vai em seu socorro –, conformam uma espécie de espera na relação entre os protagonistas, dada pelo próprio texto e pelos inúmeros índices que sugerem que aquele encontro era esperado pela personagem principal, habitante da vila de pescadores, como um fato que pudesse transformar o cotidiano comezinho das relações previsíveis. Como se um e outro pudessem salvar ou serem salvos reciprocamente.

Ao marcar a narrativa pelo desejo de que algo de novo aconteça capaz de mudar o destino do médico e de todos e, ao sabermos que é na figura no afogado que se depositam todas essas esperanças de mudança, cria-se a expectativa, dada pelo texto, de que uma relação diferente de todas as outras terá começo em meio às existentes, uma relação que modificará a vida daqueles envolvidos nela e dos outros sujeitos que apenas a espreitam, sem entender muito bem o motivo da escolha de um tipo de amizade que se distingue das normas e prescrições estabelecidas.

A expectativa de um dos protagonistas, o médico, é bastante plausível: espera-se, tendo em vista um imaginário coletivo, que esse profissional dê mostra de cuidado para quem está precisando. Mas, o que está embutido na imagem da espera e do sujeito que espera, ou do que esperamos de alguém e de uma situação vindoura, é o que Derrida (2003) chama de instabilidade do infiável. Não se pode contar com o que ainda não aconteceu; a possibilitação de um acontecimento do porvir permanece indecidível pelo fato de que não se pode lutar contra o desconhecido e o acaso de um tempo futuro, de algo que, pela própria natureza constitutiva inconsistente, não podemos prever nem tampouco controlar.

A atenção dedicada à indeterminação se deve ao fato de que a narrativa supõe um tipo de resolução e uma exposição singular de um acontecimento ou eventos ao cruzamento da chance e da necessidade, esperados e sentidos por todos do lugar a partir

do instante em que o afogado surge na praia e os antigos interesses são subvertidos, e um novo pensamento e desejo se instalam, de sobressalto, criando o conflito no apaziguamento das contradições e provocando uma possível suspensão das oposições. Para evitar que haja um ajuntamento em torno do afogado, o médico avisa que pode ser a peste, tema que retomaremos ao longo da análise. Os moradores do vilarejo já tinham passado por tal experiência, decidindo aguardar nas ribanceiras das dunas o prognóstico do médico. A análise do corpo pelo médico, a nosso ver, ganha tons erotizados pela descrição do narrador, como em “A extensão despida de uma carne branca ao sol pesado das três horas da tarde” (ABREU, 1976, p. 66).

Ao se certificar de que o homem estava vivo na presença do menino que o acompanhara até à praia, outras sugestões em tom afetivo e erótico são desvendadas, antes que os outros se aproximassem do corpo do afogado:

Subitamente o médico apertou-o com força, e enquanto escuros pressentimentos se desenrolavam manteve-o junto a si, como a protegê-lo dos homens que continuavam a correr pela praia, aproximando-se (ABREU, 1976, p. 67-68, grifos nossos).

Pretendemos tratar de outras formas de sociabilidade e de relacionamentos, as quais incorporem alternativas contestatórias para as imagens familiar e fraternal

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