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Amarelo 1630 In: Mapa: Imagem da Formação Brasileira Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht 1993, p 166.

A figura 4 mostra Olinda (2) ao centro com a chegada das tropas neerlandesas pelo mar (6) e depois por terra (7). O mapeamento do interior ainda se apresenta de maneira tímida, mas já é visível o relevo colinoso a oeste de Olinda. Pode se acompanhar o caminho seguido pelas tropas para invadir a vila desde o desembarque em Pau Amarelo (3) até a Vila (2), passando pelos rios Doce (4) e Tapado (5). Apresenta ainda o istmo (8) por onde seguiram ao encontro do povoado do Recife (1) com suas fortificações.

Caracterizando-se como uma sociedade urbana e comercial, os neerlandeses se estabeleceram no litoral para implantar a sede de seu governo e desde o início, poucos se aplicaram a produção de açúcar, concentrando-se no seu financiamento e transporte, o que vai se refletir na utilização do espaço nos anos seguintes.

2.6. O sistema de defesa neerlandês

A WIC chegou ao Brasil com o fim de estabelecer uma infra-estrutura que permitisse extrair da colônia todo o lucro que esta pudesse gerar, principalmente, com o comércio da cana-de-açúcar. Para isso buscou desenvolver uma ocupação e utilização racional do espaço em que se assentaram, implementando modificações de acordo com seus interesses e necessidades.

As primeiras resoluções do comando da WIC foram a volta do funcionamento do porto para o escoamento da produção e a fortificação dos seus domínios. Quando da chegada neerlandesa em Recife havia apenas duas fortificações, o Forte São Jorge, entre Olinda e Recife, para proteger o caminho que ligava essas duas localidades e o Forte São Francisco, também conhecido como Forte do Mar, que protegia o principal acesso ao porto, ao norte dos arrecifes. A primeira foi incluída no sistema de defesa neerlandês, enquanto a segunda foi transformada em hospital.

Os neerlandeses se fixaram primeiramente na vila de Olinda, sede da capitania, que exercia influência direta sobre quase todo o interior. Porém, a constante guerrilha com os luso-brasileiros e a conseqüente dificuldade de manter a defesa dessa e da povoação do Recife ao mesmo tempo fez com que optassem por

uma delas. Decidiram pelo porto do Recife e incendiaram a Vila de Olinda para que não fosse utilizada pelos luso-brasileiros.

Segundo Andrade (1984), várias eram as vantagens de instalação da sede do empreendimento neerlandês no Recife, uma vez que ainda não dominavam o interior, dependiam do abastecimento remetido da Europa e só poderiam receber esses suprimentos se dominassem o porto; como comerciantes e objetivando conquistar a área produtora do açúcar, preferiram, localizar-se na entrada da área mais abundante em engenhos e então partir para a conquista, garantindo o escoamento da produção e, ocupando uma península de pequena extensão e uma ilha ao lado, além de grandes extensões de manguezais, teriam, assim, uma forma mais eficiente de se proteger. Porém, as discussões sobre a localização da sede da WIC no Brasil foram constantes nos primeiros anos, como apontam as nótulas diárias. Em vários momentos, Itamaracá aventada como possibilidade de sede devido à capacidade de defesa. Havia ainda aqueles que defendiam a sede em Olinda.

No fim, optou-se por Recife para a sede da ocupação neerlandesa. O centro de irradiação da conquista que seguia para o norte e sul do Brasil, exercendo influência na Europa e África. Mello (1987, p. 75) afirma que o Recife tornou-se

o grande empório comercial, onde eram armazenados os açúcares e por onde transitavam todas as mercadorias que demandassem o porto e nele fossem desembarcadas, considerando que era o principal centro abastecedor de todo o interior das demais capitanias conquistadas e das colônias neerlandesas na África. Era ainda o centro religioso de maior importância.

Isso o colocou como principal ponto receptor de produtos tanto por mar, como por terra influenciando diretamente da configuração dos caminhos terrestres e no arcabouço militar para sua proteção.

Mello (1975) defende a idéia de que Portugal não tinha experiência em guerras navais, por isso as fortificações eram obsoletas e não tiveram força suficiente para defender o território de maneira mais eficiente. As construções dos engenhos eram desenhadas para defesa contra indígenas, a presença de seteiras em casa e igreja denuncia uma arquitetura para defender-se do arco e flecha, diferentemente da Europa medieval, desenhada para combater armas de todo calibre.

Sabendo disso, desde sua chegada, os neerlandeses discutiram e projetaram um sistema de defesa para proteger sua posse, tendo em vista a utilização do meio- físico para limitar o acesso do inimigo às suas possessões e ao acesso ao porto, bem como utilizando os rios para o abastecimento d´água.

A utilização da rede fluvial de Pernambuco foi importante para a entrada no continente, o escoamento da produção e para o conflito entre luso-brasileiros e neerlandeses. São várias as descrições de batalhas tendo os rios como possibilidade de ataques e defesas29.

Esse sistema começa a ser construído na sua chegada em 1630, ficando pronto em 1637. Para isso, além de aproveitar as fortificações portuguesas, construíram novos fortes, paliçadas e hornaveques. Depois de finalizado, o sistema consistia num conjunto articulado que defendia os pontos principais da ocupação. A preocupação com meio-físico se fazia presente, pois a existência de terrenos alagadiços em vários pontos dificultava a circulação pelo território e ainda limitava o acesso ao Recife.

Segundo Miranda (2006. p. 52),

de 1630 a 1637, Recife e Antônio Vaz haviam se transformado em grandes canteiros de obras para a constituição de uma praça-forte capaz de alojar e defender os soldados da companhia. A segurança de porto e do istmo foi reforçada com a construção, ainda em 1630 do Forte do Brum.

Em 1631 foi construído o Forte do Buraco para proteger a passagem na lingüeta de terra para Olinda. Porém, o sistema de defesa neerlandês só veio estar finalizado em 1637, permanecendo, salvo algumas mudanças, o mesmo até sua saída em 1654.

29

Galindo, Marcos (Org.). Monumenta Hyginia – Dagelijkse Notulen. Recife. IAGHP/UFPE. 2005. 264p.