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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.5 Ambiência e Bem Estar Humano

4.5.1 Ambiência e bem estar na habitação rural

O bem estar do trabalhador rural e do agricultor familiar está relacionado com a sua produtividade e, consequentemente, com a qualidade final da produção. As deficiências apresentadas pela habitação rural representam também as deficiências nas condições de vida de seus ocupantes. Muitas vezes o material de construção utilizado não é adequado para proporcionar um ambiente com a higiene e o conforto necessários à manutenção do bem estar do trabalhador (VAUTIER et al., 1960).

VAUTIER et al. observaram que o fato do trabalhador rural ser o proprietário da moradia, faz com que ele e sua família cuidem melhor da habitação, ou seja, preservem as condições de habitabilidade da construção o que, consequentemente, melhora a qualidade de vida dos seus ocupantes.

O projeto arquitetônico de uma habitação rural, sendo bem elaborado e desenvolvido, torna a sua construção mais econômica, permite um melhor aproveitamento da área construída e, assim, uma melhor funcionalidade da moradia, além de garantir que os materiais de construção empregados proporcionem condições de ambiências e habitabilidade adequadas ao conforto e bem estar do usuário. A localização da habitação deve comtemplar às condições de acesso adequado, abastecimento de água e esgotamento sanitário. A sua orientação deve ser prevista de forma a ficar protegida dos ventos frios predominantes e exposta aos raios solares - preferencialmente os dormitórios devem receber o sol nascente (PEREIRA, 1986).

Para Pereira (1986), as habitações rurais devem apresentar um projeto com soluções simples, econômicas e higiênicas, de modo a oferecer conforto aos

seus usuários. Casas com uma má divisão interna dos cômodos, sem circulação adequada, quartos mal dimensionados, deficiência de iluminação e/ou ventilação naturais, espaços sem comodidade e banheiro externo ao corpo da casa ou com comunicação direta na cozinha, são algumas das deficiências observadas pelo autor nas moradias rurais, as quais devem ser consideradas quando se busca fazer uma análise da ambiência oferecida pela construção.

Com a função de abrigar e proteger o homem, a habitação deve proporcionar um ambiente favorável ao seu bem estar e capacidade produtiva, ou seja, oferecer salubridade, aquecimento agradável, umidade relativa do ar, ventilação e luminosidade confortáveis, com uma adequada implantação da moradia, posicionamento correto dos ambientes e uma boa estética construtiva. Essas premissas devem ser observadas e consideradas no desenvolvimento do projeto arquitetônico e na adoção do método construtivo para se assegurar que, quando construída, a habitação ofereça as condições de ambiência necessárias ao bem estar humano (NEUFERT E NEFF, 1999).

Segundo os autores, algumas soluções arquitetônicas, adotadas e previstas no projeto, são fundamentais para garantir um bem estar duradouro oferecido pela habitação como, por exemplo, o uso de janelas nos locais certos e nas dimensões corretas, previsão de mobiliário em quantidade, formas e localização adequadas, vãos de passagem e circulação funcionais.

Para Malard et al. (2002) os fatores ambientais externos e o microclima interno das edificações exercem efeitos diretos e indiretos sobre os seus usuários. Os autores observam que desde a década de 60, pesquisadores trabalham com a problemática da produção de unidades habitacionais populares de baixo custo que ofereçam condições adequadas de ambiência, pois o homem necessita estar integrado ao seu ambiente e, é da busca constante pela harmonia entre os elementos que compõe o espaço – luminosidade, decoração, espaços de circulação, temperatura – e o conforto oferecido ao seu usuário que os parâmetros de ambiência despontam.

Sendo assim, a ambiência refere-se, resumidamente, a qualidade em relação à temperatura e umidade que a edificação oferece. Em termos de saúde e conforto, o desempenho da construção e o nível de conforto que ela apresenta estão diretamente relacionados aos fatores climáticos da região onde ela encontra-se implantada, bem como à escolha dos materiais de construção utilizados (SOUZA, 2003).

Segundo Boueri (2003), a habitação é o lugar onde o morador descansa e revigora as suas energias para as atividades a serem desenvolvidas no dia a dia. O barulho, ou ruído, em excesso pode interferir nessa necessidade do ocupante e causar estresse e agitação, da mesma forma que, um ambiente demasiado silencioso pode trazer a sensação de insegurança, solidão e tristeza.

Um espaço fechado, sem aberturas que permitam a circulação do ar, causa sensações de sufocamento. É importante que sejam identificados os ventos predominantes no local onde a habitação será implantada e orientar adequadamente a unidade em relação às direções que ele sopra. Alguns cômodos necessitam de ventilação natural e permanente, enquanto outros ambientes devem oferecer condições de ventilação controlada (BOUERI, 2003).

A taxa da umidade mantida no interior da habitação é influenciada pela distribuição dos cômodos, pelo material das paredes e pisos e, principalmente, pelo clima da região à qual a moradia está implantada. Cada espaço da moradia é utilizado para desempenhar atividades específicas, que necessitam de mais ou menos quantidade de luz. O indicado é que os cômodos ofereçam uma quantidade ideal de iluminação natural, contribuindo para a economia de energia elétrica e para a manutenção da temperatura e umidade no interior da moradia, que deve ser mantida organizada e limpa (BOUERI, 2003).

Pesquisas relativas ao dimensionamento dos espaços da habitação consideram os aspectos funcionais, simbólicos, históricos e culturais que têm influência nas atividades realizadas pelo homem e, consequentemente, nas soluções adotadas no projeto arquitetônico habitacional. Desde a pré-história, quando o homem buscou abrigo nas cavernas, a habitação representa o registro da vivência social, sendo a síntese das relações sociais, culturais e tecnológicas de seus ocupantes (BOUERI, 2003).

Porém, segundo o autor, apesar de simbolizar um grupo humano adaptado a um determinado lugar, em seu interior, a habitação evidencia a individualidade de cada usuário. Unidades habitacionais, projetadas e construídas de forma idêntica, têm seus espaços apropriados de maneiras diferentes. A peculiaridade do espaço é determinada pelo número de membros de uma família, a idade de cada indivíduo, o poder aquisitivo, a filosofia de vida, entre outras características particulares.

Sendo assim, a análise da ambiência, observadas as soluções do projeto arquitetônico, procura avaliar o uso do espaço das unidades habitacionais propostas

pelo Programa Nacional de Habitação Rural e os materiais empregados na sua construção, na busca de obter parâmetros que contribuam para a melhora da qualidade de vida do morador e que sirvam de referência para futuros projetos e propostas arquitetônicas de unidades residenciais populares situadas na área rural.

Através da melhoria na qualidade da habitação das famílias rurais o PNHR pretende diminuir o êxodo rural, incentivando a permanência dos agricultores familiares e trabalhadores rurais no campo, produzindo alimento, contribuindo com a economia local e, assim, com o seu próprio desenvolvimento.

A análise do projeto arquitetônico e da ambiência proporcionada pelas soluções contidas no mesmo, para o modelo habitacional rural do PNHR, complementa a análise energética dos materiais utilizados na construção das habitações do Programa.