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O filósofo Giles Lipovetsky (2005) apresenta sua visão do sentido e direção da crise sistêmica que atravessamos na atualidade, ao delinear a sociedade que ele denomina de pós- moralista e discutir sobre o que chama de renovação ética.

Para ele a sociedade pós-moralista é um momento no qual os supremos deveres do homem caem por terra, e observa-se uma redescoberta da preocupação ética.

Wallerstein (2002) explica que o processo de secularização da sociedade se expressou no mundo do saber em duas etapas. Primeiramente com a rejeição da teologia como modo de conhecimento exclusivo ou dominante, a filosofia tomou seu lugar, assim ocorreu um deslocamento do locus da autoridade, de Deus para o homem racional. Em seguida a filosofia foi rejeitada como especulação dedutiva, e a ciência foi proclamada produtora do saber extraído do estudo da realidade empírica, como única forma racional de produção de conhecimento.

Expandindo esse processo para a sociedade em geral, Lipovetsky (2005) identifica a pós-modernidade à sociedade do pós-dever, e faz sua critica afirmando que a sociedade pós- moralista encontra como saída o princípio de responsabilidade. Essa saída se apresenta sob as formas de responsabilidade ambiental, social e empresarial. A responsabilidade assume o lugar do dever desonerando-o da noção de sacrifício, trata-se de uma ética razoável, que empreende um esforço de harmonização entre valores e conveniências. Nas palavras do autor, uma ética individualista e indolor.

Para Lipovetsky (2005) o individualismo exacerbado provoca desvios alarmantes, nossa representação de futuro está em crise, as promessas do racionalismo tecnicista e positivista estão, a cada dia, mais enfraquecidas, e compete à iniciativa ética combater esses excessos. O renascimento ético traz o fator humano, a iniciativa, ou o comprometimento, como fator capital de uma mudança coletiva, e representa um elemento adicional no processo moderno de secularização da moral.

profundamente arraigado nas mentes humanas, e este tipo de pensamento, que é pertinente ao artificial e maquínico, é incapaz de compreender o vivo e o humano, além de acreditar-se como único meio racional de pensamento. Para o autor, trata-se no entanto, de uma racionalização abstrata e unidimensional, uma falsa racionalidade. Ele cita como exemplo a Revolução Verde, solução presumivelmente racional, que empobrece ao enriquecer e que destrói para criar. Na busca de uma solução (aumento da produção de alimentos), cria problemas inesperados de igual magnitude ou até maiores do que o problema original (susceptibilidade às pragas, contaminação dos solos e águas, transgenias, etc.).

Para Gilles Lipovetsky (2005), a idéia de proteger a natureza como se articula no seio da sociedade civil, se trata de uma expressão de individualismo utilitarista, já que o objetivo desta proteção é a qualidade de vida (expressão característica do individualismo pós- moderno) ou mesmo a sobrevivência da espécie humana no planeta, e não a exaltação de um ideal incondicional abstrato. Como afirma o autor, trata-se de uma moral minimalista para o cotidiano "não determina nenhum esquecimento do eu, nenhum sacrifício supremo, apenas que não se desperdice e que se consuma menos ou melhor" (LIPOVETSKY, 2005, p. 247).

Lipovetsky (2005) aponta ainda que a sociedade transfere para o Poder Público as obrigações onerosas da preservação do meio ambiente, não há sentimento de obrigação ou ética coletiva, o que se desenha é um poder tecnocrático responsável. A esta ética é que Lipovestky (2005) chama de pós-moralista e que está intimamente ligada ao pensamento neoliberal e pós-moderno.

Para ele, a ecologia se converteu num fator de produção, o futuro pertence a eco- indústria, a ética ecológica não se dirige contra a dinâmica de poder estabelecido, apenas conjuga seus objetivos com as novas demandas de responsabilidade.

Boaventura de Souza Santos (2004) afirma que a modernidade ocidental se assenta numa enorme discrepância entre experiência e expectativa, as expectativas eram enormes e não se realizaram, em nome dessas expectativas justifica-se até hoje o desastre. Sua sociologia das emergências busca uma relação mais equilibrada, propondo uma nova semântica e radicalizando as expectativas com base em capacidades e possibilidades reais no aqui e no agora. Expectativas contextuais e radicais, para produzir um conhecimento argumentativo e que se propõe razoável, que avança na medida em que identifica credivelmente saberes ou práticas emergentes.

A pesquisa desenvolvida, se valendo deste aporte teórico, ao buscar as regularidades e recorrências quanto ao posicionamento de diversos atores sobre o tema estudado, se

preocupou também com a busca pela apreensão de como essas questões éticas se observam/traduzem nos dados coletados. E essa visão da ética numa perspectiva pós-moderna pôde ser verificada nos resultado obtidos.

Como afirma Santos (2004) não há segurança de que um mundo melhor seja possível, então preferimos com ele, imaginar um mundo melhor a partir do presente. Pela reinvenção do presente é possível constatar que seria possível viver num mundo melhor hoje. Em última análise, a pesquisa desenvolvida trabalhou com a esperança de contribuir para uma compreensão do presente capaz de colaborar na construção de um futuro mais justo e digno para as pessoas.

3 METODOLOGIA

A pesquisa se desenvolveu em duas etapas.

A primeira, de caráter exploratório, constituiu-se de um estudo piloto, que envolveu amplo levantamento de mensagens existentes em algumas das redes sociais digitais brasileiras de maior utilização pelo público: Twitter, Facebook, Flicker, Yahoo! Respostas, YouTube e

Google Blogs. As palavras-chave pesquisadas foram “sustentabilidade” e “sustentável”. Esta

primeira etapa permitiu conhecer e categorizar os principais tipos de conteúdos existentes e os atores mais presentes.

A segunda etapa foi o estudo realizado no Twitter, e envolveu a definição do recorte da pesquisa e o desenvolvimento de uma metodologia de processamento de dados. Os conteúdos foram coletados no Twitter, por meio da busca pela palavra-chave “sustentabilidade”. A metodologia desenvolvida incluiu análises estatísticas, a construção e análise de nuvens de tags22 e a busca de conexões com fatos e acontecimentos relevantes para a interpretação dos dados.