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O surgimento dos Bancos de Desenvolvimento na economia brasileira se dá na década de 1950, quando, em função das substanciais alterações no cenário econômico internacional, o país foi obrigado a acelerar seu processo de industria- lização com a expectativa de reduzir os grandes e crescentes desníveis de renda regionais. Para tanto, criou-se uma base que desse sustentação ao crescimento econômico planejado, com a implantação da indústria de base, em especial a siderurgia, a geração de energia, comunicações, transportes, armazenagem e, no setor financeiro, instituições e linhas de crédito que dessem suporte para as neces- sidades decorrentes desse processo. Tal processo deveria atingir, e em grande medida atingiu, seu objetivo, que era o de se materializar em uma economia de consumo de bens industrializados em massa.

Fonseca (1988, p.69), quando discute as dificuldades em se desenvolver um país como o Brasil, com forte atraso econômico e problemas decorrentes de uma industrialização tardia latino-americana, recorre à obra de Raül Prebisch,

Dinâmica do Desenvolvimento Latino-Americano, publicada em 1963, para fazer do

subdesenvolvimento e do atraso tecnológico um elemento principal a catapulta para o futuro: "...um ponto de vista vantajoso para transformar em realidade o que já deixou de ser uma utopia: a eliminação da pobreza e seus males inerentes, graças ao enorme potencial da tecnologia contemporânea e à possibilidade de

assimilá-la num lapso de tempo muito mais curto do que aquele que se registrou na evolução capitalista dos paises mais adiantados".

Para tanto, o volume de investimentos deveria ser de grande monta, num primeiro momento nos setores de apoio à industrialização e serviços de base, para posteriormente passar para os bens e serviços de consumo.

A questão então era a que, de certa forma, ainda persiste na economia brasileira: De onde viriam os recursos necessários aos investimentos, uma vez que uma economia subdesenvolvida se caracteriza também e, principalmente, por baixa capacidade de poupança?

É nesse cenário que surge primeiramente o BNDE, atualmente BNDES, e os demais bancos de desenvolvimento, estaduais e regionais, com a missão de financiar os investimentos necessários ao crescimento econômico, e basicamente com uma única fonte de recursos institucionais e públicos criados com esse objetivo.

Na história do BRDE foram poucos os momentos em que ele teve autonomia para captar recursos de diferentes fontes que não o BNDES e, conseqüentemente, pode aplicar segundo seus próprios critérios, sem restrições por parte do fornecedor dos recursos.

A concessão de crédito por parte de qualquer entidade parte de deter- minadas premissas que podem variar de instituição para instituição. No caso específico do BRDE, o que pauta a sua política de concessão de crédito está estabelecida dentro de certas normas que definem os critérios de caráter retros- pectivo e prospectivo a serem observados nas empresas para efeito de aprovação ou não do crédito.

Além das normas e critérios internos, o banco, por ser um banco de desenvolvimento puro, ou seja, por operar basicamente com recursos institucionais oriundos do Sistema BNDES, tem que cumprir a legislação e normas impostas pelo BACEN (órgão máximo da fiscalização da política monetária do país), bem como do próprio fornecedor dos recursos. Tais disposições fazem com que o banco tenha

uma atuação quanto a que, como, quanto e quem financiar extremamente limitada por tais normas externas, reduzindo em muito sua flexibilidade de atuação.

A instituição financeira utilizada como referência para o desenvolvimento do presente estudo de caso é a Agência de Curitiba do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. Vale lembrar que o BRDE atua nos três estados do Sul.

A opção por essa instituição, o BRDE, é, inicialmente e principalmente, em função de a mesma operar com financiamento de longo prazo e, em especial, pelo fato de, no seu processo de concessão de crédito, não utilizar os instrumentos tradicionais de análise de investimento propostos pela literatura clássica sobre o tema, a partir do saldo de fluxo de caixa, tais como: Taxa Interna de Retorno, Valor Presente Líquido, Payback, ou equivalentes desenvolvimentos mais recentes, como Opções Reais ou Valor Econômico Adicionado, utilizando, contudo, para tanto, um indicador denominado Índice de Cobertura de Financiamento.

Esse indicador permite que se estabeleçam relações entre seu desempenho operacional, a capacidade de pagamento dos compromissos financeiros e o tempo de amortização dos mesmos.

A segunda razão para a escolha da instituição é de ordem prática e pessoal, em função de o autor do presente trabalho ter desenvolvido a atividade de técnico em desenvolvimento durante os últimos 27 anos como analista de projetos e, nesta função, ter participado, como analista, de inúmeros projetos de investimentos, quer de implantação ou de expansão de atividades produtivas nos três setores da economia paranaense e, conseqüentemente, convivido com a necessidade de tomar decisões quanto à concessão de financiamentos através de parâmetros propostos pela literatura e aceitos pela instituição ao longo desse tempo.

São analisadas cinqüenta e sete empresas: 31 de pequeno porte, 16 de médio e 10 de grande porte, que obtiveram financiamentos para a expansão de suas atividades, com dados contábeis que abrangem o período de 1999 a 2004, no

BRDE - Agência de Curitiba (enumeradas no quadro 8). Este período foi estabelecido em função de que, anteriormente a esta data, o banco não dispunha de um sistema de banco de dados de forma organizada e centralizada.

Dessas empresas foram levantadas as seguintes informações nos relatórios de análise utilizados pelo BRDE, das quais derivaram outros índices e quocientes financeiros utilizados na avaliação da empresa: Valor da operação e valor do investimento; Proporção: Valor da operação/investimento; Patrimônio Líquido; Lucro Operacional; Lucro Líquido; Receita Operacional Líquida; Passivo Real; Passivo Circulante; Passivo Bancário; Ativo Circulante; Ativo Total; Ativo Imobilizado; Porte; Classificação de risco do BACEN; Data da solicitação e da concessão do crédito; Prazo de pagamento; Custos (juros mais TJLP).