• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV : RESULTADOS I –ESTUDO DE AMBIENTE E SUGESTÃO DE

IV.I Ambientes aquáticos ou humedales

Mesmo sendo ambientes presumivelmente bastante degradados por conta da rede de irrigação e cultivo intensivo de cana de açúcar, além do crescimento urbano, humedales, como são conhecidos localmente os ambientes alagados assim como mais especificamente os ‘typhales’, ‘totorales’ e espelhos d’água ainda são encontrados na costa nortenha, em específico para nosso estudo nos vales de Chicama e Moche (Leiva et al., 2018). Apenas na província de Trujillo encontramos 7 humedales, sendo 6 costeiros (figura IV.I.a).

Observamos que para os ambientes alagados, que possivelmente representam pântanos e margem de rios, apenas três ou quatro elementos florísticos são recorrentes : totoras, possivelmente (Schoenoplectus californicus [C.A.Mey.] Soják), a typha (Typha angustifolia) e flores provavelmente oriundas de dois tipos de ninféias (Nynphaeaceae), dos quais pudemos levantar a possibilidade de duas espécies: Nymphaea ampla (Salisb.) DC. e Nymphaea pulchella DC, esta última encontrada na zona alagada do complexo arqueológico de Chan Chan (Rodrigues, 2015). Não está descartada, entretanto, a possibilidade de flores de Tumbo (Passiflora foetida) estarem representadas, uma vez que um tipo de passiflora aparece em alguns vasos esculturados e pictóricos. Finalmente, há um pequeno montante de plantas difíceis de seres correlacionadas com espécies existentes, que não fomos capazes de identificar por falta de recorrência ou indeterminação mimética.

Há uma representação inter-estilística bastante homogênea, sendo que as flores aparecem apenas em vasos da fase IV em duas formas bastante inequívocas enquanto os

69

“talos” ou juncos são apresentados em dois modos distintos: um deles presumivelmente da fase IV e inequivocamente análogo à totora e outro possivelmente fase III, onde não é possível distinguir entre totoras ou typhas.

Associados a estes ambientes aquáticos encontramos principalmente garças (ardeidae), patos (anatidae) (Angulo-Pratolongo, 2010) em menor frequência, sapos, provavelmente o bufón (rinella marina), e peixes, talvez um peixe comum da região (Dormitator latifrons), cujas características anatômicas geralmente são concordantes com as representações.

(FIGURA IV.I.a) localização de três humedales entre os vales de Chicama, Moche e Virú. Retirado de Altivez, 2012

IV.I.I- Totoras e Juncos

Família Cyperacea Gênero Schoenoplectus

Espécie Schoenoplectus californicus sin. Scirpus californicus

Schoenoplectus californicus são plantas de regiões alagadas muito comuns nos andes, ocorrendo da costa norte a sul, além de cordilheira adentro, como o lago Titicaca.

70

Foi uma planta muito importante para os Moche devido a seu uso na construção de tetos para as habitações e principalmente por serem a principal matéria prima da construção dos “cabalitos de totora”, pequenas embarcações individuais utilizadas na pesca no oceano pacífico (Towle, 2007 :13[1961]). Ao contrário do junco (s. americanus) as totoras necessitam de ferramentas como uma foice para serem colhidas (Aponte, 2009) para serem colhidas.

Totoras são identificáveis por seu talo ereto, suas inflorecência na extremidade superior e, como veremos adiante, em grande parte das vezes, seus rizomas. (ver aponte, 2009) (figura IV.I.I.a e IV.I.I.b).. Na forma mais comum de representação da fase IV (figura IV.I.I.c) todas essas características são bastante naturalísticas e evidentes. Ocorre, porém, uma forma menos detalhada que podem também ser representações de totora.

(FIGURAS IV.I.I.a e IV.I.I.b) Totoral em área alagada no complexo arqueológico de Chan Chan e detalhe, na foto da direita, de suas inflorecências distintivas, discerníveis nas representações cerâmicas

71

(FIGURA IV.I.I.c) Totoral em vaso da fase IV no qual são observáveis o corpo, os rizomas e as inflorecências das totoras (cortesia museu Larco).

Família Typhaceae Gênero Typha

EspécieTypha angustifolia

Na segunda forma de representação os talos não são exibidos individualmente mas em grupo e as espiguelas também não aparecem. (figura IV.I.I.e). Por conta desse menor grau de naturalismo a confiança na identificação desta variação é menor. Essa segunda forma aparece constantemente junto a outros elementos de áreas alagadas, como garças, de um jeito semelhante aos da fase IV. Acreditamos ser mais provável estas serem representações de Schoenoplectus californicus, todavia, como as características morfológicas não são suficientemente claras consideramos a possibilidade de serem typhas, umas vez que são bastante comuns em ambientes alagados (figura IV.I.I.d). Além disso, ainda hoje as duas espécies são frequentemente confundidas entre si, ambas podendo ser comumente referidas por ‘totoras’ ou ‘juncos’ (Rodrigues, 2015), (Towle, 2007 [1961]) Não obstante as Typha angustifólia eram plantas bastante utilizadas pelos Moche, fornecendo fibras na produção de cordas, cestas, e tapetes (Towle, 2007: 13 [1961]). Daí também sua importância e possibilidade de representação.

72

(FIGURA IV.I.I.d) “Typhales” próximos a Chan Chan.(Retirado de Rodriguez et al, 2014)

(Fgura IV.I.I.e) Vaso fase III com cenário de pântano associado à garça no qual a vegetação é indistinguível, podendo representar juncos (s. americanos), totoras (s. californicus) ou typhas (typha

73

IV.I.II- Flores

Com uma frequência tão grande quanto a dos juncos e totoras os mochica inseriam flores em cenas aquáticas. Estas parecem ser um localizador de zonas alagadas tão incisivo quanto as totoras uma vez que aparecem apenas acompanhadas a outros elementos de pântano e muitas vezes por entre as totoras.

O discernimento dos gêneros ou espécies neste caso é difícil pois as flores das plantas aquáticas do gênero nymphaea não costumam ser radicalmente distintas entre si. As propostas aqui levantadas são principalmente baseadas nas espécies atuais que habitam os pântanos dentro da antiga área de habitação mochica-sul.

Família Nymphaeacea Gênero Nymphaea Espécie Nymphaea ampla Espécie Nymphaea pulchella

Ambas as espécies correspondem à vegetação flutuante das zonas alagadas. As ninfeias estendem suas raízes até o leito dos pântanos ou espelhos d’água enquanto suas folhas e flores flutuam na superfície aquática. Por esta característica, suas folhas e frutos tornam-se bastante visíveis e destacam-se na paisagem aquática.

Na bibliografia pesquisada essas plantas não são tão comuns tendo sido identificadas em Lambayeque e Trujillo (Nymphaea ampla ) (Llatas et al.,2010) e em Chan Chan a Nymphaea pulchella (Rodrigues, 2015). Todavia, por conta de sua forte associação aquática e grande visibilidade acreditamos ser grande a probabilidade de que as flores associadas à zonas úmidas sejam de ninfeias.

74

(FIGURA IV.I.II.a) Ave aquática ao lado de nymphaea pulchella (retirado de Rodríguez et. AL. 2014)

(FIGURA IV.I.II.b), Nymphaea ampla com flor (foto de Reinhard Jahn, retirado da Wikipédia. Acesso em 27/5/2018)

75

(FIGURA IV.I.II.c) Flor aquática encontrada em vaso de linha fina fase IV associada a pato.

F

(FIGURA IV.I.II.d) Vaso de linha fina fase IV de pato com flor (Cortesia Museu Larco)

Família Passifloreacea Gênero Passiflora Espécie Passiflora foetida

Segundo (Rodrigues, 2015) o maracujá silvestre (Passiflora foetida) cresce em “gramadales” ou seja, zonas dominadas por gramíneas vizinhas às zonas úmidas em zona de alta salinidade. Apesar de não serem plantas aquáticas per se, consideramos a possibilidade de as flores representadas serem das passifloras após analisarmos dois vasos escultóricos e pictóricos em que figuram uma passiflora, identificada como “Tumbo” associada a um sapo ou rã (figura IV.I.II.e).

76

(FIGURA IV.I.II.f) Flor de Passiflora foetida. (Foto de Leon Brooks- retirada de Wikipedia. Acesso em 27/05/20018)

77

(FIGURA IV.I.II.g e IV.I.II.h) Outro vaso fase IV com variante de flor aquática novamente associada ao pato. Detalhe da Flor; (Cortesia Museu Larco)

(FIGURA IV.I.II.i) Peça escultórica-pictórica com planta de passiflora foetida e sapo ou rã na base. (Cortesia do Museu Larco)

Documentos relacionados