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Ameaças Fitossanitárias: histórico e consequências Suely Xavier de Brito Silva

No documento Anais... (páginas 32-34)

Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, Salvador-BA;

E-mail: suely.xavier@adab.ba.gov.br

Desde os primórdios da civilização, o homem vem contribuindo para a dispersão de plantas domesticadas e, consequentemente, de organismos a elas associados16. Esta assertiva pode ser confirmada pela conquista geográfica da mosca-do-mediterrâneo (Ceratitis capitata), considerada a principal praga da fruticultura mundial.

Embora se saiba que o centro de origem de Ceratitis capitata seja a África Central, a espécie foi primeiramente descrita por Wiedmann em 1824 a partir de exemplares capturados em um navio que transportava frutos, no Oceano Índico, em 1817 (Mahmoud, 2014). Este fato indica que Ceratitis capitata já estava sendo disseminada pelo mundo muito antes da sua detecção no Brasil, em 1901.

Com a intensificação do trânsito internacional de pessoas e da tendência de globalização das relações de comércio, o final do século XX foi marcado pelo grande fluxo do trânsito de pessoas e de mercadorias, aumentando sobremaneira o risco de disseminação de pragas e consequentemente, expondo o segmento da agropecuária a severos danos econômicos e colocando em risco a estabilidade dos ecossistemas silvestres.

Para enfrentar os desafios do novo cenário das relações internacionais de comércio, os países passaram a se agrupar de modo a constituírem blocos regionais, a exemplo do Mercado Comum do Sul (Mercosul), criado em 1991 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Apesar das vantagens competitivas conferidas pelo bloco econômico, todos os países membros deveriam proteger sua atividade agropecuária e dessa forma, considerando as ocorrências fitossanitárias e o que elas poderiam impactar as economias de seus integrantes, tornaram-se necessárias diversas rodadas de negociação no sentido de que padrões fitossanitários regionais fossem regulamentados.

Assim, com base nas Resoluções Nº 2 e Nº 3 da VI Reunião do Conselho de Ministros do Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (COSAVE), de 12 de dezembro de 1995, o Brasil promulgou a Portaria Ministerial Nº 180, de 21 de março de 1996, em que passou a adotar (Brasil, 1996):

• Sistema de Credenciamento de estações experimentais para realização de Ensaios de Eficácia e Praticabilidade Agronômica de Agrotóxicos18;

• Credenciamento e Habilitação de Laboratórios de Análise e Ensaios;

• Critérios para a Harmonização de Procedimentos e Métodos Analíticos para o Diagnóstico Fitossanitário19; • Critérios para a Harmonização de Procedimentos e Métodos Analíticos para Produtos Fitossanitários; • Lista de Pragas Quarentenárias20 e

• Procedimentos para a Aprovação de Tratamentos Quarentenários.

A partir de então, os eventos de invasão biológica passaram a ter conotação de segurança nacional tendo em vista a posição de destaque que o país assumia no cenário internacional da produção agropecuária e a necessidade de manutenção desse patrimônio para preservação da competitividade do agronegócio brasileiro.

O termo “praga” tem sido utilizado no Brasil, em muitos casos, apenas para se designar insetos e ácaros que causam danos às plantas cultivadas. Entretanto, a Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais (CIPV) estabeleceu em 1990 que praga é qualquer espécie, raça ou biótipo de planta, animal ou agente patogênico, nocivos a plantas ou produtos vegetais (CIPV, 2009).

Outro conceito importante é o de pragas quarentenárias. A primeira listagem de Pragas Quarentenárias para o Brasil foi estabelecida na Instrução Normativa (IN) Nº 38, de 14 de outubro de 1999 (Brasil, 1999). Nessa IN, foram empregadas as expressões Pragas Quarentenárias A1 e A2, hoje em desuso e substituídas por Pragas Quarentenárias Ausentes (PQA) e Pragas Quarentenárias Presentes (PQP), respectivamente. As Pragas Quarentenárias Ausentes são aquelas cuja presença nunca foi relatada no país, porém com características de serem espécies potenciais causadoras de relevantes danos econômicos e em caso de introdução, cabe ao DSV dispor de Planos Emergenciais de Prevenção e Controle, embasados em procedimentos científicos e prontamente disponíveis às unidades da federação.

As Pragas Quarentenárias Presentes, por outro lado, são aquelas de importância econômica potencial, já presentes no país, porém com distribuição restrita e sob controle oficial. Outra categoria definida é a das Pragas Não Quarentenárias Regulamentadas (PNQR), que correspondem ao grupo de pragas não quarentenárias cuja presença em plantas, ou partes destas, para plantio, influi no seu uso proposto com impactos econômicos inaceitáveis (Brasil, 1999).

Assim, as PQA’s assumem a categoria de ameaças fitossanitárias diante do risco iminente da invasão e dos possíveis prejuízos que poderão causar às atividades agrícolas e ecossistemas postos em perigo. Ou seja, as PQA’s são espécies invasoras exóticas.

As invasões biológicas correspondem ao resultado de estágios sequenciais, onde o sucesso de cada estágio é essencial para que se evolua no processo e atinja-se a etapa subsequente. As espécies exóticas devem

passar por, no mínimo, três estágios, antes que sejam percebidos os impactos econômicos ou ecológicos: a) Transporte: indivíduos que são recolhidos de sua região de origem, transportados para a nova área, e

liberados no novo ambiente;

b) Estabelecimento: os indivíduos que foram bem sucedidos na etapa do transporte para uma nova área precisam estabelecer uma população autossustentável, caso contrário, serão extintos;

c) Disseminação: processo subsequente ao do estabelecimento, em que a população deve aumentar em número e expandir sua área de ocorrência.

O conhecimento do processo de invasão biológica é crucial para as instituições que detêm as competências legais relacionadas com implementação da política de defesa agropecuária, pois, isso permitirá a definição de ações eficientes que evitem, ou minimizem o impacto das invasões.

Ações de prevenção podem ser utilizadas durante o estágio de transporte. Caso as medidas de prevenção falhem e o processo de transporte tenha sido bem sucedido, faz-se necessário envidar esforços na detecção precoce e de contenção para evitar o estabelecimento das espécies exóticas.

Na esfera da contenção da praga, destacam-se os programas de erradicação ou o restrito controle de focos, para evitar o crescimento populacional, o qual antecede a disseminação. No caso de insucesso das medidas de contenção e da espécie exótica estar disseminada, devem ser adotadas medidas de manejo para minimizar o impacto ecológico e sócioeconômico da mesma.

Vale destacar que a cada invasão biológica bem sucedida, podemos relacionar as seguintes consequências: (i) dispêndio de grande volume de recursos governamentais para implementação das ações de defesa vegetal; (ii) perdas diretas e restrição de acesso a novos mercados; (iii) elevação do custo de produção; (iv) inviabilização de planos de manejo integrado de pragas; (v) incremento no uso de métodos de controle químico, com efeitos negativos sobre pragas não alvo, organismos benéficos, biota terrestre e aquática; (vi) espécies invasoras podem afetar diretamente as espécies nativas via: competição por recursos, hibridização, parasitismo e predação.

Para muitos especialistas, relativo ao impacto que as espécies invasoras possam impor a um agroecossistema, ainda que num país o qual detenha tenha eficiente política fitossanitária e ações conservacionistas, dado as ações antrópicas modernas, se faz oportuno também investir na compreensão dos processos envolvidos nas alterações estruturais e funcionais dos ecossistemas e, com isso, aprender a manejar eventuais impactos de forma a minimizá-los ecológica e economicamente.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria Ministerial nº 180 de 21 de março de 1996. Dispõe sobre padrões aprovados pelo Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul – COSAVE, e dá outras providências. Publicada no D.O.U. de 25.03.1996. Disponível em: http://www3.servicos.ms.gov.br/ iagro_ged/pdf/2069_GED. pdf.> Acesso em: 15 fev. 2015.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa SDA nº 38 de 14 de outubro de 1999. Dispõe sobre lista de Pragas Quarentenárias A1, A2 e as Não Quarentenárias Regulamentadas, e dá outras providências. Publicada no D.O.U. de 26.10.1999. Disponível em: < www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/PDF/ in_38_99.pdf> Acesso em: 26 fev. 2015.

CIPV. Normas Internacionais para Medidas Fitossanitárias n. 05 - Glossário de Termos Fitossanitários. Roma: FAO, 2009.

MERCADO COMUM DO SUL - MERCOSUL. Saiba mais sobre o MERCOSUL, 2015. Disponível em:< http://www. mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-mercosul> Acesso em: 23 fev. 2015

MAHMOUD, M.F. New indices for measuring some quality control parameters of the Mediterranean fruit fly, Ceratitis

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Pragas florestais e nematóides entomopatogênicos: uso do nematóide, Deladenus

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