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objeto ou hábito Oração coord. Adversativa do bloco anterior Quando falamos em amor, \ sempre pensamos no amor à pessoa amada, E2 – nós (locutor- narrador e leitor- aluno) são levados a se imaginar na situação.

ou [pensamos] no amor a pais, irmãos, familiares e amigos. Ou – marca que retoma

o E2.

Mas pode o ser humano apaixonar-se com a

mesma intensidade por

um objeto ou por um

hábito?

E1 – o locutor, dirigindo-

se ao interlocutor.

E o que fazer quando esse sentimento é confrontado com sentimentos como a crueldade e a perversidade?

E1 (o locutor traz à existência o conflito amoroso através de um antagonista)

O lide acima tem o objetivo de preparar os leitores para a leitura da crônica “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector, que trata da experiência apaixonada da autora com o livro, o hábito da leitura. Desse modo, no sentido

de despertar o interesse, a curiosidade do aluno-leitor, cuja idade gira em torno de 14 anos, o locutor (E1) escolhe a chamada “A conquista do amor

impossível”, que remete o estudante a uma área de seu interesse: o amor, o

namoro. Os modalizadores “conquista” e “impossível” tornam o texto ainda mais atraente, já que ao tema ‘amor’ é acrescentada uma pitada de emoção, desafio. Não é só uma conquista, é uma conquista de algo ‘difícil’, implica ‘lutas’, ‘confrontos’.

Ao analisar o texto do lide de forma global, verifica-se a presença de três cenários de amor: cenário 1, que traz à cena o amor entre duas pessoas, um casal (E2 – o locutor-narrador e o leitor-aluno, são levados a se imaginar no contexto do lide); o cenário 2, que se refere ao amor entre familiares e amigos (E2 – o locutor-narrador e o leitor são levados a pensar no amor a familiares. amigos) e o cenário 3, que trata do tipo de amor que será tematizado no momento posterior do livro didático: o amor ao livro e à leitura, objeto e hábito. O locutor (E1) dirige-se ao leitor, sendo o conectivo “mas” a marca linguística que introduz a perspectiva desse enunciador.

Assim, o locutor-narrador (E2), no 1º. período do lide, “Quando falamos em amor, sempre pensamos no amor à pessoa amada,” traz à cena o amor entre duas pessoas, observe-se que o leitor é inserido na cena através da marca de 1ª. pessoa do plural. Evidencia-se assim de forma clara a intenção do locutor de transportar o jovem leitor ao mundo do amor romântico. Nesse sentido, o uso da 1ª. pessoa do plural surge ainda como uma estratégia de

aproximação do leitor, consiste em um índice polifônico (E2 – nós, locutor-

narrador e leitor), cuja importância é fundamental para construir uma identificação entre o locutor e o leitor-aluno).

O advérbio modalizador “sempre” carrega em si um pressuposto: ‘Quando se fala de amor, em primeira instância, não há expectativa de se tratar de outro tipo de amor a não ser o amor entre duas pessoas’. Consegue, desta forma, estabelecer uma identificação mais consistente com o alunado, já que o tema em questão é um dos seus favoritos.

É construída uma espécie de gradação para inserir no enunciado o tema que será trabalhado no capítulo do livro didático: ‘como que para não

distanciar o aluno’. Desta forma, ao citar o amor aos familiares e amigos, anuncia ao seu interlocutor que o alvo não será o tema do namoro, ou do amor fraternal, será o tema do amor a um hábito ou objeto. Entretanto a sua ‘frustração’ dura pouquíssimo tempo. Surge o operador argumentativo modal “mas” que exerce a sua função de ‘quebra de expectativa’: o modalizador cria, nesse contexto, uma nova expectativa para o leitor, que é posta através da pergunta: “Mas pode o ser humano apaixonar-se com a mesma intensidade por um objeto ou hábito?”

Assim, o locutor (E1), ao lançar a pergunta, levou o seu interlocutor a um mergulho dentro de si próprio, reestabelecendo novamente a conexão com a emoção do namoro que é acionada no texto pela expressão modalizada “mesma intensidade”.

O modalizador “pode” faz alusão à capacidade no nível do ser ou do não ser, traz ao enunciado a modalidade alética, que trata do nível da existência das coisas: ‘Existe, pode existir paixão de um ser humano por um objeto ou hábito na mesma proporção?’ Há apenas duas respostas

pressupostas: ‘sim ou não’. Contudo, existe aqui uma dissimulação da parte

do locutor, porque na realidade apesar de ele apresentar o tema do amor a um objeto ou hábito, ele mantém o aluno o tempo todo na dimensão do amor romântico. Está subentendido, portanto: ‘sim, pode existir amor a um hábito na proporção do amor entre um casal’. O locutor consegue ‘impedir um não como resposta’, porque opera uma transferência de sentimentos da esfera desse amor pessoal para a esfera do amor a um hábito ou objeto. A expressão

modalizadora “esse sentimento”, na pergunta seguinte que encerra o texto,

comprova esse impedimento do leitor, visto que ‘esse sentimento’ é o sentimento de amor por um objeto ou hábito, já posto como verdade factual pelo locutor (E1).

Dessa forma, o locutor persuade o seu leitor-aluno de que ‘ele viverá a mesma emoção de um caso amoroso através da leitura da crônica “Felicidade Clandestina” ’, conteúdo subentendido.

Ao final, o enunciado recupera o interesse – que fora disperso apenas por um segundo - e a curiosidade do leitor, que são intensificados através dos

interrogativa que encerra o lide: “E o que fazer quando esse sentimento é confrontado com sentimentos como a crueldade e a perversidade?”

A figura de um antagonista é inserida pelo locutor (E1) no final do texto. Ele é dotado de “crueldade e perversidade”, isto é, há também um vilão (ou vilã), ‘revela o locutor ao seu interlocutor’. O conteúdo é pressuposto através dos substantivos abstratos que representam um sujeito que é cruel e perverso.

O estudante, portanto, é remetido ao ambiente dos contos de fadas: aquele em que o amor parece impossível, mas tudo acontece de forma que, no final, há um final feliz!

Enfim, o lide tal como foi construído, provoca no leitor o efeito de

sedução em relação à leitura posterior, ele é persuadido a viver a mesma

emoção de um romance entre duas pessoas, através do amor entre uma pessoa e um hábito ou objeto. O locutor consegue atingir o seu aluno no nível do imaginário.

T5 – O milagre do amor

Estar numa festa cheia de gente e sentir-se só...

Sair com os amigos para se divertir, mas ter a sensação de que falta alguma coisa para tudo ficar bem...

O que será isso? Chatice, carência, autopiedade, solidão?

Ou será a falta que nos faz uma pessoa, ainda desconhecida, perdida na multidão?

QUADRO T5 - O milagre do amor (E1 – locutor) Orações coordenadas assindéticas Duas orações coordenadas

Estar numa festa cheia de gente

E2 – locutor-narrador

e sentir-se só ...

E3 – (DIL) – locutor-narrador e jovem

angustiado

Sair com os amigos [(oração principal da frase abaixo)

para se divertir, ( oração sub. adv.

de fim]

E2 – locutor-narrador

mas ter a sensação de que falta alguma coisa (oração principal da oração seguinte [ para tudo ficar bem

... (oração sub. Adv. de fim) ]

E3 - (DIL) – locutor-narrador e jovem

angustiado O que será isso? Chatice, carência,

autopiedade, solidão?

E1 – locutor

Ou será a falta [ que nos faz uma pessoa, ainda desconhecida,

perdida na multidão? (oração sub.

adjetiva restritiva) ]

E1 – locutor (a marca “ou” retoma a

estrutura oracional anterior)

A chamada “O milagre do amor”, através do substantivo modal “milagre”, traz consigo a ideia de amor como algo sobrenatural, inexplicável, mágico, súbito. Anuncia a crônica “O amor por entre o verde”, de Vinícius de Moraes, pertencente a 2ª. fase do modernismo, que trata do amor na sua pureza, ingenuidade e fugacidade. No lide, observa-se estruturalmente a presença de duas contrajunções que pressupõem a contrariedade de sentimentos provocada pelo amor ou a necessidade dele, o seu aspecto conflituoso: no primeiro momento, a oposição é marcada pela conjunção “e”, com valor adversativo, um operador argumentativo modal cuja presença insere a ideia de perplexidade. Há uma quebra de expectativa, porém atenuada pela conjunção acolhida “e”. O contraditório de estar em uma festa, lugar de lazer, alegria, um ambiente com muita gente e sentir-se sozinho, solitário é expresso sobretudo pela locução adjetiva ‘ “cheia” de gente’ versus a palavra

denotativa “só”. Ambas são dotadas de conteúdo modal, marcam a presença

de dois extremos que constroem a ‘inquietude do amor’ ou ‘a necessidade dele’; no segundo momento, a oposição é registrada pelo operador

argumentativo modal “mas” que estabelece uma quebra abrupta de

Nas duas orações coordenadas assindéticas, “Estar numa festa cheia de gente” e “Sair com os amigos”, observa-se a presença de um (E2), locutor- narrador, que conta a saída dos jovens desejosos de diversão.

Com referência à segunda parte, as orações adversativas, “e sentir-se só...” e “mas ter a sensação de que falta alguma coisa para tudo ficar bem...”, trazem à cena enunciativa E3 que corresponde à voz, o fluxo de pensamento do locutor-narrador e do jovem leitor que se descobre na ânsia de amar, solitário em meio à multidão. A contrajunção traz um conteúdo pressuposto: ‘Ao sair com os amigos deveria haver diversão; não solidão.

Os dois períodos que encerram o lide formam um bloco típico de construções argumentativas: dissimula-se uma alternativa de resposta (penúltimo período), para depois, na construção linguística seguinte, apontar o conteúdo iniciado pela conjunção “ou” como verdade factual: “O que será isso? Chatice, carência, autopiedade, solidão?”, “Ou será a falta que nos faz uma pessoa, ainda desconhecida, perdida na multidão?”.

Assim, mais uma vez o locutor (E1) incita os interlocutores, o alunado a pensar... a responder às perguntas. Os termos com conteúdo modal negativo (chatice, carência, autopiedade, solidão) apresentam respostas que não se identificam com o locutor e o aluno, já que implicam certa ‘ranhetice’. Já a resposta final apresenta o vazio de quem anseia pelo amor como um fato natural para todo ser humano.

O locutor consegue o efeito de aproximação do enunciatário com o uso do pronome de primeira pessoa “nos”. Ele atrai o leitor adolescente em um processo de identificação, ambos possuem o desejo de amar: ‘É como se o leitor fosse colocado lado a lado do locutor (E1), como um amigo íntimo que compartilha das suas mesmas emoções’. Enfim, o texto seguinte ‘trata justamente de amor (...)’ e assim está o conteúdo subentendido, a serviço da sedução.

T6 – O outro: um outro amor

Num mundo como o nosso, regido por guerra, terrorismo, competição e individualismo, será que ainda há espaço para a utopia?

Será que ainda há espaço para o sonho de pacifistas, religiosos, educadores, poetas enfim, idealista de todo tipo cuja vida é um exemplo de doação ao outro, de opção pela alteridade?

QUADRO T6 – O outro: um outro amor (E1- o locutor)

Cenário - (Adjunto adverbial de lugar) Orações sem sujeito + predicado verbal + objetos direto

Num mundo como o nosso, regido por guerra, terrorismo, competição e individualismo,

será que (expletivo)

[ainda há espaço para a utopia?] Oração sem sujeito \ VTD + OD

E1 – locutor

Será que [ ainda há espaço para o sonho de pacifistas, religiosos, educadores, poetas enfim, idealista

de todo tipo cuja vida é um exemplo de doação ao outro, de opção pela

alteridade? ] Oração sem sujeito +

VTD + OD

E1 – locutor

O lide T6 possui uma chamada sugestiva: “O outro: um outro amor”. A mente do leitor-aluno é remetida imediatamente ao cenário do amor íntimo, na esfera do namoro, é impactado pela ideia de conflito amoroso, traição. O contexto, capítulo anterior, em que é trabalhado o tema do amor amoroso, corrobora com esse conteúdo subentendido. Desse modo, observa-se a intencionalidade do locutor de seduzir o seu interlocutor, provocar-lhe o interesse para a próxima leitura: o poema “Os Estatutos dos Homens (Ato Institucional Permanente)”, de Thiago de Mello, considerado um dos mais

representativos poemas da literatura contemporânea brasileira. O título do lide, elaborado pelo locutor (E1) traz consigo também um referente “o outro”, significando o amor fraternal, que é um ‘outro tipo de amor’.

O cenário é o mundo de hoje “o nosso”, atual, verifica-se aqui através do pronome possessivo de 1ª. pessoa do plural que o locutor (E1) insere o leitor no contexto. ‘O mundo é este em que vivemos: locutor e leitor’.

Esse mundo é construído negativamente pelos modalizadores: “guerra, terrorismo, competição e individualismo”. Subentende-se: ‘Tem-se aqui um mundo desumanizado, regido pela violência, pelo egoísmo, manipulado pelo materialismo, pela força, o oposto ao amor fraternal’.

Na questão posta, “Será que ainda há espaço para a utopia?”, verifica- se a presença do expletivo “Será que”, que tem uma função modal, com o intuito de enfatizar o questionamento apresentado, bem como de aproximar o leitor, já que consiste também em uma marca de oralidade: “será que” é uma expressão usada por uma pessoa, o locutor (E1), que se dirige a outra (o leitor) de maneira informal.

O “ainda” é o operador argumentativo, com valor modal, que indica temporalidade e, nesse contexto, indica também dúvida sobre a possibilidade de se viver o que o locutor chama ‘utopia’, entendida no enunciado como o tal ‘amor fraternal’.

A estrutura continua a se repetir: “Será que ainda há espaço para o sonho de pacifistas, religiosos, educadores, poetas, enfim, idealistas de todo tipo cuja vida é um exemplo de doação ao outro, de opção pela alteridade?” O “será que” enquanto marca de oralidade aproxima novamente o leitor do enunciado e o “ainda” consiste, como no exemplo acima, em um modalizador cujo efeito de sentido é trazer a ideia de dúvida sobre o fato de haver espaço para o sonho de viver o amor fraternal, construído pelas expressões

modalizadoras: pacifistas, religiosos, educadores, poetas, idealistas de todo

tipo, exemplo de doação ao outro, opção pela alteridade. A estrutura em forma de questionamento induz o interlocutor a refletir sobre a questão apresentada,

despertando-lhe o interesse pelo texto a ser trabalhado no capítulo em pauta, que trata [do outro]: do outro tipo de amor, o amor fraternal.

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