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2.4.3-PERFIL DE PERSONALIDADE: CONSISTÊNCIA INTERNA

3.1 AMOSTRA TOTAL

Neste estudo, durante o período da pesquisa, houve um predomínio de homens e da raça branca, sendo o maior percentual de transplantes realizados com doador falecido. Perguntava- se o quanto esta amostra seria representativa do Rio Grande do Sul, ou mesmo se era comparável à população de transplantados do Brasil. Segundo o censo divulgado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2015), nos anos de 2012 e 2013, também houve uma prevalência de transplantes realizados com doadores falecidos. No ano de 2012, foram realizados 3.911 transplantes com doador falecido e 1.499 com doador vivo. Já no ano de 2013 ocorreram 4.060 transplantes com doador falecido e 1.373 com doador vivo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS, 2015). Os dados do Rio Grande do Sul no período da pesquisa também apontam um predomínio de transplantes com doadores falecidos, sendo que em 2012 foram registrados 451 transplantes com doador falecido e 97 com doador vivo. No período de 2013 os dados mostram 474 transplantes com doador falecido e 70 com doador vivo. Os dados demográficos deste estudo, no que se refere ao tipo de doação, estão em conformidade com o Registro Brasileiro de Transplantes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS, 2013), demonstrando que no período da pesquisa (2012-2013), tanto o registro de transplantes referentes aos dados do Brasil como do Rio Grande do Sul, houve um predomínio de transplantes com doadores falecidos, indicando que a doação intervivos ainda é menor quando se compara os tipos doação. As estatísticas do Rio Grande do Sul em relação a gênero demonstram uma prevalência de transplantes realizados em homens entre os anos de 2012 e 2014 totalizando 828 transplantes, sendo 598 em mulheres

(Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão, 2015). A raça branca foi mais prevalente neste período (2012-2014) apontando 1.190 transplantes em indivíduos da raça branca, 122 transplantes em negros e 81 transplantes registrados em outras raças (amarela, indígena, parda) (Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão, 2015).

Similaridade de gênero, raça e tipo de doador neste estudo também é consistente com os dados da história dos 35 anos de transplantes do Hospital São Lucas da Puc. No Período de 27 de abril de 1978 e 30 de abril de 2013, houve um predomínio maior de transplantes em homens, raça branca e com doadores falecidos (KROTH, 2015). Sendo assim, os dados sociodemográficos desta pesquisa indicam serem correspondentes aos dados de outros centros de transplantes nacionais, como também está de acordo com o registro histórico dos transplantes do hospital participante deste estudo, demonstrando que hoje, ainda, existe um maior predomínio de transplantes em homens, de raça branca e com doador falecido.

Um estudo buscou entender o perfil dos pacientes transplantados no Brasil e do problema das desigualdades no acesso aos transplantes de órgãos no Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Sistema Único de Saúde (SUS) (MARINHO; CARDOSO; ALMEIDA, 2011). Segundo os autores, a grande maioria dos transplantes acontece em homens brancos, e tanto as mulheres, quanto os negros e os pardos, apresentam necessidades equivalentes às dos homens brancos, além de representarem uma parcela proporcionalmente equivalente na própria população brasileira. Os autores concluem que as razões para as desigualdades de gênero e de etnias são muitas e complexas e que preconceitos, medos, desinformação, biologia humana, pouco financiamento da saúde, racismo e vieses desfavoráveis às mulheres e às minorias contribuem para as desigualdades nos transplantes de órgãos no Brasil e no exterior. Os autores apontam que esta é uma realidade no cenário dos transplantes no Brasil, por isto, parece não ser algo específico dos transplantes renais. Por este motivo, entende-se que questões biológicas não são de fato os únicos fatores que podem determinar os índices expressivos de transplantes em homens brancos. Raros são os estudos que apontam de forma expressiva questões sobre essas possíveis desigualdades, por isto, os questionamentos mencionados aqui são ideias importantes que devem ser pensadas e discutidas de forma mais profunda em estudos que tenham este tema como objetivo.

Em relação às variáveis clínicas/laboratoriais, a presença de infecção foi à única variável que apontou diferença significativa na análise da totalidade da amostra ao longo dos nove meses de acompanhamento dos pacientes. A presença de infecção foi mais elevada aos três meses quando comparada a menor ocorrência observada aos nove meses. O uso de imunossupressores torna o paciente mais propenso ao aparecimento de infecções, sendo que até seis semanas após o transplante as infecções (a ferida operatória e o trato urinário são os locais mais frequentes de infecção nesta fase) são na grande maioria secundárias ao procedimento cirúrgico (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS, [2004?]). Entre seis semanas e seis meses, existe o predomínio das infecções oportunistas como tuberculose e infecção por citomegalovírus e a partir dos seis meses após o transplante podem surgir infecções semelhantes às da população em geral (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS, [2004?]).Infecções em transplantados de rim apresentam prevalência elevada no primeiro ano de acompanhamento após o transplante e, apesar de a incidência de episódios infecciosos ser variável, geralmente as infecções ocorrem com maior frequência nos primeiros meses de acompanhamento após o transplante (SOUSA et al., 2010). As infecções tardias podem ser secundárias as doenças oportunistas e são mais frequentes em pacientes que exigem uma maior imunossupressão ou que têm exposições ambientais específicas (KARUTHU; BLUMBERG, 2012).

Os resultados encontrados sobre a ocorrência de episódios de infecções neste estudo ao longo dos nove meses estão de acordo com a literatura e com os dados divulgados sobre o período pós-operatório do transplante renal. O aparecimento de infecções no período pós- transplante já foi bastante documentado e indica que as infecções neste período são frequentes e com características específicas de cada fase do período posterior ao transplante. Neste estudo objetivou-se buscar o número de casos de infecção e não as suas possíveis causas, por isto, o tipo de infecção não é um dado que está disponível neste estudo, o que impossibilita fazer comparações com outras pesquisas sobre as possíveis causas dos processos infecciosos na fase após o transplante.

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