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Ampliação do marco institucional do setor

No documento A Política Espacial Brasileira (páginas 47-51)

5. O Programa Espacial Brasileiro 1 Histórico

5.4 Principais desafios do PNAE

5.4.1 Ampliação do marco institucional do setor

Em que pesem as metas e programas bastante definidos, o PNAE enfrenta dois problemas primordiais: o volume de projetos desconexos que competem entre si e as dificuldades de ordem administrativa, política, financeira, legal e de pessoal. O resultado é o atraso no cumprimento das metas e dos cronogramas estabelecidos.

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | REL A discussão dos pontos fracos e dos desafios do programa espacial é frequente

entre os gestores do programa, entre os membros do corpo técnico e científico e entre as lideranças políticas. Uma das características de um setor como o espa-cial, intensivo em tecnologia, é a perenidade de seus quadros, muitos dos quais atuando há décadas no setor. Por outro lado, a renovação permanente também é desejável nesse tipo de setor em que a inovação e as novas tecnologias são essen-ciais para a aperfeiçoamento dos programas.

Os problemas apontados são desconhecidos pela sociedade brasileira, mas têm sido recorrentes e de difícil equacionamento para quem atua no setor espacial.

Em maio de 2004, a Agência Espacial Brasileira (AEB), em parceria com a Socie-dade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), realizou, em São José dos Campos, simpósio para debater a atual forma de organização das atividades espaciais brasileiras e subsidiar futuras ações de governo (Quadro 7).

A maior parte das propostas oriundas daquele debate não foram implementadas e estão sendo objeto de discussão da terceira revisão do PNAE, que estava previs-ta para 2009 e 2010. Entre as proposprevis-tas, mencione-se: a de dar à referida agência nível equivalente ao de ministério; implementar o Sindae com todos os setores envolvidos, inclusive as universidades e o setor industrial; estudar as vantagens e desvantagens dos modelos unificado e matricial para o arranjo institucional constituído pela Agência Espacial Brasileira e órgãos setoriais do Sindae e de-senvolver e consolidar um marco regulatório amplo para as atividades espaciais.

É discurso corrente no setor a necessidade de reconhecer o caráter estratégico e multissetorial das atividades espaciais, dotando essas atividades de uma política industrial própria. O apelo traduz-se no desejo de estabelecer regras especiais de incentivo para o setor espacial brasileiro, cujo prazo de validade seja superior ao do mandato presidencial, minimizando, assim, a interferência político-partidária e as soluções de continuidade.

Para tanto, busca-se aprovar instrumentos que assegurem um fluxo adequado de suprimento nas áreas de orçamento, recursos humanos, contratação e aquisição de bens e serviços, com base nos seguintes pré-requisitos (CARLEIAL et al, 2004):

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | REL a) Recursos Humanos: as atividades espaciais exigem recursos humanos de alto nível técnico, em constante processo de aprimoramento. A AEB e os órgãos setoriais precisam atualizar e ampliar seus quadros, e dotá-los de política salarial e de carreiras adequadas.

b) Orçamento: a gestão orçamentária deve ser compatibilizada com as pe-culiaridades dos projetos espaciais, que requerem estabilidade e conti-nuidade no fluxo dos recursos orçados e aprovados.

c) Infraestrutura: dotar o sistema de capacidade de implantar, manter e modernizar a infraestrutura requerida pelas atividades presentes e futu-ras do PNAE.

d) Fundo Setorial: rever e ampliar a fonte de recursos do Fundo Setorial Es-pacial, criado pela Lei nº 9.994, de 24 de julho de 2000, que institui o Pro-grama de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Setor Espacial.

e) Lei de Licitações e Contratos: estabelecer modalidades adicionais ou al-ternativas para a aquisição de bens e serviços de alto conteúdo tecnoló-gico, que sejam capazes de responder mais adequadamente às incertezas, riscos, prazos e custos que lhe são peculiares.

O Quadro 7 sintetiza algumas conclusões do simpósio de 2004 e as principais queixas e reclamações dos especialistas da área, bem como propostas de encami-nhamento das soluções.

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | REL Quadro 7 – Problemas, Detalhamento e Soluções para o PNAE

PROBLEMAS DETALHAMENTO POSSÍVEIS SOLUÇÕES

1. Política espacial brasileira, com bai-xo status na agenda de governo e pouca conexão com a demanda de longo prazo dos órgãos federais

Baixa demanda dos órgãos federais por dados, imagens e serviços de satélites na-cionais, devido a elevadas expectativas de confiabilidade e desempenho, conjugadas a restrições orçamentárias, que afetam seu poder de compra, e os levam a optar pela aquisição de serviços fornecidos por agências espaciais estrangeiras ou empre-sas internacionais

Agenda de governo favorece projetos es-paciais com aplicação ambiental ou social

a) Centralização das aquisições de dados, imagens, e serviços de satélites, por meio de uma agência específica de compras e contratações

b) Linhas especiais de finan-ciamento para empresas que desenvolvam satélites nacionais para atender à demanda federal de longo prazo

c) Obrigatoriedade de parti-cipação mínima da indústria nacional no desenvolvimento dos sistemas espaciais utilizados nos serviços de satélite contrata-dos por órgãos federais d) Priorização de projetos espaciais voltados para o aten-dimento de demandas sociais e ambientais

2. Agência Espacial Brasileira (AEB) com pouca auto-nomia política, administrativa e orçamentária

Vinculação ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), associada à insu-ficiência de recursos próprios, reduz a autonomia orçamentária

Status de autarquia reduz autonomia polí-tica e administrativa dos dirigentes

a) Identificação de novas fontes de recursos para o “Fundo Seto-rial Espacial” (Lei nº 9.994 de 24 de julho de 2000)

b) Mudança do formato jurí-dico-institucional da AEB, de autarquia para agência regulado-ra ou empresa pública, conforme opção política

c) Contratualização de resulta-dos entre a AEB e o MCT, visan-do a ampliação da autonomia político-administrativa 3. AEB com baixa

capacitação em gestão de políticas e regulação

Ausência de quadro próprio especializado em gestão e regulação da política espacial Predomínio de cientistas e técnicos em funções gerenciais

a) Criação da carreira específica para o setor

b) Valorização de conhecimen-tos e habilidades nas áreas de gestão de políticas e regulação no provimento dos cargos co-missionados na AEB c) Ampliação da cooperação com órgãos federais que atuem nas áreas de gestão de políticas e de regulação

d) Estímulos à formação de núcleos de estudos e pesquisas em política espacial e regulação do setor espacial

Deputado Rodrigo Rollemberg | 1 | REL

PROBLEMAS DETALHAMENTO POSSÍVEIS SOLUÇÕES

4. Insuficiência do Marco Regulatório das Atividades Espaciais

Norma de compras e contratações (Lei 8.666/93) inadequada para contratações de sistemas de alta complexidade tecnoló-gica, feitos sob encomenda e em pequena escala

Regulação restrita às questões de licen-ciamento e segurança em lançamentos comerciais de satélites (não há regulação econômica e a regulação técnica necessita ser ampliada)

a) Normas específicas para com-pras e contratações

b) Ampliação do marco regula-tório das atividades espaciais c) Lei específica para as ativida-des espaciais brasileiras

5. Indústria espa-cial brasileira com baixa capacitação tecnológica e frágil inserção no merca-do internacional

Instituições de Ciência e Tecnologia – ICT (Inpe e IAE/DCTA) atuam como prime contractors de projetos tecnologica-mente maduros

Inexistência de uma empresa nacional, pública ou privada, com capacitação tecnológica e financeira para assumir o desenvolvimento de projetos de alta com-plexidade tecnológica e grande porte

a) Criação de empresa pública (ou fortalecimento de uma empresa privada nacional) para atuar como prime contractor e liderar a inserção da indústria nacional no mercado interna-cional

b) Transferência de projetos tecnologicamente maduros das ICTs para a indústria nacional, por meio de licenciamento de tecnologias

c) Joint venture de empresas nacionais e estrangeiras para atuar em mercados com me-nores barreiras à entrada (ex:

microssatélites)

d) Utilização dos recursos do “Fundo Setorial Espacial”

para estimular a formação de parcerias entre ICTs e empresas brasileiras

e) Exigência de participação mínima da indústria nacional no desenvolvimento dos sistemas espaciais utilizados na prestação de serviços de satélite contrata-dos por órgãos federais Fonte: Ribeiro (2007)

5.4.2 Aprimoramento da coordenação política e da governança

No documento A Política Espacial Brasileira (páginas 47-51)