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5. O MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO SISTEMA PRISIONAL

5.1 A LEGISLAÇÃO NACIONAL SOBRE O MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE

5.1.1. Ampliação legislativa do sistema MEP no Brasil

A Lei 12403, de 4 de maio de 2011, alterou artigos do Código de Processo Penal relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória e demais cautelares. Dentre os dispositivos modificados, destaca-se o artigo 319 do Código de Processo penal, o qual prevê as medidas cautelares diversas da prisão e, dentre estas, o monitoramento eletrônico. Dessa forma, segundo a nova redação dada ao artigo 282, parágrafo 6º, do Código de Processo Penal, a

prisão preventiva somente terá lugar quando não for possível a sua substituição por outra medida cautelar.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas

pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por

circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por

circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja

conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o

investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza

econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados

com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem para assegurar o comparecimento

a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica (BRASIL, Código de Processo Penal de 1941).

Assim, passou a legislação brasileira a conter dispositivo prevendo o monitoramento eletrônico mesmo antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, inclusive na fase pré-processual (durante o inquérito policial). Portanto, com mais esta nova lei, a monitoração eletrônica, assim como as demais medidas cautelares diversas da prisão, poderá ser decretada pelo juiz de ofício, a requerimento das partes, ou por representação da autoridade policial, ou diante de requerimento do membro do Ministério Público, tudo isto conforme a nova redação aplicada ao artigo 282, parágrafo 2º, do Código de Processo Penal. Dessa forma, o monitoramento não está mais adstrito apenas às hipóteses da Lei 12.258/2010 (prisão domiciliar e saída temporária).

Para Fernando Capez (2012) esta inovação trazida pela Lei 12403/2011, ampliando a utilização da monitoração eletrônica, tem como objetivo reduzir o número elevado de presos provisórios sem deixar, no entanto, de exercer sobre estes acusados uma vigilância constante. Seria, portanto, uma forma de evitar o encarceramento do indiciado. Na mesma linha, Túlio Vianna (2007) entende altamente recomendável o sistema de monitoração como substituto das

prisões cautelares uma vez que pode contribuir para reafirmar o princípio da presunção de inocência consagrada na Constituição Federal.

De acordo com o artigo 282, incisos I e II, do Código de Processo Penal, ao se aplicar o monitoramento eletrônico, ou qualquer uma das medidas cautelares diversas da prisão, deverá, além de se observar a adequação da medida à gravidade da infração cometida, analisar as condições pessoais do acusado. Também deverá ser apreciada a necessidade da providência para a aplicação da lei penal e para a investigação ou instrução criminal.

Outro ponto relevante, com base no disposto no artigo 282, parágrafo primeiro, do Código de Processo Penal, é que o monitoramento eletrônico poderá ser aplicado de maneira isolada ou cumulativamente com outra medida cautelar. Assim, poderá ser aplicada, por exemplo, a monitoração eletrônica juntamente com a liberdade provisória. Avulta ressaltar, conforme o artigo 283, parágrafo primeiro do mesmo código, as medidas cautelares, inclusive o monitoramento eletrônico, não poderão ser aplicadas à infração à qual não tenha sido cominada pena privativa de liberdade isolada, cumulativa ou alternativamente.

Por se tratar de uma medida restritiva de liberdade, ao determinar o monitoramento eletrônico, o juiz criminal deverá, portanto, estar atento ao princípio da proporcionalidade, analisando a idoneidade e a necessidade da medida e a razoabilidade entre os custos e os benefícios envolvidos com o sistema. Além disso, adverte Gomes (2010) que a decisão proferida pelo magistrado deverá ser motivada, sob pena de haver uma possível inconstitucionalidade na aplicação prática do sistema por falta de fundamentação da necessidade de sua aplicação.

Vale enfatizar que ao ser decretada a aplicação de uma das medidas cautelares, dentre estas a monitoração eletrônica, o acusado ficará submetido ao cumprimento de determinadas obrigações impostas pela autoridade judicial. Em caso de descumprimento de tais exigências, pelo eletronicamente monitorado, segundo o que determina o artigo 282, parágrafo 4º, do Código de Processo Penal, o juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, do assistente deste ou do querelante, adotar uma das seguintes providências: substituir a medida, impor outra cumulativamente ou, em última hipótese, decretar a prisão preventiva, desde que presentes os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal.

Por fim, a medida também poderá ser substituída ou revogada sempre que o juiz detectar a ausência do motivo para que a mesma subsista, podendo, no entanto, decretá-la novamente desde que presentes razões que justifiquem a medida. Isto conforme o parágrafo 5º do artigo 282 do Código de Processo Penal. Quanto ao comportamento que o monitorado deverá adotar para com o aparelho de monitoração, já foram estabelecidas regras pela Lei 12258/2010.

Com tais preocupações, pode-se evitar que o instituto se torne uma espécie de regra ou mesmo uma contracautela sendo usado processualmente de forma desvirtuada dos seus fins de controle e eficácia da aplicação de sanções, impondo-se a devida atenção dos juristas a fim de que não sirva como fórmula imediatista, desvestida de fundamentação, ou simplesmente como substitutivo da prisão, sob o manto de se tratar de medida menos degradante que a prisão.

6. ASPECTOS ANALÍTICOS SOBRE O MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE