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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Análise da alteração da estrutura da paisagem apoiada por métricas de paisagem

Existem diferentes conceitos para definição da paisagem, Alexander V. Humboldt no século XIX, dentro de uma abordagem geográfica, a definiu como a “totalidade das características de uma região do planeta”. Bertrand (1968) definiu paisagem como determinada porção do espaço resultante da interação perpétua dos elementos biológicos, físicos e humanos. Call Troll, em 1971, apresentou um conceito de paisagem integrada, como uma entidade espacial e visual total do espaço (NAVEH e LIEBERMAN, 1994), introduziram a noção de heterogeneidade do espaço. Numa abordagem voltada para estudos ecológicos, de conservação e quantitativos, Turner e Gardner (1991) definem paisagem como uma área espacialmente heterogênea onde três características fundamentais devem ser consideradas: estrutura, função e alterações. A estrutura diz respeito as relações espaciais entre os diferentes elementos da paisagem (tamanho, quantidade, formas e configurações); a função se refere à interação entre os elementos espaciais (por exemplo, fluxo de energia, fluxo gênico, etc); e as transformações de áreas compostas por elementos interativos da paisagem. Nessa abordagem ecológica a paisagem passa a ser representada por três elementos: manchas,

corredores e matriz, representados esquematicamente na Figura 4. Esses elementos são

facilmente observados em paisagens fragmentadas, onde restaram pequenas manchas de remanescentes florestais em uma paisagem onde hoje predomina a pastagem, como é o caso de grande parte da região sudeste do Brasil. Esses elementos são definidos a seguir, de acordo com Forman e Godron (1986).

Figura 4 – Modelo mancha, corredor e matriz.

Fonte: Adaptada de Lang e Blaschke (2009).

Manchas são coberturas não-lineares e homogêneas que se distinguem em aparência da

vizinhança. As manchas podem variar conforme tamanho, forma, tipo, heterogeneidade e topologia. As manchas estão inseridas na matriz e sua origem pode estar relacionada a aspectos como: perturbações provocadas por aspectos naturais ou interferências humanas; manchas que são remanescentes de perturbações; manchas oriundas de regeneração; manchas estáveis que estão relacionadas ao recurso ambiental; manchas efêmeras relacionadas a concentrações sazonais como migrações.

Os fatores que influenciam e controlam as manchas são o tamanho e forma. O tamanho da mancha está relacionado a dimensão em área, e influência os níveis de energia, nutrientes disponíveis e o número, tipo e fluxo de espécies. A forma guarda relação direta com o efeito de borda uma vez que a relação entre a área interna e a borda influencia diversas características ecológicas. Assim, o interior da mancha pode ter características diferentes em relação aos limites das manchas.

As mudanças de cobertura da terra interferem nas manchas de vegetação alterando sua dimensão e forma. Consequentemente, a distância entre as manchas de uma matriz aumentam, culminando num processo de fragmentação. Nesse contexto, a conectividade é mantida pelos Corredores. Esses correspondem às estruturas lineares homogêneas que

diferem da vizinhança e conectam pelo menos dois fragmentos anteriormente unidos. Os corredores têm o papel de facilitar os fluxos (hídricos e biológicos), reduzir os riscos de extinção local, favorecer as recolonizações, fomentar o suplemento de habitat, de refúgio nas ocorrências de perturbações e facilitar a propagação de algumas perturbações (como o fogo).

A matriz é o elemento mais extenso e conectado da paisagem, e, portanto, desempenha um papel dominante em seu funcionamento. Geralmente a matriz possui contornos que enclausuram os demais elementos da paisagem. Os critérios para definição da matriz em relação aos outros elementos da paisagem são: a área relativa, a conectividade e o controle da dinâmica da paisagem. Em relação à área relativa, quando um tipo de elemento numa paisagem é consideravelmente mais extenso que os outros, é lógico considerá-lo como a matriz. A conectividade auxilia na identificação da matriz uma vez que essa apresenta maior grau de conectividade do que qualquer outro elemento da paisagem. O controle da dinâmica da paisagem está relacionado à matriz uma vez que essa unidade é a que dá origem a paisagem futura.

Na análise da paisagem a interpretação dos padrões espaciais de seus elementos, pode ser feita a partir de métricas (de forma, tamanho, composição, conectividade, etc.) uma vez que suas características estruturais são observáveis, descritíveis e quantificáveis (LANG e BLASCHKE, 2009). Essas análises buscam avaliar o grau de fragmentação e suas implicações para a conservação. A seguir serão descritas as métricas utilizadas nesse trabalho.

A métrica da área é uma das métricas de análise da paisagem mais simples e mais utilizadas nos estudos de ecologia da paisagem. Essa medida é a base do conhecimento da paisagem, pois em geral é relevante saber o quanto de uma determinada cobertura da terra existe na paisagem analisada (LANG e BLASCHKE, 2009).

A métrica do número de manchas é uma medida direta do grau de subdivisão de um determinado tipo de mancha na paisagem. Embora não represente uma medida explicitamente espacial como a área, representa a configuração da paisagem ao identificar o número de manchas de uma determinada classe de mancha na paisagem.

A métrica de área núcleo, ou área central, expressa com o grau de estabilidade dos fragmentos, uma vez que parte do pressuposto que as áreas mais próximas à borda são influenciadas por efeitos externos, e que por esse motivo, no setor interno, predominam condições ecológicas que conservam as condições originais e que favorece a conservação do fragmento florestal. Isso quer dizer que o núcleo das manchas apresenta condições ecológicas diferentes das bordas, e por esse motivo, nos núcleos é possível encontrar relações ecológicas mais complexas do que nas bordas das manchas. A área núcleo é definida como a área dentro de um fragmento separada da sua borda por uma distância pré-definida (VOLOTÃO, 1998).

Para avaliar o grau de isolamento das manchas na paisagem são utilizadas métricas como, por exemplo, a distância euclidiana entre as manchas de mesma classe, que é uma medida indicativa do grau de proximidade ou isolamento das manchas.

Os estudos apoiados por métricas de paisagem buscam de modo geral, avaliar o nível de fragmentação da estrutura da paisagem, analisando as implicações ecológicas desse processo. A fragmentação é a transformação da estrutura da paisagem através do fracionamento de áreas homogêneas decorrentes de causas naturais e antrópicas. As informações decorrentes da análise da estrutura da paisagem podem ser utilizadas como suporte para tomada de decisões, como por exemplo, a formação de corredores ecológicos e identificação de manchas para conservação. Desse modo, num cenário onde as intervenções nas paisagens naturais são cada vez mais impactantes, o estudo da alteração da paisagem apoiado por métricas de paisagem contribui com as análises ambientais. Portanto, as métricas de paisagem não são apenas medidas estruturais, mas a interpretação apropriada das suas informações possibilita, sobretudo, seu uso como um instrumento de apoio a gestão da paisagem.