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Material e métodos

1. Análise cariométrica

As medições cromossómicas efectuadas nas espécies Crassostrea gigas e Ostrea

edulis, populações provenientes de la Tremblade (França) utilizadas neste estudo,

mostraram que os valores médios do comprimento relativo e do índice centromérico são iguais aos obtidos anteriormente em Crassostrea gigas, e semelhantes aos encontrados na espécies Ostrea edulis (Thiriot-Quiévreux, 1984). Nesta ultima espécie as diferenças encontram-se a nível dos pares n°4 e 6.

A analise cromossómica comparativa de 3 diferentes populações de Ostrea

edulis: população de la Tremblade, população de Sete e população de Barfleur, mostrou

uma grande homogeneidade entre os cariótipos. A comparação dos valores do índice centromérico das populações estudados, colocou em evidência a uniformidade dos pares de cromossomas n°l, 2, 3, 5, 7 e 10. Foi nos pares 6, 8 e 9 que observámos ligeiras variações na posição do centrómero sem que haja, no entanto, alteração no número final de cromossomas metacêntricos e submetacêntricos, confirmando-se a fórmula do cariótipo na espécie Ostrea edulis. Resultados similares tinham já sido obtidos em outras populações de Ostrea edulis (Thiriot-Quiévreux, 1984).

O cariótipo da espécie Crassostrea angulata obtido, difere do descrito para animais desta espécie criados em Barfleur (Thiriot-Quiévreux, 1984). Esta diferença pode ser devida à origem dos animais. As amostras utilizadas neste estudo são

O cariótipo de C. virginica, estabelecido neste estudo com dois pares de cromossomas submetacêntricos, difere dos descritos por Longwell et ai, (1967) e Rodriguez-Romero (1978), os quais apresentam quatro pares de cromosomas submetacêntricos. No entanto, a posição destes quatro pares de cromossomas no cariótipo difere naqueles dois autores. Foi observada uma discontinuidade genética nesta ostra americana ao longo da costa Atlântica e do golfo do México (Buroker, 1983; Reeb e Avise, 1990; Hare e Avise, 1996). A origem dos animais estudados neste trabalho, é próxima da dos animais estudados por Longwell et ai, (1967). Logo, a variação cariologica observada pode ser causada por diferenças no acondicionamento dos animais ou na técnica utilizada {e.g. diferentes concentrações de colquicina, que foi de 0,02% em Longwell et ai, 1967 e 0,005% neste estudo).

O cariótipo de C. rhizophorae aqui estabelecido, obtido a partir de animais provenientes da Guyana Francesa, apresenta 4 pares de cromossomas submetacêntricos. Estes resultados diferem dos descritos por Rodriguez-Romero et ai, (1979) e mais tarde por Ladron de Guevara et ai, (1996), em animais originários do México, os quais apresentam cinco pares de cromossomas metacêntricos, e daquele descrito por Marquez (1982), em animais provenientes da Venezuela, que apresenta dois pares de cromossomas submetacêntricos. Esta variação pode ser devida: (I) á aclimatação, (II) ás diferenças na técnica utilizada, como descrito previamente para C. virginica, (II) à possibilidade de que os animais aqui estudados não pertençam à espécie classicamente identificada como C. rhizophorae. De facto, ao contrário de C. virginica que possui uma repartição bem conhecida e que foi já estudada geneticamente em vários locais, a posição de C. rhizophorae ainda não se encontra bem estabelecida. Ainda em 1985, Harry sugeria que C. rhizophorae não era mais do que uma sub-espécie de C. virginica.

A analise cariologica das oito espécies de ostras rugosas estudadas, efectuada por Análise de componentes principais (PCA) e Classificação ascendente hierárquica (HCA), colocou em evidência o isolamento de C. gasar e de C. rhizophorae (origem, Guyane Francesa). Esta proximidade cariologica foi uma surpresa, na medida em que estas espécies são muito diferentes a nível morfológico. Uma hipótese que pode ser formulada para explicar esta semelhança entre Crassostrea gasar originária do Senegal e Crassostrea rhizophorae originária da Guyane francesa, diz respeito ao facto de ambas origens serem duas ex-colónias francesas. Pode pensar-se que houve um

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transporte (p.ex. num barco) de uma das duas espécies de um lugar para o outro, e que as diferenças fenotípicas observadas correspondam a adaptações da espécie transportada ao novo meio ambiente. Estudos de citogenética e de genética molecular poderiam inferir sobre as semelhanças destas duas espécies e de espécies vizinhas em ambos locais de origem, para permitir prever qual das duas espécies foi a transportada, logo qual a mais antiga.

Depois do isolamento de C. gasar e de C. rhizophorae, dois novos grupos se separam. O primeiro é constituído por C. gigas, C. angulata e C. sikamea. C. gigas, que apresenta o cariotipo mais simétrico, poderá ser considerada como plesiomórfica. C.

gigas e C. angulata foram durante muito tempo consideradas como a mesma espécie

(Menzel, 1974), da mesma forma que C. gigas e C. sikamea, sendo a última várias vezes considerada como a variedade Kumamoto de C. gigas (Ahmed, 1973). Estudos recentes de genética molecular colocaram em evidência as diferenças entre C. gigas e C. sikamea (Banks et ai, 1994) e entre C. gigas e C. angulata (Boudry et ai., 1998; 0'Foighil et ai,

1998). Os resultados do estudo cariológico aqui efectuado confirmam essas diferenças genéticas.

O segundo grupo agrupa as espécies C. ariàkensis, C. virginica e Saccostrea

commercialis. Através de estudos de filogenia das ostras rugosas, Littlewood (1994),

colocou em evidência duas linhagens: C. gigas, C. belcheri, C. rivularis e C. virginica,

C. rhizophorae e S. commercialis.

0'Foighil et ai, (1995) utilizaram sequências de gene ribossomal mitocondrial 16S para confirmar a divergência genética entre C. virginica, -e_as duas_£ongéneres asiáticas: C. gigas e C. ariàkensis. Ladron de Guevara et ai. (1996) sugeriram que C.

virginica apresenta cacterísticas cariologicas mais primitivas que C. rhizophorae e C. cortiziensis.

Os nossos resultados estão de acordo com a relação entre C. virginica e S.

commercialis, mas não com a posição de C. ariàkensis.

Pelo exposto se pode verificar que a análise cariométrica permite precisar a morfologia cromossómica, e de efectuar comparações através de métodos estatísticos. As técnicas de marcação por bandas, por seu lado, mostraram ser muito úteis na identificação individual dos cromossomas e, também, na identificação de regiões

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