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III ANÁLISE

VISÃO/BRASIL

A DIVERSIDADE NO JEITO DE SE VER O BRASL O BRASIL NOTICIADO E O BRASIL EXPERIMENTADO

MARIA FELÍCIA

Maria Felícia: O Brasil tem muita influência em Cabo Verde, não só em Cabo Verde, mas na África, a gente cresce vendo novelas brasileiras, programas brasileiros que passam em Cabo Verde, aí você já cresce com aquela imagem do Brasil, aqui você vai encontrar pessoas com aquela receptividade, pessoas alegres; nós imaginamos o mundo Brasil como o mundo que passa nas novelas. Aí, “Ah, eu quero estudar no Brasil! Meu sonho é estudar no Brasil!”. Aí, terminei o colégio e...

Entrevistadora: Muitas pessoas fazem esse caminho? De vir para o Brasil?

Maria Felícia: Nossa! O Brasil é... quando você fala do Brasil em Cabo-Verde é aquela coisa: “Brasil!”...

Entrevistadora: Então qual é a imagem do país antes de vir?

Maria Felícia: Que é aquela alegria, pessoas simpáticas, samba, você anda na rua, todo mundo rindo, simpatia, futebol...

154 Maria Felícia: Só alegria, só tinha coisas boas!

Maria Felícia: Nossa, foi muito bom! Não foi aquela coisa que eu esperava; vim com uma expectativa a mais, acho que por essa coisa de você vir esperando, acho que acaba decepcionando, porque você coloca muita coisa em cima do que é o Brasil, o que você vai encontrar, como as pessoas vão te receber e você acaba se decepcionando porque não é assim. Não é aquele Brasil de novela que passa nas novelas, nos programas televisivos. Entrevistadora: Como é esse Brasil que não é o televisivo?

Maria Felícia: O que eu notei é que as pessoas... é muito trabalho, é muito estresse, todo mundo está naquela correria. Na minha sala, por exemplo, eu vinha e não sei se o problema estava comigo, porque até chegar no Brasil eu era muito tímida, tanto é que eu fiquei parada um ano, antes de vir, por que eu não conseguia sair de dentro de casa, porque eu era muito tímida. Aí depois eu decidi, tenho que me libertar, vou fazer o meu curso. Quando cheguei aqui, ficava na sala, sentava sozinha, conversava com duas pessoas... tanto é que eu não tenho muitos amigos na minha sala, eu falo com dois deles, mas não tenho amigos...

MUNIZ

Muniz: Primeiro porque eu tive muito contato com brasileiros lá em Angola mesmo, não cresci, mas estudei numa escola religiosa católica que tinha muitos padres brasileiros, tinha muita gente brasileira, voluntários, muitos outros; bom, esse talvez pudesse ser um dos motivos também, porque tinha gente lá do Brasil; outro ponto também é porque falam a língua portuguesa, também seria um outro; tem outro ainda, porque quando eu recebi essa oportunidade de bolsa, eu estava no interior de Angola, numa província do leste, leste de Angola...

Entrevistadora: E como foi quando você chegou aqui?

Muniz: Para mim foi um pouquinho difícil, porque a princípio eu pensei que fosse ser fácil pela língua, mas nos primeiros dias, primeiras semanas foram difíceis por isso; é português, mas o sotaque ainda era muito diferente, o sotaque, a organização das palavras, a gramática também era diferente e isso dificulta. Eu precisei de mais ou menos duas semanas para me adaptar. Esse foi o meu contato com as pessoas e em São Paulo também as pessoas são fechadas, um pouquinho, isso eu achei num primeiro momento, às vezes quando você conversa, elas se tornam um pouquinho mais aberta com o tempo. Outra dificuldade é que quando a gente chegou aqui sem estadia para morar; a gente teve que se virar com as aulas começando, eu cheguei atrasado um mês, com as aulas começando na PUC; cheguei em março, já tinha começado as aulas, aí eu fiquei: o que eu faço agora, onde eu procuro, porque nem sempre a gente sabe onde procurar casa para alugar, é uma coisa difícil, e depois aqui também tinha que regularizar a situação da polícia, da estadia, da Polícia Federal, com o protocolo; então foi... meu impacto foi meio que agressivo, na verdade, porque não tinha ninguém.

Entrevistadora: Qual a imagem que você tinha antes de chegar aqui?

Muniz: Bom! São várias as imagens que a gente tem, porque lá em Angola a mídia brasileira é muito grande, é intensa mesmo! A Globo, a Record, são as duas emissoras televisivas que estão muito em Angola, só que cada uma transmite algo diferente, como aqui no Brasil, a Globo é diferente da Record. Então eu não tinha uma imagem assim... eu sabia que o Brasil é grande, muita quantidade de pessoas, gente muito alegre, todo mundo que eu conhecia era muito alegre e simpático, não sei se é porque estavam em Angola, mas eram e ainda são agora e um pouquinho das dificuldades com relação às pessoas, por

155 que diziam que no Brasil é difícil em algumas regiões se lidarem com pessoas diferentes, mas isso não afetou em nada para mim.

JUCA

Juca: A gente tem contato com o Brasil não por livros, mas pelas novelas; então as pessoas acabam tendo aquela imagem que acontece na novela que acontece no cotidiano, tanto na criminalidade, quanto na vida social e não é.

Entrevistadora: O que te surpreendeu quando você chegou, que você falou: Puxa, não imaginava que era assim!

Juca: Acho que é mais o cotidiano, a questão social e, embora sendo diferente de um Estado para o outro, mas em São Paulo o que mais me surpreendeu foi isso aqui, que as pessoas são mais na delas!

Entrevistadora: Você acha que as pessoas aqui ficam cada um na sua?

Juca: Uma ou outra, não todas, não posso generalizar; eu tenho bastante amigos, mas na sua maioria, principalmente entre vizinhos, essa coisa, você mora com o vizinho ao lado e o vizinho nem sabe quem é...

Entrevistadora: Isso foi uma surpresa? Alguma coisa que mais foi diferente do que você imaginava que fosse encontrar no Brasil?

Juca: Outra coisa diferente é questão da visão que a gente tem da criminalidade, e que na verdade não é, porque lá a gente já pensa em traficante, vê tiroteio, mas não é.

Entrevistadora: Vocês lá veem tiroteio?

Juca: A visão que a gente tem é que em qualquer canto do Brasil você encontra bandidos, mas na verdade não é.

LORIVAL

Lorival: Mais informação! A gente mais assiste a Tevê Record e você consegue... além de assistir telejornal, novelas, essas coisa, futebol.

Lorival: Quando eu cheguei aqui era tudo estranho, porque eu via era tudo diferente. Pessoas, cheguei aqui vi muita gente! Fiquei assim “como pode ter tanta gente assim”, tipo, eu só sabia pelos livros que o Brasil tinha 190 milhões, mas eu não faço ideia do que é 190 milhões. Quando eu cheguei aqui e vi gente em tanto lugar assim...

Lorival: Me senti perdido!

GLÓRIA

Glória: Brasil, jogador de futebol! E que é um país que está se desenvolvendo e saindo em frente e tipo, faz parte dos países emergentes. É isso que eu sei do Brasil...

Glória: Já que o meu curso é economia, eu pensei “ah, Brasil vai ser muito legal, porque é um país que já vive uma situação errada e está tentando sair dessa situação”.

ANTÔNIA

Antônia: Assim, eu gostei do Brasil, é por isso que eu escolhi o Brasil. Entrevistadora: Você já conhecia o Brasil?

156 Antônia: Só por TV, e a gente também assiste novela, essas coisas.

Antônia: Quando eu cheguei aqui, eu fiquei chocada de ver as pessoas em situação de rua, porque lá a mídia não passa isso para a gente, eles passam apenas os bons momentos, como Copacabana, essas coisas, e todo mundo lá está louco para conhecer o Brasil, mesmo que eu estou aqui agora, se eu falar para uma menina para ele não vir para o Brasil, ele vai me xingar, porque ele vai falar: “ah, você já está lá e você não quer que eu vá”. É isso, tem uma imagem muito grande...

Antônia: Sim! Eu nunca imaginei que vai ter uma pessoa pobre aqui no Brasil nessa situação; porque as imagens que eu vejo lá, eles nunca passaram isso para gente, quando você vê televisão, você vê Copacabana, Ipanema, Rio de Janeiro, São Paulo toda iluminada, eu falava : “nossa, parece que você está no universo mesmo”.

IV ANÁLISE

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