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A designação de Análise de Ciclo de Vida (ACV), em inglês “Life Cycle Assessment” (LCA), foi utilizada pela primeira vez nos Estados Unidos da América (EUA), no ano de 1970, e adotava o nome de “Resource and Environmental Profile Analysis” (REPA) que em português significa Análise do Perfil Ambiental e Recursos (APAR), (Hunt e Franklin, 1996 citados por Ferreira, 2004).

A metodologia Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma compilação e avaliação de entradas, saídas e potenciais impactes ambientais de um sistema ou produto ao longo do seu ciclo de vida. A designação “ciclo de vida” refere-se às atividades no decorrer da vida de um determinado produto desde a sua fabricação, utilização, manutenção, e deposição final; incluindo a aquisição de matéria-prima necessária à fabricação desse produto (Ferreira, 2004).

De facto, a realização de uma ACV pode ser encarada como uma aceitação voluntária por parte dos fabricantes na responsabilidade dos impactes ambientais associados à utilização dos materiais durante todo o ciclo de vida de um produto, desde a sua conceção até ao destino final.

O estudo conduzido pelo “Midwest Research Institute” (MRI) para a Campanha Coca Cola, em 1969, foi um dos primeiros a quantificar as necessidades de recursos, emissões e resíduos originados por diferentes embalagens de bebidas. Este estudo nunca viria a ser publicado devido ao carácter confidencial do seu conteúdo. Contudo, a companhia usava-o como uma entrada na tomada de decisões sobre embalagens, pois uma das conclusões mais relevantes foi a demonstração de que as garrafas de plástico não eram ambientalmente menos favoráveis que as de vidro. De facto, a Análise do Perfil Ambiental e Recursos (APAR) provou que o que outrora foi considerado acerca dos plásticos serem um produto indesejável ao meio ambiente, se baseou em interpretações incorretas da realidade (Hunt e Franklin, 1996 citados por Ferreira, 2004).

Os dados de uma ACV integrados com outra informação, como por exemplo dados relativos a custos, podem auxiliar os responsáveis numa tomada de decisão na seleção de produtos ou processos que resultem num menor impacte ambiental. Contudo, a elaboração desta metodologia requer muitos recursos, prolongando-se no tempo, devendo por isso ser feito um balanço dos recursos financeiros com os benefícios previsíveis. A ACV não determina qual produto ou processo é o mais caro ou funciona melhor e, por essa razão a informação

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desenvolvida deve ser usada como um contributo num processo de tomada de decisão tendo em conta outros fatores (Ferreira, 2004).

A figura 3.1 ilustra os estágios possíveis a ter em conta numa Análise de Ciclo de Vida (ACV) e as entradas/saídas que podem ser consideradas (USEPA, 2001 citado por Ferreira, 2004).

Figura 3.1 – Estágios de uma análise de ciclo de vida de um produto (Fonte: USEPA, 2001

citado por Ferreira, 2004).

O Comité Técnico TC 207 da ISO, criado em 1993 com o objetivo de desenvolver e atualizar a série de normas ISO 14 000, formou o Subcomité 5 (SC5), designado Ciclo de Vida do Produto, publicando as normas ISO 14 040 a 14 049. A norma ISO 14 040 – “Análise do Ciclo de Vida – Princípios e Procedimentos Gerais”, publicada em 1997, especifica as ferramentas metodológicas para a aplicação dos conceitos de ACV. As duas primeiras fases da ACV são abordadas pela norma ISO 14 041 – “Inventário do Ciclo de Vida” e pela norma ISO 14 042 – “Avaliação dos Impactes no Ciclo de Vida”, publicadas em 1998 e 1999, respetivamente. A norma ISO 14 041 estabelece requisitos e recomendações para a fase de inventário, como, por exemplo, o modo como efetuar fluxos entre diferentes funções, como lidar com coprodutos e com vários tipos de reciclagem. A norma ISO 14 042 examina o inventário de entradas e saídas de materiais e de energia para melhor identificar sua significância ambiental. Por fim, a norma ISO 14 043, publicada em 1999, relativa à interpretação do ciclo de vida, analisa a relação que existe entre a ACV e outras técnicas de gestão ambiental (Azevedo, 2009).

Segundo a norma ISO 14 040:1997 a metodologia de ACV é descrita como um sistema faseado desenvolvido em quatro componentes, como indica a figura 3.2. Este instrumento de

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gestão ambiental que permite às empresas/organizações uma melhor compreensão das incidências ambientais dos materiais, processos e produtos, pode conduzir ao desenvolvimento de novos produtos e à identificação de áreas de investigação e desenvolvimento.

Figura 3.2 – Fases de uma análise de ciclo de vida de um produto (Fonte: ISO 14040: 1997).

Segundo a informação disponibilizada no sítio da internet da Associação Portuguesa do Ambiente (APA), esta norma foi alvo de algumas edições e atualizações nos anos de 2005 e 2006, e mais recentemente em junho de 2008. Não estando disponível de forma gratuita ou possível a sua consulta numa versão mais recente, o presente estudo considerou os conteúdos e definições inseridos na sua primeira versão NP ISO 14 040:1997.

Segundo esta norma, a metodologia de Análise do Ciclo de Vida (ACV) possui inúmeras aplicações, desde o desenvolvimento de produtos, à rotulagem ecológica e regulação inclusive a definição de cenários de prioridade e de política ambiental, podendo ser caracterizada da seguinte forma:

i) Definição do objetivo e âmbito: descreve e define o produto, processo ou atividade, estabelecendo um contexto no qual a avaliação deve ser realizada e identifica os limites e efeitos ambientais a serem revistos para a avaliação;

ii) Análise de Inventário: identifica e quantifica as entradas e saídas relevantes como a energia, a água e materiais utilizados e descargas ambientais (como por exemplo emissões para o ar, deposição de resíduos sólidos, descargas de efluentes líquidos);

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iii) Análise de Impacte: analisa os efeitos humanos e ecológicos da utilização de energia, água, materiais e das descargas ambientais identificadas na análise de inventário;

iv) Interpretação: avalia os resultados da análise de inventário e classifica os impactes de modo a selecionar o melhor produto, processo ou serviço com uma exposição clara das incertezas e suposições usadas para gerar os resultados.

A consciencialização da importância da proteção do meio ambiente e dos possíveis impactos associados a um produto fabricado e consumido, tem aumentado o interesse no desenvolvimento de métodos de melhoria na redução desses mesmos impactos. Sendo assim, não existe um método único para a realização de estudos de Análise do Ciclo de Vida. As organizações devem ter flexibilidade para implementar na prática uma ACV conforme estabelecido na norma ISO 14 040:1997, tendo por base a sua aplicação específica e as necessidades do usuário (NP ISO 14 040:1997).

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