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Análise comentada sobre a observação das aulas de Genética

3. METODOLOGIA ANÁLISE DE DADOS E LIMITAÇÕES DA PESQUISA

3.1 OS SUJEITOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

3.1.5 Análise comentada sobre a observação das aulas de Genética

A partir da observação das aulas podemos constar o domínio da professora colaboradora dessa pesquisa diante dos conceitos de Genética, o uso de recursos tecnológicos e interativos no desenvolvimento de suas aulas a participação dos alunos, ou a não apatia, e o estabelecimento de uma relação afetiva com os alunos. A primeira, aula observada foi uma atividade complementar realizada, na biblioteca, no horário noturno, às 20h30min, considerada aula de reforço e com a presença e participação espontânea de todos os alunos. A presença maciça dos alunos constitui-se em um exemplo de predisposição para a prática educativa. Como já foi comentado, sem a reciprocidade do aluno não é possível a construção de uma aprendizagem significativa, ou seja não conseguimos efetivar o aprendizado se o aluno não tiver interesse de aprender. O relacionamento aluno-professor, a motivação do professor, já referida na entrevista pela professora participante da pesquisa, são elementos que possuem grande influência nos processos de ensino aprendizagem (AUSUBEL; HANESIAN; NOVAK, 1980).

A contextualização a partir de situações pode ser observada durante as aulas, sendo as situações segundo Vergnaud, (1993) elemento essencial a aprendizagem, um meio para amplificar os esquemas mentais do sujeito em aprendizado contínuo. A contextualização do campo conceitual da Genética e a participação dos alunos podem ser verificadas a partir de algumas partes da transcrição das aulas a seguir:

“Um caso freqüente que a gente trabalha em pleotropia é a fenilcetonúria. Já ouviram falar? A fenilcetonúria impede que o organismo das pessoas afetadas não consiga converter fenilalanina. Vocês já pararam para ler o que tem no rótulo coca-cola light? Ninguém tem uma lata aí de coca-cola para gente dar uma olhada, por exemplo, ali está escrito contém fenilalanina, quem tomar refrigerante a partir de hoje vai saber que está tomando fenilalanina. Este é um ingrediente do refrigerante. Agora têm pessoas que não conseguem converter fenilalanina, porque elas possuem uma enzima defeituosa de um gene pleiotrópico que produz uma enzima que em vez de converter a fenilalanina ela acumula essa substância e a transforma em um ácido fenilpirúvico. Esse ácido, em grandes concentrações, pode ser acumulado no tecido nervoso e principalmente nas crianças pode causar grandes problemas. A

fenilcetonúria é descoberta já no teste do pezinho, por isso é importante o recém nascido fazer o teste do pezinho.

“O teste do pezinho pode identificar outras doenças professora? Síndrome de Down, por exemplo?”

“Existe outro exame que é bem invasivo que pode ser feito lá pelo terceiro mês de gravidez de gestação, quando é coletado o líquido amniótico só que existe o risco, tem mães que não desejam saber, tem mães que vão criar a criança igual se tiver Down, vai influenciar no aborto, elas preferem não fazer o exame e levar a gravidez a diante, entendeu?

Pôde-se perceber que existe uma grande preocupação da professora com uma avaliação que seja coerente com a forma interativa com a qual conduz as aulas. A avaliação ultrapassa aquela com objetivos sócio-institucional (VILLANI et al., 1997), mas pode ser constada pela forma com que os alunos são avaliados a partir de trabalhos e atividades como documentários, por exemplo; existe a preocupação de mostrar para os alunos as situações que envolvam a aplicação dos conhecimentos de Genética enfatizando a importância de aprenderem para a vida, não apenas para cumprir os objetivos escolares. Na maioria, das vezes a professora avalia através dos trabalhos, mas mesmo assim existem relatos de insucesso, casos de reprovação. A escola possui progressão parcial por disciplina e alguns alunos foram reprovados em Biologia.

“Na maioria das vezes eu aplico trabalhos”

“Eu volto a falar e conto com a vontade de vocês, acho que já valeu a pena ter passado pelo colégio, vocês estão terminando, não cai em prova, porque não vai ter prova, então é por isso o desinteresse relativo, eu acho que meu grande erro foi dizer no início do bimestre que não teria prova, porque isso influencia o aluno, por isso meia dúzia prestou atenção no que eu tinha para falar e os outros acharam que eu não precisaria saber.”

A professora mostra independência em relação o uso do livro didático. Os alunos possuem esse material de apoio em sala de aula que é consultado quando solicitado pela professora, ou espontaneamente. Quando, os alunos são solicitados

a resolverem os exercícios, podem usar o livro didático como consulta, mas alguns ficam descontentes com este material e solicitam a busca de outros livros na biblioteca.

As aulas são coerentes com o discurso da professora na entrevista quando retoma conteúdos trabalhados no primeiro ano do Ensino Médio:

“Vamos voltar para o problema gente, essa substância convertida em ácido fenilpirúvico, como a criança está ainda com o sistema nervoso em formação, ele pode se acumular na medula espinhal e causar lesões cerebrais, além de lesões cerebrais, lesões no tecido nervoso, por exemplo, uma criança que até os quatro anos não teve o diagnóstico para fenilcetonúria e não teve o cuidado ela pode ter problemas de retardo mental e etc e etc. Outra coisa além desse problema de retardo mental essa doença também influencia na pigmentação da pele, as pessoas que são portadoras dessa doença têm a pele clara. Apenas um gene, determinou todos estes aspectos, todos estes fenótipos, isso influenciou em todos estes níveis de formação do indivíduo e por esta razão a gente trabalha esse tipo de gene como gene pleiotrópico. Esse é um exemplo, complexo. Vamos fazer um leitura, isso vocês não têm no polígrafo, por isso eu achei interessante trazer para vocês, se isso não aparece no vestibular aparece na vida.”

A última aula observada envolveu uma atividade sobre a evolução da raça humana; foi solicitado aos alunos que elaborassem uma hipótese de evolução da raça humana e a defendessem, tomando por referência as teorias de Darwin ou de Lamarck. Essa atividade evidenciou a escolha de temas atuais, situações para serem discutidas em sala de aula que possivelmente pode ser alvo de discussões, no que se refere ao conceito de raça envolvendo princípios éticos contribuindo assim para capacitação do aluno para o exercício da cidadania.