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Capitulo I: Aspetos Teóricos do Fundamento da Teoria do Delito

2.1.2 Análise comparativa da problemática da criminalidade em São Tomé

Atendendo que não dispomos de dados estatísticos que correspondam ao total de números de casos da criminalidade e delinquência ocorridos em São Tomé e Príncipe, devido à ineficiência dos instrumentos de medição de que dispomos, apresentaremos somente aquelas estimativas tratadas pelas entidades policiais, descartando aquelas infrações que nem sempre causam vítimas ou mesmo aquelas em que as vitimas não apresentam queixas.

Com tudo isto, torna-se impossível apresentarmos com precisão o todo da criminalidade de delitos perpetrados na sociedade santomense.

A precisão nas estatísticas criminais é um facto que afeta não só São Tomé e Príncipe mas também todos outros países que têm a necessidade de recorrerem ao uso de um instrumento de medição186.

Baseando-nos nos dados obtidos através dos relatórios do Ministério da Defesa e Segurança Pública, demonstraremos a variação e estabeleceremos uma comparação entre os índices da criminalidade registados187 em 2010 em comparação com os registados no ano de 2011.

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Pequenos comerciantes, que regra geral vendem nas ruas, nos passeios e nas bermas das estradas. Normalmente são produtos contrafeitos, contrabandeados, piratas, e quando se tratam de géneros alimentícios, geralmente as datas da caducidade encontram-se vencidas e alteradas.

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Nenhum instrumento de medida, qualquer que seja a sua qualidade, pode garantir neste domínio um registo exaustivo das infrações, seja porque as vitimas nem sempre apresentam queixas, seja porque muitas infrações não causam vítimas, e não podem ser conhecidas senão quando o aparelho policial desenvolve as suas investigações (é o caso, por exemplo do trafico de estupefacientes), seja, enfim, porque as infrações não são tidas em conta nas estatísticas. JEAN DE MAILLARD página 74.

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Note-se que nem todos os crimes perpetrados na sociedade santomense chegam a ser notificados a Policial Nacional de São Tomé e Príncipe.

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A ilustração 5 em anexo, refere-se ao mapa geográfico, criminal e comparativo, referente a 1 de Janeiro de 2010 á 30 de Junho do mesmo ano com relação a 1 de Janeiro de 2011 á 30 de Junho de 2011 segundo os registos da Polícia Nacional de São Tomé e Príncipe.

De acordo com o que demonstramos na referida ilustração em anexo, existe uma média de menos 154 casos de crimes contra a propriedade, sendo que a maioria deles foram perpetrados por jovens entre os 16 e os 25 anos de idade188.

Com relação aos dados referentes a ilustração 6 em anexo, o crime contra pessoas continua sendo o de maior relevância, ainda que tenha existido uma diminuição de menos 25 casos ocorridos em 2011, mesmo assim, o número elevado de crimes continua sendo bastante preocupante desde que a maior parte destes crimes são levados a cabo por jovens entre os 16 aos 25 anos de idade.

Por outro lado, a incidência criminal que segundo os dados policiais teve um decréscimo bastante considerável, foi o do crime contra a propriedade189. As autoridades policiais atribuem este decréscimo ao facto de terem vindo a desenvolver programas de ação policial que garantam uma maior atenção aos cidadãos, e lhes afiancem maior segurança tanto ao nível pessoal como dos bens materiais.

Ora, os dados acima referidos e os que posteriormente demostraremos são somente dados da criminalidade aparente.

Já dizia Jean de Maillard, “ao evocar os números da delinquência, são as estatísticas que se citam”. Mas, estas não revelam a fotografia exata da criminalidade. Longe disso, com efeito, não são registados senão os crimes e delitos trazidos ao conhecimento destes serviços, os quais constituem criminalidade aparente.

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Demostraremos os dados exatos no desenvolvimento deste capítulo.

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Embora, estes dados não englobem os crimes que muitas vezes são perpetrados nos bairros e resolvidos no local sem a intervenção policial. Estes, continuam crescendo longe dos dados estatísticos que chegam ao conhecimento das entidades governamentais e da segurança social em São Tomé e Príncipe.

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Maillard acrescenta ainda que a criminalidade oculta, a das infrações não reveladas, permanece desconhecida por natureza190.Basta saber que um certo número de infrações não é tratado na totalidade pelos serviços policiais.

Neste sentido, de acordo com os dados apresentados em anexo, a tipificação com maior incidência é a do crime contra pessoas, embora haja uma diminuição de menos vinte e cinco casos registados em 2011 em comparação com o ano 2010, continua sendo o tipo de crime mais cometido em São Tomé e Príncipe.

A ilustração número 6 em anexo elucida-nos a forma como estão distribuídos os valores de 707 e 732 dos crimes contra pessoa.

Se a maior parte da criminalidade que ainda permanece oculta chegasse ao conhecimento das autoridades, a cifra da criminalidade contra pessoas, principalmente as ofensas corporais, as ameaças, difamação e calúnias seriam mais elevadas.

Ainda assim, continuam sendo o tipo criminal com maior incidência segundo os dados criminais do Ministério da Defesa e Segurança Pública, mesmo que se tenha registado um decréscimo na ordem de menos 100, menos 30 e menos 18 casos criminais correspondentes aos crimes de ofensas corporais, ameaças e calúnias respetivamente, é de salientar o acréscimo de 30 crimes de difamação no ano 2011 em relação ao 2010, estas modalidades são o reflexo da falta de humanismo, tolerância e agressividade.

O total dos tipos criminais que foram participados às autoridades no ano 2011 relativamente ao 2010, existe uma pequena diferença que pode ser tomada como uma tendência para o decréscimo das taxas desta modalidade criminal na ordem de menos 25 casos.

Dos crimes contra a propriedade, como irá demostrar a ilustração 7 também em anexo, são do tipo criminal que no ano 2011 registou-se o maior decréscimo191.

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Jean Maillard 1994. Crimes e leis, página 12ss.

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Continuamos a fazer referência que esta criminalidade é aparente. O verdadeiro número de criminalidade continua crescendo de maneira oculta, longe dos olhares e conhecimento das entidades policiais.

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De acordo com os dados policiais obtidos através das participações feitas a esta entidade, existe uma forte tendência para um decréscimo de crimes contra a propriedade.

Contribuiu para esta cifra, a diminuição nos crimes de furto, burla e introdução em casa alheia. Estes tipos criminais só por si contribuíram com cerca de menos 109 casos de criminalidade nesta categoria.

A ilustração 8 em anexo mostra-nos os tipos criminais cometidos contra a ordem e a tranquilidade pública. Dados estes colhidos também através das participações feitas à Policia Nacional de São Tomé e Príncipe.

Ainda que a cifra seja ínfima, os cinco casos do uso e porte ilegal de armas que se registaram no ano de 2011, mostram-nos uma tendência para a evolução nos crimes192. Ou seja, alguns tipos criminais estão a recuar para dar lugar a outras modalidades.

Segundo Jean de Maillard, a evolução carateriza-se principalmente pelo aparecimento de novos delitos ligados ao progresso técnico das sociedades, oferecendo desta forma novas formas de oportunidades para a prática de infrações193. Ou seja, os 5 casos que se registaram em 2011 de Uso e Porte Ilegal de Arma é o reflexo das novas tendências criminais. Tal como disse Cusson, “ainda que o grosso da delinquência seja não violenta, não devemos esquecer

que ela abre caminho à criminalidade violenta”.

Fazendo uma breve comparação entre os dados apresentados nas ilustrações números 4 e 5 em anexo, damos conta, que a cifra de alguns dos crimes contra a propriedade e pessoas está a retroceder. Contudo, a incidência tem sido maior no distrito de Água Grande como mostra a ilustração que se segue.

192 Face ao aumento do fenómeno criminal, do vandalismo e do desrespeito pela autoridade de Estado, a

Policia Nacional não tem conseguido ter capacidade de resposta a altura das exigências. Mas é preciso salientar que essa incapacidade prende-se, sobretudo, com enorme falta de meios com que a Policia Nacional enfrenta atualmente. In Relatório do Ministério da Defesa e Segurança Pública.

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Ilustração 9 INCIDENCIAS CRIMINAIS POR DISTRITO. In: Relatório do Ministério da Defesa e Segurança Pública, 2011

As cores demonstram as incidências criminais. Assim, o distrito com o maior índice da criminalidade é o distrito de Água-Grande, a capital do país onde está concentrada a maior parte da população, sendo que grande parte desta é maioritariamente jovem. Assim, sobram o Cantagalo e Caué, distritos com menos ocorrência de criminalidade segundo os dados criminalísticos.

Características dos distritos de maiores incidências criminais:

Elevado número populacional;  Alta taxa de desemprego;

 População maioritariamente jovem;

 Elevada taxa de consumo de bebidas alcoólicas;  Alto índice de pobreza;

Relativamente à variação na distribuição geral do crime registada no interior das principais cidades, a principal característica é a sua concentração no centro e a decrescente incidência em direção à periferia.

De acordo com a teoria de Santos (1997), o crime acompanha o crescimento urbano, sobretudo nas áreas mais consolidadas e junto aos principais eixos estruturantes da cidade. Da mesma forma, Davidson (1983), afirma que a deslocação da população das áreas degradadas para as periferias são as condicionantes que têm vindo a alterar os padrões de incidência dos

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crimes, contribuindo para o aparecimento de mercados de drogas, enfraquecendo as defesas naturais das cidades para com o crime194.

Situação criminal em São Tomé e Príncipe.

O crime constitui sem dúvida, um dos fenómenos contemporâneos que mais tem contribuído para um aumento dos níveis de ansiedade e de insegurança existentes na sociedade. A criminalidade provoca elevados prejuízos materiais e fundamentalmente, consequências físicas e psicológicas que contribuem para um acentuada redução dos níveis de qualidade de vida das pessoas195.

Para além dos danos materiais que o crime provoca, este tende a fazer aumentar sentimentos de medo e de desconfiança que inviabiliza, a existência de valores e de práticas fundamentais de sociedade e de solidariedade social. O crime normalmente não é entendido como uma fatalidade, mas sim, como algo que se traduz numa agressão intolerável à ordem social estabelecida. Ou seja, aos valores, às leis e às normas que se constituem como uma das últimas garantias contra o caos e a desordem total196.

Existe uma variedade desmesurada da realidade criminal em São Tomé e Príncipe, considerando, que, com os dados acima demostrados é possível apontar algumas das realidades criminais em São Tomé: aquela que consiste nos crimes de que foram efetivamente vítimas indivíduos, famílias, grupos, organizações ou instituições; aquela que consiste nos crimes declarados por alguns indivíduos; aquelas que consistem nos crimes que são participados à polícia, que são ou não investigados por esta entidade; aquelas que são ou não enviados para acusação; aquela variante criminal que consiste nos crimes que vão a julgamento e que resultam ou não numa condenação para os respetivos autores, e por fim, na

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ANA SANI E MARLENE MATOS. Oportunidade e crime. In: Atas do congresso crimes ibéricos. Crimes, práticas e testemunhos. Página 57.

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EDUARDO VIEGAS FERREIRA 1997. Características e tendências da criminalidade portuguesa. Página 10

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Ibidem. As conjunturas marcadas por uma elevada instabilidade socioeconómica e cultural e, consequentemente, por incertezas quanto ao sentido da vida e do mundo, tal como ele existe, sempre provocaram, entre outras consequências, um maior desejo de segurança.

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variante criminal que consiste nos crimes que são divulgados pelos meios de comunicação social.

Estes últimos, estão longe de constituírem a realidade criminal real de são Tomé e Príncipe, na medida em que refletem invariavelmente, apenas os crimes mais exóticos ou aqueles que tiveram consequências espetaculares ou violentas.

Estes crimes são por norma, excecionais e estatisticamente irrelevantes, a «realidade criminal mediática», é por esta razão, aquela que normalmente mais se afasta da criminalidade «real»197.

A realidade das estatísticas da justiça, em que estão registados os crimes que são participados às diferentes autoridades policiais e aqueles que chegam à fase do julgamento, ou seja, a tribunal, também se constitui, normalmente, como uma realidade criminal distorcida198.

2.1.3 A família como a instituição encarregada da primeira educação dos