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Análise comparativa dos custos totais de produção em ambos os PAD’s

Mediante a observação dos dados expostos nas tabelas 03 e 06, as quais mostram a estrutura da composição geral dos custos praticados pelos PAD’S Boa Esperança e Humaitá, observamos que em ambos os Projetos, os custos apresentam-se com a mesma faceta, ou seja, os custos fixos são providos de percentuais superiores aos variáveis. Desse modo, o elemento que vem diferenciar um PAD em relação a outro é exatamente o volume quantitativo de cada custo em caráter individual, pois se analisarmos, especificamente, os custos fixos do Projeto Humaitá veremos que estes são bastante expressivos, denotando um elevado índice de capitalização. No Projeto Boa Esperança, estes custos apresentam um volume inferior, resultando num menor grau de capitalização. Estes dados apontam que gastará mais na produção quem tem maiores condições financeiras para isso.

Percebe-se, então, que quanto maior for o volume da composição dos custos, mais elevado será o nível de capitalização da UPF, pois no caso específico do PAD Humaitá, o fato dos custos serem elevados está intimamente embutido ao fato de que neste Projeto há maior facilidade de acesso a outras localidades e, por conseguinte, existe a possibilidade de se comercializar e investir na produção sem que se tema sobre a presença de prejuízos. Daí é que se registra um considerável volume de investimentos com a aquisição de insumos, transporte, beneficiamento e serviços; ao passo que no PAD Boa Esperança, devido a enorme dificuldade de transporte e comercialização, estes índices são menos expressivos.

Tabela 7 – Medidas de resultado e eficiência econômica

PAD's Unidade LE* IEE*

Humaitá R$/mês 48,05 1,17

Boa Esperança R$/mês -23,27 0,83 *Valores medianos

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Conforme tabela acima, as UPF’s do Projeto Humaitá apresentaram eficiência econômica, demonstrada pelo índice de 1,17, significando que para cada um real (R$ 1,00) gasto na produção foi obtido um real e dezessete centavos (R$ 1,17) de retorno, portanto, dezessete centavos (R$ 0,17) de excedente, obtendo assim, um lucro mensal de quarenta e oito reais e cinco centavos (R$ 48,05). Todavia, esta situação não foi verificada no Projeto Boa Esperança, o qual teve que pagar para produzir.

A vantagem econômica alcançada pelo PAD Humaitá em relação ao Boa Esperança pode ser explicada pela divergência nos aspectos referentes às vias de acesso, eletrificação do meio rural e proximidade do município de Rio Branco, maior mercado em potencial de consumo daquilo que se produz no Projeto. Importa destacar que estes fatores são agentes externos ao processo produtivo e que para a sua resolução independem do querer dos produtores rurais.

Ao observar a figura 1, nota-se que o mau desempenho econômico obtido pelo PAD Boa Esperança é fortemente compensado pelo autoconsumo praticado neste Projeto, pois ali, devido a motivos relacionados à dificuldade de acesso e distância do mercado, não há como se vender a produção, restando um maior volume desta para subsistência da família. Assim, os produtores deste PAD usam o autoconsumo como forma de se compensar um resultado econômico ruim, além de se manter no lote garantindo pelo menos a satisfação das necessidades básicas de sua família. No PAD Humaitá o autoconsumo é menos expressivo, demonstrando que pelas melhores condições de acesso ao mercado a maior parte da produção foi comercializada.

R$ 176,52

R$ 157,94

Boa Esperança Humaitá

Figura 1 - Participação do autoconsumo/mês nas UPF’s dos PAD's Boa Esperança e Humaitá

Diante das constatações apontadas pelos dados pesquisados, percebe-se que a hipótese da pesquisa se confirma, pois se torna patente que devido a fatores externos às decisões dos produtores (boa localização geográfica, fácil trafegabilidade, eletrificação do

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espaço rural, entre outros), um PAD consegue se estruturar melhor e obter vantagens no que se refere ao nível de desenvolvimento econômico, pois a possibilidade de se vender a produção se faz sempre presente, o que diminui os impactos causados pelos custos produtivos tornando possível a permanência de um bom desempenho econômico. Não obstante, torna-se imperioso que aqueles produtores que não gozam destes amparos, requeiram junto às autoridades competentes as suas condições de cidadãos e com isso, minimizar as agruras sofridas na vida do campo.

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V - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a década de 60, a região Amazônica e o Acre serviram como válvula de escape para a expansão da fronteira agrícola que estava em vigência neste período. Este tipo de situação trouxe para esta região uma série de conflitos sociais e transformações econômicas.

A política desenvolvimentista desencadeada pelo governo acreano nesta época atraiu para esta localidade vários tipos de ocupantes, vindos dos mais variados cantos do país, dentre os quais destacavam-se os sem terras, os fazendeiros e especuladores de terras de regiões mais desenvolvidas; o que por sua vez, culminou numa série de conflitos entre estes compradores de terras e os povos tradicionais da floresta (índios, posseiros e seringueiros).

Com o propósito de erradicar essas tensões sociais, os governos federal e local uniram-se e através do INCRA, resolveram dar início a implantação de Projetos de Assentamento Dirigidos (PAD’s) no Estado do Acre.

Os PAD’s foram criados com o intuito de fixar na terra a mão-de-obra expropriada e expulsa dos seringais, bem como absorver aquelas vindas de outros lugares e que tivessem o interesse de se instalar aqui e tirar o sustento de suas famílias. As maiores pretensões governamentais ao se criar os PAD’s, eram que estes pudessem garantir renda e sustentabilidade econômica e social às famílias assentadas, tornando-as independentes e integradas à economia dos respectivos municípios aonde estes PAD’s foram implantados.

Entretanto, nem todos os Projetos receberam a devida assistência e, por falta de maior apoio pelo setor público, pouco tem sido feito no sentido de implementar um sistema agrícola comunitário que garantisse a todos os PAD’s oportunidades igualitárias de desenvolvimento.

Por isso, fez–se necessário observar os índices referentes ao desenvolvimento econômico dos Projetos de Assentamento Dirigidos e, desse modo, analisamos o desempenho dos custos totais de produção, praticados pelos produtores dos Projetos Boa Esperança e Humaitá no período de maio de 1996 a abril de 1997.

No decorrer desta pesquisa de campo, ficou patente que a grande maioria das unidades de produção familiares (UPF’s), eram compostas por pequenos produtores rurais, os quais, tinham o domínio sobre a terra em que vivem e os seus instrumentos de trabalho; não se constatou a presença de mão-de-obra qualificada nas propriedades pesquisadas, as quais eram de pequeno porte e aplicavam pouca ou nenhuma tecnologia no processo produtivo, fato este, que pode contribuir para a existência de elevados custos na produção. Estes aspectos

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revelam que neste Estado, os agricultores trabalham sob condições desfavoráveis, onde os custos produtivos são elevados e não há uma definição de política governamental voltada para a minimização dos custos através da implantação de novas tecnologias, eletrificação do espaço rural, assistência técnica e capacitação dos agricultores, além da falta de melhores condições da malha viária, o que em muito ajudaria no processo de escoamento da produção e melhor acesso a outras localidades.

Constatou-se que o bom desempenho econômico do PAD Humaitá ocorreu devido a presença de todos ou parte destes amparos já citados, além da constante possibilidade de se vender a produção e se minimizar os impactos causados pelos custos produtivos. Por outro lado, os produtores do PAD Boa Esperança, por questões relacionadas ao isolamento geográfico, descaso das autoridades públicas, baixa qualificação dos produtores e outros aspectos econômicos não conseguiram obter tal êxito, urgindo dessa forma que medidas paliativas sejam implementadas de modo a possibilitar a estes agricultores a garantia de viabilidade econômica e o bem estar de suas famílias.

Dado o exposto, faz-se necessário a implementação de políticas públicas que facilitem o processo de comercialização e, ao mesmo tempo, reduzam os custos produtivos, aumentando o rendimento do pequeno produtor, permitindo assim o maior usufruto do suor de seu trabalho.

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