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Análise Comparativa Entre os Estudos Nacionais e Internacionais

3.2 Formação de Estratégia em Organizações do Terceiro Setor

3.2.3 Análise Comparativa Entre os Estudos Nacionais e Internacionais

Tanto em estudos Nacionais como Internacionais que tenham como foco a formação das estratégias no Terceiro Setor, é muito premente a discussão do processo de profissionalização pelo qual vêm passando a maior parte dessas organizações.

A partir da revisão da literatura, observa-se a análise e o aprofundamento de diversos aspectos inerentes ao processo de profissionalização, tais como: o desenvolvimento de planejamentos estratégicos formais (e conseqüente formalização de metas, objetivos e procedimentos), burocratização, busca por eficiência operacional e administrativa, orientação para resultados e formas de mensurá-los, desenvolvimento de uma linguagem própria das empresas de mercado, análise do ambiente competitivo, além da utilização de ferramentas de marketing, estratégia empresarial e tecnologia da informação, tanto na gestão das ONGs como na captação de recursos.

Entretanto, embora a literatura internacional aponte algumas causas de uma eventual resistência das ONGs ao processo de profissionalização, não discute os possíveis efeitos negativos do mesmo. Diferentemente dessa postura de mera observação do fenômeno, os autores brasileiros apresentam uma análise bastante crítica e reflexiva. Além disso, resgatam as características e os elementos que fundamentaram o surgimento e o desenvolvimento do Terceiro Setor e os contrapõem ao discurso e à tendência atual, evidenciando o conflito. Neste sentido, apontam que a conformação do Terceiro Setor à lógica empresarial pode trazer riscos, dentre os quais: diminuição da liberdade, autonomia e potencial político das ONGs, distorções quanto à natureza da gestão demandada na esfera social, debilitamento do seu caráter alternativo e contestador, além do enfraquecimento das características iniciais das ONGs (descritas acima).

Um aspecto do processo de profissionalização que foi analisado com destaque, tanto pelos estudos nacionais como internacionais, foi a importância do marketing nas Organizações do Terceiro Setor. É predominante o reconhecimento, por parte das ONGs, dos benefícios que podem ser obtidos através de esforços em marketing. Esses esforços têm impactos diretos sobre o grau de visibilidade das instituições, facilitando, em grande medida, os esforços de captação de recursos.

Embora a importância das redes interorganizacionais tenha sido abordada em estudo internacional, foram estudos brasileiros que apresentaram um levantamento detalhado comprovando a intensidade das relações entre as ONGs. Esses estudos apontaram, ainda, a existência e a importância de instituições que fomentam o intercâmbio de informações, bem como a presença de inúmeras redes de parcerias e a formação de múltiplas alianças.

Os estudos que analisam a liderança no Terceiro Setor concordam quanto à centralidade do executivo chefe tanto como pilar psicológico, servindo de apoio e inspiração aos outros atores organizacionais, bem como guardião da visão e identidade organizacional frente aos desafios e transformações do ambiente. Além disso, ele desempenha um papel crucial no processo de captação de recursos, sendo reconhecido como representação física dos valores organizacionais, tendo

bastante força para articulação política e mobilização de agentes financiadores. Ainda que as ONGs contem com uma estrutura específica para a captação de recursos, o líder da organização continua tendo um papel central e decisivo no sucesso dos financiamentos.

Apesar dos estudos brasileiros reconhecerem que existe uma crescente competição por recursos, não há pesquisas no país que abordem a questão com profundidade. Já os estudos internacionais apresentam uma análise mais ampla das dinâmicas competitivas, apontando e aprofundando diferentes aspectos, tais como competição por financiamento, competição por pessoal e competição por influência e prestígio. Eles registram a importância de cada um destes pontos para o sucesso organizacional e destacam como as ONGs vêem na diferenciação uma importante estratégia de sobrevivência e crescimento.

Os estudos internacionais mostram que os processos de emersão de estratégias, descritos através de casos de transformação e adaptação organizacionais, têm grande importância no Terceiro Setor, dada sua grande vulnerabilidade em relação ao ambiente externo. Observa-se que a formação das estratégias é, em grande parte, decorrente das demandas externas e que turbulências no ambiente afetam diretamente a relação entre estratégia e estrutura nas ONGs. Os movimentos de profissionalização analisados anteriormente são um exemplo de como pressões ambientais foram determinantes para o processo de emersão de novos padrões organizacionais. Criar e manter o apoio aos objetivos das ONGs requer uma grande sensibilidade às transformações das demandas sociais e aos interesses dos mais diferentes stakeholders. Entretanto, é importante ressaltar que a atenção às novas demandas de todas as instâncias com as quais as ONGs se relacionam deve estar apoiada em uma identidade e em valores muito claros, que são os elementos condutores das novas estratégias que vão emergindo.

Esses processos de análise, reconhecimento, negociação e diálogo com o ambiente, que vão construindo, moldando, adaptando e alterando as estratégias ao longo do tempo, constituem excelentes exemplos de estratégias emergentes, cuja

fundamentação teórica foi extensamente discutida no início desse trabalho e cuja validação prática será analisada posteriormente nos estudos de caso.

Embora a presença de estratégias emergentes no Terceiro Setor possa ser identificada, ainda que de forma implícita, em alguns estudos, foi Balarine (2004) quem deu destaque e abordou, de forma explícita, as estratégias emergentes em uma ONG brasileira. Além de apontar um caso específico, o autor apresenta uma reflexão a respeito das causas e da importância dos processos de emersão de estratégia, diante das particularidades do Terceiro Setor.

Analisando-se, de forma ampla, os principais focos de interesse dos estudos apresentados, observa-se que tanto estudos nacionais como internacionais destacam três aspectos importantes do processo de formação da estratégia em ONGs. São eles: profissionalização e planejamento; competição por recursos e o papel da liderança. Os processos de emersão de estratégia são analisados de forma explícita apenas por um estudo brasileiro, mas pesquisas nacionais e internacionais fornecem um amplo material, apontando os aspectos emergentes dos processos de formação das estratégias.