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CAPÍTULO 3. CARACTERÍSTICAS DA MOLA AUTOMOBILÍSTICA

6.3 ANÁLISE COMPARATIVA GERAL

Como se pode ver na Figura 96, e após ter observado a análise comparativa entre as tensões residuais obtidas pela modelagem numérica do JCG com os ensaios experimentais (Figura 92) e as modelagens numéricas de outros autores (Figura 93), se podem ressaltar dois aspectos.

O primeiro aspecto, é que os valores de tensões residuais na superfície e máxima de compressão (gerados pela modelagem numérica do JCG ou do JCGST) resultaram, na média, maiores em 60% e 100% do que as tensões residuais medidas experimentalmente. Além do

mais, a profundidade de camada de tensões residuais de compressão obtida na modelagem numérica é menor (em quase 50%) do que a obtida experimentalmente. Esta ocorrência não é exclusiva das modelagens numéricas desenvolvidas neste trabalho, senão se observa também, a mesma ocorrência, nas modelagens numéricas do JCG desenvolvidas por outros autores que pesquisam este processo já faz bastante tempo (MEGUID; SHAGAL; STRANART, 1999, 2002, e GUAGLIANO, 2001) ou por autores de pesquisas mais recentes (ELTOBGY; NG; ELBESTAWI, 2004, MAJZOOBI; AZIZI; ALAVI NIA, 2005, e HONG; OOI; SHAW, 2008). Apesar destas diferenças, pode-se observar, qualitativamente, que a energia de deformação geradas na superfície das molas analisadas pelas técnicas experimentais, representada pela região determinada abaixo da distribuição de tensões residuais ao longo da profundidade, é semelhante à energia gerada na modelagem numérica. Em outras palavras, aparentemente na modelagem numérica o alvo absorveu a mesma quantidade de energia de deformação pelo impacto das granalhas que nos corpos de prova analisados experimentalmente. Um aspecto que não foi considerado em todas estas modelagens numéricas é o amolecimento do material pelo alto grau de deformação. Este amolecimento aparece durante a deformação plástica, na qual ocorre o deslocamento dos átomos dentro do grão. O aumento da tensão necessária se deve à força para provocar o deslizamento entre os átomos do grão. Porém, quando a área deslizante vai ficando reduzida, a força necessária para continuar a provocar o deslizamento é menor, o que ocasiona o amolecimento do material (TSENG, 1993). Este amolecimento do material aparece como um declive na curva tensão real - deformação real depois de ultrapassar o limite elástico para valores altos de taxa de deformação, acima de 5×103 s-1 (WULF, 1978). Este fenômeno aparece em materiais sob grandes deformações de estrutura cristalina FCC e BCC como aços, cobre, alumínio etc (IIDA; TOSHA, 1996), no entanto, só nos últimos anos apareceram algumas teorias para explicar este comportamento (COTTRELL, 2001). Outro aspecto a ser considerado é a influencia da taxa de deformação sobre a tenacidade do material, o que faz com que o material deixe de se comportar como dúctil e passe a se comportar como um material frágil à medida que aumenta a velocidade de deformação. Isto compromete a capacidade de absorção de energia de impacto do material base e, portanto, a configuração das tensões residuais resultantes após o múltiplo impacto de granalhas, visto que a medida que diminui a capacidade de absorção de energia de impacto do material se presume será necessário um maior numero de camadas para absorver a energia depositada pela granalha resultando em uma maior penetração de impacto, ou seja, maior profundidade de camada com tensões residuais de compressão. Acredita-se que um efeito parecido pode ter a implementação das

propriedades elasto-plásticas e dinâmicas da granalha visto que a medida que aumenta a resistência do material pela alta elevação da taxa de deformação, e conseqüentemente a resistência do material a ser penetrado pelo impacto da granalha, é também elevada a resistência da granalha pela mesma razão. Isto permitiria ao mesmo tempo uma moderação no nível dos valores de tensões residuais. Cabe mencionar, um outro aspecto que não foi considerado na modelagem numérica que é o do aumento da temperatura. Durante o processo de JCG das molas automotivas usadas como espécimes nesta pesquisa, notou-se que o incremento de temperatura na mola toda, imediatamente depois de sair da câmara de jateamento, não é nada desprezível podendo atingir temperaturas dentre 60 e 70ºC. Fazendo uma análise simplificada de transferência de calor, estima-se que a temperatura da superfície da mola, enquanto está sendo tratada, pode chegar até 90ºC, Apêndice K. Esta temperatura é suficiente para alterar as propriedades mecânicas da superfície da mola tratada por JCG, como foi mostrado no trabalho de Ruy (2003) na qual inúmeras molas automotivas foram tratadas por JCG a quente considerando temperaturas dentre 25 a 300ºC. Observou-se neste trabalho que o aumento da temperatura da superfície tratada por JCG causa um abrandamento do material que permite uma maior penetração da granalha no momento do impacto e, portanto uma melhor distribuição da deformação plástica induzida ao longo da profundidade da superfície alvo. Finalmente, outro aspecto que poderia influenciar fortemente na distribuição de tensões residuais resultantes da modelagem é o progressivo aumento do dano do material ao longo da aplicação dos impactos de granalha. Como foi constatado no trabalho de Calle e Machado (2003), no qual foi desenvolvida uma análise metalográfica da seção de uma chapa de material ABNT 1070 submetida ao JCG, o processo de jateamento causou uma agressão à superfície tratada, em até 0,5 mm profundidade, a qual consiste no aparecimento de pequenas fissuras na superfície e no interior das camadas superiores de material da chapa tratada. Esta deterioração do material acaba diminuindo a suas propriedades mecânicas do material permitindo uma maior penetração do efeito do impacto da granalha. Por outro lado, como foi comentado na revisão bibliográfica, no trabalho de Frija et al. (2006) demonstra que o dano no material não afeta os resultados da modelagem numérica do JCG do aço ABNT 4340. Unicamente este mesmo aço foi empregado na modelagem numérica do JCG por outros autores com sucesso, o que leva a pensar que, no caso particular deste material, o aço ABNT 4340 não é afetado pelo dano. Isto reforça a idéia de que a consideração do dano afetaria os resultados da modelagem numérica do processo de JCG aplicado no aço ABNT 5160. Portanto, o amolecimento do material, o dano do material e o aumento da temperatura durante o processo de JCG podem explicar o aumento progressivo da espessura de camada encruada

conforme aumenta o tempo de exposição do componente tratado por JCG, o que, segundo a modelagem numérica do JCG, não seria possível. Esta impossibilidade se deve a que, conforme aumenta o número de impactos de granalha, uma camada superficial resistente, criada pelos primeiros impactos de granalha (camada com altos valores de tensão residual compressiva e alto grau de deformação plástica), inibe as camadas mais profundas do efeito dos impactos posteriores.

O segundo aspecto, é que apesar de as tensões residuais medidas experimentalmente, pela técnica de difração de raios-X e pela TFIC, concordam quase no mesmo valor de profundidade de camada de tensões residuais de compressão, as tensões medidas pela técnica de difração de raios-X mantêm seu valor a maior profundidade, enquanto que as medidas pela TFIC diminuem rapidamente à medida que aumenta a profundidade. Como foi observado na análise das deformações elásticas e plásticas, induzidas pelo JCG e pelo JCGST, da modelagem numérica, as tensões residuais de compressão, nas direções X e Z, são conseqüência direta das deformações elásticas remanescentes nas mesmas direções, as quais, por sua vez, são geradas pelas deformações elásticas remanescentes na direção Y induzidas pelo impacto de granalha. A técnica de difração de raios-X, como foi comentado no procedimento de medição, é um método que consegue medir somente as tensões residuais na superfície do espécime analisado. Por este motivo, esta técnica é acompanhada de remoções sucessivas de camada de material para medir as tensões a várias profundidades. Porém, quando uma camada de material é removida de uma superfície tratada por JCG, além de o espécime sofrer um rearranjo na distribuição das tensões, as deformações elásticas na direção Y, as quais são maiores que zero abaixo da superfície, são liberadas e agem puxando a camada nova revelada para abaixo incrementando o valor de tensão residual de compressão original que tinha a camada nova. Isto faz com que as sucessivas camadas reveladas pela remoção sofram este efeito e descrevam uma distribuição de tensões residuais aumentada abaixo da superfície.

CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A seguir são apresentadas as conclusões e recomendações desta pesquisa, as quais são dirigidas à analise da natureza das tensões residuais induzidas pelos processos de jateamento com granalha (JCG) e jateamento com granalha sob tensão (JCGST), à modelagem numérica pelo MEF destes processos e à avaliação experimental das tensões residuais.

7.1 CONCLUSÕES

As principais conclusões inferidas neste trabalho foram as seguintes:

A modelagem numérica acabou sendo mais complexa do que se esperava. Ainda tendo em conta o grande numero de variáveis dos processos de JCG e JCGST nas modelagens numéricas desenvolvidas neste trabalho, as tensões residuais resultantes desta modelagem se mostraram diferentes das obtidas experimentalmente, porém próximas aos resultados das modelagens numéricas de outros autores para condições semelhantes;

A consideração dos múltiplos impactos nas modelagens numéricas dos processos de JCG e JCGST mostrou representar de forma mais fidedigna o mecanismo de introdução de tensões residuais que ocorre no processo real de jateamento de granalha, pois inclui a progressiva deformação pelos impactos sucessivos e o efeito de impactos contíguos.

A avaliação da distribuição de tensões residuais por meio da estimativa da média dos perfis de distribuição por regiões de impacto, resultou ser mais significativa do que a avaliação da distribuição de tensões residuais unicamente em um ponto, como é feita por outros autores;

Por meio da análise das tensões induzidas durante o jateamento com granalha sob tensão (JCGST), verificou-se que a aplicação de uma pré-carga incrementa o valor das tensões residuais na direção Z (direção da tensão induzida pela flexão), enquanto que as componentes das tensões residuais nas outras direções ficam com tensões residuais equivalentes à aplicação do JCG simples sem pré-carga. Por este motivo, a avaliação experimental das tensões residuais induzidas pelo processo de JCGST, diferentemente das tensões residuais induzidas por JCG, requer a medição das tensões residuais em ambas as direções (X e Z);

Cabe ressaltar que a modelagem numérica do JCGST é inovadora, inclusive dentre as investigações numéricas computacionais sobre os processos de jateamento desenvolvidas, recentemente, por outros autores;

A avaliação experimental mostrou que as distribuições das tensões residuais obtidas pelas técnicas de difração de raios-X e pela TFIC apresentam valores aproximados de tensão residual na superfície, sendo que, ao longo da profundidade, os resultados obtidos pela técnica de difração de raios-X se mantêm, enquanto que as medidas pela TFIC diminuem;

Presume-se que os valores de tensão residual, ao longo da profundidade, obtidos pela TFIC sejam mais significativos do que os obtidos pela técnica de difração de raios-X, pois esta técnica não envolve remoção de camadas e, por conseguinte, distorcem menos o campo de tensões residuais induzido pelos processos de jateamento durante a medição.

O mecanismo de furação, desenvolvido neste trabalho, junto com a técnica do furo incremental cego se mostraram adequados para a medição das tensões residuais induzidas pelo processo de JCG e de JCGST. Constatou-se, também, a necessidade de um controle apurado das variáveis geométricas (diâmetro de furo e as distâncias de cada um dos extensômetros ao centro do furo) na obtenção de resultados precisos. A análise comparativa mostrou também uma proximidade entre os perfis das distribuições de tensões residuais obtidas pela modelagem numérica com os obtidos experimentalmente pela TFIC, especialmente no caso do JCGST, ainda que essa proximidade só se reflita na profundidade de camada com tensões residuais de compressão e na tensão residual na superfície.

Supõe-se que a modelagem numérica do jateamento possa ser aperfeiçoada considerando o efeito do amolecimento do material, diminuição da tenacidade pelas altas taxas de deformação, influência da temperatura decorrente do jateamento e a introdução das propriedades elasto-plásticas e dinâmicas do material da granalha. Estas considerações permitiriam maior absorção da energia gerada pelo impacto de granalhas, aumentando a profundidade da camada de encruamento e diminuindo o nível das tensões residuais induzidas;

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