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1 INTRODUÇÃO

5.1 ANÁLISE COMPARATIVA DO PROJETO GRÁFICO

A partir desta etapa do trabalho será chamado Texto A a edição integral de Raptado181 e Texto

B182 a edição adaptada.

O primeiro aspecto a ser observado será as capas dos livros. A capa do texto integral em azul mais saturado e menos saturado e com a presença de um homem em primeiro plano com um mosquete (arma de fogo antiga, com o feitio de espingarda, porém muito mais pesada) mirando diretamente quem está ao lado do leitor convoca-o a participar de uma narrativa de guerra, ou pelo menos, de aventura, sem efetivamente tornar-se o alvo da ação bélica. O mapa em segundo plano dialoga com o período histórico que ambienta a narrativa: os levantes jacobitas que envolveram a política e por consequência os territórios de Escócia, Inglaterra e Irlanda, países da Grã-Bretanha.

Enquanto a capa da obra adaptada, em muitas cores, dirige-se, por meio da tentativa da criação de uma relação especular, diretamente ao ato de ler, ao qual convida o interlocutor, sem nenhuma referência à narrativa do livro. Abaixo da faixa verde em que repousa o título do livro e o nome do autor, ambos ao lado da logomarca do Programa Literatura em Minha Casa (cuja configuração é um conjunto de três livros em vertical com um livro aberto sobre esses formando uma representação icônica de uma casa), é possível observar um jovem, vestindo calças, camisa, suéter e calçando tênis, confortavelmente deitado, recostado sobre um travesseiro e acompanhado de um gatinho. Todo esse cenário remete à leitura pelo prazer, feita num ambiente confortável – possivelmente uma casa – sem compromisso com o processo de escolarização, ou seja, trata-se da constituição da representação de uma prática a qual o possível leitor é convidado a repetir. Mais do que a capa de um livro, trata-se da capa de um programa de política pública de formação.

181 STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.

182 STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

Figura 15 - Capa de João Batista de Macedo Junior para a edição integral

Fonte: STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

Figura 16 - Capa de Cecília Esteves e Sabrina Hollo para a edição adaptada.

Fonte: STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

Os demais elementos dos projetos gráficos podem ser assim descritos:

Projeto gráfico

Aspecto observado Texto A Texto B

Formato do livro 22 x 15,5 cm 20, 8 x 13,7cm

Tamanho da fonte 10 12

Tipo de fonte serifada não serifada

Cor da fonte Preta Marrom café

Espaçamento entre linhas Proporcionalmente maior Proporcionalmente menor

Número de páginas 152 126

Número de capítulos 30 25

Ilustrações — 06, ocupando 06 páginas

Diagramação

Abertura de capítulos caracterizada por maior espaçamento entre linhas

Abertura de capítulos marcada pelas vinhetas

Tipo de impressão Off set Off set

Tipo de papel areia 70g/m2 branco 70g/m2

Encadernação Brochura com lombada sem nenhuma informação Brochura com lombada sem nenhuma informação

Cores da impressão Uma cor no miolo e duas cores na capa Uma cor no miolo e policromia na capa

Capa

Ilustração em tons de azul de um homem segurando uma arma.

Ilustração colorida de um adolescente lendo, deitado, ao lado de um gato.

Informações da capa Título, autor, tradutor e nome da editora

Título, autor, editora e logomarca dos programas PNBE e Literatura em minha casa.

Projeto gráfico

Aspecto observado Texto A Texto B

Dados sobre o autor — 02 páginas ao final do livro

Notas explicativas Glossário em notas de

rodapé —

As características do projeto gráfico descritas acima nos permitem, preliminarmente, perceber que há um conjunto de diferenças entre as edições. A existência de uma edição dirigida especialmente aos jovens leitores – sustentada pela existência do texto adaptado – sugere que há um modelo de leitor esperado para essa obra: “uma estrutura do texto que antecipa a presença do receptor”.183 Tomando o objeto livro como ponto de referência para uma primeira análise,

conclui-se que: aos jovens leitores devem ser dirigidos textos mais curtos, compactos, devido à redução das páginas do livro, acrescido do tipo e do tamanho da fonte e das linhas mais curtas.

No projeto gráfico da adaptação há a existência de um conjunto de ilustrações,184de autoria do

quadrinhista e ilustrador, Osvaldo Sequetim,185 a maior parte com função narrativa

representando uma cena, uma ação da narrativa verbal e uma menor parte com função descritiva já que se trata de um conjunto de mapas acompanhados da trilha percorrida pelo personagem principal – David Balfour – enquanto vive suas aventuras.

As ilustrações narrativas dialogam com o texto verbal de forma diretiva. Caracterizam-se basicamente pela representação de espaços ou objetos pouco habituais aos leitores: calabouços, navios, cavaleiros ornamentados, e acabam por cumprir uma função orientadora da leitura.

183 ISER, op. cit., p.73.

184 Para classificar as ilustrações tomou-se como referência CAMARGO, Luis. Ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Lê, 1998.

185 Osvaldo Sequetim ilustrou dezenas de livros de literatura infantil, como Perigo na Missão Rondon, de Assis Brasil, Editora Moderna (1996); Passa, passa, passarinho, de Nery Reiner, Editora Nova Espiral; Acontece cada

uma, de Tatiana Belinky, Editora Paulinas (1990); Charalina, de Nelson Albissú, Editora Paulinas (1990), e livros

As ilustrações descritivas, segundo Camargo (1998, p.35) são encontradas predominantemente em livros informativos e didáticos e têm a função de orientar o leitor para que o acesso às informações seja de certa forma garantida, quando não pelo texto verbal, pelo texto não verbal.

Figura 12 - No mar, a bordo do Covenant

Fonte: STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003. p.37.

Figura 13 - A morte da Raposa Vermelha

Fonte: STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003. p.78.

Figura 14 - Mapa ilustrativo da viagem de David Balfour

Fonte: STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003. p.71.

Assim como o jovem leitor precisa dos mapas de orientação para não se perder durante a leitura, a editora preocupa-se em apresentar informações sobre o autor – Robert Louis Stevenson – e seu contexto de criação, nas páginas finais do livro, também como elemento que podem guiar o leitor previsto.

Mas, apesar da preocupação com a autoria, a indicação, de que se trata de uma adaptação encontra-se somente na ficha catalográfica e na folha de rosto está em vazado (branco) sobre uma retícula de 20% na cor marrom café o que dificulta a leitura pelo reduzido contraste entre figura (texto) e fundo (página), o que é um importante indicativo de como essas obras têm chegado aos leitores: como substitutivos dos textos integrais.

Figura 15 – Folha de rosto da adaptação de Raptado

Fonte: STEVENSON, Robert Louis. Raptado. Tradução de Agripino Grieco e adaptação de Lígia Ricetto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

A organização de um glossário: “pequeno léxico agregado a uma obra, principalmente para esclarecer termos pouco usados e expressões regionais ou dialetais nela contidos”186 em notas

de rodapé, no texto integral é um indicativo de que Raptado, escrito no século XIX é uma obra cujos enunciados estão recheados de palavras pouco usuais aos leitores do século XX, ou XXI: os vocábulos barrete, vau, engazopar, são exemplos. No entanto, da adaptação não consta esse recurso o que nos permite concluir que a “atualização linguística” se dá no corpo do próprio texto, ou por substituição dos vocábulos ou por sua supressão.

Os projetos gráficos não foram observados em busca da avaliação de qual é melhor ou pior, até porque esse não é o objeto desta pesquisa. Mas suas características nos permitem, mesmo preliminarmente, compreender que há uma perspectiva materializada, um modelo concebido de leitor da obra adaptada, um jovem leitor, com pouca vivência de leitura e, em formação, que a rigor deve ser orientado e estimulado.

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