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ANÁLISE COMPARATIVA: PROPOSTA DIRETIVA VERSUS

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CAPÍTULO 5 - Análise Comparativa: Proposta Diretiva versus

Normativo Interno Português

5.1. Considerações Iniciais

O que se pretende estudar no presente capítulo é analisar as diferenças e convergências entre o normativo interno e o disposto na PD2011. Este último, quer seja circunscrito aos grupos de sociedades, quer, numa hipótese mais remota, seja extensível a todas as empresas individuais, os TOC11 terão que, num período de transição, conhecer os dois normativos: o interno e o comunitário. Por isso, faz todo o sentido proceder à análise comparativa das convergências e afastamentos mais relevantes.

5.2. Gastos

Nos termos do artigo 23.º do CIRC consideram-se gastos (dedutíveis) “os que comprovadamente sejam indispensáveis para a realização dos rendimentos sujeitos a imposto”. Encontramos, no artigo 12.º da PD2011, uma disposição semelhante, embora com terminologia diferente, quando se refere que são dedutíveis os gastos “incorridos pelo contribuinte para obter ou garantir o rendimento”. Em bom rigor, existe uma convergência significativa a este nível. Já no que se refere aos gastos não dedutíveis, a PD2011 considera como não aceite 50% das despesas de representação (artigo 12.º) Por seu turno, o artigo 45.º do CIRC, não elenca este tipo de gastos como não dedutíveis. Contudo, o n.º 7 do artigo 88.º do CIRC, sujeita a totalidade destas despesas a uma taxa de tributação autónoma de 10 %, podendo, em caso de prejuízo no período, situar-se nos 20% (n.º 14). A manterem-se as atuais taxas (máximas) de IRC e Derrama,

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Obviamente que a coexistência de, pelo menos, dois sistemas de apuramento da matéria coletável afetará outros profissionais da contabilidade, da fiscalidade e de auditoria, entre outros, com os respetivos custos inerentes.

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respetivamente, 25% e 1,5%, registar-se-á um incremento na tributação destas despesas com a entrada em vigor da MCCCIS.

Relativamente aos donativos, a PD2011 é mais redutora quanto à aceitação de tais gastos, circunscrevendo-os à utilidade pública do donatário (artigo 12.º e 16.º). É definido um limite máximo para a sua aceitação, que se resume 0,5% dos réditos do exercício fiscal. Em termos nacionais, a regulamentação dos donativos é muito mais minuciosa e com uma maior especificidade de donatários (artigos 61.º ao 66.º-A, dos Estatutos dos Benefícios Fiscais (EBF)).

Na esfera das dívidas incobráveis, o tratamento a dar na consideração como gasto dedutível está previsto no artigo 27.º da PD2011, sendo, em tudo, idêntico ao tratamento preconizado pelos artigos 36.º e 41.º do CIRC. Em ambos verifica- se a não aceitação de dívidas incobráveis respeitantes a membros do grupo, embora o CIRC admita a dedução nos casos de participações inferiores a 10% e em situações concretas de processos de insolvência a percentagem não é impeditiva da aceitação. Este limite e condições não existem na PD2011. De sublinhar que, em ambos normativos, a recuperação de dívidas consideradas incobráveis devem ser incluídas, no exercício do seu recebimento, total ou parcial, na matéria coletável.

5.3. Rendimentos

Atente-se que nos artigos 17.º a 19.º da PD2011 é definido que os réditos, encargos e todos os outros elementos dedutíveis devem ser contabilizados no âmbito do exercício fiscal em que foram gerados ou incorridos, devendo ser reconhecidos com razoável exatidão. Portanto, está em perfeita sintonia com o regime do acréscimo do SNC e com o articulado do CIRC (artigos 18.º a 20.º). No diz respeito ao rédito, verifica-se uma convergência total com a Norma Contabilística e de Relato Financeiro (NCRF) 20 – Rédito.

Relativamente à variação de produção, a PD2011 separa das “existências e trabalhos em curso” as relativas a contratos de longo prazo (artigo 21.º). No seu

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43 artigo 24.º retoma a temática dos contratos a longo prazo, equivalentes aos “contratos de construção” do artigo 19.º do CIRC, definindo-os, em ambos, casos com uma duração superior a 12 meses. Para reconhecimento do rédito estipula, à semelhança da percentagem de acabamento (do CIRC e do SNC), a proporção do montante correspondente à parte do contrato executado em cada exercício. Verifica-se, assim, um tratamento idêntico, ou melhor dizendo, igual. As fórmulas de custeio são as mesmas em ambos os normativos, ou seja, o FIFO e o Custo Médio Ponderado.

Ainda ao nível dos rendimentos assinale-se uma “pequena” divergência na mensuração dos investimentos financeiros reconhecidos pelo justo valor. Grosso modo, no fim de cada exercício verificam-se as alterações ao justo valor e reconhecem-se no resultado do período. No entanto, o n.º 9 do artigo 18.º do CIRC partilha do mesmo tratamento mas impõe como limite uma participação no capital de 5%.

5.4. Ativos

Em termos de direito interno, uma das matérias mais suscetível de “manipular” os resultados contabilísticos das empresas reside nas depreciações e amortizações, mais especificamente, no método utilizado, podendo ser utilizadas percentagens de dedução compreendidas entre as taxas mínimas e as máximas, definidas no Decreto Regulamentar (DR) n.º 25/2009, de 14 de Setembro. Esta matéria também está regulada nos artigos 29 ao 34.º do CIRC.

O DR referido apresenta duas tabelas de depreciações, uma “de taxas específicas” e outra “de taxas genéricas”, com uma extensão assinalável. Ora, em termos da PD2011 este processo de cálculo de depreciações ficará extremamente simplificado. Isto porque além dos “edifícios” para os quais é definida, por regra, uma vida útil de 40 anos e são tratados individualmente, existem os outros Ativos Fixos Tangíveis (AFT) para os quais a PD2011 define uma vida útil de 15 anos (artigo 36.º).

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Para os restantes ativos fixos tangíveis a taxa de depreciação proposta é 25%. Quanto ao método de depreciação a PD2011 apenas nos fala de “uma base linear” que, cremos, corresponde ao método da linha reta, ou o “método das quotas constantes” da terminologia fiscal nacional. Por fim, importa referir que o regime das perdas por imparidade da PD2011 ao nível dos AFT (artigo 41.º) é muito idêntico ao do CIRC.

Ao nível dos Ativos Intangíveis (AI), a PD2011 aponta (artigo 12.º) como tratamento preferencial dos dispêndios com investigação e desenvolvimento a classificação como gastos do período. A reafirmar esta posição, o artigo 36.º, não autonomiza este tipo de dispêndios, elencando apenas “Ativos Intangíveis”, estipulando a sua amortização no “período em que o ativo goza de proteção ou para o qual o direito foi outorgado ou, se esse esse período não puder ser determinado, 15 anos ”.

Convém ainda referir que segundo o artigo 42.º da PD2011, a CE pode a qualquer momento definir com maior precisão as categorias de ativos a que se refere os números anteriores, o que na nossa opinião deve ser feito com maior brevidade caso a proposta seja aprovada, de modo a evitar problemas entre os vários EM. No que toca às provisões, a PD2011 acolhe os conceitos definidos na NIC 37 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes (convertida, em termos nacionais na NCRF 21). Portanto, o tratamento coincide. No entanto, o CIRC limita-se a elencar as provisões aceites fiscalmente (artigo 39.º do CIRC). Ambos os normativos impõem uma “estimativa credível” e uma grande dose de prudência, devendo “ser tidos em conta todos os riscos e incertezas” (artigo 25.º da PD2011).

Pode-se então afirmar que, salvo algumas exceções específicas, Portugal não necessita efetuar grandes alterações ao nível contabilístico e fiscal para se aproximar das regras de determinação da MCCCIS tal como são hoje conhecidas. Esta situação fica a dever-se, num primeiro plano, à harmonização contabilística no seio da UE e, num segundo plano, inédito, à “subordinação” das regras fiscais nacionais ao normativo e terminologia do SNC.

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