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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.2. Análise Crítica

Com as conclusões obtidas a partir dessa pesquisa é possível fazer uma análise levando em consideração os aspectos defendidos por cada grupo entrevistado, além dos dados e histórico do tema da industrialização da construção civil.

Em relação ao usuário final, pode-se perceber que ele é o grupo menos informado e mais distante do processo da construção civil. Apesar de ser a razão e a finalidade da elaboração de edificações por parte dos arquitetos, engenheiros e da indústria da construção, sua participação nesse processo é mínima. Dessa forma o usuário final desconhece os sistemas construtivos industrializados, ainda pouco utilizados no Brasil, e passa a ver a construção convencional em concreto e alvenaria como a única maneira de construir. Isso pode ser confirmado tanto no desconhecimento e estranheza ao sistema LSF observados durante as entrevistas, quanto na rejeição por parte dos moradores das habitações pré-fabricadas do arquiteto Jean Prouvé, denominadas La Maison Tropicale e apresentadas no segundo capítulo. Quando os próprios clientes buscam a construção industrializada encontram um sistema pouco adaptado à atender as necessidades do setor residencial unifamiliar. As construtoras de sistemas pré-fabricados se adequaram aos projetos de grande escala e muito especializado, ou seja, cada empresa fornece um serviço específico. Assim o planejamento de toda a obra fica sob responsabilidade do contratante, seja ele uma incorporadora ou até uma outra construtora que terceiriza a execução da estrutura. Como o usuário final necessita de vários serviços, como estrutura, acabamento e instalações elétricas e hidráulicas em uma única edificação, seria interessante que apenas uma empresa fornecesse ou facilitasse o acesso a essas atividades. Isso poderia atrair mais clientes de residências unifamiliares ao sistema construtivo industrializado.

No caso da autoconstrução, a inserção de sistemas industrializados é mais complexa, pois existe uma metodologia de execução da obra específica e muito diferente daquela realizada por uma construtora. Enquanto a construtora possui um planejamento e prazo de execução do projeto, a autoconstrução é realizada por meio de etapas, sendo que o canteiro de obras é permanente. Devido ao fato de que os trabalhadores da autoconstrução são os próprios moradores, familiares ou vizinhos, a habitação não é construída de maneira contínua ou diária, mas somente nos dias de folga desses operários. No entanto, esses trabalhadores são muitas vezes provenientes do setor da construção civil e possuem o conhecimento necessário

para realizar a obra (NASCIMENTO, 2011). Dessa forma, o que pode inviabilizar a utilização de sistemas industrializados na autoconstrução não é a falta de capacidade técnica dos trabalhadores, mas sim a incompatibilidade na maneira de gerir a construção. As construções industrializadas necessitam de um planejamento completo até no caso de reformas e ampliações, além da execução completa das etapas da obra. Portanto, o simples acesso aos sistemas construtivos industrializados não garante seu uso nesse setor do mercado da construção civil.

Quanto às respostas fornecidas pelos arquitetos entrevistados, muitos problemas e dificuldades levantadas por esse setor em relação aos sistemas construtivos industrializados, com destaque ao aço, podem ser consequência do distanciamento que existe, no caso do Brasil, da elaboração do projeto arquitetônico, da produção industrial e da execução da obra. Como a construção industrializada não tolera imprevistos e adaptações, é necessário promover a integração da arquitetura, indústria e obra, por meio do planejamento e especificação dos sistemas desde o projeto. Deve ser analisado de que forma o projeto que ainda está no papel vai ser construído.

O distanciamento entre as etapas do processo da construção é reflexo da maneira como são tratadas esses temas dentro das universidades. A ausência, na maioria dos cursos analisados nessa pesquisa, de disciplinas que abordam os sistemas construtivos industrializados como um todo, desde sua especificação até sua execução, confirmam essa situação. Assim como defendeu Fuller (1967), é importante que os alunos de Arquitetura e Engenharia Civil tenham contato com os processos produtivos industriais, para que eles possam inserir seus conhecimentos teóricos no aperfeiçoamento dos sistemas construtivos. Dessa forma, o futuro profissional passa a ter informações suficientes para propor ao cliente os sistemas construtivos industrializados.

Além disso, é importante alterar a maneira com que o tema da industrialização é passado aos alunos. Cada projeto vai demandar um sistema construtivo que se adapte melhor às necessidades tanto do cliente, quanto técnicas e da proposta do arquiteto. Portanto, a classificação dos sistemas industrializados dentro das universidades como sendo “não usuais”, “alternativos ou “não convencionais” cria uma cultura da não utilização das construções pré- fabricadas nos projetos comuns, mas somente em casos em que o sistema convencional não é viável. A partir do momento em que o profissional possui formação e conhecimento suficientes, cabe a ele identificar e propor o melhor processo construtivo.

No caso das Indústrias da Construção Civil, pôde-se perceber que elas observaram um aumento do interesse na construção industrializada. Isso pode ser visto no caso do PMCMV que está impulsionando o uso da estrutura metálica em edificações residenciais mutifamiliares voltadas aos programas habitacionais. Nesse setor existia o predomínio do uso da alvenaria estrutural, que agora passa a dividir mercado com o aço. Apesar disso, ainda existe a necessidade de que essas empresas se aproximem mais do setor de projeto, com a divulgação e incentivo do uso dos sistemas industrializados. A partir da análise da atual situação das indústrias siderúrgicas brasileiras levantada pelo CBCA e ABCEM, foi visto que elas têm a possibilidade de ampliar sua produção incentivando o consumo interno. Para isso é importante atingir e atender plenamente o mercado da construção civil brasileira, de forma a introduzir a construção industrializada no leque de opções para a estrutura das edificações.