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4   O CASO DO PORTAL TRANSPARÊNCIA BAHIA 68

4.4   ANÁLISE CRÍTICA 86

O portal Transparência Bahia é um espaço virtual do governo estadual aberto à sociedade enquanto um importante canal de comunicação com a população baiana. A boa configuração do portal demonstra o investimento realizado para sua instalação e manutenção, e as informações publicadas fornecem ao cidadão uma

visão das ações e políticas desenvolvidas pelo governo. O portal eletrônico disponibiliza os números das receitas, despesas, gastos com educação, saúde e outros serviços. Contudo, não contém espaços para manifestação de discussão do cidadão com os gestores.

É válido lembrar que, mesmo com essa atitude política de ampliar os governos eletrônicos com o auxílio da internet, existem “evidências que indicam que ainda não vinga no Brasil uma cultura de avaliação do serviço público, estando este praticamente impermeável à ação da sociedade” (PINHO, 2008, p. 490). Apesar de existirem implementações de instrumentos de comunicação online que facilitam a busca de informações pelo cidadão, ainda não é perceptível a efetividade do processo de interação e influência sobre as ações governamentais.

Não é difícil constatar o fato de que o Transparência Bahia é um avanço significativo ao usar a tecnologia para abrir informações entendidas como sensíveis, para conhecimento da sociedade, porém, “não bastam os avanços significativos na tecnologia se a estrutura política permanece intocável” (PINHO, 2008, p.490). Com base nesta perspectiva, percebe-se a necessidade de se efetivarem políticas públicas mais amplas, que instiguem o compartilhamento entre sociedade e governos. De fato, a inexistência dessas políticas públicas efetivas reflete uma despreocupação ou até uma postura contrária à transparência e participação, necessárias à revisitação da accountability.

Para o enfrentamento da questão, aqui trazida pela necessidade de entender os reais objetivos da abertura do canal de comunicação através do Portal Transparência Bahia pelo governo do estado, Pinho (2008) pontua que os portais dos governos eletrônicos apresentam algumas falhas em função de cumprirem determinações emanadas pelo modelo político tradicional vigente no Brasil. Dizendo de outro modo, atingir a transparência, seja por meios digitais, seja por métodos convencionais, depende de mudanças fundamentais na própria cultura política nacional.

Assim, o Transparência Bahia pode ser visto como um avanço simbólico em direção a um Estado mais transparente e a uma sociedade mais participativa. Ainda assim, para que se efetive enquanto um canal de ligação com os cidadãos e espaço de construção do processo participativo, faz-se necessária uma plena

conscientização da sociedade civil quanto ao seu poder de decisão e à necessidade de atuação frente às ações do governo.

Embora exista a intenção de abertura à transparência, Pinho (2008, p. 427) assinala que um governo ampliado, não deve

[...] contemplar apenas produtos ou serviços, mas também ideias. Ainda que a disponibilização de produtos e serviços já expresse um posicionamento ideológico, ele pode estar mais pronunciado quando amplia no sentido da manifestação de maior transparência.

No entanto, sem querer generalizar a partir de um caso, a análise do portal Transparência Bahia dá pistas de que os governos eletrônicos provavelmente necessitam serem ampliados, partindo de mecanismos de participação digital genuína10 baseados em maior interação do governo com a sociedade e pelo compromisso de transparência por parte desses entes estatais.

Na página inicial do portal é apontado que ele “funcionará como mais um canal de ligação com os cidadãos e espaço de construção de uma sociedade mais justa e igualitária” (BAHIA, 2013). A estrutura apresentada pelo portal permite vislumbrar algum apoio a graus de transparência. Embora não seja suficiente esta prática por si só, deve-se aproveitar as TICs para o acesso mais avançado da população às ações do governo.

Considerando que as formas de promover a participação ainda não estão bem definidas, os portais governamentais tendem a ser uma forma dos governos mostrarem sua identidade, seus propósitos, suas realizações, muitas vezes com um viés mais publicitário que participativo. A inexistência de um portal de qualidade impede que se atenda às necessidades dos cidadãos em relação a serviços, informações e participação.

As descrições feitas em relação ao portal do governo do Estado da Bahia, o Transparência Bahia, visam a apontar os critérios favoráveis à transparência,

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A participação do cidadão pode ser definida como uma participação voluntária (ou forçada) nas tomadas de decisão sobre questões públicas. Até certo ponto, a teoria que lida com redes e criação de conhecimento pode ser aplicada à sua análise. As instituições destinadas às consultas e tomadas de decisão política são estruturadas como redes. As TIs [Tecnologias da Informação] permitem aumentar a sua eficácia, oferecendo a possibilidade de trabalho em rede (a comunicação de muitos com muitos), bem como ultrapassar e acelerar capacidades. A consulta política pode ser descrita como uma criação de conhecimento (tácito) politicamente vantajoso. As TIs podem facilitar vários estágios deste processo, por exemplo estabelecendo espaços virtuais compartilhados, girando em torno de informações velhas e novas (conhecimento explícito) (SZEREMETA, 2005, p. 103).

implicando em se buscar identificar suas dimensões. Sabe-se que a prestação de contas também é uma forma de transparência, mas este não deve ser o único objetivo do governo eletrônico, como apontado por Pinho, Iglesias e Souza (2005, apud AMARAL, 2007), pois o e-Gov deve ser ampliado para a promoção de cidadania participante e bem informada.

Em síntese, o Transparência Bahia disponibiliza dados sobre compras, serviços e obras e demonstra interesse da gestão pública em divulgar informações através da Internet. Além disso, o portal faz conexão com os projetos e políticas de governo e deveria disponibilizar atendimentos alternativos e canais para exposição de reclamações, sugestões, solicitações de outras informações ou para discussão de políticas públicas. A partir desta abertura política, o ente poderia promover o debate com a sociedade a respeito das decisões a serem tomadas pela gestão estadual.