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Análise da atividade de Matemática – 1° sessão

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CAPÍTULO IV O QUE PENSAM OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

5.2 Análise da atividade de Matemática – 1° sessão

Quadro 8 – Escala individual de Tainá – Sessão 1 Matemática N. sessão 1 Data: 11/08/ 2015

Tipo de atividade Áreas de conteúdo/domínio

Matemática Nível de envol 2 Proposta Professora: Pedagógica Momentos de espera (ind/col): Oci. ind. Descrição da atividade:

1° Momento: Atividade Pedagógica.

Enquanto a turma copiava expressões numéricas passadas no quadro, a professora trouxe uma folha com atividades para

Tainá. Na folha havia o desenho de um bolo e vários numerais

“1” para que a aluna cobrisse.

A professora mostrou para Tainá e perguntou: “Quantos bolos tem o menino?”.

Ela não respondeu. A professora insistiu: “Que número é esse Tainá?”.

Ela respondeu “2”.

A professora pediu que ela cobrisse o numeral. Em seguida foi

corrigir os cadernos dos demais alunos em sua mesa. A aluna ficou ao nosso lado fazendo da sua maneira a atividade na folha que a professora mandou.

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras e adaptado pela autora para fins dessa dissertação.

Percebemos que existiram várias mediações na atividade observada, contudo nenhuma delas foi direcionada para a tentativa de Tainá se apropriar do conteúdo que havia sido planejado para a mesma. A turma fazia outra atividade, expressões numéricas,

enquanto para Tainá era destinada uma folha para cobrir com o numeral 1. Com esse fato podemos supor que a professora não preparou uma adaptação para Tainá referente ao conteúdo de expressões numéricas que estava sendo trabalhado com a turma porque a mesma ainda não tinha sequer se apropriado do conceito de numerais, com isso não teria funções psicológicas desenvolvidas que permitisse compreender e resolver uma expressão.

Nesse caso, a problemática se encontra no fato da professora não estar desenvolvendo atividades que levassem a Tainá a internalização do conceito dos numerais, desse modo à aluna fica impossibilitada de avançar na aquisição de conceitos matemáticos. Essa afirmativa fica evidente no trecho a seguir:

A professora mostrou para Tainá e perguntou: “Quantos bolos tem o menino?”.

Ela não respondeu. A professora insistiu: “Que número é esse Tainá?”. Ela respondeu “2”.

A professora pediu que ela cobrisse o numeral. Em seguida foi corrigir os cadernos dos demais alunos em sua mesa.

A professora não corrige a afirmativa de Tainá e de nenhuma maneira lhe dá uma explicação sobre o numeral 1. Compreendemos que o principal problema no caso de Tainá não é o fato dela estar no 5° ano do ensino fundamental e não ter internalizado ainda conceitos básicos matemáticos e sim a falta de mediações pedagógicas direcionadas para que ela se aproprie desses conhecimentos e avance no seu processo de aprendizagem. Nesse caso a professora deveria juntamente com o trabalho colaborativo do profissional especialista do AEE e toda a equipe pedagógica, planejar estratégias específicas que propiciassem a Tainá a aquisição de conhecimentos matemáticos.

Assim sendo, seria necessário criar pequenas metas e que fossem realizadas várias atividades de formas distintas, com materiais variados e mediações organizadas até que se alcançasse o objetivo proposto, que no caso do exemplo seria estimular Tainá a compreender e internalizar o significado do numeral 1.

Outro ponto que consideramos relevante destacar é o tipo de atividade proposta pela professora. Considerando a idade da aluna e a série que esta inserida, não vemos motivo de estar realizando uma atividade de cobrir o numeral, muito utilizada no inicio do processo de escolarização com crianças de menor idade. Tal atividade, por não ser condizente com a faixa etária e o ambiente que Tainá esta inserida pode ter o efeito monótono e cansativo, podendo desestimular a aluna.

Diante esse fato, destacamos o envolvimento da aluna com a atividade mesmo sendo algo cansativo e repetitivo. Segundo o relato da pesquisadora integrante do ObEE e a partir da foto do exercício, a aluna continuou fazendo o exercício proposto pela professora com um nível de envolvimento considerado 2 que consiste em uma atividade frequentemente interrompida e ações realizadas com uma ausência de consciência, nesse caso movimentos repetitivos de cobrir. Nesse caso nos remetemos a Kassar (2015) que nos leva a seguinte reflexão:

O processo educativo vai além do acesso a informações e vai além de aquisição de habilidades e comportamentos esperados, pois trata- -se de um processo de formação humana, um processo de humanização/ hominização, em que a significação está no âmago do especificamente humano. Portanto, ao restringir as situações de ensino, não é “apenas” com menos informações que os alunos ficam. Há também a atribuição de sentidos de que tais alunos não são capazes; há uma restrição da percepção da condição de humano desses sujeitos. Pino (2005, p. 149) afirma: “Os processos de significação concretizam-se na vida cotidiana das pessoas, nas diferentes formas de práticas sociais, uma vez que a significação é uma produção social”. A desconsideração dos alunos como

alunos leva a uma “invisibilidade” ou a um “silenciamento” (p. 416.

Grifos da autora).

De modo geral, o contexto analisado evidencia o que temos discutido e defendido nessa pesquisa, o fato de que não é qualquer mediação pedagógica que leva o sujeito à aprendizagem e aquisição de conhecimentos científicos e como Padilha (2014, p. 105) deixa claro, “não é qualquer ensino que promove desenvolvimento”. Nesse sentido Martins (2013) nos acrescenta a importância da aprendizagem no processo de desenvolvimento dos sujeitos com deficiência intelectual:

A instrução desponta como condição para o desenvolvimento, ou seja, entre esses processos se instala uma relação de condicionalidade recíproca, explicável à luz do preceito lógico-dialético da dinâmica entre “quantidade e qualidade”, ou seja, “quantidade” de aprendizagens promovidas pelo ensino qualifica o desenvolvimento, à mesma medida que a “quantidade” de desenvolvimento qualifica as possibilidades para o ensino (p. 278).

O sujeito com deficiência intelectual necessita de metas e planejamentos organizados que levem a práticas e mediações conscientes, planejadas e organizadas, que tenham como objetivo principal avançar no processo de aprendizagem dos mesmos. Sem essas mediações pedagógicas de qualidade dificilmente o sujeito com deficiência intelectual tem um desenvolvimento considerado satisfatório.

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