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Análise da atividade “fabricação caseira do iogurte”

6- ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

7.2 IOGURTE PARA TODA A CLASSE: CONHECENDO O KEFIR

7.2.1 Análise da atividade “fabricação caseira do iogurte”

A atividade da fabricação do iogurte enquadra-se nos pressupostos de uma atividade de segundo momento (ALMEIDA; DIAS, 2004), assim como foi a terceira atividade, a qual tratou da investigação do peso máximo que os alunos poderiam carregar em suas mochilas escolares. Destacamos que na atividade da mochila o problema de investigação foi elaborado pelo professor, cabendo aos alunos a busca pela solução e a coleta de dados. Na atividade do iogurte, descrita na seção anterior, foi tarefa dos alunos a elaboração e resolução de um problema matemático. Acreditamos, assim como Gontijo (2007), que, tanto a elaboração como a resolução de problemas matemáticos tendem a favorecer a motivação e autonomia dos alunos, ao mesmo tempo em que podem estimular o desenvolvimento de diferentes habilidades criativas.

Na atividade do iogurte após a apresentação do tema pelo professor, os alunos precisavam levantar ideias para a elaboração de um problema matemático. Foi neste sentido que o professor pediu para os alunos listarem ideias que pudessem direcionar

a elaboração desses problemas. Assim, foi por esta direção que o estímulo relacionado ao brainstorming ocorreu na atividade.

A ideia da elaboração de um problema pelos alunos gerou certas dúvidas em um primeiro momento, pois os alunos não estavam familiarizados com atividades deste tipo, as quais parecem demandar um esforço cognitivo maior, diferindo certamente das atividades com as quais estavam acostumados. Entretanto, diante das dificuldades dos alunos, o professor realizou intervenções para que elaborassem seus problemas (uso do braisntorming), o que pode ter desencadeado alguma influência nessa elaboração, uma vez que surgiram duas vertentes na elaboração dos problemas (Quadro 30): problemas relacionados ao crescimento do Kefir; e problemas relacionados ao preparo do iogurte.

Diante do exposto, apresentamos as ações dos alunos nesta etapa da atividade que decorreram do uso do brainstorming pelo professor:

Quadro 30: Ideias de elaboração que emergiram na atividade do iogurte Fonte: dos autores

Ao refletirmos sobre a elaboração dos problemas matemáticos pelos alunos, assim como apresentados no Quadro 28, percebe-se que, de certa forma, os alunos elaboraram seus problemas baseados nas informações que eles já tinham em mãos (folha de atividade, demonstração pelo professor), não precisando recorrer à busca por novas informações ou definição de novas hipóteses. Isto nos permite dizer que a colocação do novo problema pelo professor (uso de alteração) na atividade, motivou os alunos a “atacarem” a situação por um novo ângulo, no qual lhes era requerido o uso de outras estratégias para resolução do novo problema proposto.

Após a colocação do novo problema no decorrer da atividade (qual a quantidade de leite necessária para fabricação de iogurte para os alunos do período

matutino da escola?), é possível perceber a mobilização dos alunos na busca de novas estratégias diante da situação como, por exemplo, descobrir o número de alunos que estudavam no período matutino e estipular a quantidade de preparo para cada aluno. Tais considerações nos conduzem a inferir que, pelo estímulo de alteração, novas ideias puderam emergir durante o desenvolvimento da atividade e, com isso, permitiu no contexto da atividade a mobilização do pensamento flexível perante o novo problema.

Como precisavam descobrir o número de alunos que estavam matriculados no período, os estudantes tiveram a ideia de levantar esses dados na secretaria escolar, denotando, com esta ação, aspectos de autonomia no desenvolvimento da atividade. Merece destaque esse fato, pois em outras situações poderia ocorrer que os alunos perguntassem essa informação diretamente ao professor, permanecendo eles, pouco ativos na atividade. Com isso queremos dizer que o ambiente de Modelagem constituído, permitiu que alguns elementos da autonomia fossem evidenciados pelos alunos conforme familiarizavam-se com as atividades e sentiam-se livres em relação aos encaminhamentos das tarefas. Assim, cabe dizer que os aspectos de liberdade e autonomia, manifestos pelas ações dos alunos, caracterizaram na atividade analisada elementos que se relacionam à promoção da Criatividade, assim como afirmam Pereira (2008) e Viana et al. (2019).

Outro aspecto que se relaciona à Criatividade no desenvolvimento desta atividade, pode ser observado na estratégia de um grupo ao estimar o número de alunos do período mediante o uso de média estatística (a quantidade de alunos (35) pelo número de turmas do período). Nesse caso, a literatura se refere a este tipo de estratégia à originalidade (GONTIJO, 2007; GONTIJO et al.,2019). Neste sentido, a inferência de originalidade está atrelada à ideia do grupo em estimar o número de alunos via tratamento estatístico, destacando essa iniciativa em relação às ideias dos outros grupos, os quais optaram, assim como descrito anteriormente, por coletar a informação diretamente na secretaria da escola.

No que concerne às ações empreendidas pelos alunos na resolução do problema proposto pelo professor, faltava ainda a discussão e definição das hipóteses pelos grupos para estimar a quantidade de iogurte, caso o preparo fosse feito. Neste sentido, se faz relevante analisar a formulação de hipóteses levantadas pelos alunos, assim como mostra o Quadro 31.

Grupo 1: Hipótese: cada aluno beberá 10ml

Grupo 2: Hipóteses: cada aluno bebe um copo, cada

copo tem aproximadamente 240 ml.

Grupo 3: Hipóteses: cada aluno toma um copo de

20ml

Grupo 4: Hipótese: cada sala consome em média 500

ml de iogurte

Grupo 5: Hipótese: cada sala tem em média 35

alunos, e que no total dará 140 alunos.

* grupo não estimou a quantidade de leite

Quadro 31: Hipóteses dos alunos na atividade do iogurte Fonte: do autor

A partir da observação da elaboração das hipóteses feitas pelos alunos, nota- se que o tratamento dado ao mesmo problema (fabricação de iogurte) pelos diferentes grupos de alunos, apresentavam, cada um, em um aspecto ou outro, elementos distintos, sobretudo na elaboração e seleção de hipóteses. Essa “abundância ou quantidade de ideias sobre o mesmo assunto” (ALENCAR; BRAGA; MARINHO, 2016, p.29) é caracterizado na literatura como habilidade criativa relacionada à fluência de ideias (ALENCAR; FLEITH, 2009). Assim, entendemos que a fluência de ideias pode ser aferida na atividade mediante a proposta do novo problema pelo professor (uso de alteração), problema este, que acreditamos, contribuiu para romper de certa forma com a postura estática dos alunos perante a situação sugerida na primeira fase da atividade.

No quadro 32 apontamos as características que puderam ser observadas nas ações empreendidas na atividade do iogurte que denotaram aspectos que se associam à promoção e uso das habilidades criativas, mediante estímulo de alteração (GONTIJO, 2007).

Quadro 32: Aspectos de criatividade que emergiram na atividade 2 mediante o uso de alteração Fonte: do autor

Nesta atividade em particular, a comunicação de ideias pelos alunos foi realizada em um único momento, o qual o professor conduziu utilizando elementos associados ao estímulo de dramatização (GONTIJO, 2007).

O professor mediou a plenária dando ênfase nas relações e estratégias que emergiram na atividade, de modo a dar liberdade aos alunos a se expressarem, apresentando suas ideias e argumentando sobre a atividade desenvolvida. No excerto que transcrevemos, destacamos algumas ações que acreditamos, se associaram aos elementos da Criatividade apontados na literatura.

Grupo Os investigadores do Kefir

Professor ao grupo: Joãozinho32, a primeira parte da tarefa, qual problema matemático vocês

elaboraram, e como vocês chegaram a resposta.

Aluno01: O primeiro problema que nós elaboramos foi: Quantas gramas o Kefir cresce por mês e por ano?

Professor: muito bem! A pergunta deles: quantas gramas o Kefir cresce por mês e por ano? Como que vocês fizeram pra chegar a uma resposta?

Aluno01: a gente fez por mês que é trinta dias, trinta vezes dois, dois, que é duas gramas que

ele cresce por dia... e deu sessenta gramas por mês

Professor: por mês

Aluno01: Dai por ano, peguemos 365 dias, que é o total de dias do ano, e fizemos 365 vezes dois, que deu 730 gramas por ano.

Professor: olha só pessoal, durante um ano o Kefir cresce 730 gramas. Dá pra distribuir para a sala inteira!

Na resolução percebemos que os alunos consideraram o crescimento do Kefir como sendo linear. Embora sejamos conscientes de que o crescimento segue uma lei exponencial, consideramos válida a interpretação dos alunos neste momento, dado o nível escolar dos mesmos e a ideia presente de que haveria um “crescimento” rápido do kefir.

Pelo excerto, pode-se perceber também que em se tratando de alunos dos anos inicias, os alunos conseguiram destacar suas ações através das discussões nas plenárias, apresentando, inclusive, detalhes e fatos que sustentaram o desenvolvimento e conclusão da atividade, denotando, por tais manifestações, ações cognitivas de argumentação (ALMEIDA; SILVA; VERTUAN, 2016); e indícios de aspectos criativos relacionadas a elaboração (GONTIJO, 2007), que por sua vez, é caracterizada pela presença de detalhes na apresentação de uma ideia ou invenção. Destacamos, ainda, que os aspectos de elaboração, como inferimos, não podem ser tomados como uma habilidade parametrizada. Cabe dizer que essa habilidade deve ser entendida, ou melhor, deve ser interpretada num viés de não neutralidade, pois esta habilidade pode se apresentar em determinadas tarefas em maior ou menor grau, dependendo do nível em que se encontra o sujeito e dos estímulos suscitados pela tarefa. Aqui nos referimos à elaboração como a presença de mais detalhes na explicação de um conceito ou ideia, especialmente se comparada aos diálogos dos demais grupos que fizeram a atividade.

O excerto a seguir também demonstra alguns aspectos de elaboração conforme indicamos (negrito).

Grupo os investigadores do Kefir

Professor: vamos lá então! Joãozinho se eu quisesse fazer iogurte para todos os alunos que estudam no período da manhã, quanto de leite eu vou precisar? Como é que vocês fizeram? Aluno01: eu fiz uma conta, já que tem 101 alunos...

Professor: como é que você descobriu quantos alunos tinham? Aluno01: eu perguntei

Professor: perguntou pra quem?

Aluno01: pra Fulana (secretária da escola) Professor: muito bem! Tinham quantos alunos? Aluno01: cento e um.

Professor: daí como vocês fizeram?

Aluno01: Daí eu peguei ... já que um copo tem 240 ml; daí eu peguei cento e um vezes duzentos e quarenta, que deu 24.240 ml.

Professor: então, deu quanto de leite?

Em linhas gerais, podemos destacar que o uso de estimulo da dramatização pelo professor, na atividade do iogurte, nos permitiu inferir, segundo os indicadores da Criatividade presentes na literatura, duas ações que se relacionaram na atividade analisada ao pensamento criativo: a mobilização de ações cognitivas de argumentação e a presença de detalhes na argumentação dos grupos que, neste caso, se refere à habilidade de elaboração (ALENCAR; FLEITH, 2009). O quadro 33 sintetiza essas ações assim como destacamos, no uso pelo professor, do estímulo de dramatização (GONTIJO, 2007).

Quadro 33: Aspectos de criatividade na atividade 2 mediantes uso da estratégia de dramatização Fonte: do autor

A seguir descrevemos o desenvolvimento da última atividade, na qual os alunos elegeram um tema para ser investigado e, a partir disso, desenvolveram uma atividade de terceiro momento, conforme indicam Almeida e Dias (2004) e Almeida, Silva e Vertuan (2016).