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3. ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO

5.4 Análise da evolução da dispersão do edificado

Na terceira fase da metodologia, selecionou-se uma área de cada bacia hidrográfica e analisou-se essa mesma área em dois anos diferentes, 2008 e 2018, através de imagens de satélite retiradas do GoogleEarth. Nas Figuras 23, 24, 25 e 26 encontram- se representadas todas as áreas analisadas, salientando-se os locais onde ocorreu construção de edificado no período selecionado. Igualmente representadas nas imagens, encontram-se as captações de água subterrânea existentes em cada um dos períodos.

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Figura 23 - Dispersão do edificado e das captações de água subterrânea, numa área da bacia hidrográfica do rio Vizela.

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Figura 24 - Dispersão do edificado e das captações de água subterrânea, numa área da bacia hidrográfica do rio Leça.

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Figura 25 - Dispersão do edificado e das captações de água subterrânea, numa área da bacia hidrográfica do rio Antuã

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Figura 26 - Dispersão do edificado e das captações de água subterrânea, numa área da bacia hidrográfica do rio Cértima

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39 Observando as imagens de satélite é possível perceber que entre 2008 e 2018 a dispersão do edificado é notória em determinadas zonas das áreas analisadas. Esta dispersão revela-se mais clara na área pertencente à bacia hidrográfica do rio Vizela, uma vez que se regista o desaparecimento de áreas verdes para dar lugar a construções, sejam elas de caráter habitacional ou industrial. Na área pertencente à bacia hidrográfica do rio Leça, não se registam grandes alterações ao nível da dispersão do edificado. No entanto, importa salientar que a área de urbanização apresenta-se de forma organizada, o que demonstra a existência de um planeamento territorial mais evidente que os restantes casos de estudo. Na área pertencente à bacia hidrográfica do rio Antuã, a dispersão do edificado é considerada pouco significativa, o mesmo não se verifica na área pertencente à bacia hidrográfica do rio Cértima, onde se regista uma maior alteração do edificado comprovada não só pela sua dispersão mas também pela sua demolição.

Quanto à evolução da dispersão das captações de água subterrânea, não se observa um acompanhamento nítido relativamente à dispersão do edificado, uma vez que as captações registadas em 2018 surgem em lugares onde já existia edificado e não em lugares onde surgiu nova edificação. É também possível observar que as captações de água subterrânea se encontram maioritariamente associadas a campos agrícolas e a zonas industriais.

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6. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Tendo por base a breve revisão de literatura, apresentada no segundo capítulo, constata-se que as águas subterrâneas são o recurso hídrico mais valioso e, por conseguinte, o mais vulnerável. Percebe-se que existe uma consciencialização da importância da proteção das águas subterrâneas, mas a dificuldade em alcança-la é um desafio constante. Verifica-se, também, que a proteção das águas subterrâneas se encontra interrelacionada com o ordenamento do território, salientando o uso do solo como sendo aquele que exerce maior pressão sobre estas massas de água. Entre os diversos usos do solo a agricultura é referida como aquela que mais utiliza a água subterrânea.

No enquadramento legislativo da água, apresentado no terceiro capítulo, encontra-se prevista a proteção da água no seu geral, da qual fazem parte os recursos hídricos subterrâneos. No entanto, quando analisado o enquadramento legislativo do edificado, percebe-se que este aborda alguns aspetos referentes à proteção de recursos, no qual se incluem as águas, mas não contempla critérios específicos que prevejam a proteção dos recursos hídricos subterrâneos aquando da construção de edificado. Uma vez que os usos do solo estão diretamente associados à utilização de água subterrânea, é essencial que a proteção deste recurso seja tida em conta em todas as atividades que fazem uso do território, sendo uma delas a construção de edificado.

Relativamente aos resultados obtidos, apresentados no quinto capítulo, verifica-se que o número de captações de água subterrânea tem vindo a registar um aumento significativo ao longo dos anos, o que seria de prever tendo em conta o aumento populacional. Verifica-se também que a maior parte destas captações se concretiza através de furos, uma vez que a construção destes se torna mais fácil, além de que ocupam menos espaço. Quanto às utilizações associadas às captações de água subterrânea, constata-se que a rega é sem dúvida a utilização mais frequente, ajudando a comprovar a influência da agricultura, seja ela intensiva ou de subsistência, na utilização de água subterrânea.

Quanto à análise da rede de abastecimento público, devido à dificuldade na obtenção de dados, não foi possível realizar a análise pretendida. No entanto, é possível perceber que em alguns casos a quantidade de captações de água subterrânea é bastante elevada tendo em conta a presença de captações de água subterrânea destinadas ao abastecimento público. Contudo não é possível efetuar uma análise mais específica e pormenorizada, uma vez que não se sabe a quantidade de ramais que fazem parte da presente rede de abastecimento público nem a sua abrangência territorial. Relativamente aos resultados referentes à análise da dispersão do edificado verifica-se que em algumas zonas esta dispersão é notória, embora o mesmo não

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aconteça com as captações de água subterrânea. No entanto, importa salientar que as imagens analisadas apenas representam uma fração muito pequena da área total de cada bacia hidrográfica em estudo. Desta forma não é possível retirar uma conclusão específica quanto à existência de um acompanhamento das captações de água subterrânea relativamente à dispersão do edificado.

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7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

7.1 Conclusões

A presente dissertação teve como objetivo principal perceber até que ponto o licenciamento de captações de água subterrânea está a contribuir para o aumento da dispersão do edificado. Neste sentido, a revisão de literatura permitiu perceber de que forma a relação entre as águas subterrâneas e o ordenamento do território é abordada pela comunidade científica. Constata-se que a proteção das águas subterrâneas é um assunto que necessita de especial atenção, tendo em conta o aumento da pressão territorial que se tem vindo a registar devido ao crescimento populacional. Se por um lado se verifica que as águas subterrâneas são de especial valor para a sobrevivência humana e de todos os ecossistemas, por outro verifica-se que as atividades antrópicas que intervém no uso e ocupação do solo exercem uma pressão cada vez maior sobre este recurso hídrico subterrâneo. A agricultura é referida como o uso do solo que mais utiliza as massas de água subterrânea, para além de ter um peso bastante elevado nas questões relativas à poluição provocada pelo uso de fertilizantes químicos e pesticidas. É no sentido de controlar os usos e a ocupação do solo, que o ordenamento do território entra com um papel fundamental na proteção das águas subterrâneas. Para além da revisão de literatura, a análise da legislação em vigor é, também, uma peça fundamental para perceber de que forma a proteção águas subterrâneas se articula com o ordenamento do território, mais especificamente com a construção de edificado. Foi possível perceber que, no enquadramento legislativo da água, encontra- se prevista a proteção da água no seu geral, da qual faz parte os recursos hídricos subterrâneos. No entanto, o enquadramento legislativo do edificado aborda alguns aspetos referentes à proteção de recursos, no qual se incluem as águas, mas não contempla critérios específicos que prevejam a proteção dos recursos hídricos subterrâneos aquando da construção de edificado. Desta forma considera-se importante que a legislação em vigor evolua no sentido de integrar critérios específicos que prevejam a proteção das águas subterrâneas nos processos de edificação.

No que concerne aos resultados obtidos, através da metodologia aplicada nos casos de estudo, percebe-se que há um aumento significativo do número de captações de água subterrânea ao longo do tempo, sendo a maior parte das captações concretizadas através de furos. Constata-se, ainda, que a maior parte das captações são utilizadas para rega, o que vai de encontro à utilização de água subterrânea na agricultura, referida nas conclusões relativas à revisão de literatura. Quanto à evolução da dispersão do edificado, nos casos de estudo, verifica-se que essa dispersão não ocorre a par da dispersão das captações de água subterrânea. No entanto, não é possível concluir que o licenciamento de captações de água subterrânea não está a contribuir

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para o aumento da dispersão do edificado, uma vez que as imagens analisadas apenas representam uma fração muito pequena da área total de cada bacia hidrográfica em estudo.

7.2 Recomendações

Para a obtenção de uma resposta mais concreta à questão enunciada no capítulo introdutório, considera-se que a metodologia aplicada seria um excelente princípio caso tivesse sido possível obter os dados na sua integra e se, relativamente à análise da evolução da dispersão do edificado, as bacias hidrográficas fossem analisadas na sua totalidade e não apenas em algumas áreas. No entanto, as bacias hidrográficas apresentam áreas de grande dimensão dificultando o manuseamento de dados e obtenção de imagens com qualidade suficiente para permitir uma boa análise e observação.

Atendendo às dificuldades acima referidas, recomenda-se que num trabalho futuro se proceda à análise da abrangência territorial da rede de abastecimento público, não realizada no presente estudo, para que se torne possível relacionar as captações de água subterrânea existentes com a abrangência dos ramais pertencentes à referida rede. Desta forma seria possível perceber se existem captações de água subterrânea a serem utilizadas desnecessariamente, tendo em conta a distribuição da rede de abastecimento público. Quanto à analise da evolução da dispersão do edificado, o método poderá ser revisto e alterado, sendo uma das hipóteses analisar os alvarás associados aos processos de construção de uma dada área relacionando as datas dos alvarás com as datas do licenciamento das captações de água subterrânea para a mesma área.

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