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Análise da evolução do desmatamento no território de Lajes/RN

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.4. Análise da evolução do desmatamento no território de Lajes/RN

No capitulo 1 deste trabalho, fazemos uma contextualização histórica dos aspectos sócio-econômicos do Município de Lajes, onde podemos observar o papel de economias como a mineração e a cotonicultura no desenvolvimento econômico daquele município, e na ocupação de seu espaço territorial a partir da estrada de ferro Sampaio Correa. Podemos conferir que, com a crise da cotonicultura e do minério no Estado, a pecuária foi ganhando espaço, até se tornar nos dias de hoje, através da caprino-ovinocultura, a principal fonte econômica deste município.

A ocupação do espaço territorial do Município de Lajes por estas economias se deu com uma forte pressão exercida sobre a vegetação nativa, onde esta tem sido substituída ao longo do tempo, inicialmente pelo algodão, e atualmente por áreas de pastagens.

O extrativismo vegetal é outra fonte econômica que vem aos poucos ampliando as áreas desmatadas de Lajes, além de ainda ser a principal fonte energética da população local, que usa a madeira especialmente para cozinhar, em detrimento do gás natural.

Com o objetivo de mensurar o tamanho da área desmatada no Município de Lajes, e construir mapas temáticos que retratem a realidade da área degradada do município, foram eleitas aleatoriamente três imagens de satélite de três períodos distintos no tempo, afim de que nos fosse possível ter um retrato diferenciado do processo de degradação vegetal que o município vem sofrendo. As imagens eleitas foram: Landsat 7 MSS, de 14 de julho de 1977 (Ilustração 34); Landsat 7 TM, de 03 de setembro de 1981 (Ilustração 35); e Landsat 7 ETM de 23 de maio de 2001 (Ilustração 36).

A partir da análise destas imagens construíram-se os três mapas temáticos, onde podemos constatar dois grandes pontos de avanço das áreas degradadas dentro do espaço territorial do município: a primeira no extremo norte, sobre uma área de caatinga hipoxerófila arbóreo-arbustiva e a segunda na área de entorno da sede municipal, em área de predomínio da caatinga hiperxorófila.

A análise dos mapas temáticos nos mostra como tem e para onde tem evoluído o processo de degradação da vegetação no Município de Lajes. A área desmatada cresceu de 2.766,9 hectares, no ano de 1977, para 9.642,2ha, em 1981, e 10.360,8ha, em 2001. Em contra partida, a área ocupada pela caatinga hipoxerófila, que em 1977 ocupava 38.233,1ha, caiu em 2001 para 30.756,1ha, uma redução de 19,5%.

Quando analisamos os mapas, sem olharmos para seus números, podemos constatar uma evolução significativa das áreas desmatadas partindo do centro do território municipal em direção ao Norte. Podemos observar que em sua grande maioria, o processo se dá ao longo da ferrovia e das estradas que cortam o município de Leste-Oeste e Norte-Sul. Investigando mais detidamente sobre o porquê de ser o extremo Norte do município a área mais afetada pelo desmatamento, descobrimos que é nesta porção do território municipal onde se localizam os principais distritos do município, como Firmamento, e onde se concentram os grandes assentamentos de terra promovidos pelo programa de Reforma Agrária do Governo Federal, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, como os Assentamentos 3 de agosto e Boa Vista.

Foto: Szilagyi, abril, 2007

Ilustração 37 Vista panorâmica a partir do distrito de Firmamento, Lajes/RN

As observações colhidas in loco e registradas em mais de 180 fotografias confirmam as informações contidas nos mapas temáticos construídos a partir da análise das imagens de satélite.

Nos projetos de assentamento de terra visitados (3 de agosto e Boa Vista), situados na porção norte da sede municipal, podemos constatar vários hectares de terra desmatadas, e não para a utilização destas na produção de subsistência (feijão, milho, mandioca) ou para transformá-las em áreas de pastagem para a prática da pecuária, mas sim para utilizar a biomassa como fonte energética nos fornos das caieiras localizadas no assentamento, uma vez que estes estão sob a área de domínio do calcário Jandaíra (Ilustrações 38 e 39).

Foto: Szilagyi, Abril/2007

Ilustração 38 e 39 No assentamento Boa Vista, a área de caatinga hipoxerófila vem sendo desmatada para a queima da lenha nos fornos das caieiras onde a cal é produzida, Lajes/RN.

Por sua vez, na área de entorno a sede municipal o processo de desmatamento se dá graças à pressão que a zona urbana do município exerce sobre a vegetação nativa. Devido às dificuldades encontradas pelos moradores da zona rural em manter-se em suas terras, muitos tem migrado para zona urbana. A busca por novas áreas de expansão, que absorva esta nova demanda por moradia na zona urbana, tem feito com que novos loteamentos surjam a cada dia. Importante ressaltar que esta neo-expansão do núcleo urbano do Município de Lajes tem se dado seguindo os caminhos da estrada de ferro Sampaio Correa, mesmo esta estando desativada (Ilustração 40).

Apesar da área desmatada no Município de Lajes estarem em processo de ampliação, contribuindo assim para o crescimento das áreas sob processo de desertificação no Estado do Rio Grande do Norte, acredita-se estar havendo um maior controle sob a velocidade do desmatamento, em parte fruto de uma maior fiscalização promovida pelos órgãos ambientais do Estado e da união, porém, também graças a uma maior conscientização por parte da população local, que apesar de não contar com outra fonte energética que lhe

possibilite a realização de suas atividades diárias, tem passado a adotar práticas conservacionistas, como o manejo e o corte seletivo.

Foto: SZILAGYI, abril/ 2007

Ilustração 40 Vista panorâmica de área situada a Nordeste da sede do Município de Lajes/RN