• Nenhum resultado encontrado

Análise da fiabilidade, sensibilidade e especificidade da Escala de Gijón

Parte II Estudo Empírico

7.1. Análise da fiabilidade, sensibilidade e especificidade da Escala de Gijón

A análise da fiabilidade na escala de Gijón permite verificar se itens que a compõem (Situação Familiar; Situação Económica; Habitação; Relações Sociais; Rede Social) medem ou reproduzem o fenómeno em estudo (risco/problema social). Assim a análise da fiabilidade permite que se verifique a consistência interna da escala, ou seja, a consistência dos diferentes itens numa pontuação única.

Nos estudos levados a cabo em Espanha, país de origem da escala, nomeadamente no estudo levado a cabo por González (1999) o índice de consistência interna, medido pelo coeficiente alfa de Cronbach foi de 0,45. Este valor revelou uma consistência interna baixa, constituindo-se como a maior debilidade da escala na versão espanhola.

No caso da versão portuguesa que se pretende validar o indicador global da consistência, o coeficiente alfa de Cronbach, foi de 0,41 indicando assim uma baixa consistência interna,

Universidade de Aveiro Aplicação da Escala de Gijón em Rastreio de Risco Social

Tabela V. Correlação de cada item com o valor total da escala

Item Valor médio da escala na ausência do item Variância da escala na ausência do item Correlação entre o item e o total dos restantes itens da escala Percentagem da variabilidade observada em resposta ao item que é explicado pelo resto dos itens

Cronbach's Alpha na ausência do item A Situação familiar 7,69 3,185 0,230 0,061 0,376 B Situação económica 7,58 4,480 0,215 0,068 0,348 C Habitação 8,83 5,158 0,219 0,098 0,356 D Relações Sociais 8,95 5,107 0,199 0,031 0,365 E Apoio da rede social 9,07 5,037 0,259 0,223 0,334

No que se refere ao valor médio da escala na ausência do item, pode-se concluir pela observação dos resultados que foi o apoio da rede social (9,07) o que mais contribuiu para a diminuição da pontuação ao nível da vulnerabilidade social. Em contra ponto, a situação económica foi o item que apresentou maior contributo para o estabelecimento de vulnerabilidade social tomando-se como comparação os restantes quatro itens.

Analisando a variância da escala na ausência do item verifica-se mais uma vez, que a situação familiar é o item que mais contributo apresentou no que se refere à determinação da vulnerabilidade social dos idosos analisados, uma vez que quando retirado a pontuação final apenas decresceu 3,19 enquanto que por exemplo o item correspondente à habitação apresentou um decréscimo de 5,16.

Verificou-se uma baixa correlação entre os itens analisados isoladamente e a pontuação final da escala, senão vejamos: a correlação entre cada item e o total dos restantes itens da escala variou entre um mínimo de 0,20 e um máximo de 0,26, sendo o item correspondente às relações sociais aquele que menor correlação apresentou com os restantes. No que respeita à capacidade de predição da pontuação final do idoso destacou-se o item da rede de apoio social.

Universidade de Aveiro Aplicação da Escala de Gijón em Rastreio de Risco Social

os restantes quatro itens mostram uma consistência global inferior à apresentada pelos cinco itens juntos. Do ponto de vista puramente psicométrico não se mostra recomendável retirar-se nenhum item, de qualquer modo estes resultados indiciam que o risco social é um fenómeno de difícil medida.

Com o propósito de se encontrar um ponto de corte para a escala de Gijón que melhor se adequasse à filosofia do Protocolo de Rastreio para Pessoas Idosas Vulneráveis recorreu-se à elaboração da curva ROC.

De seguida estudam-se os índices de sensibilidade e especificidade da escala para cada um dos potenciais pontos de corte.

TABELA VI Sensibilidade e especificidade

Pontuação Risco/Normal Sensibilidade Especificidade 18 0,00 100,00 17 6,90 100,00 16 15,50 98,9 15 17,20 97,00 14 22,40 94,00 13 31,00 84,00 12 51,70 71,00 11 63,80 55,00 10 70,70 36,00 9 82,80 25,00 8 87,90 11,00 7 91,40 4,00 5 100,00 0,00

Um dos grandes problemas na definição de pontos de corte em instrumentos de rastreio prende-se com o facto de as variáveis sensibilidade e especificidade serem inversamente proporcionais, ou seja, ao se privilegiar a sensibilidade, detecta-se um maior número de pessoas idosas em risco social dentro da amostra em estudo. Contudo, poder-se-á ter um

Universidade de Aveiro Aplicação da Escala de Gijón em Rastreio de Risco Social

especificidade, no entanto ao se ganhar em especificidade pode-se estar a aumentar o número de falsos negativos e deste modo estar a deixar de fora uma grande quantidade de pessoas idosas em risco social.

Pelo exposto parece que o mais correcto seria promover um equilíbrio entre a sensibilidade e a especificidade, não retirando valor a esta ideia, torna-se necessário atender que o ponto de corte duma escala desta natureza é tanto uma tomada de decisão estritamente estatística, como politica, tendo em conta principalmente quantas pessoas o sistema de rastreio permite incluir, assim como a associação destes grupos formados com outros indicadores de risco.

No estudo de González (1999), quando analisaram o comportamento da escala para a detecção de risco social mais problema social, versus normalidade, foram identificados quatro pontos de corte. O primeiro na pontuação 10 inclusive (sensibilidade de 84,87% e especificidade 55,27%), o segundo na 13 inclusive (sensibilidade de 42,80 e especificidade 89,86), o terceiro na 15 inclusive (sensibilidade de 20,66% e especificidade 97,61%) e por último na 16 inclusive (sensibilidade de 15,50% e especificidade 99,80%).

No nosso estudo, do ponto de vista estritamente estatístico, a conjugação entre sensibilidade e especificidade possibilita pontos de corte que poderão ir de 11 inclusive a 13 inclusive. Optando-se por um corte de 11 teríamos uma sensibilidade de 63,80% e uma especificidade de 55,00%, no ponte de corte 12 a sensibilidade obtida foi de 51,70% e a especificidade de 71,00% e por último no ponto de corte 13 obteve-se uma sensibilidade de 31,00% e uma especificidade de 84,00%.

A opção de um ponto de corte no caso da validação da escala para o contexto português e tendo em conta que se pretende incluí-la num protocolo de rastreio onde se define risco e não risco, terá em nosso entender de valorizar a questão da especificidade no sentido de se diminuir os falsos positivos. No ponto de corte 13, ficariam identificados na categoria de risco social 19,51% dos idosos da amostra, o que significaria que teriam que ter uma resposta dos serviços sociais por forma a ser realizado um diagnóstico social por um Assistente Social e ser dada uma resposta por parte dos serviços caso se verificasse que se tratava efectivamente de um idoso em risco /problema social. Optar-se pelos outros dois pontos de corte inferiores 12 e 11 respectivamente significava incluir 34,58%, e 49,6% respectivamente, o que seria um número muito elevado e pouco realístico para ser realizada uma avaliação social por parte dos serviços competentes.

Universidade de Aveiro Aplicação da Escala de Gijón em Rastreio de Risco Social

Tabela VII. Factores de risco associado a vulnerabilidades sociais

Escala de Gijón Normal / Risco Social

Contexto (0,36-1,01)0,61 (0,63-2,26)1,19

Existência de alguém próximo que consuma

álcool em excesso ou drogas

Género (0,37-1,06)0,63 (0,33-1,12)0,61 Katz Dicotómico

Idade Idoso/Muito Idoso 2,25 (1,34-3,77) 0,77 (0,44-1,35) DicotómicoLawton Soz./Ac. (2,58-7,83)4,50 (1,32-4,14)2,33 Depressão Escolaridade 0,88 (0,51-1,49) 1,02 (0,37-2,81) Ou 1,22 (0,74-2,03) Pfeifer

Efectuou-se o cálculo dos rácios dos produtos cruzados (odds ratios) e o seu intervalo de confiança para as variáveis sócio – demográficas.

Encontrou-se um risco associado significativo estatisticamente entre o acontecimento Gijón (Risco social) e o factor idade, sendo respectivamente [OR=2,25; %95 I.C.= 1,34, 3,77].

De igual modo existe um risco associado significativo estatisticamente entre o acontecimento identificado pela escala Gijón (Risco Social) e o factor de coabitar sozinho ou acompanhado, sendo respectivamente [OR=4,50; %95 I.C.= 2,58, 7,83].

Encontrou-se igualmente um risco associado significativo estatisticamente entre o acontecimento identificado pela escala Gijón (Risco social) e o factor de existência de alguém próximo que consuma álcool em excesso, sendo respectivamente [OR=1,19; %95 I.C.= 0,63, 2,26].

Por último verificou-se um risco associado significativo estatisticamente entre o acontecimento identificado pela escala Gijón (Risco Social) e o factor depressão, sendo respectivamente [OR=2,23; %95 I.C.= 1,32, 4,14].

Universidade de Aveiro Aplicação da Escala de Gijón em Rastreio de Risco Social

8. Conclusões

O envelhecimento populacional constitui-se na actualidade como um fenómeno observado mundialmente. Segundo Freitas (2002) enquanto a população geral a nível mundial cresce anualmente a uma taxa de 1,7%, a população acima dos 60 anos aumenta segundo uma taxa de 2,5% ano.

A nível mundial a previsão para 2025 será a existência de 1,2 biliões de pessoas idosas com mais de 60 anos, constituindo o grupo dos muito idosos (com 80 anos ou mais) o grupo etário de maior crescimento (OMS, 2001).

Portugal poderá ter, em Janeiro de 2060, 31 por cento da sua população com mais de 65 anos (contra 17,4 por cento em 2008). E quase 13 em cada cem portugueses terão então 80 ou mais anos (contra 4,2 por cento hoje) – serão mais de 1,4 milhões (Shanches, 2008). Deste modo, pensa-se estar enquadrada a pertinência de se testar a escala de Gijón como instrumento de rastreio de medida do risco social para pessoas idosas.

Documentos relacionados