CAPÍTULO III – OPERACIONALIZAÇÃO DO QI-PME CENTRO NA
2. Análise da Formação na ABIMOTA à luz da teoria apresentada
Recursos Humanos no seio das PME, a crescente importância conferida às PME como motor de desenvolvimento da economia nacional e europeia e os apoios e incentivos públicos de ajuda às PME no âmbito da formação. Deste modo, é essencial dedicar este ponto para refletir e relacionar a literatura apresentada com a prática do estágio.
O primeiro aspeto a reter, é a ideia clara que Portugal tem dado, cada vez mais, um destaque primordial às PME em detrimento das grandes empresas. Este facto é facilmente comprovado pelas inúmeras medidas e estímulos públicos direcionados para este tipo de empresas. Desta análise, resulta a ideia de que os primeiros programas estavam, sobretudo, centrados nas grandes empresas, deixando numa zona mais periférica as PME e todas as ações que impulsionassem a sua competitividade.
Com a mudança de atitude e consciencialização face às PME, estas passam a ser consideradas um motor no desenvolvimento da economia devido à sua natureza, uma vez que dispõem de uma elevada capacidade de adaptação aos mercados e a ambientes vulneráveis. Contudo, esta adaptação só seria possível com Recursos Humanos capazes de a acompanharem, levando assim a considerar o fator humano imprescindível para esta rápida adaptação.
Foi a partir de então, mais especificamente, nos anos oitenta, que surgem os primeiros passos no âmbito da formação profissional nas empresas. Importa assim considerar o conceito de formação profissional apontado ao longo deste trabalho como sendo um conjunto de atividades desenvolvidas e orientadas para os ativos permitindo atualizar conhecimentos e aperfeiçoar competências, com vista a promover uma melhoria de desempenho das funções o que significa, que a formação profissional é um meio que procura gerar no indivíduo a aquisição de conhecimentos, capacidades práticas ou atitudes fundamentais para o exercício das suas funções, ou seja, permite uma melhor adequação do indivíduo face às exigências do mercado de trabalho.
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Desta forma, a formação, é vista como uma ação estratégica que procura aliar as necessidades de mercado de trabalho capacitando os RH para uma resposta qualificada.
É ainda importante salientar que, a formação profissional deve ser ajustada aos seus propósitos e para os seus propósitos, isto é, deve ser planeada e executada não só para processos de trabalho, mas também considerar as necessidades educativas/cívicas dos trabalhadores, facto que vai ao encontro da teoria do capital humano.
É de igual forma importante entender os pressupostos das políticas públicas de apoio a PME, ou seja, a formulação destas políticas surge com a necessidade de uma eficiente afetação de recursos, uma questão central na economia. Esta necessidade, está hoje em dia em destaque dada a conturbada conjuntura económica, onde o desperdício de tais recursos pode levar a efeitos negativos das economias e das empresas. De referir ainda, que as intervenções de fundos estatais são projetadas para ajudar a desenvolver projetos/negócios em fase inicial, bem como maximizar as perspetivas de crescimento das PME. O impacto final que se espera aferir com a aplicação dos fundos estruturais nas PME tem em vista a superação de um conjunto de problemas, nomeadamente, o atraso no desenvolvimento económico, elevado desemprego e a necessidade de modernizar e diversificar as economias rurais (Comissão Europeia, 1999).
Neste sentido, a União Europeia em parceria com os Estados-Membros, procuraram definir estratégias que permitissem tornar as PME mais competitivas, procurar melhorar sinergias e simplificar instrumentos comunitários. Destas estratégias, surgiu em Portugal em 2007, o QREN que operacionaliza valências no âmbito da formação e qualificação dos trabalhadores. Este apoio traduziu-se na medida “Formação-ação para PME” que permite uma melhor adequação entre a formação e as necessidades empresariais de desenvolvimento de competências, individuais e organizacionais, podendo dizer-se ser um modelo estratégico.
De referir que, estas estratégias enfrentam inúmeros desafios por operarem em contextos de reduzido conhecimento e competências técnicas, sendo o caso das PME que apresentam igualmente, dificuldades de organização e absorção destes instrumentos de política.
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Tendo o estágio curricular incidido na operacionalização da medida pública de apoio às PME - Formação-ação para PME, é importante referir alguns pontos fortes e fracos da operacionalização deste programa:
Pontos Fortes
Os fundos estruturais em PME são fundamentais, pois sem eles seria dificil alcançar determinados resultados, nomeadamente: no desenvolvimento de novos produtos; na promoção da internacionalização; na cooperação entre as diferentes empresas; na promoção da aprendizagem e no desenvolvimento de competências.
A disponibilidade e os níveis de participação ativa do empresário durante o desenvolvimento das atividades do Programa são fatores internos às micro e PME considerados com maior peso na determinação do sucesso do programa. Aspeto consensual na rede de consultores, formadores e empresários no momento interventivo de avaliação.
No que concerne às aprendizagens efetuadas, de acordo com a opinião dos atores e destinatários finais, o Programa produziu efeitos em domínios- chave de atividade empresarial, nomeadamente, competências técnicas, pessoais e interpessoais; gestão estratégica da empresa; gestão operacional da empresa e competências dos trabalhadores;
O desempenho da rede de formadores e consultores e dos temas dos seminários são aspetos bastante valorizados pelos empresários no processo de formação profissional;
Pontos Fracos
A duração quer do diagnóstico, quer da fase de implementação do plano de ação é curta, de acordo com a opinião dos empresários e consultores. O mesmo acontece com a duração das formações (opinião consensual de formadores e formandos);
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A disponibilização de informação empresarial condiciona o sucesso do Programa. Em alguns casos a informação pretendida nem sempre é disponibilizada atempadamente, o que condiciona o cumprimento dos prazos;
A resistência, em alguns dos trabalhadores/empresários face à mudança dificulta o bom funcionamento dos programas, que muitas vezes, é o fator do insucesso dos mesmos.
Após as conclusões acima identificados, achou-se importante verificar o impacto nos
trabalhadores e para tal, através do “Inquérito ao Impacto da Formação Profissional28”
realizado para o triénio 2008-2010 pelo Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia e do Emprego (MEE) em 2013, constatou-se que mais de metade das empresas com dez ou mais trabalhadores ao serviço (53,9%) proporcionaram cursos de formação, um aumento verificado comparativamente ao
mesmo período anterior, 2005-200729, cujo valor se situava nos 41,3%.
Relativamente às alterações provocadas pela formação na empresa, os valores estão bastante próximos nos dois períodos analisados, verificando-se uma diminuição, embora residual, de um ponto percentual, respetivamente 92,4% e 93,3%.
É importante salientar, o elevado número de empresas que não realizaram cursos de formação situando-se nos 72,2% no último período. As alterações registadas pelas empresas que realizaram cursos de formação apontaram o aumento da satisfação dos clientes (68,1%), maior adaptação dos trabalhadores às exigências do posto de trabalho (65,1%), introdução de modelos de gestão da qualidade e das condições de saúde, higiene e segurança no trabalho (respetivamente 38,7% e 38,4%) como sendo as principais alterações registadas.
Estes indicadores foram igualmente consensuais no período de 2005-2007, considerando que a formação contribuiu, em grande escala, para o aparecimento destas alterações. Consensual, foi também o aumento da mobilidade externa dos trabalhadores
28 Inquérito ao Impacte das Ações de Formação Profissional nas empresas. 2008-2010. Gabinete de
Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e do Emprego. (cons. 20 de maio de 2015).
29 Inquérito ao Impacte da Formação Profissional nas Empresas. Estatísticas em síntese. 2005-2007.
Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e do Emprego. (cons. 20 de maio de 2015. Disponível em http://www.gep.msess.gov.pt/estatistica/formacao/iifpe_2005-2007.pdf.
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e a alteração do vínculo contratual, como sendo aspetos que em nada alteram, mesmo com a realização da formação.
Embora Portugal esteja a alterar hábitos e mentalidades no que respeita à formação no seio das empresas e organizações, é imperativo acabar com a ideia da formação como um custo. É essencial mudar mentalidades e incutir a formação como um investimento a médio/longo prazo.
Após esta breve análise do impacto da formação nos ativos tem vindo a constituir um importante instrumento para as PME, embora com sucessivos ajustamentos, as políticas públicas neste âmbito começam a produzir os efeitos desejados o que significa que Portugal está no caminho certo.
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CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. Considerações sobre as atividades desenvolvidas no estágio