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Análise da hierarquia de valores

No documento Elementos de Administração 5 (páginas 39-42)

9 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

9.4. Análise da hierarquia de valores

No Perfil de Valores de Schwartz (PVQ-40), os participantes avaliaram seu grau de similaridade com as pessoas descritas nas frases. Tal avaliação resultou em um conjunto de valores com diferentes graus de importância. Nesse sentido, os valores que apresentaram menor desvio padrão indicam uma maior identificação dos participantes com as descrições, ao passo que desvios padrão mais altos indicam maior variação na identificação com as descrições e, consequentemente, nos conjuntos individuais de valores.

A Tabela 5 apresenta a hierarquia dos 10 tipos motivacionais dos participantes, com as respectivas médias e desvios padrão.

Hierarquia (Tipos Motiva-

cionais) Média Desvio Pa-drão Universalismo 5,3127 0,55071 Benevolência 5,2012 0,61040 Autodeterminação 5,0915 0,71310 Segurança 5,0244 0,74925 Conformidade 4,7256 0,86210 Poder 2,6427 0,92023 Tradição 4,0610 0,92175

Realização 3,1860 0,94511 Estimulação 4,1668 1,14914 Hedonismo 4,1265 1,20444 Tabela 5 - Hierarquia dos tipos motivacionais.

Fonte: Dados da pesquisa

Os indivíduos inseridos na temática ambiental do município de Lavras assumiram, em primeiro lugar, uma orientação valorativa direcionada ao tipo motivacional universalismo, que envolve um conjunto importante de valores para a compreensão dos comportamentos em relação ao meio ambiente (tolerância, justiça social, igualdade, proteção do meio ambiente).

Nesse sentido, o universalismo é compatível tanto com os comportamentos ecológicos quanto com as crenças ecocêntricas, pressupondo preocupação com a preservação do meio ambiente e percepção do ser humano e de outras formas de vida como um todo integrado (PATO, 2004).

Em segundo lugar, assumiram uma orientação voltada para o tipo motivacional benevolência que, juntamente com o universalismo, apresenta em comum a preocupação com o bem-estar do outro. No entanto, a benevolência está mais restrita ao grupo a que o indivíduo faz parte, com o objetivo de preservar e fortalecer o bem- estar daqueles com quem o contato pessoal é mais frequente (SCHWARTZ, 2011).

Nesse sentido, evitar a compra de produtos poluentes pode apresentar uma relação estreita com a preocupação com a saúde da família, assim como boicotar empresas poluentes pode indicar a preocupação com a qualidade de vida da comunidade à qual pertencem essas pessoas (PATO, 2004).

A benevolência - assim como o universalismo - integra o polo de ordem superior autotranscendência, cujos valores enfatizam o bem-estar coletivo e a aceitação do outro como igual. Desse modo, mostra-se também compatível com os comportamentos ecológicos e com as crenças ecocêntricas (PATO, 2004).

Na sequência, o tipo motivacional autodeterminação - cuja definição relaciona-se às pessoas criativas, curiosas e inovadoras - surge como um dos tipos motivacionais com maior identificação entre os participantes. A autodeterminação faz parte do polo de ordem superior abertura à mudança.

Assim sendo, os polos autotranscendência e abertura à mudança compartilham, simultaneamente, metas de interesse individual e coletivo, ao buscarem o bem-estar do próximo e da sociedade como um todo e favorecer a mudança do status quo por meio de novidades e desafios (PATO, 2004; SCHWARTZ, 2011).

As metas do tipo motivacional autodeterminação (associadas à autonomia e à independência de pensamento e ação) podem exercer influência sobre o comportamento de ativismo/consumo. Segundo Pato (2004), esse tipo de comportamento pode sofrer influência indireta dos valores que, mediados pelas crenças ambientais, predispõem

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os indivíduos a agirem ou não de maneira ecológica.

Os tipos motivacionais segurança e conformidade, que apresentam em comum a proteção da ordem e a harmonia das relações, surgiram, na sequência, na hierarquia dos participantes. Tais tipos fazem parte do polo de ordem superior conservação. Logo, pessoas que valorizam a proteção da estabilidade e a preservação de costumes e tradições tendem a acreditar que é importante preservar a natureza e a manifestar comportamentos ecológicos (PATO, 2004; TEIXEIRA; MONTEIRO, 2008).

Segundo Pato (2004), os valores do polo de ordem superior conservação e do tipo motivacional autodeterminação são opostos e conflitantes entre si. Um expressa a busca de segurança e manutenção dos costumes e tradições, ao passo que o outro expressa criatividade, independência e autonomia.

Por conseguinte, destaca-se o tipo motivacional poder, que abrange valores que enfatizam status social e prestígio, controle ou domínio sobre as pessoas e os recursos. Seu foco no interesse pessoal é contraditório com os princípios postulados pelos comportamentos ecológicos e crenças ecocêntricas (PATO, 2004).

Em outras palavras, aqueles que acreditam na exploração da natureza para o benefício do ser humano e na sua capacidade inesgotável de recuperação dificilmente se preocuparão com a limpeza da cidade onde vivem ou buscarão reduzir o consumo de água e energia em seu cotidiano (PATO, 2004).

Isto pode explicar, segundo Pato (2004), o fato de algumas pessoas, na época do racionamento de energia ocorrido no Brasil em 2002, mencionarem não se preocupar com o corte do fornecimento de energia ou com a possibilidade do recebimento de multas pelo excesso de consumo. Tais pessoas alegavam ter dinheiro para pagar ou, até mesmo, que pagavam suas contas e, sendo assim, tinham direito de gastar energia sem se preocupar com a escassez do recurso.

Todavia, ainda que priorize valores de poder, uma pessoa poderá manifestar comportamentos ecológicos. Suas ações poderão representar um impacto menos prejudicial ao meio ambiente quando houver, por exemplo, possibilidade de redução de custos, recebimento de bônus ou recompensa para sua realização ou, até mesmo, se tal ação representar o prestígio de ter sua imagem associada à de alguém que está sintonizado com as demandas de seu tempo ou da sociedade (PATO, 2004).

Na sequência, o tipo motivacional tradição (que integra o polo de ordem superior conservação) surge na hierarquia dos participantes e apresenta como definição o respeito, compromisso, aceitação dos costumes e ideias oferecidos pela cultura tradicional e/ou religião (SCHWARTZ, 2011).

Isto posto, a hierarquia dos indivíduos inseridos na temática ambiental de Lavras parece não fazer sentido, ao mesclar, na sua sequência, interesses individuais e coletivos. No entanto, as especificidades manifestadas pelos comportamentos ecológicos podem explicar as maneiras distintas com que os valores e as crenças ambientais se relacionam com cada um deles.

e não necessariamente em outro, pressupondo diversas possibilidades de relação com os valores e as crenças ambientais. Assim, apresentar comportamentos normativos e aceitos socialmente – como os que integram o tipo motivacional tradição –, em especial, os que se manifestam em espaços públicos e de uso coletivo (como jogar o lixo na lixeira quando estiver caminhando na rua, por exemplo) não faz com que uma pessoa apresente comportamentos ecológicos considerados mais difíceis de realizar, como, por exemplo, participar de um mutirão de limpeza no seu bairro (PATO, 2004).

Por fim, os tipos motivacionais realização (inserido no polo de ordem superior autopromoção), estimulação (inserido no polo de ordem superior abertura à mudança) e hedonismo (inserido tanto em autopromoção quanto em abertura à mudança) encerram a hierarquia dos tipos motivacionais dos indivíduos inseridos na temática ambiental de Lavras.

Os três tipos motivacionais atendem primariamente a interesses individuais. Realização e hedonismo centram-se na satisfação pessoal. Hedonismo e estimulação implicam desejo do despertar afetivo (TEIXEIRA; MONTEIRO, 2008).

No documento Elementos de Administração 5 (páginas 39-42)

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