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Análise da pontuação de dois depoimentos pessoais de um livro didático

4. ANÁLISES

4.1 Análise da pontuação de dois depoimentos pessoais de um livro didático

Antes de partimos para as análises da pontuação nos textos coletados, trazemos abaixo dois exemplos de depoimentos pessoais encontrados no livro didático, trabalhados no 7º ano do Ensino Fundamental. Esses depoimentos serviram de modelo para a produção textual que o aluno deverá desenvolver.

Quadro 2: depoimento 2 do livro didático pesquisado

O livro didático supracitado traz, em toda a sua unidade, exemplos de depoimentos pessoais, seguidos de questões de compreensão textual e de análise linguística, para auxiliar na produção que será exigida posteriormente. Após leitura dos depoimentos, há um exercício em que se pede ao discente para observar as expressões em destaque no texto, para chegarem à conclusão de qual é a função que elas desempenham. Esse tipo de atividade leva o estudante a refletir sobre os elementos linguísticos que devem compor o texto do gênero solicitado, os quais podem ser expressões que marcam a sequência de fatos, uso da primeira pessoa e emprego de sinais de pontuação predominantes em diálogos (dois pontos, aspas, travessão).

Realizar a segmentação em parágrafos é uma das dúvidas que algumas pessoas têm, quando vão redigir um texto. Como será discutido a seguir, o parágrafo consiste em uma unidade de composição textual, na qual se desenvolve uma ideia principal e outras, secundárias, associadas ao tópico frasal (ideia principal). Então, entendemos que, quando desejamos iniciar um novo subtópico no texto, deveremos mudar de parágrafo. No entanto, essa segmentação textual é uma atividade subjetiva, conforme Garcia (2011), havendo diferentes formas de desenvolver os parágrafos, pois sua

estrutura dependerá também dos propósitos de quem escreve, do gênero textual, entre outros.

No depoimento 1, observamos que o texto foi organizado em três blocos de informações; no primeiro parágrafo, a narradora-personagem apresenta, como ideia central, o fato de querer conhecer um garoto com quem possa manter uma relação amorosa no futuro; a partir disso, a narradora relata um curto episódio vivido por ela durante a infância. Na sequência, a protagonista relata, em um novo parágrafo, outro acontecimento: o dia em que conheceu o amor da sua vida e, no último parágrafo, conclui o texto, relatando como está a sua vida atualmente, junto com a pessoa que ela conheceu.

No entanto, observamos que, no depoimento 2, não há a mesma organização textual; o narrador-personagem não segmentou seu texto em parágrafos, para relatar um episódio marcante da vida: o seu primeiro beijo. Como afirmamos acima, a divisão do texto em ―blocos de informações‖ é uma tarefa subjetiva, não existem regras definidas para desenvolver e normatizar essa atividade.

No livro didático utilizado, Balthasar, Figueiredo e Goulart (2012) explicam que o depoimento pessoal é uma espécie de relato que trata, sem muito detalhamento, de acontecimentos pessoais, episódios da vida de um indivíduo; a linguagem predominante, nesse formato de texto, é mais informal, própria de relatos que circulam em revistas ou blogs. Essas características do gênero podem ser um fator motivador da não segmentação do texto em parágrafos; a autora do texto organizou seu depoimento expondo um evento após o outro, como se estivesse interagindo oralmente com alguém. Então, como notamos, a não paragrafação, no texto 2, pode ter sido uma escolha de quem o escreveu, já que existe essa ―liberdade‖ relativa no emprego de alguns sinais de pontuação, como mostram os PCN (1998).

Conforme observamos, os dois textos apresentados são bem estruturados, pois são compostos de frases e períodos cujas informações aparecem interligadas entre si, formando uma unidade. O uso do ponto é também um fator que auxilia no estabelecimento da textualidade, como explica Costa Val (1999), já citada anteriormente.

A paragrafação, de acordo com Carvalho e Ferrarezi Jr. (2015), é um recurso utilizado pelo escritor para organizar o seu texto, de forma coerente. Existe uma certa liberdade do autor para utilizar esse recurso, mas isso não significa que podemos criar um parágrafo sem nenhum critério; as frases e os períodos que compõem um determinado parágrafo devem estar relacionados entre si, e o redator precisa ter consciência disso.

No emprego do ponto, existe certa ―liberdade‖ do escritor em utilizá-lo, mas é necessário entender a função desse sinal, a fim de produzir um texto organizado, cujas partes deverão estar interligadas. Também, para utilizar o sinal de vírgula, devemos estar atentos à estrutura da frase, ou seja, é preciso entender que esse sinal não é um simples marcador de pausa.

Como explicamos, algumas expressões predominantes, no gênero depoimento pessoal, foram destacadas, a fim de chamar a atenção do aluno para o seu emprego no texto que iria produzir. Logo, é importante observar que a maioria dessas expressões foram isoladas por vírgula, o que aconteceu, por se tratarem de adjuntos adverbiais, termos que, conforme a gramática normativa, devem aparecer, preferencialmente, no final da oração, porém, quando deslocados, devem ser separados pelo sinal de vírgula.

Encontramos, também, nos depoimentos apresentados, o uso da vírgula para separar enumerações, apostos, orações coordenadas e subordinadas, mas a principal ocorrência para o uso do sinal foi o deslocamento de expressões que indicam circunstâncias, como verificamos no início do segundo parágrafo, do primeiro depoimento: ―No final do colégio, um ano antes de prestar vestibular, comecei a ser ‗treineira‘‖ (grifos do autor). Os termos em negrito não estão na ordem canônica da oração (sujeito-verbo-complemento), como é proposto pela gramática normativa, encontram-se deslocados, por isso a presença da vírgula. Assim, é possível afirmar que há maior ocorrência desses casos da vírgula, porque o uso de palavras ou expressões que indicam passagem de tempo é comum em textos do gênero depoimento pessoal.

Na seção a seguir, daremos continuidade às análises e discutiremos sobre o uso da pontuação gráfico-espacial, externa ao texto. Nesse caso, analisaremos se os alunos segmentaram o seu texto em parágrafo e como o fizeram.